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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 19 de outubro de 2014

Eleicoes 2014: consequencias diplomaticas de uma vitoria - companheiros hermanos preocupaditos...

E não era para menos: a tolerância da diplomacia companheira com posturas, atitudes e políticas contrárias aos compromissos firmados bilateralmente ou sob o Mercosul vai dar lugar a uma diplomacia profissional, que saberá encaminhar a defesa dos interesses brasileiros segundo padrões conhecidos no Itamaraty, que ficou subordinado às loucuras ideológicas dos companheiros durante muito tempo.
Paulo Roberto de Almeida

Possível derrota de Dilma causa receio entre governos da Venezuela e da Argentina

Nos demais países, entretanto, eventual vitória de Aécio Neves não preocupa

por
BUENOS AIRES — A possibilidade de uma derrota da presidente Dilma Rousseff no segundo turno provoca profunda preocupação entre representantes de alguns governos aliados na região, principalmente Venezuela e Argentina. No resto do continente, porém, um eventual triunfo de Aécio Neves não causa receio, nem mesmo entre presidentes do Mercosul. No Paraguai, o governo de Horácio Cartes surpreendeu-se com as opiniões de Aécio sobre o questionado processo de expulsão do país do bloco, em 2012, após a destituição do ex-presidente Fernando Lugo. O castigo ao Paraguai foi defendido com firmeza pelo governo Dilma, atitude que provocou profunda indignação em amplos setores do país.
No Chile, novamente governado pela socialista Michelle Bachelet, a eleição brasileira divide a governista Nova Maioria, segundo afirmou ao GLOBO o dirigente socialista Luis Maira, observador no processo de paz entre o governo do presidente colombiano Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Segundo ele, "a ala mais esquerdista do governo se sente mais próxima ao governo Dilma, mas a Democracia Cristã tem mais vínculos com o PSDB".
— O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso viveu no Chile durante o exílio e desde então mantém muitas amizades com setores da centro-esquerda chilena. Bachelet se sentiria mais confortável com a continuidade de Dilma, mas tampouco seria uma crise sua derrota — opinou Maira, que foi embaixador do Chile na Argentina.
Ele acredita que um eventual revés do PT no segundo turno obrigaria a "reconstruir e reorganizar a relação entre os dois países".
— Não está claro qual é o plano de Neves para a região, deveríamos acionar rápidas conversas para iniciar um novo caminho — insistiu.
A lógica da integração latino-americana promovida há 12 anos pelos governo do PT, comentou Maira, "poderia ser substituída por uma lógica mais hemisférica".
— O país que mais sofreria na região seria a Venezuela, que perderia um mediador construtivo como tem sido o Brasil, um interlocutor importantíssimo para Maduro — frisou o dirigente socialista chileno.
Para a Colômbia, que parece cada vez mais irritada com seus vizinhos venezuelanos, uma mudança de ciclo político no Brasil seria bem recebida, na opinião do jornalista Mauricio Vargas, colunista do tradicional jornal "El Tiempo". Ele lembrou que em meados deste ano, o presidente Santos reuniu-se com FHC e outros ex-chefes de Estado como Bill Clinton, em Bogotá, para discutir o processo de paz colombiano.
— Para Santos seria até mesmo um certo alívio, porque a convivência com Maduro está cada vez mais complicada e uma derrota de Dilma seria um duro golpe para o eixo de governos esquerdistas da região — analisou Vargas.
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Nos últimos meses, o governo Santos reclamou publicamente pelas denúncias de Maduro sobre a suposta atuação de paramilitares e sicários colombianos em seu país.
— Santos não vai opinar publicamente, mas os que temos acesso a fontes do governo sabemos que o presidente não lamentaria uma derrota do PT — frisou o jornalista colombiano.
Em Assunção, a situação é bastante parecida, de acordo com o editorialista do jornal "Última Hora", Adrián Cativelli. O estilo da presidente brasileira é considerado por alguns setores do país como "frio e distante", segundo ele.
— Existem dois planos, o público e o privado. Publicamente, Cartes jamais falará mal de Dilma. Mas internamente muitos membros do governo prefeririam uma vitória de Neves — disse Cativelli, que conversa com funcionários e ministros do Palácio de López.
O Paraguai nunca aceitou a decisão do Mercosul de expulsar o país do bloco, após a destituição de Lugo. A medida foi adotada, principalmente, por iniciativa do Brasil, Argentina e Venezuela. O Uruguai não esteve de acordo com a maneira como o Paraguai foi punido, algo reconhecido publicamente por altas autoridades do governo do presidente José Mujica.
— Essa ferida ainda não se fechou. E, ao mesmo tempo, o governo Cartes sente simpatia pelas posições de Rubens Barbosa, um antigo amigo de nosso país — disse Cativelli.
A Casa Rosada tampouco se pronunciou publicamente, mas para o governo de Cristina Kirchner, o resultado da eleição brasileira é de grande importância. Embora já esteja entrando em seu último ano de governo e com duvidosas chances de vencer as presidenciais de 2015, o kirchnerismo sente que perderia um importante aliado regional.
— Existe certa tensão, mas também confiança em que o governo Dilma finalmente vai ganhar — assegurou o dirigente kirchnerista Eduardo Sigal, ex-subsecretário de integração latino-americana da chancelaria e presidente da fundação Ação para a Comunidade.
Para ele, "um triunfo de Aécio complicaria a relação com muitos países, porque sua intenção é reduzir o Mercosul a uma zona de livre comércio".
— Seria uma integração mais limitada, como promovem os Estados Unidos — apontou.
Para muitos analistas locais, sem o PT no poder acabaria a chamada "paciência estratégica" do Brasil com seus sócios argentinos, em momentos em que os conflitos comerciais são cada vez mais intensos. A recessão na Argentina, cuja economia deve recuar entre 2% e 3% este ano, levou a Casa Rosada a redobrar a aplicação de medidas protecionistas, que dificultam cada vez mais a entrada de produtos brasileiros ao país. Somente em setembro passado, as importações, em geral, recuaram 20%, em relação ao mesmo período do ano passado. O país mais prejudicado é o Brasil, que nos últimos tempos perdeu a categoria de principal sócio comercial da Argentina.
— Sabemos que Aécio tem outro foco, mais parecido ao de Bush e a década de 90 — afirmou Sigal.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Camoes e as pequenas e grandes mudanças...


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Luís de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o Mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.

domingo, 5 de junho de 2011

Sobre critica e sobre atitudes: entre posturas e ideias: um anonimo comenta meu blog

Transcrevo e respondo.

Sobre políticas públicas e sobre ideias e atitudes (a deste blogueiro em especial)

Um crítico anônimo -- mas que suspeito ser um colega um pouco incomodado com ideias, mas na verdade preocupado apenas com posturas pessoais, as minhas, quero dizer -- comenta, em tom altamente depreciativo (pois todo o seu comentário se foca no meio, eu, não na mensagem em si), a atitude habitual de meu blog, sempre cética, para não dizer negativamente crítica, em relação às políticas governamentais em geral, das quais sou, não hesito em dizer, um atento observador e um comentarista impiedoso, por julgá-las inapropriadas e inadequadas às necessidades atuais e próximo-futuras do Brasil e de sua sociedade. Nunca escondi isso, e não hesito em reafirmá-lo.
Como sou absolutamente transparente com relação a minhas ideias e posturas, e como estou sempre aberto a um bom debate, vou transcrever aqui, in totum, esse comentário critico -- aliás, bastante longo e detalhado, extremamente inteligente, mas falho no que indico a seguir -- para, em primeiro lugar, retirar do anonimato, stricto et lato sensii, tanto por ser uma "nota de rodapé" a um post meu, sobre um artigo da Economist (neste link), como por ter sido postada por um Anônimo, que obviamente repudia o debate aberto e não pretende se expor com suas próprias credenciais e não ousa debater ideias no campo aberto.
Ele prefere esconder-se no anonimato, o que respeito (por julgar que certas pessoas não ousariam dizer em público o que dizem en cachette), mas já escrevi aqui, abertamente, o que penso a respeito de pessoas que se escondem atrás do anonimato e não têm coragem de dizer o que pensam, ou se dizem o que pensam não pretendem revelar quem são, o que julgo uma atitude covarde, na medida em que essas pessoas sempre podem adaptar seus discursos, e (pior) suas posturas, ao tipo de público ao qual se dirigem, não tendo a hombridade de defender o que realmente pensam de forma aberta e honesta.
Como eu não hesito, nunca hesitei, em dizer o que penso, a qualquer público em qualquer lugar, em qualquer tempo, não tenho nenhum problema em transcrever críticas que me são feitas, para em seguida tentar dialogar em bases racionais, o que sempre faço quando se me oferecem oportunidades. Vamos pos transcrever o que disse meu crítico, para que eu depois comente seus argumentos e afirmações.

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Uma bolha economica chamada Brasil - The Economist...":

Não lhe dá preguiça estar há oito anos distribuindo prognósticos fatalistas sobre o governo? O que em 2003 pareciam divergências de fundo se tornou, em 2011, apenas um indisfarçável ódio que há muito perdeu qualquer base na realidade? Onde está a ditadura? Onde o polvo vermelho, que supostamente controla uma imprensa que semana sim, outra também, revela podres dos mais importantes membros do governo? Onde a economia em frangalhos? Onde o desastre?

Será que a elite brasileira ficará os próximos oito anos reduzida a esse papel ridículo de velho do Restelo, relógio parado aguardando eternamente que a realidade corresponda a suas previsões apocalípticas? E se nunca acontecer? Que papel a história reserva para os profetas do desastre?

Mais especificamente, a Economist faz um diagnóstico bastante equilibrado de sucessos, problemas e desafios. Mas, na mente já viciada dos nossos letrados, tudo o que contraria seu secreto desejo de implosão iminente da economia brasileira - desejo que, realizado, satisfaria sua fantasia de ver o inimigo vermelho de 1917 derrotado - é descontado.

É triste porque algumas de nossas melhores mentes há muito abandonaram o debate adulto, reduzidas a pretensas análises que apenas dão curso a seus desejos de demonização e derrota de um dos poucos projeto políticos com raízes reais na história brasileira, e que conta com o apoio de segmentos expressivos da população. São, é claro, os segmentos errados. As massas ignaras. O povão. Esses ex-famélicos que acreditam ter voz na condução do país porque adquiriram fogão e geladeira.

Cada notícia de nova iniciativa, apoiada ritualmente pela população nas eleições com base nos resultados, é violentamente deplorada pelos antigos monopolistas dos aeroportos com base em seus declarados nobres princípios. Quase ouço ao fundo o seu bordão: Perdoe-os porque eles não sabem o que fazem.

Esse fatalismo todo, claro, é contraprodutivo. Quando o desastre não vier, todos acreditarão - ainda que não confessem - ter sido um mérito do governo Dilma evitá-lo. E aí serão mais quatro anos de imprecações e complexas análises demonstrando que, agora sim, o fim está próximo
.

Postado por Anônimo no blog Diplomatizzando em Domingo, Junho 05, 2011 7:07:00 AM

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Comento agora [Paulo Roberto de Almeida]:

Observe-se, em primeiro lugar, que meu crítico anônimo não se dirige exatamente ao tema em debate, que eram as políticas econômicas do governo brasileiro -- que ele apenas comenta para dizer que o artigo da Economist era equilibrado e bem argumentado --, mas se preocupa em criticar minha atitude pessoal e a postura deste blog em especial, que ele julga totalmente defasada em relação às maravilhas e sucessos exibidas pelo governo atual, achando que eu faço uma crítica despeitada, de retaguarda e frustrada, em relação ao que ele considera serem resultados positivos do atual governo.
Se ele acha que um instrumento de comunicação deva ser uma ferramenta laudatória, assertiva e positiva em relação ao que acha certo, nada mais simples do que abrir um post -- é de graça -- para fazer exatamente o que acha certo, apoiar o governo, e com isso recolher os aplausos de que seria merecedor das esferas de poder. É seu inteiro direito, e tem muita gente que faz isso, e se dá bem na vida, consegue verbas, empregos, promoções, cargos, honrarias e outras prebendas geralmente associadas a quem apoia o poder, qualquer poder.
Não creio, pessoalmente, que seja uma atitude decente, pois quem realmente ama seu país, seu povo, e pretende sempre ver melhorias, não hesita, antes de aplaudir o que acha certo, criticar o que vê de errado. Se existem coisas boas -- e qualquer governo é eleito com essa obrigação primeira de fazer o bem, supostamente, para a maioria -- não é necessário aplaudir, basta não criticar, pois políticos são eleitos para fazer exatamente o bem para os cidadãos.
A atitude mais correta, e a mais honesta intelectualmente, é justamente a de criticar o que existe de errado, para tentar se corrigir políticas equivocadas e esperar que os argumentos sejam consistentes o suficiente para justificar uma correção de rota.
Se o crítico anônimo achar que eu estou defendendo os privilégios de minorias -- banqueiros, capitalistas, marajás do serviço público -- ele deveria dizer, e apontar onde viu isso. Se ele apenas discorda de minha atitude geral em face de políticas econômicas, ele também deveria dizer: que prefere, por exemplo, políticas públicas nas quais o essencial de bens e serviços é guiado, fornecido, orientado pelo Estado, em lugar do setor privado, como eu defendo, pois estão aí, provavelmente, nossas diferenças fundamentais, justamente, o que não hesito em nenhum momento em apontar, e criticar, na atitude geral do governo e dos que o apoiam.

Registre-se que o Anônimo em questão passa todo o seu comentário ocupado apenas em criticar "elites" e a minha atitude em particular, em lugar de se deter no que é realmente importante, o que revela, antes de mais, um velho vício dos incomodados: quando não tiver argumentos para responder, atire no mensageiro. Ou seja, mate, ou elimine, o veiculador de ideias incomodas, que tudo o mais ficará bem, o governo apenas contando com um bando de áulicos apoiadores, e nenhum crítico para lhe incomodar, dizendo que está gastando dinheiro inutilmente, ou com as novas elites arrivistas -- as máfias sindicais e partidárias que sempre denuncio aqui -- ou, ainda mais, as velhas elites de sempre, industriais e banqueiros que vivem de dinheiro público.
O Anônimo comentarista parece ter raiva, ou despeito, por minha atitude, pois pretende, em lugar de discutir coisas realmente importantes, depreciar meu trabalho de crítico, sempre voltado para políticas e medidas concretas, coisas da vida real, não da academia ou do mundinho de corte.

Todo este blog está centrado em ideias e políticas, como dito em epígrafe. Se o crítico anônimo não sabe disso deveria ler o que vai na janelinha introdutória antes de dirigir seus comentários a mim. Eu sou apenas um escrevinhador, um mero observador cético da realidade; passo metade do meu tempo a transcrever matérias da imprensa -- que na maior parte dos casos se referem a fatos, não a opiniões -- e na outra metade transcrevo, sim, opiniões, em geral com as quais não concordo, o que me oferece justamente a oportunidade de criticar ideias e posturas que acho equivocadas (e aqui entra a parte de subjetivismo de meu blog, que reconheço plenamente). Se fosse para transcrever opiniões concordantes, este blog se tornaria aborrecidamente repetitivo, e creio que não teria o número de seguidores que tem hoje, entre eles o meu crítico Anônimo (que já detectei, pelo estilo, de comentários anônimos anteriores).

Acredito que meu crítico Anônimo seja um entusiasta das políticas estatais e estatizantes -- o que deduzo pela sua frase sobre os "monopolistas de aeroportos -- o que constitui, precisamente, o lado mais visível e predominante das políticas públicas em vigor atualmente no Brasil.
Como eu não sou, nunca fui, de me pautar por consensos e unanimidades, eu me permito manter a mesma postura cética e crítica de sempre, mesmo de quando eu era um jovem marxista -- mas não religioso -- e apoiador dessas mesmas políticas que o meu crítico Anônimo parece defender ainda hoje, coisas dos anos 1950, vocês sabem, o consenso de meio século atras. Ele não parece perceber que nenhuma dessas políticas funcionou -- do contrário o Brasil seria, hoje, uma grande potência desenvolvida -- e que justamente o governo, por incompetente, inepto e incapaz de "deliver", se resigna hoje -- sob os olhares raivosos dos companheiros frustrados -- em entregar os aeroportos para os "monopolistas privatistas" já que ele próprio é incapaz de fazer uma reforminha sequer sem que se pague o dobro por superfaturamento, corrupção e incompetência manifesta, justamente. Ele não percebe que as ideias, não as posturas, são justamente as que se confrontam atrás de medidas, e que as ideias gerais que ele defende foram as derrotadas, como se constata na prática.

Como eu suspeito que meu crítico Anônimo esteja muito satisfeito com este governo, ele se apressa em criticar minha atitude, como se eu, um modesto blogueiro e escrevinhador sem qualquer poder em qualquer governo, sem cargos e sem audiência, tivesse a mínima importância para o governo ou para quem quer que seja. Talvez por que ele se julgue devedor de favores e prebendas deste governo, e fica incomodado de ver um colega que não se dobra a unanimidades -- deixo de lado a frase de Nelson Rodrigues sobre esse tipo de atitude -- e que prefere a critica honesta à passividade bovina.
O que ele provavelmente detesta é a independência de pensamento, e a insistência na crítica, como se esta fosse sinônimo de falta de patriotismo ou traição à pátria.
Pois se ele pensa assim, eu vou logo confirmando que é isso mesmo.
Não sou um patriota, não sou um nacionalista, não sou sequer um cidadão bem comportado. Sou um anarquista por princípio, não um do velho estilo, mas um contestador de ideias, um cético do que vem de cima, um examinador cuidadoso do mérito e dos fundamentos de qualquer proposta, de qualquer medida, de qualquer política.
Não sou daqueles, nunca fui, que se enrola numa bandeira e se contenta em dizer: certo ou errado é o meu país, ou como diriam alguns, é uma merda, mas é nossa...
Não, eu nunca faria isto: sou daqueles que não exibem nenhuma subserviência mental a poderosos, nenhuma sujeição ao poder, nenhuma adesão de princípio a quem quer que seja. Entre a pátria e os cidadãos, eu fico com estes, entre a razão de Estado e a simples razão, eu fico com esta, entre a fidelidade a certos princípios e a adesão ao poder do momento eu fico com aqueles, mesmo a custa de um isolamento temporário, mesmo à custa de um alto preço a pagar pela independência de pensamento.

Acho que meu crítico precisa se convencer que ele precisa discutir ideias, não posturas individuais, que ele precisa se dirigir ao fundamento das coisas, não a forma pela qual elas são veiculadas e defendidas.
Entre posturas e ideias, eu sempre ficarei com estas, pois acredito que elas sejam um pouco mais permanentes do que as atitudes -- geralmente volúveis -- dos homens.
Em governos passados, aposto como meu crítico -- se ele é sincero em seus argumentos -- calou-se em lugar de manifestar sua oposição. Se ele hoje critica minhas ideias, por não se coadunarem com as posturas e medidas do presente, o problema é dele, não meu: eu sempre serei fiel a certas ideias, antes do que a posturas momentâneas.

Acho que já escrevi demais -- como sempre faço --, mas meu blog está sempre aberto ao debate de ideias.
Concluo apenas dizendo que agradeço, sinceramente, ao meu crítico, por me dar mais esta oportunidade de expor minha postura. Mas confesso que gostaria de estar debatendo políticas, em toda a extensão e profundidade requeridas, não atitudes ou posturas, minhas ou as de meu crítico (se ele tem ideias a defender). Sempre se ganha mais, no debate público, indo a fundo nas justitificativas que fundamentam determinadas políticas, sem nenhuma importância para quem as propõe ou defende. O que vale, finalmente, é o resultado objetivo dessas políticas, não que elas tenham sido propostas, defendidas, implementadas (ou criticadas) por fulaninho ou sicraninho. Como digo sempre, o mais importante são as ideias, não quem as defende.
Vale!
Paulo Roberto de Almeida
(Brasília, 5 de junho de 2011)

PS.: O que eu disse, finalmente, de tão horrível, que irritou tão profundamente meu crítico anônimo?
Nada de extradordinário, na verdade, apenas uma ressalva ao clima de euforia que existe em certas esferas, e introduzindo o artigo da Economist, exatamente isto aqui:
"A economia brasileira vem crescendo, de fato, mas nem sempre de forma saudável. Excesso de crédito público, maquiagens contábeis do governo para esconder empréstimos do Tesouro ao BNDES, juros aumentando, enorme custo fiscal das reservas internacionais, baixa competitividade da indústria por causa do custo Brasil, falta de mão-de-obra e baixa capacitação profissional."
Até a próxima crítica...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

"Não se muda já como soía" - Camões

A frase de Camões me permite fazer uma mini-reflexão ao léu.

A diferença ente a minha postura e a de muitos que estão por aí, se posicionando adequadamente em relação aos novos tempos, aos novos ares, novas posturas e pensamentos, é que eu nunca teria sido capaz de pronunciar certas palavras, defender certas posições e acatar certas instruções, com a mesma desenvoltura -- e até desfaçatez, pode-se dizer -- com que hoje eles fazem alegremente do alto de suas tribunas.
Existem limites para certas coisas. Existe um estômago que se revolta. Existem princípios que consideramos importantes. Existe uma dignidade pessoal a defender. Existe honestidade intelectual a respeitar e honrar. Existe sobretudo vergonha na cara...

Ainda bem que Camões já tinha feito a advertência cinco séculos atrás...

Paulo Roberto de Almeida