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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

“Momentos do Espírito, Paisagens da Alma”: ciclo de conferências de Cláudio Guimarães dos Santos (IHG-DF)

O colega, amigo e grande intelectual, Claúdio Guimarães dos Santos, anuncia seu ciclo de palestras no Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal. 


Compartilho, abaixo, o Programa do Ciclo de Conferências "Momentos do Espírito, Paisagens da Alma", que ministrarei, ao longo de 2023, no Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHG-DF), no qual ocupo a cadeira de número 126, cujo patrono é o Embaixador Sérgio Corrêa da Costa.

Serão, no total, 6 conferências gratuitas e abertas aos interessados.


Um abraço caloroso a todos.


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO DISTRITO FEDERAL - IHG-DF

 

CICLO DE CONFERÊNCIAS

“Momentos do Espírito, Paisagens da Alma”

Cláudio Guimarães dos Santos

Poeta, Ensaísta, Artista Plástico, Cineasta, Médico, Diplomata,

Mestre em Artes (ECA/USP), Doutor em Linguística (Université de Toulouse-Le Mirail), 

Acadêmico do IHG-DF (Cadeira 126)

 

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PROGRAMAÇÃO:

 

Terça-feira - 7/março/2023 – das 19h30 às 21h30:

“A natureza da poesia: da clareza do belo ao mistério do sublime”

 

Quarta-feira - 26/abril/2023 – das 19h30 às 21h30:

“O problema mente-corpo: como reunir o que nunca esteve separado?”

 

Quarta-feira - 31/maio/2023 – das 19h30 às 21h30:

“As fronteiras do mito: por uma cartografia dinâmica da alma”

 

Quarta-feira - 21/junho/2023 – das 19h30 às 21h30:

“As faces de Deus: a busca (inelidível) pelo sentido da existência”

 

Quarta-feira - 20/setembro/2023 – das 19h30 às 21h30:

O caos contemporâneo: do autismo midiático à solidão coletiva”

 

Quarta-feira - 25/outubro/2023 – das 19h30 às 21h30:

“Linguagem e silêncio: educação, autoconhecimento, ascese, redenção”

 

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AS CONFERÊNCIAS SERÃO GRATUITAS E ABERTAS AOS INTERESSADOS



quarta-feira, 28 de outubro de 2020

A República das Letras do Itamaraty - Paulo Roberto de Almeida

 A República das Letras do Itamaraty  

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivonota sobre os diplomatas escritoresfinalidadeinformação preliminar]

 


Estou preparando, com a ajuda de colegas diplomatas “escrevinhadores”, um ensaio sobre aqueles profissionais que, além de se ocupar dessas coisas chatas da burocracia oficial — telegramas, notas, bullshits kafkianos — , também se dedicam às coisas do espírito. Minha especialidade está mais voltada para a não-ficção, mais especialmente para Humanidades, Ciências Sociais, Economia (êpa!; não é uma ciência social aplicada?), Relações Internacionais, essas coisas chatas, e por isso dependo dos literatos para me indicar quais são nossos poetas e prosadores (eles são muitos, talvez mais numerosos do que os “analistas” da Realpolitik).

Mas, com a ajuda de alguns dos nossos escritores, começo pela literatura, bem mais agradável do que a dura realidade dos tempos atuais. Nesse terreno, parece que a poesia dá de 7 a 1 nos colegas de romances e contos.

Limito-me neste momento a uma pequena lista de diplomatas escritores contemporâneos, ou seja, vivos, pois vários “precursores” falecidos já tinham sido cobertos, em grande medida, na magnífica obra organizada pelo embaixador Alberto da Costa e Silva, O Itamaraty na Cultura Brasileira (2001; 2002), que incluía nomes de clássicos como Ribeiro Couto, Raul Bopp, Guimarães Rosa, João Cabral e Vinícius de Moraes (que, aliás, teve direito a dois capítulos, como poeta e como compositor). Vou ver uma maneira de disponibilizar esse livro.

Tanto quanto pode ocorrer para os “pensadores” das ciências humanas, falar de literatos vivos, alguns vivíssimos, expõe qualquer temerário como eu e meus colegas, por acaso ausentes, aos ciúmes e despeitos, humanos como são naturalmente os sentimentos poéticos ou sensações novelescas. Espero não ser desafiado para algum duelo literário, mas aqui vai uma relação preliminar, pedindo aos leitores e autores que me enviem novas colaborações.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 28/10/2020

 

 

Listagem preliminar de diplomatas escritores


         João Almino

 

1) Ideias para onde passar o fim do mundo, Brasiliense, 1987;

2) Samba-enredo, 1994;

3) As cinco estações do amor, 2001;

4) O livro das emoções, 2008;

5) Cidade livre, 2010.

 

Edgard Telles Ribeiro

 

1) O criado-mudo (romance), Brasiliense, 1990;

2) O livro das pequenas infidelidades (romance), Companhia das Letras, 1994;

3) As larvas azuis da Amazônia (novela), Companhia das Letras, 1996;

4) Branco como o arco-íris (romance), Companhia das Letras, 1998;

5) No coração da floresta (contos), Record, 2000;

6) O manuscrito (romance), Record, 2002;

7) Histórias mirabolantes de amores clandestinos (contos), Record, 2004;

8) Olho de rei (romance), Record, 2005;

9) Um livro em fuga (romance), 2008;

10) O punho e a renda (romance), Record 2010;

11) Damas da noite (romance), Record, 2014;

12) Uma mulher transparente (romance), Todavia, 2018;

13) O impostor (romance), Todavia, 2020.

 

Mário Araújo

 

1) A hora extrema (contos), 7 Letras, 2006;

2) Restos (contos) Bertrand Brasil, 2008.

 

Nilo Barroso

 

1) A morte da matriarca (contos), Horizonte, 1984;

2) O punho do destino (novela), Horizonte, 1988;

3) Badulaques (contos), 7 Letras, 2002

4) Déjà vu etc e tal, (poemas e aforismos) 7 Letras, 2014;

5) Três faltas e você será fora excluído (romance), 7 Letras, 2019.

 

Milton Coutinho

 

1) X,Y, Z (contos), Sette Letras, 1995;

2) Sanzio (romance), 7 Letras, 1998;

3) As horas velozes (contos), 7 Letras, 2001.

 

Davino Ribeiro de Sena

 

1) Castelos de areia (poesia), Sette Letras, 1991;

2) Pescador de nuvens (poesia), Sette Letras, 1996;

3) O Jaguar no deserto (poesia), Sette Letras, 1997;

4) Retrato com guitarra (poesia), 7 Letras, 1997;

5) Vidro e ferro (poesia), 7 Letras, 1999;

6) Três Martes (poesia), 7 letras, 2004;

7) Expedição (poesia), 7 Letras, 2007;

8) O lento aprendizado do rapaz que amava ondas e estrelas, (poesia), 7 Letras;

9) O rei das ilhas (poesia), 7 Letras, 2011;

10) Ternura da água (poesia), 7 Letras, 2015.

 

Felipe Fortuna

 

1) Ou Vice-Versa (poesia), Achiamé, 1986;

2) A escola da sedução (crítica literária), Artes e Ofícios, 1991;

3) Atrito (poesia), Alarme Editora, 1992;

4) Louise Labé – Amor e loucura (tradução), Siciliano, 1995;

5) Estante (poesia), Topbooks, 1997;

6) Curvas, ladeiras – Bairro de Santa Teresa (ensaio), Topbooks, 1998;

7) Visibilidade (ensaios), Record, 2000;

8) A próxima leitura (crítica literária), Francisco Alves, 2002;

9) Em seu lugar (poesia), Francisco Alves, 2005;

10) Esta poesia e mais outra (crítica literária), Topbooks, 2010;

11) A mesma coisa (poesia), Francisco Alves, 2012;

12) O mundo à solta (poesia), Topbooks, 2014;

13) Taturana (poesia), Pinakotheke, 2015.

 

Márcio Catunda

 

1) Incendiário de mitos (poesia), 1980, Fortaleza;

2) Encantador de estrelas (poesia), 1988, Brasília;

3) Rosas de fogo (poesia), 1998, Rio de Janeiro;

4) Sintaxe do tempo (poesia), 2005, Fortaleza;

5) Plenitude visionária (poesia), 2007, Lisboa;

6) Verbo imaginário (poesia), 2007, Lisboa;

7) Emoção atlântica (poesia), 2010, Rio de Janeiro;

8) Escombros e construções (poesia), Thesaurus, 2012, Brasília;

9) Terra de demônios (romance), Ibis Libris, 2013, Rio de Janeiro;

10) Viagens introspectivas, Expressão Gráfica e Editora, 2016, Fortaleza;

11) Dias insólitos (poesia), 2018

12) Todos os dias são difíceis na Barbúria (romance), 2018, Rio de Janeiro.

 

Francisco Alvim

 

1) Passatempo (poesia), Brasiliense, 1974;

2) Elefante (poesia), Companhia das Letras, 2000;

3) Poemas (1968-2000), Cosac Naify, 2004;

4) O metro nenhum (poesia), Companhia das Letras, 2009.

 

Alexandre Vidal Porto

 

1) Matias na cidade (romance), Record, 2005;

2) Sergio Y. vai à América (romance), Companhia das Letras, 2014;

3) Cloro (romance), Companhia das Letras, 2018.

 

Jorge Sá Earp

 

1- Feixe de Lenha (poesia), edição do autor, 1980;

2 - No Caminho do Vento (contos), Alfa-Ômega/Instituto Nacional do Livro, 1983;

3 - O Ninho (romance), Achiamé, 1986;

4 - Sudoeste (romance), Achiamé, 1991;

5 - Passagem Secreta (poesia),Taurus, 1993;

6 - Ponto de Fuga (romance), Paz e Terra, 1995;

7 - O Cavalo Marinho (contos), 7 Letras, 1997;

8 - O Jogo dos Gatos Pardos (romance), Eldorado, 2001;

9 - A Cidade e as Cinzas (romance), Razão Cultural, 2002;

10 - Areias Pretas (contos), 7 Letras, 2004;

Trilogia Os Descendentes:

11 - O Olmo e a Palmeira (romance), 7 Letras, 2006;

12 - O Legado (romance), 7 Letras, 2007;

13 - O Novelo (romance), 7 Letras, 2008;

14 - As Marés de Tuala (romance), 7 Letras, 2010;

15 - Bandido e Mocinho (contos), 7 Letras 2012;

16 - Quatro em Cartago (romance), 7 Letras, 2016;

17 - A Praça do Mercado (contos), 7 Letras, 2018;

18 – As amarras (romance), 7 Letras, 2020.

 

Por enquanto é isso. Os imortais da Academia já podem ficar com aquela sensação que os franceses chamam de embarras du choix

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3752, 28 de outubro de 2020


sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Um poeta desafia o chanceler acidental em irônicas coplas - Guilherme Casarões

Poesia numa hora dessas?


Guilherme Casarões, colega acadêmico especialista em política externa e diplomacia brasileira, teve sua veia poética tomada por um desafio inesperado: o fato de o patético chanceler acidental ter declarado, num infeliz Dia dos Diplomatas (para os alunos do Instituto Rio Branco, cujo patrono, o verdadeiro poeta João Cabral de Mello Neto, foi acusado de ser comunista pelo autor fracassado de romances distópicos que ninguém leu), que era diplomata e poeta, ou poeta e diplomata (não importa agora).

Casarões resolveu responder com suas trovas desafiadoras, que reproduzo abaixo, a partir de seu Twitter.

Acho que vamos ter vários repentistas, que se desempenharão ao melhor de suas capacidades, só para responder ao péssimo poeta parnasiano que se tornou chanceler acidental. Se ele tivesse ficado só na literatura, teria causado menos desastres para o Brasil. Para a literatura não sei, mas para o Itamaraty certamente... 

Um poeta fracassado, mas não só nas invectivas contra os diplomatas e a diplomacia.

Paulo Roberto de Almeida

 

Guilherme Casarões

@GCasaroes

 

Quer dizer que @ernestofaraujo é poeta? 

Pois bem. Então também sou. 

Aproveitei e fiz uma poesia em sua homenagem:

 


 

Das profundezas da nobre burocracia 

Por amor ao mito, saí em campanha 

Lancei até um blog, coisa tacanha 

Na língua tupi, rezei Ave-Maria

 

Meu inimigo sempre foi o globalismo 

Conspiração denunciada pelo professor 

A globalização corrompida pelo marxismo 

Combate-se com coragem, fé e amor

 

Fui escolhido pela minha lealdade 

Mas também por um artigo estridente 

Em que defendo que a salvação do Ocidente 

Virá de Trump, paladino da verdade

 

No Itamaraty, a revolução é de direita 

Nações unidas pela soberania do Deus vivo 

Velhos valores, ou o diplomata aceita 

Ou baterá carimbo em Antananarivo

 

O lema agora é João oito trinta-e-dois 

Acabou, colegas, o projeto totalitário! 

Esquerdopatas, favor voltar pro armário 

Oikofobia, aqui não, nós somos bois

 

Novo Brasil, nosso papo é com Hungria 

Polônia, Índia, Israel, só fina gente 

Pela liberdade, minimizei a pandemia 

Pra quê ciência, se por aqui nem está quente?

 

Tradição da diplomacia, desapareça! 

Até chamei de comunista o Melo Neto 

Xinguei Ricupero, Amorim, quem mais mereça 

Pois se venderam a tão nefasto projeto

 

“Especialistas” me chamam de desvairado 

Não tenho culpa, analfabetos funcionais 

Sou deusplomata e com meu chefe Eduardo 

Seremos sempre párias internacionais

 

Mas, no fim das contas, pouco importa 

Se Trump vence, o Brasil será gigante 

Politicamente correto já virou letra-morta 

Em nosso reino da direita ruminante

 

E se perder? Tal hipótese não existe 

Nosso analista já previu: Biden já era 

Para não virar rodapé, a gente resiste 

Se a contagem demorar, a gente espera

 


quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Harold Bloom: uma memória prodigiosa (NYRBooks)

‘His Mind Was Itself a Library’: Harold Bloom, 1930–2019

Tanya MarcuseHarold Bloom, June 2019
When my wife, the photographer Tanya Marcuse, and I went to visit Harold Bloom at his home in New Haven in June, for Tanya to take his portrait, we didn’t plan to spend time in his study. As we knew from a previous visit, Bloom was too weak to move far from the cluttered dining room table where he both worked—writing, or rather dictating, several books at any one time—and received the many admirers, protégés, and students who paid him visits, at his invitation. His study was far away, up two flights of stairs that Bloom had not been able to climb for several years. But he insisted we go there, to see a William Blake watercolor hanging on the wall.
We were Bloom’s only company that morning, apart from his caregivers; his wife, Jeanne, was out shopping, and he seemed lonely at his table, a king without a court. Perhaps his stream of well-wishers had dried up, frightened by his extreme frailty. Bloom’s hands were skeletal and palsied, their skin nearly translucent; yet his eyes, and his mind, were sharp. He willingly, even proudly, posed for Tanya’s portrait camera, insisting that his chair—into which he was strapped by a safety harness—be repositioned to give a better angle. Then, he sent us upstairs.
In the wood-paneled room on the house’s third floor, where Bloom had studied and written for decades, we took stock of a life of letters such as few have led and fewer still, in the screen-ridden ages to come, will lead again. Every shelf swelled with the works of matchless poets and timeless critics; thinner volumes were wedged sideways above the serried rows. Stacks of more recent volumes lay about the floor; a quick glance revealed that most, perhaps all, had been lovingly inscribed by their authors. A plain cardboard box marked “Articles on Harold” contained piles of newspaper and magazine profiles. The faded Blake print was nearly lost amid a welter of words, words, words.
Across the hall were two small rooms, one an ancient bathroom, another a bedroom likely not slept in for years. We wondered how hard it must have been for Bloom to abandon this floor, when his strength would no longer allow him to reach it. By then, as we knew from a daughter of ours who’d studied with him, his mind was itself a library, containing vast stretches of Shakespeare, Stevens, Donne, Dickinson, Bishop, and many others. He needed no books to teach English poetry; he quoted at length, from memory, passages he had lived with for decades. A cadre of literature students, whom he addressed as “children,” met in his home for these virtuosic classes once his physical decline had immobilized him. Some found his manner patronizing or patriarchal; his habit of praising women’s looks made many squirm, and more serious allegations have been reported. But no one could deny his critical insight.
Back downstairs in the dining room, Bloom inscribed for us one of his latest volumes, an entry in his four-part series on “Shakespeare’s Personalities.” As his shaking hand struggled to sign his name, I thought of the line from As You Like It describing extreme old age: “Sans teeth, sans eyes, sans taste, sans everything.” Yet Bloom, at eighty-nine, still had his teeth and vision, and his taste—his appreciation of great verse, especially—seemed only to grow with the passage of time. His life did not end in “second childishness and mere oblivion,” the fate of senility forecast in that play, but in clarity, knowledge, and grace. 
Tanya MarcuseBloom’s study, New Haven, June 2019

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Pausa para... poesia - Sá de Miranda, quinhentista

Por acaso participando de um debate, em outro espaço, retruquei uma frase pouco apropriada de um interlocutor. Ele tornou a desviar o foco do debate, atirando no mensageiro -- eu mesmo --, em lugar de se ater aos termos do debate (que estava em torno das famosas reformas de base do Jango).
Qual não foi minha supresa, logo em seguida, ao constatar que o interlocutor apagou todos os seus rastros, suas pegadas, suas frases mal concebidas e mal dirigidas.
Parece que eu fiquei falando comigo mesmo...
Além de me lembrar das famosas fotos com personagens apagados da era Stalin, lembrei-me de um poema famoso, que devo ter lido aos 12 ou 13 anos e do qual nunca me esqueci, pelo menos as quatro estrofes iniciais.
Pois bem, hoje resolvi buscar novamente esse poema, de um poeta quinhentista português, e para isso me dirigi ao Sapo.pt, o buscador lusitano, que para isso foi impecável.
Aqui vai, portanto, o poema inteiro, do qual só me lembrava da parte inicial.
Paulo Roberto de Almeida 

http://www.citador.pt/poemas/comigo-me-desavim-sa-de-miranda

Comigo me DesavimComigo me desavim, 
Sou posto em todo perigo; 
Não posso viver comigo 
Nem posso fugir de mim. 

Com dor da gente fugia, 
Antes que esta assi crecesse: 
Agora já fugiria 
De mim, se de mim pudesse. 
Que meo espero ou que fim 
Do vão trabalho que sigo, 
Pois que trago a mim comigo 
Tamanho inimigo de mim? 

Sá de Miranda, in 'Antologia Poética'
Tema(s): Auto-conhecimento Sá MirandaLer outros poemas de Sá de Miranda
Sá de MirandaPortugal
[Wikipedia]
28 Ago 1481 // 15 Mar 1558Poeta
 

domingo, 1 de junho de 2014

O poeta come amendoim - Mario de Andrade (1924)


Alguém me pergunta o significado deste poema, colocado por mim faz algum tempo já (para ser mais exato em novembro de 2007).
Não tenho intenção de responder, pois acho que ninguém deve explicar o significado de um poema, basta apreciá-lo.
Por isso coloco novamente aqui:

804) Pausa para a poesia: Mario de Andrade
Sempre tive paixão por duas estrofes, tão somente, deste poema de Mario de Andrade:

"Progredir, progredimos um tiquinho
Que o progresso também é uma fatalidade..."

Da poesia: "O poeta come amendoim" (1924)

Noites pesadas de cheiros e calores amontoados...
Foi o sol que por todo o sítio do Brasil
Andou marcando de moreno os brasileiros.

Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer...

A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas dos mulatos...
Silêncio! O imperador medita os seus versinhos.
Os Caramurus conspiram à sombra das mangueiras ovais.
Só o murmurejo dos cre'm-deus-padre irmanava os homens de meu país...
Duma feita os canhamboras perceberam que não tinha mais escravos,
Por causa disso muita virgem-do-rosário se perdeu...

Porém o desastre verdadeiro foi embonecar esta República temporã.
A gente inda não sabia se governar...
Progredir, progredimos um tiquinho
Que o progresso também é uma fatalidade...
Será o que Nosso Senhor quiser!...

Estou com desejos de desastres...
Com desejo do Amazonas e dos ventos muriçocas
Se encostando na canjerana dos batentes...
Tenho desejos de violas e solidões sem sentido...
Tenho desejos de gemer e de morrer...

Brasil...
Mastigando na gostosura quente do amendoim...
Falado numa língua curumim
De palavras incertas num remelexo melado melancólico...
Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons...
Molham meus beiços que dão beijos alastrados
E depois semitoam sem malícia as rezas bem nascidas...

Brasil amado não porque sejam minha pátria,
Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der...
Brasil que eu amo porque é o ritmo no meu braço aventuroso,
O gosto dos meus descansos,
O balanço das minhas cantigas amores e danças.
Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,

Porque é o meu sentimento pachorrento,
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.