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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

A ignorancia letrada: ensaio sobre a mediocrizacao do ambiente academico - Paulo Roberto de Almeida

Um antigo trabalho meu, que me parece cada vez mais apropriado, ao simplesmente contemplar certas manifestações em universidades públicas: 
 
985. “A Ignorância Letrada: ensaio sobre a mediocrização do ambiente acadêmico”, Espaço Acadêmico (vol. 10, n. 111, agosto 2010, p. 120-127; link: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/download/10774/5859). Relação de Originais n. 2169.


A Ignorância Letrada: ensaio sobre a mediocrização do ambiente acadêmico

Paulo Roberto de Almeida
Relação de Originais n. 2169. Relação de Publicados n. 1016.

Nota preliminar 1: Sempre me lembro de um aforismo de Ferreira Gullar quando vou escrever um texto a partir do zero, sem notas e sem preparação: “A crase não foi feita para humilhar ninguém”. Pois bem: este ensaio não foi feito para humilhar nenhum acadêmico, nem para ofender a categoria, de modo geral. Apenas desejei externar uma reflexão feita inteiramente a partir do que constato nos ritos e nas práticas acadêmicas, com base na interação com outros professores, no exame de artigos submetidos ao meu parecer e também formada na leitura de muitos artigos publicados. O uso do conceito de “mediocrização”, em relação à academia, e não simplesmente em conexão com a televisão aberta, por exemplo, ou, de maneira geral, com a cultura de massas no Brasil, pode parecer exagerado e indevido, mas me pareceu necessário nas circunstâncias atuais. Em qualquer hipótese, a mediocridade reinante não é obra de um ou dois acadêmicos; ela é um empreendimento coletivo de longa duração, que já vem desde algum tempo no passado recente e que promete se estender por um tempo ainda indefinido no futuro da academia brasileira.
Nota preliminar 2: Talvez o adjetivo “letrada” pudesse ser substituído por um equivalente mais culto, “ilustrada” digamos, para caracterizar a ignorância ostentada na “parte alta” da sociedade, isto é, naquela supostamente dedicada ao conhecimento de alto nível. No meu conceito, porém, essa ignorância não merece a caracterização “ilustrada”, pois se trata mesmo, apenas e tão somente, de cultura “letrada”, na sua acepção mais elementar. Com estes “avisos” a toda a comunidade, agora começo.

1. O problema
A universidade brasileira, como todos sabem, é uma construção tardia. Talvez alguma sumidade acadêmica atribua seus evidentes traços negativos ao chamado “capitalismo tardio” em nosso país, qualquer que seja o significado desse conceito histórico naturalmente anacrônico (pois que todo processo complexo e multissecular, como o capitalismo, apresenta defasagens temporais em suas manifestações concretas, em cada situação social determinada); mas a verdade é que a mediocrização também é uma obra tardia, pois o fenômeno só surge depois que a universidade foi inteiramente construída. Formada a partir de escolas e faculdades isoladas na primeira metade do século 20, a universidade brasileira só começou a erigir um sistema de pós-graduação a partir do final dos anos 1960: a “substituição de importações” nessa área foi um processo lento, ainda não de todo acabado, mas já bastante consolidado para os padrões habituais dos países em desenvolvimento. Pode-se dizer que, do ponto de vista dos procedimentos administrativos e das técnicas de formação e de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior, a missão foi razoavelmente bem cumprida, muito embora as “importações” ainda permaneçam como um componente importante em várias áreas do sistema (o que é absolutamente natural e necessário).
Essa construção se deu basicamente sob o regime militar (1964-1985), não ocorrendo depois, na redemocratização e no período recente, nenhuma “revolução” no terceiro ciclo, pelo menos não comparável ao processo de rupturas registrado durante a fase autoritária. Os governos posteriores se limitaram a expandir o sistema, por vezes de forma anárquica, abrindo novos espaços ao setor privado, na ausência de investimentos estatais no setor, ou na incapacidade de governos estaduais e do próprio governo central fazê-lo de modo compatível com as necessidades detectadas. Essa expansão se deu de forma mais “elástica” do que sistêmica, bem mais do lado quantitativo do que qualitativo, embora se possa dizer que a produção ampliada também melhorou sensivelmente de qualidade em muitas áreas.
O que a redemocratização trouxe de diferente foi, justamente, um simulacro de “democratização” das instituições universitárias, sob a bandeira da “autonomia”. Na verdade, um aumento extraordinário e uma forte consolidação do corporativismo e do sindicalismo em todas as faixas profissionais, ambos os fenômenos dominados por partidos e movimentos de esquerda e pelo chamado “baixo clero” (e, portanto, já tendente ao que chamei de mediocrização das instituições). Não existe novidade nesse tipo de “evolução”, mesmo quando não aceitamos a legitimidade de uma cultura de “elite”; o romancista americano James Fenimore Cooper – mais conhecido entre nós por seu romance histórico bem pesquisado O Último dos Moicanos – já tinha detectado a crescente mediocrização da vida intelectual nos Estados Unidos desde o início do século 19, sociedade que não pode ser tida como exemplo de elitismo aristocrático, ao contrário: ele indicava o fenômeno como coetâneo ao processo de democratização social, em forte ascensão naquele país recentemente independente.
Sem ter apoio em pesquisas específicas ou estudos setoriais empiricamente embasados – correndo o risco, nesse particular, de algum subjetivismo – é possível afirmar-se que o crescimento e a expansão do terceiro ciclo ocorreram paralelamente ao enorme crescimento quantitativo e à perda de qualidade dos dois primeiros ciclos de ensino. Existem muitas evidências prima facie de que esses dois processos paralelos e aparentemente contraditórios – embora concordantes no aspecto quantitativo – aconteceram ao longo das quatro últimas décadas e meia, ou seja, nos 21 anos do regime militar e nos 25 anos decorridos desde a redemocratização. Ao longo desse processo de inegável democratização de oportunidades sociais – embora insuficiente e longe de ter sido completada, sobretudo devido ao estrangulamento do secundário – os dois movimentos se reforçaram mutuamente e consolidaram seus traços mais negativos, evidenciados justamente no elemento característico que constitui o elemento central desta análise: a perda de qualidade e a mediocrização geral do ensino no Brasil, em especial em sua vertente “superior”.

2. As causas
Como para todo fenômeno complexo, a perda de qualidade do ensino público em geral, no Brasil, possui múltiplas causas, diversas variáveis intervenientes e diferentes tipos de condicionantes, que foram se alterando ao longo do tempo. Pode-se, no entanto, tentar isolar algumas causas aparentes que foram interagindo entre si desde os anos 1960 e que se reforçaram conjuntamente no final do período, ou seja, atualmente, e que prometem continuar agindo no futuro previsível.
Tudo tem início na geração precedente e no movimento pela reforma do ensino e de reforço da escola pública, começado na sequência da Revolução de 1930, continuado na implantação do Estado autoritário no Brasil, em 1937, e em sua consolidação nos anos seguintes, movimento que se prolongou na República de 1946. Os líderes militares e civis que comandaram esses processos nos trinta anos seguintes à Revolução de 1930 foram bem sucedidos em criar um sistema de escolas públicas de qualidade, ainda que bastante seletivo em sua capacidade de recrutamento – basicamente a classe média urbana – e tendente a um mínimo denominador comum – horários reduzidos e reforço limitado de mecanismos extra-escolares – mais do que à ampliação progressiva dos conteúdos e metodologias.
Essa escola “republicana” funcionava razoavelmente bem, ainda que de modo restrito, quando os militares tomaram o poder e decidiram fazer uma revolução nas carências educacionais mais sentidas no Brasil dessa época: criar uma universidade compatível com as necessidades industrializantes e, sobretudo, operar a implantação de programas de pós-graduação. Os militares provavelmente partiram do pressuposto de que a escola pública já estava montada e funcionando adequadamente, e que os esforços mais importantes deveriam ser dirigidos, portanto, para a graduação universitária, em especial para a pós-graduação. Recursos foram maciçamente direcionados a esses dois sistemas, ao mesmo tempo em que os dois primeiros ciclos recebiam os influxos de milhões de novas crianças e adolescentes, sob o impacto do crescimento demográfico e da urbanização, bastante rápidos no Brasil dos anos 60 aos 80. As entidades de fomento cresceram, as bolsas se multiplicaram, os salários dos professores universitários eram relativamente elevados.
Paradoxalmente, um dos principais fatores da perda progressiva de qualidade do ensino público nos dois primeiros ciclos foi a concentração – e a centralização e a reconcentração – dos recursos públicos no terceiro ciclo, este ultra-privilegiado pelas autoridades em relação aos dois primeiros ciclos e, por isso mesmo, capaz de “produzir” universidades relativamente dinâmicas ao longo das últimas três décadas (sem prejulgar aqui e agora quanto à sua capacidade de produzir boa ciência). O Brasil representa verdadeira anomalia internacional, provavelmente universal, sob a forma de uma pirâmide invertida de gastos entre os ciclos. É absolutamente único na desproporção inusitada, e aberrante, com que são alocados os recursos no topo da educação (na verdade transformado em base superior da pirâmide), em detrimento dos “primos pobres” dos dois ciclos de base (e da educação técnico-profissional, também). Isso em flagrante contraste com o que acontece na maior parte dos países (notadamente naqueles de melhor performance educacional e de maior produtividade no sistema econômico de maneira geral).
Essa desigualdade distributiva não explica tudo, porém, sendo necessário completar o quadro mediante um fator causal de natureza mais qualitativa, representado pelas orientações políticas e pedagógicas adotadas nos cursos de formação de professores, especialmente nas faculdades de pedagogia (que formam formadores, eventualmente também formadores de formadores). Não é segredo para ninguém que o ensino no Brasil, em geral, e os cursos de pedagogia, em particular, são tremendamente influenciados – se não dominados – pelas ideologias tidas por “progressistas” (as aspas indicam obviamente o subjetivismo da expressão), com ênfase naquelas aproximadas ao marxismo; bem como pelas correntes pedagógicas identificadas de perto ou de longe com modismos da área (entre eles o chamado “construtivismo”) e com um amálgama já difuso a partir da cepa original “freireana”, ou seja, a chamada “pedagogia do oprimido” produzida por Paulo Freire.
Dito assim, com essa simplicidade redutora, parece que se trata de  um aspecto desimportante no mar de problemas – materiais, curriculares, humanos – da educação brasileira, embora ele seja, do ponto de vista da abordagem adotada neste ensaio, um dos problemas mais sérios envolvidos nos processos gerais e específicos da deterioração da qualidade do ensino no Brasil (em vários níveis). As pedagogias freireanas estão no centro da tragédia educacional brasileira. Ponto, parágrafo.
Estou plenamente consciente de que as próprias corporações engajadas no ofício (e no comércio) educacional no Brasil – em qualquer ciclo – tendem a enfatizar os fatores pecuniários – insuficiência dos orçamentos públicos, no plano institucional, modéstia ou mesmo depressão salarial dos professores, no plano individual – como estando na origem de todas as mazelas da educação brasileira. Não descarto, obviamente, essa linha explicativa – embora eu prefira enfatizar o escândalo da pirâmide invertida da distribuição de gastos educacionais; mas os fatores políticos e ideológicos são para mim bem mais relevantes, e mesmo determinantes, na erosão qualitativa de todos os níveis da educação e de todo o ensino (público ou particular) no Brasil.

3. As consequências
A tese principal deste ensaio provocador – deliberadamente focado nas áreas de humanidades – é a de que, depois de ter se beneficiado – e beneficiado a sociedade – com a construção de um sistema universitário relativamente completo, e aparentemente eficiente, com a formação de recursos humanos de melhor qualidade que aqueles previamente existentes, a universidade brasileira deu início a um processo de introversão autosustentada, o que a levou a se isolar da sociedade e a desenvolver comportamentos entrópicos e autistas que, ao fim e ao cabo, redundaram no referido processo de mediocrização atual (aliás, em crescimento e expansão).
De fato, esse processo apresenta, pelo lado das humanidades, um aspecto de ignorância letrada que surpreende pela sua extensão e profundidade. Ele não é, exclusivamente, o resultado das ditas pedagogias freireanas – que explicam mais diretamente a perda de qualidade dos ciclos iniciais de ensino; mas ele é a consequência de anos, mais exatamente décadas, de ideologias “educativas” marcadas pelo que existe de mais atrasado na teoria social contemporânea. Ademais da ausência de controles de qualidade, da falta de sistemas de metas fixadas e resultados cobrados – que explicam sua falta de produtividade – o que mais distingue a área de humanidades, no Brasil, é uma adesão acrítica a correntes e movimentos típicos do capitalismo atrasado que aqui vigora. (Parêntese rápido: obviamente meu comentário não vale para os que professam a fé religiosa nas alternativas socialistas ao capitalismo, mas estes já pararam de ler este meu ensaio desde o começo, se é que começaram; quanto a mim, estou certo de que o Brasil é um país capitalista, ainda que atrasado, mas “condenado” a se desenvolver no âmbito do capitalismo, ponto.). As concepções dessas correntes de “pensamento” são as de um anticapitalismo instintivo, as de um forte sentimento antimercado, um estatismo exacerbado, enfim, uma crença ingênua nas virtudes da “engenharia social”, características, aliás, bastante disseminadas em diversas universidades da região; e, até, em muitas universidades de países perfeitamente capitalistas (como exemplo a França, por isso mesmo em declínio intelectual e com baixa produtividade geral nos terrenos aqui focados).
Aqui existe uma correlação circular e cumulativa de fatores causais: os ignorantes letrados e as corporações sindicais se multiplicam e se reforçam mutuamente, disseminando tentáculos por todos os poros universitários. Os que alcançam funções “pedagógicas” formam as pedagogas freireanas que, por sua vez, vão formar os professores do primário e do secundário – qualquer que seja a estrutura e os títulos desses cursos –, que se tornam, no momento devido, seus pupilos e orientandos, uma audiência cativa (muitas vezes passiva) dos novos mandarins universitários. Nos vários componentes dessa complexa equação, pedagogas freireanas, sinecuras acadêmicas, sindicalismo de baixa extração e ideologias anticapitalistas e antimercado se combinam e se reforçam para destruir a educação brasileira, pelo menos naquelas funções iluministas que ela deveria exibir, colocando em seu lugar esses elementos característicos da ignorância letrada.
No curto prazo, o resultado global é o aprofundamento da mediocridade que já vinha marcando as áreas de humanidades do sistema universitário – tanto público quanto privado – nos últimos anos (possivelmente nas duas últimas décadas), contribuindo, no médio e no longo prazo, para reforçar as tendências brasileiras à estagnação ou ao atraso relativo. Essas características não são percebidas, obviamente, pelos que integram o próprio sistema, sobretudo por aqueles que vivem exclusivamente a vida universitária brasileira, em tudo o que ela apresenta de autista e de entrópico. Os acadêmicos que já viajaram, que já conviveram com universidades estrangeiras – refiro-me, obviamente, às boas universidades americanas, e algumas boas europeias – e que já se utilizaram de serviços e mercados nesses países, devem ter perfeita consciência, se tiverem as mentes abertas, para o verdadeiro atraso em que vive o Brasil, mesmo com todos os seus sinais de aparente modernidade. O Brasil é um país que caminha lentamente, que praticamente se arrasta, penosamente, em direção à modernidade.
Esse lento caminhar no sentido dos avanços científicos e tecnológicos mais dinâmicos da contemporaneidade é evidente, mesmo comparando o Brasil a outros países emergentes que se integram aos mercados globais da atualidade, sobretudo na Ásia. Não se trata apenas ou exatamente de dificuldades em aceitar os requerimentos do progresso em suas diversas expressões materiais e culturais; afinal de contas, como já dizia Mário de Andrade mais de setenta anos atrás, “progredir, progredimos um tiquinho, que o progresso também é uma fatalidade”. Trata-se, sobretudo, de bloqueios burocráticos e materiais a um progresso mais rápido: qual é o país emergente que possui uma carga fiscal típica de país rico: 38% do PIB? (Atenção: essa é a taxa média nos países da OCDE, sendo que alguns estão abaixo de 30% e que sua renda per capita ultrapassa 40 mil dólares, mais de seis vezes a brasileira.) Qual é o país no qual a atividade empreendedora é tão cercada de entraves e dificuldades? (No que o Brasil empata, talvez, com a Índia, outro país capitalista atrasado. Atualmente, mesmo aquele outro grande país burocrático, que é a China, é mais capitalista que o Brasil.)

4. As evidências
Independentemente dos lentos progressos materiais que o Brasil consiga realizar nos terrenos vinculados a mercados capitalistas – no que ele vem sendo superado por países de crescimento e de modernização mais rápidos – o fato é que o panorama acadêmico vem experimentando nítido declínio de qualidade no âmbito das humanidades, o que é revelado, por exemplo, pela forma e substância dos artigos publicados ou apresentados para publicação nos veículos da área (muitos deles existindo apenas e tão somente para cumprir requisitos de pontuação estabelecidos de forma puramente quantitativista pelos organismos de fomento acadêmico).
O problema vai muito além do que já tinha constatado, desde 1985, Edmundo Campos Coelho, em seu aclamado (e pouco lido) A sinecura acadêmica: a ética universitária em questão (São Paulo: Vértice, 1985), já que atingindo bem mais do que bancas de seleção de professores, cargos comissionados, apoios financeiros e prebendas institucionais de modo geral. Ele transformou-se num problema sine cura, alcançando o próprio núcleo do sistema de produção acadêmica, ou seja, sua própria substância, que é a capacidade de produzir obras originais, em linguagem acessível a um público mais vasto, mas dentro de rigorosos padrões acadêmicos de qualidade.
Com efeito, um dos aspectos mais preocupantes dessa involução no período recente, aliás, estimulada em grande medida pelas próprias autoridades da área, é a tendência ao enclausuramento acadêmico, à diminuição dos esforços de cooperação com o Norte e, no sentido contrário, o reforço de intercâmbios variados com países do Sul, numa discriminação política que não faz sentido no plano científico; dificilmente se poderá sustentar que entidades de pesquisa da América Latina ou de continentes assemelhados possuam maior e melhor substância científica do que seus equivalentes do Norte. Não existe maior demonstração da vontade de autocondenar-se a viseiras mentais do que a frase sumamente imbecil, bastante repetida em certos meios, que proclama que o “Sul é o nosso Norte”. Toda e qualquer ciência, toda e qualquer abordagem acadêmica que se autodireciona para um lado, ignorando todos os outros, é por definição estúpida e autolimitativa em termos estritamente científicos.
Acadêmicos defensores dessa postura se orgulham de exibir uma proclamada “latinoamericanidad” que não faz o menor sentido no plano das metodologias e das pesquisas de ponta, como se o fato de pertencer ao mesmo arco cultural ou a uma mesma zona geográfica representasse qualquer garantia de qualidade acadêmica. O “indigenismo” ingênuo e canhestro presente em algumas dessas novas experiências de cooperação introduz um elemento totalmente estranho nas tradições de pesquisa brasileira, já que referidos a um universo civilizatório que não tem nada a ver com os componentes antropológicos ou culturais da formação histórica e social do Brasil.
A busca sôfrega por identidades nessas áreas, certamente forçada, mas intensamente praticada nos últimos anos, representa um atraso e uma dispersão de esforços que vão, inevitavelmente, cobrar um preço na produção acadêmica brasileira. As interpretações classistas e “campesinas” da história social e do desenvolvimento econômico na região, a adesão pouco refletida a supostas causas de “oprimidos” e de “injustiçados” reforçam os componentes do atraso acadêmico; interpretações, aliás, que vêm acompanhadas de um inacreditável apoio a uma das experiências políticas mais nefastas já assistidas em todo o mundo, que é a construção progressiva de um fascismo tido supostamente por ser de esquerda, apenas porque o caudilho promotor emite invectivas “anti-imperialistas”. Uma falsa noção de segurança e de soberania alimentar condena a atividade primário-exportadora como sendo negativa do ponto de vista do desenvolvimento econômico e social, quando ela é o sustentáculo da modernidade no campo, independentemente de considerações ad hoc sobre as dimensões regionais das propriedades ou seus vínculos com o mercado externo.
São muitos os exemplos de posturas anacrônicas no plano das humanidades, assim como são muitos os componentes da mediocridade universitária, entre eles um “gramscianismo” instintivo e até ignaro (já que não corresponde a uma verdadeira leitura aberta da obra original). Esses exemplos podem até corresponder a uma atitude militante compatível com preferências manifestas na vida civil; mas jamais aos requisitos do trabalho acadêmico tal como reconhecido pelos padrões normais da pesquisa científica. Todos eles vão reforçar as deficiências metodológicas, a ignorância letrada e o atraso substantivo nas pesquisas relevantes para o progresso e o desenvolvimento do Brasil. Em algum momento, o ambiente acadêmico vai emergir das camisas de força ideológicas e buscar a atmosfera mais arejada da pesquisa de boa qualidade. Mas esse processo promete ser longo e custoso, tendo em vista os equívocos e desvios já incorridos no cenário universitário brasileiro.
Quero crer, também com base em evidências subjetivas, que o atraso é apenas relativo, e não absoluto, pois em algumas áreas ou situações específicas a racionalidade tem condições de se impor contra as ideologias ingênuas. No cômputo geral, contudo, a situação atual nas humanidades da academia brasileira aparece como quase desesperadora, necessitando, praticamente, o estabelecimento de um quilombo de resistência intelectual contra os assaltos à racionalidade mais elementar por parte de tribos crescentes de ignorantes letrados. Gostaria de estar errado, e de ser apenas um pessimista elitista (não: não tenho nenhuma vergonha em buscar a elite do saber). Gostaria de registrar uma rápida correção da academia brasileira em direção de padrões de comportamento institucional mais consentâneos com sua vocação humanista e, sobretudo, constatar uma produção intelectual à altura dos requisitos de modernidade e progresso que estamos no direito de esperar de um país inserido na globalização do conhecimento. Não é o que tenho observado até aqui.
Esperemos que seja um fenômeno passageiro, embora meu pessimismo realista tenha sólidas razões para existir: afinal de contas, o otimismo da vontade, ou da prática, não consegue prevalecer num ambiente de mentes fechadas, o que só alimenta o pessimismo da razão, ou do intelecto. O problema parece estar em que os acadêmicos gramscianos só pretendem ler Gramsci, jamais as críticas que lhe são feitas, mesmo as de um intelectual socialista (embora liberal) como Norberto Bobbio, por exemplo. As viseiras mentais daqueles mesmos que posam de sumidades acadêmicas de relevo, e que são lidos e repetidos nas universidades brasileiras, chegam a ser assustadoras, inclusive e sobretudo porque parecem ter assegurado o seu próprio sucesso continuado, a julgar pela bibliografia distribuída e pelos trabalhos produzidos nessas esferas.
Não é preciso, aqui, citar nomes e ensaios publicados, pois é muito fácil deduzir quem, ou quais são as “vacas sagradas” do processo de mediocrização da universidade brasileira. Talvez dois pequenos trechos retirados de texto de um dos gurus da nova ignorância sejam representativos do que estou analisando: “Entra governo, sai governo, as leis do mercado parecem dominar irreversivelmente o mundo, o estilo de vida norte-americano devasta espaços nunca antes alcançados – seja na China ou na periferia das grandes metrópoles do sul do mundo...”; “A crise da URSS não deu lugar a um socialismo superador dos problemas desse modelo e, ao contrário, disseminou o neoliberalismo nas terras de Lênin. O capitalismo abandonou seu modelo keynesiano por um modelo de extensão inaudita da mercantilização de todos os rincões do mundo.” Um acadêmico capaz de escrever tamanha bobagem é capaz de qualquer impostura intelectual, que ele aliás não cessa de praticar.
Os quilombos de resistência intelectual a esses processos de indigência acadêmica e de desonestidade no plano das ideias – o que ocorre sempre quando os argumentos exibidos estão longe de corresponder à realidade mais evidente – são ainda muito tênues e pouco numerosos. A esperança é que eles se multipliquem nos anos à frente e possam superar os imensos pântanos de mediocridade que se espalham de modo preocupante pela universidade brasileira. Estou sendo muito pessimista?

[Dubai-SãoPaulo, 17/07/2010; Shanghai, 30/07/2010]
Resumo: Ensaio sobre a crescente deterioração da qualidade da produção acadêmica brasileira na área de humanas, examinando a natureza do problema, suas causas, suas consequências mais evidentes e as evidências disponíveis, de modo indireto. Ademais das pedagogias freireanas, que estão na raiz da tragédia educacional nos dois primeiros ciclos de ensino, o sistema de educação superior padece de viseiras mentais criadas por ideologias supostamente progressistas que deformam a percepção da realidade e contribuem para a erosão de qualidade nos diferentes ciclos de ensino.
Palavras-chave: Academia brasileira. Mediocrização. Pedagogias equivocadas.

 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Universidades brasileiras: pessimo desempenho, e continua piorando...

O que o professor da UniCamp expressa é, no mínimo, uma desculpa disfarçada, e esfarrapada. Dizer que as universidades não acompanham a importância da economia brasileira é juntar tamanho com eficiência. Se tamanho fosse documento os dinossauros não teriam desaparecido, e os elefantes e as baleias seriam os animais mais poderosos da terra.
A economia brasileira simplesmente não é competitiva, disso sabemos todos.
E as universidades brasileiras simplesmente não são produtivas, e isso tem a ver com sua péssima organização e a baixíssima produtividade de seus produtores, o que aliás reflete perfeitamente bem a situação de sua economia como um todo.
Ou seja, as universidades são, sim, um reflexo da economia do país, e dos seus dirigentes, incompetentes e equivocados, em 120 % das políticas educacionais (já acrescento o que de ruim ainda vem pela frente).
Vamos continuar nossa trajetória para a decadência intelectual e a mediocridade acadêmica, aliás, de todos os ciclos de ensino, do jardim da infância ao pós-doc.
Ou o Brasil acaba com as saúvas freireanas, ou as saúvas freireanas acabam com a educação brasileira.
Paulo Roberto de Almeida

O ranking das universidades

Editorial O Estado de S.Paulo, 11 de dezembro de 2013
Não é apenas o ensino básico brasileiro que vem se saindo muito mal nas avaliações comparativas com os sistemas educacionais de outros países realizadas por organismos multilaterais. O mesmo ocorre com o ensino superior.
No levantamento da Times Higher Education sobre a qualidade das universidades dos Brics e países emergentes, divulgado esta semana, quatro instituições brasileiras foram classificadas entre as cem melhores. Nenhuma delas, contudo, ficou no topo da lista. Há dois meses, a Times Higher Education havia divulgado um estudo mostrando que o Brasil não teve nenhuma universidade incluída na lista das 200 melhores do mundo, em 2013. A instituição brasileira melhor classificada, a USP, em 158.º lugar no ranking de 2011, despencou para a faixa entre o 226.º e o 250.º lugares, este ano.
Os estudos comparativos da Times Higher Education avaliam o desempenho dos estudantes, o nível de internacionalização de cada universidade e sua produção acadêmica nas áreas de engenharia, tecnologia, artes, humanidades, ciências da vida, saúde, física e ciências sociais. Também levam em conta a relevância das pesquisas acadêmicas, a regularidade da publicação de artigos nas revistas científicas mais conceituadas e o número de vezes que são citados. E medem, ainda, o nível de absorção, pelas empresas, das ideias e das tecnologias inovadoras desenvolvidas pelas universidades.
No ranking das instituições de ensino superior dos Brics e dos países emergentes, as universidades asiáticas alcançaram o mesmo destaque que suas escolas de ensino básico obtiveram na edição de 2012 do Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa). Só a China classificou 23 universidades - 4 delas entre as 10 melhores. A Turquia classificou 3 universidades no topo da lista. A USP ficou na 11.ª posição, abaixo de instituições da China, da Turquia, de Taiwan, da Rússia e da África do Sul. A segunda universidade brasileira melhor classificada foi a Unicamp, em 24.º lugar. Em seguida vêm a UFRJ e a Unesp, em 60.º e 87.º lugares, respectivamente.
O péssimo desempenho das universidades brasileiras nas avaliações internacionais causa preocupação entre os especialistas em ensino superior. Professor da Unicamp, com doutorado na Universidade de Tel-Aviv e pós-doutorado em universidades francesas, o físico Leandro Russovski Tessler classificou como "trágicas" as colocações das universidades brasileiras no ranking da Times Higher Education. Os coordenadores da pesquisa disseram que nossas universidades tiveram um desempenho "decepcionante" e afirmaram que "o ensino superior do Brasil não condiz com o tamanho de sua economia".
Entre os principais problemas das universidades brasileiras, destacam-se a falta de recursos financeiros e humanos para pesquisa, falta de infraestrutura, falta de intercâmbio, baixo número de publicações em revistas internacionais e desconhecimento de idiomas estrangeiros. Em outras palavras, o problema está na forma como o governo vem gerindo o ensino superior, revelando-se incapaz de planejar e de estabelecer prioridades. Enquanto China, Coreia do Sul, Cingapura e Taiwan há muito tempo investem em qualificação de docentes e centros de excelência, intercâmbio cultural e internacionalização de suas universidades, o Brasil desperdiça recursos escassos com a criação de novas instituições sem, no entanto, assegurar boas condições de funcionamento para as instituições já existentes. Na última década, o País também aumentou gastos no setor sem estabelecer metas de produtividade e sem atribuir funções específicas para cada uma das universidades públicas.
Por coincidência, o estudo da Times Higher Education foi divulgado no mesmo dia em que, ao receber o título de doutor honoris causa de uma das universidades abertas em seu governo, Lula mostrou como geriu a área de educação. "Proibimos discutir educação como gasto", disse ele, sem dedicar nenhuma palavra ao problema da má qualidade de gestão e planejamento.
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Ensino Superior
Só 12% dos programas brasileiros de pós-graduação têm nível internacional
Segundo avaliação da Capes, apenas 406 programas obtiveram notas 6 e 7

Apenas 406 dos 3.337 programas de pós-graduação em funcionamento no país têm qualidade internacional, segundo dados divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) nesta terça-feira. O dado consta da avaliação trienal dos cursos de pós-graduação stricto sensu feita pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão vinculado ao MEC.

Leia também:
85 cursos de pós-graduação no país são considerados inadequados
Brasil tem só 4 universidades em ranking de emergentes
USP cai em ranking e Brasil deixa elite universitária global

Foram avaliados 5.082 cursos de mestrado, doutorado e mestrado profissional em 3.337 programas de pós-graduação – 619 a mais do que no último levantamento, divulgado em 2010. O processo considerou as informações fornecidas entre 2010 e 2012.

Os programas recebem notas que variam de 1 a 7. Sessenta programas receberam os conceitos 1 e 2 e, por isso, poderão ser descredenciados. A taxa de reprovados, de 1,8%, é inferior à registrada em 2010, de 2,2%: naquele ano, 61 programas receberam notas 1 e 2 entre os 2.718 avaliados.

A maioria dos programas, ou 68,1%, recebeu notas 3 e 4. Os programas com 6 e 7, 12,2% do total, são considerados de padrão internacional. Eles foram bem avaliados por participar de projetos de pesquisa internacional, por realizar atividades de intercâmbio acadêmico e por motivar a publicação de artigos em revistas estrangeiras. No mestrado, a nota máxima é 5; no doutorado, 7.

Segundo o levantamento, 69% dos cursos mantiveram o desempenho de 2010, 23% obtiveram conceitos mais altos e 8% ficaram com notas mais baixas. As insituições têm 30 dias para apresentar recurso e contestar as notas recebidas.

De acordo com a Capes, que realiza a avaliação desde 1976, o objetivo é estabelecer um padrão de qualidade para os cursos de pós-graduação e identificar aqueles que não atendam o padrão exigido. Um dos critérios para definir o conceito do curso é a quantidade de artigos científicos publicados em periódicos especializados. Em comparação com a última avaliação, a produção intelectual cresceu 21%, atingindo quase 1,5 milhão de publicações.

domingo, 2 de junho de 2013

As "umanidadis" na construcao do comunismo: belo exemplo da mediocridade academica

Em nome da liberdade acadêmica, nossos cursos de "Ciências Humanas" (aspas triplas) têm abrigado alguns absurdos grotescos. O que vai abaixo foi revelado pelo Klauber Pires:

Libertatum, 01 Jun 2013 01:50 PM PDT

Que as universidades brasileiras se converteram nas últimas décadas em centros de propagação das ideologias e mitologias da esquerda é fato que hoje ninguém mais ignora. O que muita gente não sabe é que a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) abriga, oficialmente, um “Centro de Difusão do Comunismo”.
Não é piada, não. Vejam aqui.

O Centro de Difusão do Comunismo (CDC) está vinculado ao curso de Serviço Social da UFOP, e desenvolve (ou desenvolvia até 2012), sob a coordenação do Prof. André Luiz Monteiro Mayer, dois projetos de extensão: a Liga dos Comunistas e a Equipe Rosa Luxemburgo. O primeiro (que tem, ou teve, apoio do CNPq) se apresenta como um “núcleo de estudo e pesquisa sobre o movimento do real, referenciado à teoria social de Marx e à tradição marxista”; e o segundo como um grupo “de Debate e Militância Política Anticapitalista”.
Não se trata, portanto, de um centro destinado a estudar o comunismo. O CDC existe para difundi-lo. Seu objetivo é “lutar por uma sociedade para além do capital!”
A Liga dos Comunistas da UFOP possui, é claro, um Manifesto, que termina assim:
A Liga dos Comunistas vem manifestar a sua radical opção: desejamos a morte das relações sociais impostas pelo capital; lutaremos pela sua ruína e superação com todas as armas que forem possíveis; e esperamos poder contribuir com a emancipação humana, rumo a outro modelo de sociedade "para além do Capital", no qual as relações sociais serão construídas para atender as necessidades básicas, material e espiritual, do ser social.
Morte ao Capital!
O problema é que, em vez do Capital -- que continua aí, firme e forte, alimentando os Andrés Luízes da vida --, o que os comunistas mataram foi gente de carne e osso. Uns 100 milhões, mais ou menos, só no séc. XX.
Agora deem uma olhada no currículo do Prof. André Luiz Monteiro Mayer (dados informados pelo próprio):
Militante Comunista. Doutor em Serviço Social pela UFRJ (Concentração em Teoria Social). Professor do Curso de Serviço Social da UFOP. Coordenador do Programa: Centro de Difusão do Comunismo (CDC-UFOP) com quatro ações vinculadas: (...) Tem experiência na área de assessoria aos movimentos sociais e nas seguintes áreas de ensino: teoria social, pesquisa, serviço social (projeto pedagógico). Debate principalmente os seguintes temas: capital, relações sociais, reificação, comunismo, serviço social (fundamentos teórico-metodológicos da vida social).
Pelas aulas que dá e pela militância que desenvolve na UFOP -- uma universidade pública, mantida com dinheiro de impostos pagos por toda a população --, o Prof. André Mayer recebe, de acordo com o Portal da Transparência, R$ 8.839,53 por mês.

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Alegres e risonhos na construção do comunismo. Certamente merecem ganhar uma ou duas passagens (ou tantas quantas quiserem dar), para cortar cana em Cuba, ou trabalhar na Coreia do Norte...
Paulo Roberto de Almeida

CDC – UFOP

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
PRO-REITORIA DE EXTENSÃO – PROEX
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL – ICSA
CENTRO DE DIFUSÃO DO COMUNISMO (CDC – UFOP)
 APRESENTAÇÃO
O CDC-UFOP é um PROGRAMA vinculado à PROEX, com 04 ações de extensão articuladas para estudar, debater e realizar a crítica à ordem do capital.
OBJETIVO
Lutar por uma sociedade para além do capital!
ATIVIDADES
O CDC – UFOP articula suas ações em 02 projetos de extensão e 02 cursos de extensão e conta com a participação de 20 bolsistas.
1 – Liga dos Comunistas – Núcleo de Estudos Marxistas (CNPQ/UFOP) (projeto)
2 – Mineração e exploração dos trabalhadores na região da UFOP (curso)
3 – Equipe Rosa Luxemburgo. Grupo de debate e militância anticapitalista. Responsável pela coordenação do CDC (projeto)
4 – Relações sociais na ordem do capital. As categorias centrais da teoria social de Marx (curso) 
* As atividades são gratuitas, abertas à comunidade e realizadas duas vezes ao ano no ICSA (Mariana), com editais no início de cada semestre.

Liga dos Comunistas

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO – UFOP
PRÓ-RETORIA DE EXTENSÃO – PROEX
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL – ICSA 
LIGA DOS COMUNISTAS. NÚCLEO DE ESTUDOS MARXISTAS 
APRESENTAÇÃO
Liga dos Comunistas. Núcleo de Estudos Marxistas (CNPQ) é um PROJETO vinculado ao PROGRAMA CENTRO DE DIFUSÃO DO COMUNISMO (CDC – UFOP). Pretende ser um núcleo de estudo e pesquisa sobre o movimento do real, referenciado à teoria social de Marx e à tradição marxista.
JUSTIFICATIVA
Aberto à participação de alunos, professores e funcionários da UFOP e aos trabalhadores da região, a construção de um núcleo de estudo vinculado à tradição que se inspira em Marx e que defende o comunismo tem um objetivo seminal: a transformação da realidade. Nesse momento histórico e determinado, essa realidade é dominada por um “sistema de controle do metabolismo social” específico, o capital.
METODOLOGIA
Através do núcleo de estudos, realizar encontros quinzenais para leitura de textos de Marx e da Tradição marxista sobre o “movimento do capital”, seguidos de debate sobre o tema, além de incentivar a investigação científica (pesquisa), a produção de artigos e a divulgação em eventos e revistas.

Equipe Rosa Luxemburgo

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO – UFOP
PRO-REITORIA DE EXTENSÃO – PROEX
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL – ICSA
EQUIPE ROSA LUXEMBURGO
APRESENTAÇÃO
Equipe Rosa Luxemburgo é um PROJETO vinculado ao PROGRAMA CENTRO DE DIFUSÃO DO COMUNISMO (CDC – UFOP) e se propõe a ser um Grupo de Debate e Militância Política Anticapitalista, com especial apoio ao movimento dos trabalhadores da mineração na região e às lutas próprias à educação na UFOP. Cabe à Equipe Rosa Luxemburgo a coordenação do PROGRAMA CDC – UFOP.
JUSTIFICATIVA
Existe na região de abrangência da UFOP um significativo número de trabalhadores na área da mineração que tem o direito de receber apoio da UFOP para fortalecer suas lutas. Dentro da UFOP também, alunos, professores e funcionários tem o direito de receber apoio em suas reivindicações.
 METODOLOGIA
- Formação de uma equipe de debate anticapitalista que envolva estudantes, professores, funcionários e trabalhadores da região da UFOP.
- Apoio ao movimento dos trabalhadores e suas ações públicas.
- Encontros semanais para monitoramento do PROGRAMA CDC – UFOP (planejamento e avaliação das ações a serem desenvolvidas).
 

  
    
    

Curso Mineração e Exploração

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO – UFOP
PRO-REITORIA DE EXTENSÃO – PROEX
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL – ICSA
CURSO DE EXTENSÃO: MINERAÇÃO E EXPLORAÇÃO DOS TRABALHADORES NA REGIÃO DA UFOP
* EM PARCERIA COM O SINDICATO METABASE INCONFIDENTES – MARIANA.

Bye-bye Humanidades, alo (des)Umanidadis: a academia brasileira a caminho do brejo...

Transcrevo o post abaixo não por qualquer motivação pró ou anti-gay. Não tenho nada a ver com essa causa, embora ache que eles fazem um pouco de barulho demais para menos de 10% da população (é o que me dizem os entendidos, e os intendidus...). Para mim eles podem casar à vontade e transmitir heranças entre eles, respeitados os direitos de outros familiares por acaso envolvidos, em algum momento, com a construção do patrimônio familiar (pois é, tem um monte de enrustido que sai do armário muito mais tarde do que deveria, mas compreendo essas coisas também). Mas sou contra, por exemplo, a adoção geral pelos casais gays, deixando aos juízes decidir caso a caso, embora eu mesmo acredite que nenhum juiz tem o direito de impor a uma criança, indefesa, psicologicamente frágil, essa experiência de ter de explicar na escola que seus país são, como diz o jornalista abaixo, Zézinho e Zezinho, ou Joaninha e Joaninha, o que inevitavelmente converterá essa criança em objeto de riso ou até dessa coisa que agora chamam (estupidamente, reconheço) de bullying.
Também acho que essas paradas gays descambam facilmente para o ridículo, quando não para o grotesco, o que eles justamente dizem que querem evitar da parte dos outros, mas acabam se oferecendo no plateau dos estereótipos mais bizarros que se possa pensar. Tem, em SP, esse incômodo maior de bloquear o acesso a hospitais das cercanias da Avenida Paulista, o que é uma crueldade com quem não tem nada a ver com essa parada ridícula.
Pois bem, não tenho nada contra os gays, mas acho que eles fazem muito barulho por pouca coisa.
Mas a postagem abaixo não tem nada a ver com isso.
Ela se destina apenas a comprovar (como se isso fosse preciso, ainda) como a Universidade brasileira descamba para um grotesco pior que uma parada gay, como revelado no "estudo" absolutamente esquizofrênico dessa economista, que de economista não tem nada, e apenas pretende servir a uma das causas politicamente corretas (e estúpidas) das chamadas Humanidades, que no Brasil já viraram (des)umanidadis, de tão ruim que anda o campo.
Realmente, a coisa está assumindo proporções tão amplas, que se eu fosse do CNPq pediria a um comitê que examinasse a fundamentação teórica e os objetivos práticos desses projetos que pretendem provar que todos nós, heterossexuais, somos preconceituosos, e apenas a malta é virtuosa.
Paulo Roberto de Almeida


Reinaldo Azevedo, 2/06/2013

São Paulo realiza hoje mais uma edição da Parada Gay. A imprensa militante — isto é, a antigamente chamada “grande imprensa” — fala em até 3,5 milhões de pessoas, o que é uma sandice. No ano passado, o Datafolha mediu o público com critérios técnicos: os anunciados 2 milhões se reduziram a 270 mil, considerando os curiosos que ocupam as calçadas. “Paradeiros” mesmo, que fizeram todo o percurso, estimou-se, ficaram em torno de 65 mil. Ainda assim, é bom notar, é bastante gente! Mas não são 2 milhões, certo? Isso é número que serve à propaganda, justificando, ainda que com dados falsos, o peso editorial desproporcional que jornais, TVs e meios eletrônicos conferem ao evento.
Ao longo da semana, publicaram-se várias reportagens de apoio: o mercado consumidor gay e a renda dessa faixa da população; a indústria do entretenimento gay em São Paulo; os preparativos e coisa e tal. Bem, tudo é mais ou menos a mesma coisa. As pautas ficam arquivadas, e aí é só atualizar o texto com entrevistados novos. Eis que, no Estadão (e ninguém deveria se surpreender mais com isso) deste domingo, uma reportagem foge da mesmice e informa: “Diversidade é maior entre casais gays”. É claro que há certa graça involuntária num título — ou terá sido picardia? — que informa ser maior a diversidade de um casal em que o Zezinho se casa com o Zezinho, não com a diversa Joaninha…
É que se falava de uma outra diversidade, a social!!! Ah, bom! Os subprodutos, agora supostamente acadêmicos, da cultura gay já ultrapassaram o limite da busca por aceitação e igualdade. Chegou a hora de provar a superioridade moral, intelectual e política da homossexualidade, no confronto com o que se passou a chamar de “heteronormatividade”. Qual e o busílis da reportagem, assinada por Luciano Bottini Filho e William Castanho? Prestem atenção!
Uniões de homossexuais registrariam maior variação de idade entre os parceiros (58,59% contra 45,96% dos héteros), de escolaridade (43,33% contra 37%) e de cor (36,74% contra 29,76%). Os dados foram coligidos pela economista Fernanda Fortes de Lena, da Universidade Federal de Minas Gerais. Nisso é gasto o nosso dinheiro… Bem, bem, bem… Como explicar, não é?
Qualquer pessoa dotada de um mínimo de raciocínio matemático — seja hétero, gay, bi ou assexuado — entende de imediato a razão de as coisas serem assim: como o universo em que os gays podem escolher seus parceiros é absurdamente mais reduzido do que aquele em que os héteros fazem as suas opções, então a condição obrigatória (ser gay) acaba tornando menos importantes as condições ligadas ao mero gosto (idade parecida, mesma escolaridade ou mesma cor da pele). Ora, a condição exclusiva do universo em que os héteros selecionam potenciais parceiros é mais ampla do que a condição excludente — logo, eles podem partir para as exigências seguintes com muito mais chances de sucesso. Com os gays, dá-se o contrário: a condição excludente é muito maior do que a exclusiva, e o universo das escolhas se reduz dramaticamente.
O mesmo se daria — prestem atenção! — se viciados em Chicabon decidissem se casar só com outros viciados em Chicabon. Seria preciso deixar de lado outros critérios para, como dizia meu avô, “arrumar tampa pra binga” — a expressão quer dizer “achar o devido complemento”. Não estou comparando sexualidade com gosto por sorvete. Estou apenas deixando claro que, quanto menor o universo em que incide a condição necessária, mais se tende a relaxar nas condições meramente satisfatórias.
“Ciência” militante
Não, não, não! Se a coisa é óbvia, a chance de que seja aceita em certas áreas da universidade brasileira é muito reduzida. A tal economista Fernanda Fortes de Lena prefere extrair da evidência dos fatos uma lição de educação, moral e civismo: “Os casais gays, em razão de suas características de associação de cor e escolaridade, contribuem menos para a transmissão de desigualdades na estrutura social”. AHHH, BOM!!!
Sabem aquela ideia antiga de que, afinal de contas, a heterossexualidade responde, vá lá, pela continuidade da espécie? Esqueçam. Os héteros contribuem mesmo é para “transmitir a desigualdade na estrutura social”. A afirmação desta gigante do pensamento traz alguns desdobramentos lógicos, a saber:
a: quanto mais casais gays, então, menos desigualdade na estrutura social;
b: o incentivo à formação de casais gays seria um estímulo à igualdade;
c: mas esperem… Imaginemos, sei lá, uma cidade formada por milhões de gays de todos os tipos: jovens, velhos, ricos, pobres, negros, brancos, mestiços, universitários, secundaristas… Falo de um lugar em que houvesse um exponencial aumento da oferta de parceiros. Será que essa dita “diversidade” maior de manteria? Ora…
A psicóloga Adriana Numan até ensaia a resposta correta — a população reduzida de homossexuais limita as escolhas —, mas, depois, fica com medo do óbvio e solta uma pérola do politicamente correta: “Os gays não precisam copiar os modelos dos heterossexuais; eles criam suas próprias regras”. É? Quais regras? União civil, casamento e adoção de crianças, tudo indica, significa justamente “copiar as regras”, não é? Até mesmo nos casos de inseminação artificial. Mas atenção para o que vem agora.
“Há preponderância da valorização da diferença no universo homossexual, e não falta de escolha. Entre os heterossexuais, existe um ideal romântico, no qual o homem deve ser um pouco mais velho, e as uniões devem obedecer a certos padrões. Existem orientações culturais, como se fossem fantasias coletivas.”
Quem afirma essas barbaridades é uma senhora chamada Regina Facchini, antropóloga do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Huuummm… Entendi! Os heterossexuais participam de uma fantasia coletiva, orientadas pela cultura. Por alguma razão que a antropóloga deve saber, mas não conta para ninguém, os homossexuais estariam imunes a esse determinismo cultural. Não sei se a dona colabora com a causa. Passa a impressão de que o indivíduo decidiu escolher alguém do mesmo sexo só para demonstrar que não é desses que se deixa levar pela maioria… Se ela estiver certa, a gente deve acreditar que uma mulher escolhe um homem um pouco mais velho porque é uma tonta romântica; já o gay que casa com um parceiro mais maduro o faz para deixar claro que valoriza a diversidade. Escrevo de novo: quando a Joaninha se casa com o Zezinho, está apenas reproduzindo a mesmice sem imaginação; se, no entanto, o Zezinho pega o Zezinho, e a Joaninha, a Joaninha, aí, sim, existe diversidade!!!
Evangélicos
No dia 25 do mês passado, aconteceu no Rio a “Marcha para Jesus”, promovida por denominações evangélicas. Reuniu, segundo estimativas da própria polícia, 500 mil pessoas. Digamos que tenha sido a metade. É muita gente mesmo assim. O evento foi solenemente ignorado pela antiga grande imprensa. Era como se aquilo não tivesse acontecido. As marchas da maconha em São Paulo ou no Rio, que juntam entre 1 mil e 1,5 mil manifestantes, sempre mereceram cobertura mais ampla e mais entusiasmada — e invariavelmente a favor. No dia 5, na quarta-feira, denominação cristãs — e os católicos também estão sendo convidados — realizarão em Brasília, a partir das 15h, outra manifestação, desta feita em defesa da liberdade de expressão, da liberdade religiosa, da família tradicional e da vida — leia-se: contra o aborto. Também será ignorada? Vamos ver.
Antes que alguns bobalhões comecem a “bobalhar”, deixo claro: não estou contra passeata de ninguém — embora seja um absurdo realizar o ato gay na Paulista por razões óbvias. Chegar a pelo menos dez hospitais da região se torna tarefa impossível. Cada um faça o que achar melhor, nos limites da lei. A minha questão diz mais respeito à imprensa do que aos manifestantes; diz respeito aos fatos. Ah, sim: o Félix da novela ficou inconsolável com essa parte da “igualdade social”…

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A (des)universidade brasileira afunda no anacronismo e na mediocridade

Se eu fosse o Nelson Rodrigues -- um escritor que não tinha medo de chocar e de ser politicamente incorreto -- eu diria que essa questão foi feita por uma militante feminista, mal amada e com desejos de vingança sobre os homens, sobre todos os homens.
Como eu não sou, apenas direi que os formuladores dessa questão não são historiadores, e sim seres patéticos, anacrônicos, absolutamente ridículos nessa transposição de conceitos e temáticas contemporâneas para a Idade Média.
Depois da raiva, ou da estupefação, segundo os casos, vem a confurmação de que, realmente, a universidade brasileira vai afundar no pântano da vastíssima ignorância e da estupidez deliberada, desejada, buscada (e conseguida) de grande parte de seus "profeççoris" de desumanidades.
É para rir ou para chorar?
Paulo Roberto de Almeida

Comentário recebido:

"Olá, Paulo.
O comentário (meio longo) que farei abaixo está fora do tópico. Caso queira, descarte.

Depois de me aposentar no TRE-Xxxxxx e vir morar em [bonita capital do Sul maravilha], decidi prestar concurso para professor de História/História Antiga e Medieval, na UFXX.

Minha formação correspondia aos pre-requisitos exigidos para o certame, é claro. Mas o surpreendente - no sentido negativo do termo - foi o tema de um dos dois tópicos sorteados para a prova escrita. Era ele: "Vida doméstica, relações de gênero e sexualidade no mundo antigo".

É claro que quando vi esse tópico na lista dos 17 listados, eu achei ridículo. Mas quando ele foi sorteado, eu não me contive e abri a minha prova escrita com o seguinte comentário: já imaginaram Sócrates, ou um alto funcionário do Egito Antigo ou mesmo um centurião romano discutindo a relação com sua querida companheira helênica, egípcia ou romana?

É inacreditável: aplicam-se conceitos do séc. XIX (sexualidade é um conceito freudiano, como todo mundo civilizado sabe) ou do ideológico e literário século XX (relações de gênero) numa prova para professores de História Antiga e Medieval.

E, aliás, apesar de se tratar de professor de História Antiga e Medieval, todos os 17 tópicos versaram sobre História Antiga (ou, como você pode comprovar, sobre um arremedo medonho e pós-moderno de História Antiga).

Esta é a universidade federal brasileira, na modalidade "Ciências Humanas" que se vê hoje.

O resultado da prova escrita sai amanhã. Seja ele qual for, eu me considero uma lamentável perdedora.

O Brasil é um país de miercoles."

Minha solidariedade, e o registro aqui, que serve como protesto e denúncia. Os, ou as, energúmen@s que prepararam a prova saberão que é deles, ou delas mesmo que estou falando.
Posso até apostar que, sob o anacronismo gritante da questão, se esconde uma combinação das mais fraudulentas para atribuir a vaga para alguém previamente escolhid@.
Essa patifaria é hoje a universidade brasileira no que antes se chamava Humanidades, e que se converteu hoje numa ação entre boçais da mesma tribo ideológica.
Paulo Roberto de Almeida

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COMPLEMENTO: 


Paulo,

fiquei muito feliz com suas palavras. Sem querer ser piegas - mas já sendo - creio que um diplomata de verdade tem, entre outras funções de muita dignidade - defender os cidadãos brasileiros que estejam em situação de ameaça e risco. Talvez eu esteja atribuindo valores muito românticos e glamourosos à vocação a que você ouviu o chamado.

De qualquer maneira, Paulo, eu me senti defendida e acolhida com a sua corajosa solidariedade.

Quem tem o reconhecimento e o apreço de uma pessoa especial como você, é claro que não precisa ser aprovada em nenhum certame, principalmente do tipo destes incertos no quesito lisura.

Só mais um detalhe: é claro que não consegui os 70 pontos necessários na prova escrita. Sabe que no atual contexto universitário brasileiro eu estou me sentindo honrada com a reprovação?

Copiei do edital da UFXX para todas as áreas do "conhecimento" o trecho do edital para professor de História Antiga e Medieval. Veja os tópicos 5 e 7, por favor. Observe que o de número 5 (o outro tópico que foi sorteado) eles escreveram "circulação" e tascaram um ponto final. Circulação de quê, caras pálidas? Circulação de ar? Se for, isto prova que eles são, na melhor das hipóteses, uns cabeças de vento. Isto se não forem cabeças de camarão.

14.1.9.4 – Departamento de História

14.1.9.4.1 – Área/Subárea de Conhecimento: História/História Antiga e Medieval: 1) História Antiga: conceito e periodização; 2) Mito e ritual no mundo Antigo; 3) Artes e pensamento no mundo Antigo; 4) Trocas culturais no mundo Antigo; 5) Trocas econômicas e circulação na Antiguidade; 6) Crenças e vida religiosa no mundo antigo; 7) Vida doméstica, relações de gênero e sexualidade na Antiguidade; 8) Trabalho e produção no mundo antigo; 9) Poder e Lei na Antiguidade; 10) Formas de Organização Política no mundo antigo; 11) Metodologias de pesquisa e produção do conhecimento na Antiguidade; 12) Historiografia e modelos interpretativos sobre a Antiguidade; 13) Fontes e documentos para o estudo da História Antiga; 14) "Ocidente" e "Oriente" nos estudos sobre o mundo antigo; 15) O mundo antigo no ensino de história; 16) Conceitos de tempo e história no mundo antigo; 17) Cultura material: pesquisa e interpretação.

terça-feira, 5 de março de 2013

Ciencia para tras? O CsF vai atrasar ainda mais o Brasil?

Perguntas pertinentes: se os estudantes saem do Brasil para universidades piores do que aqueles nas quais poderiam estudar no Brasil, então se trata apenas de turismo remunerado, e férias pouco acadêmicas. Ou seja, o Brasil vai gastar dinheiro para alunos que vão voltar pior do que estariam se permanecessem no Brasil.
Faz sentido?
Pouca coisa faz sentido em certas políticas do governo.
Se é para dar férias pouco estudiosas aos nossos estudantes, não seria melhor mandá-los para as praias do Nordeste?
Paulo Roberto de Almeida 

Bolsistas fazem curso pior em Portugal
Davi Lira
O Estado de São Paulo, 5/03/2013

Entre estudantes do Ciência sem Fronteiras, quase 70% estão em universidades mais fracas
Dos 2.587 bolsistas do Ciência Sem Fronteiras (CsF) em Portugal - o país é o segundo principal destino do programa -, quase 70% foram para universidades consideradas mais fracas que as principais instituições brasileiras ranqueadas pelo SCImago, reconhecido grupo de pesquisa internacional que classifica os melhores locais para se estudar na América Latina, Portugal e Espanha.

A situação - que preocupa os gestores do programa e custa aos cofres públicos R$ 48 milhões por ano - fez com que o governo federal agisse. Na sexta-feira, cerca de 9,7 mil candidatos ao intercâmbio em Portugal foram notificados pelo CsF sobre a possibilidade de trocar de país (mais informações nesta página).

Para chegar aos números, o Estado cruzou as informações sobre a quantidade de bolsas implementadas até janeiro de 2013 com o atual ranking ibero-americano da SCImago. Foram considerados índices de qualidade da produção científica e internacionalização dos pesquisadores.

No cruzamento, observou-se que, das bolsas implementadas nas cerca de 50 instituições portuguesas, apenas 818 universitários e pesquisadores brasileiros foram para instituições lusas como a Universidade do Porto e a Técnica de Lisboa. Elas são consideradas tão boas quantos as sete melhores universidades públicas do Brasil - USP, Unicamp, Unesp e as federais de São Paulo (Unifesp), Rio de Janeiro (UFRJ), Rio Grande do Sul (UFRGS) e Minas Gerais (UFMG) -, todas ranqueadas no top 20 da SCImago. Na lista das 250 melhores, o Brasil ocupa 82 postos e Portugal, 21.

Uma das principais plataformas políticas do governo, o CsF atingiu desde 2011 apenas 22% da meta de enviar 101 mil bolsistas "às melhores universidades do mundo" até 2015.

"O programa está mais preocupado em mostrar números. As universidades de Portugal não estão à altura das nossas, a não ser em algumas especialidades", afirma o economista Cláudio Moura e Castro, especialista em educação.

Cursos piores. Com base no prestigioso ranking QS World University, quando se compara o curso de Engenharia Civil da UFRJ com o da Universidade de Coimbra - que recebe a maior quantidade de brasileiros -, a instituição do Brasil se sai melhor.

No próprio site da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes), umas das administradoras do programa, nenhuma universidade portuguesa é sequer listada como referência na seleção de melhores instituições europeias, muito menos na relação das mais destacadas em Engenharia e Tecnologia, áreas consideradas prioritárias para o programa.

Um dos motivos da grande quantidade de universidades portuguesas disponíveis é a facilidade na assinatura dos convênios com o programa, afirma Luiz Felipe Lampreia, ex-ministro das Relações Exteriores e ex-embaixador em Portugal.

"Não significa que elas não tenham critério nem parâmetros de aceitação de alunos. Mas a demanda por uma universidade de ponta americana, como Stanford e Harvard, é certamente maior", diz Lampreia.

Além de não estarem sendo enviados para instituições de excelência internacional, os bolsistas em Portugal ainda deixam de aprender a segunda língua - outra missão central do CsF.

"Independentemente da instituição em que vai estudar, o aluno retornará ao País com um importante ganho cultural e acadêmico", pondera Erasto Fortes, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília.

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), também gestor do programa, diz que busca parcerias com as melhores universidades "disponíveis".

O CNPq informa ainda que o Ministério da Educação está desenvolvendo o programa Inglês sem Fronteiras para aumentar o número de bolsistas enviados para Estados Unidos, Canadá, Austrália e Grã-Bretanha.

'O IMPORTANTE É O CONTATO COM A CULTURA EUROPEIA'

As justificativas que levaram o estudante de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Rafael Girardi, de 21 anos, a tentar uma bolsa em Portugal pelo Ciência sem Fronteiras são quase as respostas-padrão dos demais candidatos que acabam optando pelo mesmo país.

"Eu queria ter uma experiência lá fora, muitos amigos e até minha namorada escolheram Portugal. Além disso, não tive tempo de fazer o exame de proficiência em outra língua para tentar outro país", conta Girardi, que havia concluído o 5.º período no Brasil antes de partir para o país luso no segundo semestre de 2012.

A intenção de estudar em Portugal veio antes da decisão de optar pela universidade de destino. "Escolhi a Universidade de Coimbra, mas não conhecia muito sobre ela. O que sabia mesmo é que ela era famosa em Direito."

Depois de quase um semestre de aulas, foi possível conhecer um pouco mais sobre o curso. "É difícil avaliá-lo. As realidades brasileira e portuguesa são diferentes. A Federal do Rio é boa, mas o sistema público do Brasil têm suas deficiências", fala.

No entanto, mesmo reconhecendo que os professores de Coimbra são mais "focados" e praticamente nunca faltaram às aulas, existem outros quesitos em que a UFRJ é melhor, afirma o jovem.

Segundo ele, na UFRJ o estudante tem mais possibilidade de trabalhar com pesquisa, há mais laboratórios, é possível conciliar os estudos com estágio e, no Rio, as atividades extracurriculares eram realizadas de forma mais intensa. "Em Coimbra, não achei esses pontos muito positivos não", fala Girardi.

Mas, segundo ele, o princípio do intercâmbio tem mais relação com outras questões. "Em termos de currículo não muda muito. Acho que o mais importante é o contato com a cultura europeia", diz.

Ele fica em Coimbra até o final de junho de 2013. "Até lá, estou tentando conversar com professores, para participar de projetos envolvendo a área de urbanismo."
 
Capes oferece a alunos transferência de país

Preocupada com o número excessivo de universitários interessados numa bolsa do Ciência Sem Fronteiras (CsF) para estudar em uma das 50 instituições disponíveis em Portugal - onde há menos universidades de excelência internacional -, a Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes) enviou uma notificação para os futuros bolsistas desse país.

Conforme revelado pelo Estado no dia 2, foram encaminhados e-mails para 9,7 mil estudantes das áreas prioritárias, a maioria alunos de cursos de exatas. Todos eles queriam estudar em Portugal, mas agora podem transferir sua candidatura para Estados Unidos, Grã-Bretanha, Austrália, Canadá, Irlanda, Itália, França ou Alemanha.

Para esses estudantes, no entanto, não foi exigido nenhum conhecimento do idioma estrangeiro do país de destino. Seriam concedidos a eles cursos imersivos de seis meses de duração para a melhoria da proficiência.

A maneira como foi conduzido o episódio ainda está gerando uma série de dúvidas nos alunos que tiveram de optar até ontem pela transferência. O e-mail foi encaminhado na madrugada da última sexta-feira, segundo relatos de estudantes.

Mesmo já tendo optado pela Itália, Sergio Machado, de 23 anos, aluno do curso Engenharia Biomédica da Universidade Federal do ABC, ainda possui uma série de perguntas sem respostas. "Não sei bem qual será a nova data de viagem, nem se terei direito assegurado ao curso de italiano e se a minha vaga na Itália será de fato garantida", diz.

De acordo com a Capes, a distribuição desses candidatos para outros destinos visa alcançar "maior equilíbrio na formação dos estudantes de acordo com os objetivos estratégicos do CsF".

sábado, 8 de dezembro de 2012

Ensino Superior (superior?): reprovado, em sua maior parte...

O MEC já não é essa maravilha. Ao contrário, eu acho o MEC um horror, em todos os sentidos que se possa pensar. Se quisermos melhorar a educação brasileira, temos antes de acabar com o MEC, e criar uma outra coisa em seu lugar.
OK, eu sei que isso não vai ocorrer, infelizmente. Então vejamos a realidade.
Sendo a porcaria que é, o MEC certamente fez uma avaliação ao seu jeito.
OK, OK, não estamos falando do MEC, mas da Capes, que é um pouco menos pior.
Enfim, admitindo-se que a Capes faz algo de útil e relevante para o país, ela acaba de reprovar grande parte do ensino superior no Brasil. E não pensem que se trata apenas de um terço que não consegue cumprir requisitos mínimos. Acho que se trata da maioria absoluta, e as instituições decentes devem se contar nos dedos de uma mão, OK, duas, mas não mais de duas. Portanto, não metam os pés pelas mãos, como faz o MEC, e rendam-se à realidade.
E a realidade é esta aqui: do jardim da infância (talvez da creche) até o pós-doutorado, o ensino no Brasil está num rápido processo de deterioração, de mediocrização, de perda de qualidade, tanto no setor público (bem, mas isso é evidente, não é mesmo?), como no privado (ou eu deveria dizer particular, para evitar associações indevidas?).
Não tenho nenhuma ilusão de que essa porcaria venha a ser corrigida ou melhorada no futuro próximo, inclusive porque as saúvas freireanas e os companheiros trogloditas da educação continuam por aí, espalhando seu cortejo de barbaridades educacionais.
Enfim, façam como eu: sejam auto-didatas...
Paulo Roberto de Almeida  

Um terço das instituições de ensino superior no País é reprovada em avaliação do MEC
Agências de Notícias (Jornal da Ciência), 7/12/2012

Ministério promete pena rigorosa a 324 cursos 'repetentes'.

Quase um terço (31%) das instituições de ensino superior brasileiras tiveram um desempenho considerado insatisfatório no Índice Geral de Cursos (IGC) de 2011, o principal indicador de qualidade do ensino superior. Das 1.875 instituições que receberam conceito do Ministério da Educação (MEC), 577 obtiveram notas 1 ou 2 numa escala que vai até 5. Os números foram divulgados ontem (6) pelo MEC. Também foi apresentado o resultado de 2011 de outro índice, o Conceito Preliminar de Curso (CPC), que faz uma avaliação por curso, e não por instituição. De 6.324 cursos com conceitos divulgados, 976 (15%) tiveram notas insatisfatórias (1 ou 2).

No caso das notas de instituições, em relação a 2008, houve uma diminuição de 35% para 31% na proporção de faculdades, centros e universidades com avaliação insatisfatória e um aumento de 9% para 12% no percentual com boas avaliações (conceitos 4 ou 5). A maioria dos cursos e das instituições teve nota 3.

O IGC, indicador de instituições, é o resultado da média trienal ponderada do CPC, o conceito que avalia cursos. Como a avaliação do MEC leva em conta um ciclo de três anos, a melhor base de comparação dos índices de 2011 são os resultados de 2008.

Como em anos anteriores, a instituições públicas se saíram melhor que as privadas e as universidades (instituições de maior porte e com obrigação de investimento em pesquisa) têm, em média, avaliações melhores que os centros universitários (instituições com mais autonomia que faculdades, porém menos obrigações que as universidades) e faculdades.

Ao apresentar os resultados, o MEC divide as instituições nesses três grupos (universidades, centros universitários e faculdades) por entender que eles têm porte e missões diferentes.

O CPC (conceito que avalia cursos e serve de base para o índice das instituições) é calculado a partir de três áreas: desempenho dos estudantes no Enade, responsável por 55% do índice; infraestrutura e organização didático-pedagógica, com 15%; e professores, com 30%. Em 2011, os cursos avaliados foram das áreas de ciências exatas, licenciaturas e áreas afins, além dos cursos dos eixos tecnológicos de Controle e Processos Industriais, Informação e Comunicação, Infraestrutura e Produção Industrial, pertencentes a 1.387 instituições.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante fez uma interpretação positiva da diminuição da proporção de cursos com conceitos insatisfatórios. Segundo ele, alguns programas governamentais foram decisivos para a melhora das notas, como o Programa Universidade para Todos (Prouni) - que concede bolsas para estudantes de baixa renda em instituições de ensino superior privadas - e o Programa de Financiamento Estudantil (Fies). Para participar dos programas, as instituições não podem ser mal avaliadas.

"A avaliação é uma política pública de qualidade, com resultados muito concretos. Os instrumentos de estímulo como Prouni e Fies também contribuíram decisivamente para essa melhora significativa do IGC", disse o ministro.

Mercadante também afirmou que as universidades, que em geral têm notas melhores, respondem 53,9% das matrículas no ensino superior brasileiro, ou seja, mais da metade. Os centros universitários têm 13,7% do total, e as faculdades 30,9%. Segundo o Censo da Educação Superior, havia em 2011, 6,7 milhões de alunos de graduação no País.

Sob investigação - Onze instituições não tiveram as notas no IGC (Índice Geral de Cursos) divulgadas pelo MEC por serem alvos de investigação.

Entre elas está a Facic (Faculdade de Ciências Humanas de Cruzeiro), ligada à família de Paulo Vieira, ex-diretor de uma agência estatal preso pela Polícia Federal sob acusação de tráfico de influência no governo federal. Em conversa interceptada pela PF, ele pede a uma funcionária da instituição que altere dados da faculdade em um sistema do MEC usando a senha de um servidor do ministério.

Também estão na lista unidades mantidas pela Reges (Rede Gonzaga de Ensino Superior), União das Instituições Educacionais da Alta Paulista, a Faculdade de Educação de Colorado do Oeste (RO) e a Faculdade de Realeza (PR).

Pena rigorosa - O MEC promete punir 324 cursos universitários que, após quatro anos, continuam com um baixo indicador de qualidade. Essas graduações tiveram, tanto em 2008 como em 2011, um desempenho insatisfatório no CPC (Conceito Preliminar de Curso).

A pasta não detalhou a lista de cursos e instituições cujo desempenho ruim se repetiu em 2008 e 2011 - a relação total de escolas e suas notas, no entanto, está disponível no portal do ministério. "Nós seremos muito rigorosos com aqueles que concluíram o ciclo e não melhoraram a qualidade", disse o ministro Aloizio Mercadante.

De acordo com reportagem da Folha de São Paulo, entre as medidas punitivas, o MEC considera impedir a realização de novos vestibulares. Os alunos já matriculados teriam garantida a emissão do diploma. A maior parte desses cursos está em instituições privadas.

Hoje, esses cursos já enfrentam restrições do governo, como impedimento para participar do Fies, programa de financiamento estudantil, e do Prouni, que concede bolsas para estudantes de baixa renda. "Nós queremos dar bolsa para cursos que tenham um padrão de qualidade", disse Mercadante sobre o Prouni.

O ministério analisa a possibilidade de aumentar o corte de vagas e fazer supervisão mais rigorosa nas instituições com cursos de desempenho insatisfatório nos últimos anos. Mercadante disse que o candidato precisa considerar a nota do curso que pretende pleitear. "Curso nível 1 não é recomendado. E mesmo o nível 2 ele tem de olhar com muito cuidado, muita prudência."

Apesar da promessa de punição mais rigorosa, o MEC adotou recentemente postura menos incisiva Um corte de 18,5 mil vagas em cursos de administração e contabilidade, anunciado em 2011 com base no CPC de 2009, foi adiado.

Ao mesmo tempo, a maioria das vagas efetivamente cortadas em cursos da área de saúde em 2011 eram ociosas. Das 31,5 mil vagas extintas em cursos como fisioterapia e enfermagem, 72,8% não estavam sendo usadas pelas faculdades. 

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Maioria dos formandos em Medicina não passa em exame do Cremesp

No primeiro ano da prova obrigatória do conselho paulista, 54% dos novos médicos avaliados não tiraram a nota mínima.
Mais da metade (54,5%) dos recém-formados em Medicina no Estado de São Paulo foi reprovada no exame do Conselho Regional de Medicina (Cremesp). A prova, criada em 2005, se tornou obrigatória neste ano. Nas edições anteriores, a avaliação era voluntária, o que deixava a amostra vulnerável a erros.

A maioria dos atuais formandos acertou menos de 60% das 120 questões de múltipla escolha da prova. Elas envolviam temas das nove principais áreas da Medicina - entre elas clínica médica, saúde pública, saúde mental, pediatria e ginecologia. Em 2011 e em 2010 a reprovação foi mais baixa: 46% e 43%, respectivamente, mas a participação na prova também era muito menor.

Ao todo, 2.943 alunos se inscreveram para o exame desta edição. Mas a prova foi feita por 2.872 estudantes, ou 97,6% dos inscritos, sendo que 2.411 são de escolas de São Paulo. Já em 2011, por exemplo, apenas 418 alunos se inscreveram. Para tirar o CRM (registro profissional), é necessário apresentar o documento que comprove presença na prova, mas não é necessário ser aprovado no exame.

As questões da prova eram básicas, de média e baixa complexidade. E, ainda assim, menos da metade conseguiu acertar 60% da prova. Lamentavelmente, áreas cruciais, como clínica médica, tiveram notas muito baixas", afirma Renato Azevedo, presidente do Cremesp. Na prova, detalha Azevedo, são cobrados conteúdos básicos, como vacinas obrigatórias e a identificação e o tratamento de diarreia em crianças - as questões dessa prova específica não foram divulgadas.

Boicote - Dos formandos que fizeram a prova, 119 (4,2% do total) tiveram a prova invalidada por boicote - 86 marcaram apenas a letra B - ou por outras tentativas de anulação, como desenhos. Segundo o Cremesp, 99% dos que boicotaram são de instituições públicas. O conselheiro Bráulio Luna, um dos coordenadores do exame, criticou o boicote. "São alunos extremamente egoístas. Estudam em universidades públicas, com dinheiro público, e quando se formarem vão atender em clínicas privadas, não vão para o Sistema Único de Saúde (SUS). Esse é o perfil dos boicotadores. São parte de uma elite que não quer ser avaliada", disse.

Apesar de a legislação determinar a entrega do CRM para o recém-formado, mesmo que ele tenha boicotado o exame, o Cremesp tem segurado o registro profissional de alguns alunos que decidiram protestar. Os formandos da Unicamp Josué Augusto do Amaral Rocha, de 23 anos, e Marília Francesconi Felício, de 27 anos, boicotaram o exame e não conseguiram tirar o registro profissional. Receberam uma carta afirmando que suas provas apresentavam inconsistências e, por isso, seriam revisadas. "É claramente uma forma de retaliação para atrasar a emissão do nosso CRM. Ficamos impedidos de exercer a profissão", diz Marília.

Azevedo, presidente do conselho, admitiu que as provas dos boicotadores serão reavaliadas, mas garantiu que os registros profissionais desses médicos serão entregues até 31 de janeiro. Os recém-formados vão receber o resultado individual na prova comparando com a média geral. O Cremesp, porém, não vai divulgar a lista das melhores e piores para evitar um ranking. "Havia grande resistência das instituições em apoiar o exame por causa do ranqueamento. Então temos um compromisso de não divulgar os resultados por escola", disse Reinaldo Ayer, que também coordenou a avaliação.

Resultado do Cremesp nos deixa temerosos, afirma professor
Coordenador do exame do Cremesp, o médico Bráulio Luna Filho, que também é professor na Unifesp, defende a prova e diz que o resultado retrata a qualidade do profissional que vai para o mercado de trabalho, principalmente para a periferia.

Pode-se dizer que o resultado foi muito ruim?
Bráulio Luna Filho - Sim. Uma prova de avaliação ao final do curso de medicina no Canadá, nos EUA, tem, em média, 95% de aprovação. Imaginei que nosso resultado seria de 70% e foi de 44,5%. Isso nos deixa temerosos sobre o exercício profissional futuro desses colegas.

Como o cidadão pode se defender de um médico mal qualificado?
Infelizmente, a população não tem como saber se o indivíduo foi bem treinado. O problema é maior nas camadas mais pobres porque o médico recém-formado vai atender nas unidades mais periféricas.

O boicote dos alunos não foi legítimo?
O conselho se ressente quando alunos formados em universidades de ponta, principalmente, protestam. O cidadão teve o ensino pago pelo contribuinte, teve boas condições de aprendizado e ainda é contra uma avaliação?

Prova do Cremesp deveria ser teórica e prática, diz formando
Josué Augusto do Amaral Rocha, da Unicamp, um dos líderes do movimento que defendia o boicote à prova do Cremesp, diz que a avaliação deveria ser teórica e prática.

O resultado ruim é reflexo da prova ou do ensino de medicina?
Josué Augusto do Amaral Rocha - Quando se fala da prova, é preciso falar da qualidade dela. Para ser adequada, não poderia ser só teórica. Tinha de ter uma parte prática. É preciso fazer uma avaliação global dos estudantes, ao longo de todos os anos do curso e não apenas no final. A avaliação precisa envolver a infraestrutura da escola, o corpo docente e o aprendizado do estudante. Prova de múltipla escolha, como faz o Cremesp, qualquer cursinho ajuda a passar.

A adesão ao boicote não ficou abaixo do esperado?
O movimento lançou a discussão sobre o ensino médico no Brasil.

Quem mais aderiu não vem de boas escolas e tem mais chances de emprego?
Isso mostra a mobilização das escolas publicas. Vou trabalhar na periferia de Campinas. O movimento é para discutir a qualidade de saúde pública e nosso interesse é total na população.

Quem nos salva dos médicos?
Artigo de Gilberto Dimenstein

Aconteceu o que já prevíamos: a reprovação da maioria dos estudantes de medicina que fizeram a prova para medir seus conhecimentos, realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. A pergunta mais importante ao cidadão: quem nos salva dos médicos?

Apesar de reprovados, os formados têm o pleno direito de exercer a profissão. Não somos informados quais os reprovados. Nem quais as piores faculdades - era o mínimo de transparência necessária. O que sabemos é que, em breve, eles estarão num pronto-socorro atendendo casos de emergência.

A culpa é dos estudantes que não aprenderam? Eles também são vítimas. Vítimas que geram vítimas. A culpa, em essência, é dos governos que liberaram a abertura de escolas de medicina e não desenvolveu melhores mecanismos para cobrar qualidade.

Sou solidário, até certo ponto, com estudantes que fizeram o boicote ao exame, argumentando que as escolas deveriam ser avaliadas com profundidade. Mas sou mais solidário com o cidadão comum que tem o direito de saber dos riscos à sua saúde.

(Fonte: O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo)