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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Politica industrial companheira: da frigideira para o fogo, ou do brejo para o pantano... - IEDI

Desde o início da gloriosa era do nuncaantesnestepaís, os companheiros já conceberam (mal) e aplicaram (mais mal ainda) pelos menos quatro políticas industriais (e outras tantas políticas agrícolas no MDA, pois no MAPA tudo ficou igual...), sem falar das dezenas de medidas setoriais, aplicadas em favor dos amigos do rei, e dos companheiros dos companheiros (industriais automotivos e metalúrgicos da aristocracia operária). Nenhuma delas foi levada adiante, et pour cause: foram um fracasso completo, de diagnóstico, de aplicação, de resultados...
Cada vez que o governo anuncia, doravante, uma nova política industrial, imagino que os industriais já começam a tremer: "Ah, não por favor, desta vez não; por que o governo não faz uma política para os serviços, para a infraestrutura, reduz os impostos e deixa a gente em paz?"
Será que eles, todos eles, companheiros e industriais, não percebem que o principal inimigo da indústria é o próprio governo? Com seus impostos extorsivos? Sua infraestrutura pavorosa? Sua regulação bizantina e kafkiana? Sua completa indefinição de objetivos, de propósitos, de metas?
Os companheiros são stalinistas industriais, e agem como tal.
Que tal passar a um modesto keynesianismo, para começar?
Enfim, eu seria pela ausência completa de política industrial, mas com redução radical dos impostos, da regulação intrusiva, oferta de serviços gerais, infraestrutura de boa qualidade, energia barata, mão-de-obra capaz, bem formada, suficiente?
Por que o governo não faz o que apenas ele pode fazer?
Por que não deixa o resto para a sociedade mesma, para os agentes econômicos?
Por que o BNDES está sempre apoiando ricaços e monopolistas?
Paulo Roberto de Almeida

Produtividade da Indústria em 2012
Carta do IEDI 560, 22/02/2013

Mesmo com medidas de política econômica voltadas para incentivar o setor ao longo do ano, além da queda na taxa básica de juros, a oferta abundante de crédito e o estímulo à desvalorização da moeda no segundo semestre, a produção e a produtividade industrial não demonstraram recuperação. Na comparação contra igual mês do ano anterior apenas em outubro de 2012 a produção e a produtividade superaram os níveis obtidos em 2011. A performance de 2012 assume uma perspectiva mais negativa se considerarmos ainda que em 2011 os resultados da produção e da produtividade ficaram estagnados em relação a 2010. Assim, desde o impacto da crise financeira internacional em fins de 2008 e em 2009, a indústria não encontrou uma rota de crescimento minimamente sustentável, comprometendo sua competitividade, tendo em vista o caráter pró-cíclico da produtividade.
O emprego industrial recuou em 1,4% no ano passado, sinalizando um movimento defensivo das empresas industriais frente um cenário de baixas expectativas de crescimento. O emprego em 2011 havia crescido 1,0%, com a produção praticamente estagnada. O recuo no emprego reforça o quadro recessivo da indústria, pois há relativa escassez de mão de obra com qualificação profissional, como registrado pelas baixas taxas de desemprego nas principais regiões metropolitanas. Este recuo não impediu que o custo do trabalho se elevasse em 6,6% em 2012, a maior taxa dos onze anos da série e mais do dobro da verificada em 2011 (3,2%). Todos os setores tiveram aumento de custo do trabalho, com exceção do de Madeira.

Avaliando o comportamento da indústria desde a crise financeira internacional, um possível diagnóstico para os problemas de falta de crescimento e queda na produtividade em 2012 pode ser a persistência de um desalinhamento do câmbio, que gera desequilíbrios tanto pelo lado da demanda, ao transferir para o exterior parte da demanda doméstica, como pelo lado da oferta, ao enfraquecer os elos de encadeamento na manufatura, reduzindo sua contribuição ao valor adicionado total. Enquanto do ponto de vista da firma individual a substituição de insumos domésticos por importados, a custos mais favoráveis, é um comportamento racional, o resultado agregado é o enfraquecimento dos elos de cadeias produtivas dentro da indústria de transformação, que são fonte de ganho de escala dinâmicos. Assim, o avanço da desindustrialização com especialização da indústria em setores de baixa agregação de valor contribuiu para o baixo desempenho da produtividade.

Em termos setoriais em 2012, 10 setores, de um total de 18, apresentaram aumento na produtividade, mas destes apenas um – Produtos Químicos - com expansão na produção física, horas pagas e emprego. Há uma concentração de setores produtores de bens intermediários no grupo com produtividade positiva em 2012, com exceção da Indústrias Extrativas. Dois setores produtores de bens finais – Calçados e Couro e Textil – também apresentaram produtividade positiva, mas com quedas muito expressivas na produção e nas horas pagas. O comportamento dominante na indústria foi o de contração na produção física: dos 18 setores só 4 expandiram o produto industrial. Os custos do trabalho foram positivos em todos os setores, com exceção de Madeira.

Do ponto de vista regional a maioria dos locais também registrou diminuição da produtividade. As maiores contrações foram as verificadas na indústria do Paraná (-5,7%), seguida por Rio de Janeiro (-4,4%) e Espírito Santo (-3,6%). As indústrias do Rio Grande do Sul (-1,5%), Santa Catarina (-1,2%) e São Paulo (-0,9%) registraram diminuições menores, um pouco acima da média nacional. As melhores marcas ficaram com os parques manufatureiros da Bahia (8,7%) e Pernambuco (4,8%). Ceará (0,6%) e Minas Gerais (0,6%) apontaram aumento de produtividade de pouca expressão. Os parques industriais do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul registraram pela primeira vez diminuição na produtividade. O resultado de Paraná (-5,7%) foi o pior de sua série histórica e do da Bahia (8,7%) o melhor já alcançado.

Nos locais com retração na produtividade predominou um padrão recessivo de queda na produção física acompanhada de uma diminuição, de magnitude menor, das horas pagas. A exceção foi a indústria do Paraná que registrou variação negativa na produção e ao mesmo tempo aumento das horas pagas. Nos locais com incremento da produtividade não houve um padrão definido: expressivo aumento da produção física e queda das horas pagas (Bahia); pequeno aumento da produção física e grande queda das horas pagas (Pernambuco); aumento das horas pagas de magnitude menor do que o incremento na produção física (Minas Gerais) e diminuição das horas pagas maior que da produção física (Ceará). Portanto só na indústria mineira houve desempenho típico de momentos de expansão da produção com aumento pró-cíclico da produtividade.

Parabens a voces, companheiros: viva a corrupcao - Aloísio de Toledo César

Corrupção - crime ou esperteza?

O Estado de S.Paulo, Opinião, 25 de fevereiro de 2013 | 2h 08
Aloísio de Toledo César *
 
Nestes dias em que os políticos do Partido dos Trabalhadores passaram a lamber uns aos outros, em comemoração pelos dez anos no poder, é o caso de perguntar: além da farra com dinheiro público, além do fim da corrupção como crime para se converter em ato de esperteza, o que mais eles estão festejando?

Nesses dez anos eles conseguiram praticamente quebrar a Petrobrás, que era uma das empresas mais sólidas do mundo; reduzir o desenvolvimento do País a níveis inferiores aos do Paraguai e da Bolívia; fazer crescer a inflação, que fora zerada por Fernando Henrique Cardoso; e aumentar a carga tributária a praticamente 40% do produto interno bruto (PIB).

Em nenhum outro país do mundo a venda de remédios sofre carga de impostos tão alta como no nosso. Os bens duráveis de consumo, afetados pela mesma carga tributária, custam muito mais do que nos outros países. E os preços são tão absurdos que os brasileiros ficaram viciados em viagens ao exterior apenas para comprar.

Bilhões de dólares de brasileiros engordam a economia americana todos os anos porque os produtos lá vendidos custam muito menos do que aqui, no Brasil. Isso ocorre exatamente no momento em que os petistas aparecem rindo nas fotos. Rindo de quê? Com certeza eles estão rindo de nós e da farra que fizeram nesses dez anos.

Quando Tancredo Neves, com sua habilidade e seu maneirismo, conseguiu eleger-se presidente, arrebatar a Bandeira brasileira das mãos dos militares e devolvê-la a todos nós, ficou a impressão de que o País teria mais sorte e melhor rumo. Mas com o seu trágico falecimento e a posse do biônico José Sarney na Presidência da República, ficou desmentida a ideia enganosa de que Deus é brasileiro. É nada, deve ser suíço.

O lado pior e mais trágico que surgiu nos últimos dez anos foi deixar transparente que é possível cometer na vida pública os mais graves crimes e nada acontecerá. Corrupção, peculato, formação de quadrilha e outros hediondos crimes contra a administração pública foram praticados em grande escala e até agora não se viu um único infrator sendo levado para detrás das grades.

Algumas semanas atrás o mundo teve conhecimento do exemplo invejável da Justiça inglesa, que condenou e determinou a imediata prisão de um figurão da política que cometera infração de trânsito, mas para não ter a imagem afetada publicamente fez sua mulher assumir a responsabilidade pela transgressão. Isso foi descoberto somente dez anos depois, mas, mesmo assim, a Justiça inglesa não perdoou e ele foi direitinho para atrás das grades.

Qualquer pessoa que tenha sentimento de justiça logo perceberá como nós estamos a milhares de anos-luz dessa exemplar conduta.

A ausência de punição tem sido característica marcante em nosso país. Nos últimos tempos, porém, a impunidade assumiu feição muito mais grave, porque os delitos praticados por altos figurões da República continuam à espera de execução da pena. Realmente, ainda que tenham sido condenados pelo Supremo Tribunal Federal, a condenação permanece destituída de eficácia e isso propaga a ideia de que poderosos nunca vão para a cadeia.

Dá para imaginar o que a Justiça inglesa teria feito com José Dirceu, José Genoino, João Paulo Cunha e outros aos quais o linguajar policial atribui terem a "mão cabeluda"? Por incrível que pareça, eles talvez apareçam perante boa parte da população brasileira como pessoas dotadas de invejável esperteza, porque, afinal, a despeito da "mão cabeluda", continuam por aí, sempre aparecendo e rindo nas fotos. Julgados e condenados, são verdadeiros exemplos da ineficácia do nosso sistema jurisdicional.

A Justiça brasileira, infelizmente prisioneira de entraves processuais que herdamos dos romanos, ainda não conseguiu a eficácia e a praticidade da de ingleses e norte-americanos. Estes sabem de sobra que o exemplo da punição influi na redução da criminalidade muito mais do que qualquer repressão policial.

Os políticos do Partido dos Trabalhadores que comemoram os dez anos de governo com certeza não farão nenhuma referência ao fato de o Brasil figurar nos índices internacionais de desenvolvimento humano em 84.º lugar e que continuamos a ser um dos campeões mundiais de analfabetismo, além de nossa mortalidade infantil persistir como problema a ser resolvido.

Com a entrada em vigor do Plano Real, em 1994, praticamente zerada a inflação, o dinheiro passou a valer mais e isso beneficiou, sobretudo, as pessoas mais pobres, que foram gradativamente inseridas no processo capitalista de consumo. Essa melhora, contudo, não foi suficiente para tirar da pobreza alguns milhões de brasileiros, que continuam na linha da miserabilidade e, portanto, é mesmo necessário que recebam atendimento do governo, com a distribuição de recursos.

Essa doação de dinheiro público, todavia, não poderia ter a feição - lamentavelmente adquirida - de subterfúgio político destinado a angariar votos e prestígio eleitoral. Quem doa dinheiro público deveria ter no próprio gesto de doar a recompensa, e não a esperada resposta de apoio e votos.

O poeta de origem árabe Khalil Gibran, com lirismo e profundidade, ensinou: "Há aqueles que doam e não sentem dor ao doar, nem buscam alegria, nem doam pensando em virtude. Eles doam como no longínquo vale o mirto exala sua fragrância no espaço. É através dessas mãos que Deus fala, e é por detrás de seus olhos que Deus sorri sobre a Terra".

Seria um invejável gesto de grandeza a distribuição de recursos públicos aos mais sofridos se tal conduta não estivesse marcada por interesses pessoais, por isso mesmo mesquinhos, de feição eleitoral. Quem doa buscando o reconhecimento talvez não perceba que essas dádivas se tornam corruptas.

* Aloísio de Toledo César é desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do São Paulo. E-mail: aloisio.parana@gmail.com.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A blogueira e os mercenarios, 11 (agora, sim, o final): mercenarios a soldo da...CIA

A CIA é mesmo uma companhia maléfica, perversa, mal intencionada, mentirosa, enganadora, embusteira, falastrona, gozadora, e brincalhona: pois não é que ela enganou até os companheiros do PCdoB (os mais sizudos no seu stalinismo tupiniquim), os companheiros do PT (os mais trapalhões, nas suas receitas simplórias) e várias tribos de trogloditas que pensavam estar lutando bravamente contra a CIA, quando na verdade, eles estavam é trabalhando para ela?!?!?!
Esse Embaixador cubano só pode ser um agente da CIA, escondido há muito tempo no governo cubano e no seu serviço diplomático. Esses agentes da Secretaria Geral dos Trapalhões só podem ser da CIA, ao montar toda essa operação carnavalesca contra uma... agente da CIA.
Essa CIA é impagável: de vez em quando ela quer rir do trapalhões, tirar um sarro dos pcdobistas (assim que se escreve?)
A CIA, aproveitando que sua agente cubana número 008 estava de malas prontas para este país de piratas trapalhões e de stalinistas rocambolescos, montou uma operação só de brincadeira para ver se os companheiros caiam nela. E não é que cairam?
Nunca o regime cubano foi tão desconstruído quanto nesta semana memorável! Nem que a CIA fizesse propaganda contra durante todo um ano não alcançaria o sucesso estrondoso de contra-propaganda que os companheiros fizeram contra a sua ilha tão querida.
E mais risível, ainda, isso não custou nada, nadicas de peteberbas à CIA. Tudo saiu de graça.
Até a passagem da sua agente especial foi paga por ONGs europeias e voluntários brasileiros.
Nunca antes neste país a CIA riu tão tanto, sem pagar um centavo por isso.
Ela precisa mandar um cartão para os companheiros, com as suas congratulations...
Paulo Roberto de Almeida 

‘A CIA agradece’
Ricardo Noblat
O Globo, 25/02/2013

Digamos que proceda a desconfiança disseminada pelo governo cubano de que a blogueira Yoani Sánchez é, sim, agente da CIA, a agência de espionagem americana. Por sinal, estão em cartaz dois filmes, merecedores do Oscar, que destacam a eficiência da CIA: “A hora mais escura”, sobre a captura e morte de Bin Laden, e “Argo”, que trata do resgate de um grupo de americanos reféns do regime iraniano.

O que a CIA esperava da passagem de Yoani pelo Brasil? Que ela tivesse oportunidades para falar mal de Cuba, há mais de 50 anos sob o controle dos irmãos Castro (Fidel e Raul). E que a imprensa, ocupada com os assuntos internos do país, dedicasse à blogueira um mínimo de atenção. Ela viajou ao Brasil a convite do jornal O Estado de S. Paulo. Ali, certamente, teria espaço garantido.

Com o que a CIA não contava? Com a adesão entusiástica aos seus planos dos partidos brasileiros de esquerda. Por toda sua vida, a esquerda batalhou para chegar ao poder. E a CIA, e os serviços de espionagem que a antecederam, sempre atrapalharam. A esquerda tentou chegar pela primeira vez em 1935 ao deflagrar a Intentona Comunista. O movimento fracassou em menos de 72 horas. Um vexame.

A renúncia em 1961 de Jânio Quadros permitiu que o vice João Goulart ascendesse à presidência da República. A esquerda imaginou que se o manobrasse com apuro e arte, o poder acabaria ao alcance de suas mãos. Os militares derrubaram Goulart e empolgaram o poder durante 21 anos. Depois se passaram três eleições para que na quarta, cavalgando o ex-metalúrgico Lula, a esquerda finalmente chegasse lá.

Uma esquerda dócil, é bem verdade, que renunciara à maioria dos seus dogmas. A esquerda possível, haja vista que seu principal líder nunca foi de esquerda. Embora atraente devido às suas miçangas, o penoso exercício do poder desfigurou a esquerda por completo, a ponto de forçá-la a sentar no banco dos réus. Nem por isso se pensou que pudesse tê-la despojado de inteligência. Foi o que aconteceu.

Faltará ao governo cubano a energia do passado? Não me refiro ao “paredón” como instrumento de castigo para os que contrariam os interesses do regime. O “paredon” saiu de moda. Mas, entre ele e uma reles admoestação, deve haver um meio termo para se punir o desastrado embaixador que pediu a ajuda de ativistas políticos tão espertos quanto ele. Resultado: transformaram a vilegiatura de Yoani em um baita sucesso de audiência.

Não o debitem, porém, apenas à ignorância das seções juvenis de partidos e de organizações que ainda pregam a implantação do comunismo no país. Por que as direções de partidos como o PT e o PC B não desautorizaram os atos de hostilidade dos seus militantes contra a blogueira cubana? Ora, porque estavam de acordo com eles. Sabiam quem os encomendara. Calaram por conveniência.

Nem assim conseguiram esconder suas impressões digitais deixadas em cada um dos atos. Yoani foi à Câmara falar em uma comissão técnica. Deputados do PT, em desespero, convenceram Henrique Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara, a convocar uma sessão extraordinária. Evitariam assim que a TV Câmara transmitisse a exposição de Yoani. Realizou-se a sessão. Mas Yoani foi até lá confraternizar com seus algozes. Ou seus cúmplices.

A semana que passou não teve para ninguém ─ nem para Dilma, lançada candidata à reeleição, nem para Lula, que a lançou, nem para Aécio, que discursou no Senado. Só deu Yoani. Comovida, a CIA agradece aos seus agentes voluntários.

O voo da ASA e o crepusculo dos deuses...

Notícias de certa cúpula:

Dos 54 países africanos, 20 chefes de Estado confirmaram presença na cúpula de países da América do Sul e África (ASA), realizada na capital da Guiné Equatorial, presidida pelo ditador Teodoro Obiang, no poder desde 1979. Da América do Sul, além do Brasil, estiveram presentes apenas o primeiro-ministro da Guiana, Samuel Hinds, o presidente do Suriname, Dési Bouterse, o presidente da Bolívia, Evo Morales, e o vice-presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

Na solenidade, o chanceler da Venezuela, Elias Jaua, leu uma mensagem do presidente Hugo Chávez, que lamentou não poder comparecer ao encontro e atacou o imperialismo ocidental. A mensagem foi encerrada com a frase "até a vitória sempre", repetida por Chávez em seus discursos.

Durante o discurso, ao falar dos medicamentos produzidos no Brasil contra epidemias tropicais que podem ser exportados para a África, a presidente do Brasil confundiu o nome do médico sanitarista Osvaldo Cruz com o do advogado e diplomata Osvaldo Aranha.

A abertura da cúpula atrasou em duas horas e meia e foi marcada pelo bloqueio das comunicações por cerca de quatro horas, por orientação do governo da Guiné Equatorial, responsável pela organização do encontro. Um caminhão bloqueou o sinal de celular no Centro de Conferências de Sipopo, e a internet não funcionou durante a sessão de abertura, que durou pouco menos de duas horas, deixando todos os participantes "desconectados".

Corruptos de todo o mundo, vinde a mim com o vosso dinheiro...

Será?

G-20 avalia barrar entrada de corruptos nos países-membros, mas Brasil resiste

Documentos obtidos pelo ‘Estado’ relatam a falta de consenso no governo sobre o tema, considerado ‘sensível’ e ‘polêmico’

24 de fevereiro de 2013 | 22h 07
Alana Rizzo - O Estado de S. Paulo
 
BRASÍLIA - O Grupo dos 20 (G-20) estuda uma proposta para barrar a circulação de corruptos e corruptores nos seus países-membros a partir da negativa de vistos e de refúgio. A proposta, encabeçada pelos Estados Unidos, é vista com reticências no governo brasileiro.
O Estado teve acesso a documentos que relatam a falta de consenso dentro do governo em apresentar uma manifestação sobre o tema, apesar da pressão internacional. Desde o ano passado, membros da Controladoria-Geral da União (CGU), do Ministério das Relações Exteriores, da Advocacia-Geral da União (AGU) e do Ministério da Justiça estão envolvidos no debate, considerado "sensível", "polêmico" e "difícil". As autoridades brasileiras não conseguem definir quem seria afetado pela medida.
Em 2012, os chefes de Estado ratificaram o compromisso de criar instrumentos para barrar a entrada de enquadrados nesse crime em seus territórios. Em junho, o grupo apresentará o primeiro relatório sobre a implantação da medida.
O Brasil quer parâmetros sobre quem se enquadraria no termo "corrupto" e quem sofreria as penalidades. Não há entendimento, entre as autoridades locais, sobre se a norma valeria apenas para condenados ou também para aqueles que não foram julgados. Discute-se, ainda, no âmbito do G-20 que a punição deveria se estender a familiares e associados dos corruptos, o que contraria a Constituição brasileira. Também pesa nas discussões governamentais a tradição do País de não restringir acesso ao seu território. Os defensores da proposta, no entanto, sustentam que a negação de vistos e o controle migratório impedem que o corrupto gaste o dinheiro fruto do ilícito fora de seu país.
A medida teria reciprocidade e afetaria o universo de corruptos brasileiros que tentassem entrar nos países do G-20. Dados do Ministério Público Federal revelam que mais de 5 mil inquéritos foram abertos nos últimos anos para investigar práticas de corrupção no País. Cerca de 700 pessoas cumprem pena hoje no Brasil por esse crime.
No Supremo Tribunal Federal, há 17 inquéritos e ações penais contra parlamentares, e somente a Procuradoria Regional da República da 1.ª Região denunciou cerca de 250 prefeitos nos últimos dois anos por esse crime. No julgamento do mensalão, concluído no final do ano passado, 20 dos 25 condenados foram sentenciados a penas por corrupção ativa ou passiva – entre eles o ex-ministro José Dirceu, o deputado federal José Genoino e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Em pauta. Oficialmente, o governo nega qualquer tentativa de atrasar a proposta e afirma que o assunto está ainda em discussão. O Brasil tem até o próximo ano para debater o assunto, que ganhou força depois de os Estados Unidos alterarem sua legislação – autorizando a autoridade alfandegária a barrar a entrada de corruptos, familiares e pessoas associadas.
O tema também avança no Canadá, onde um projeto de lei criando restrições para o acesso ao território de pessoas corruptas já foi apresentado.
"A discussão existe e, por se tratar de um assunto sensível, está andando surpreendentemente bem. Estamos no ponto de definir a forma e operacionalizá-la. O Brasil já se comprometeu a analisar casos de corrupção como um critério na hora de concessão de vistos ou na entrada de estrangeiros em seu território. O que não vamos é abrir mão da soberania do País de decidir", afirma Hamilton Fernando Cota Cruz, assessor especial da CGU, responsável por coordenar as ações brasileiras sobre o tema no G-20. "Uma medida como essa é de grande inovação e ela tem o respaldo e a força dos líderes políticos das 20 maiores economias do mundo, que assinaram a proposta. Não tem força de lei, mas tem força política."
Para o G-20, a corrupção ameaça a integridade dos mercados, destrói a confiança da sociedade e distorce alocações de recursos. O grupo anticorrupção tem representantes de todos os países e a Espanha como observadora.
Polêmica. "Muito mais eficaz do que barrar a entrada de corruptos nos países é a punição efetiva de quem é corrupto e do corruptor", avalia Rodrigo Vitória, coordenador da unidade de Governança e Justiça do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime.
Para ele, a medida esbarra em princípios constitucionais, como a presunção da inocência, e também na demora na validação de sentenças internacionais pelo Judiciário. "O cenário brasileiro está melhorando, mas ainda temos uma cultura de permissividade com a corrupção. A medida constrange, mas não é a melhor", avalia.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Pausa para... a justica livresca: tudo errado...

Primeiro a notícia, que vem da China:

Book thief gets 5 months

By Jasmine Zhao  |   Shanghai Daily, 2013-2-25
 A man who called himself a "book addict" was sentenced to five months of detention for stealing 385 books from five community libraries, the Xuhui District People's Court said yesterday.

The convict, surnamed Wang, said he wanted to keep books he checked out. He got a library card at Xuhui District Library in March 2011, which let him borrow from the library and five community libraries. Wang said he returned books to the librarians and stole them after they were scanned and set aside. Until September, Wang stole 385 books worth 3,200 yuan (US$513), prosecutors said.

Librarians found many books missing but all were labeled "returned" in the tracking system. Wang was detained after he was identified as the borrower.


Ele não deveria ter sido preso, e sim promovido a bibliotecario de todo o distrito...

A Journey Inside the Whale: Toulouse-Lautrec at the NB Museum of American Art

O passeio deste domingo (24/02/2013), chuvoso e frio: apesar de ser um museu dedicado à arte americana -- ou estadounidense, como gostam de dizer os companheiros -- a exposição era excepcional: Toulouse, o breve (e seu alter ego Lautrec, gigante), seus amigos (entre eles Degas), e muito mais, além de uma outra artista visitando e fotografando...
New Britain Museum of American Art
56 Lexington Street
New Britain, CT 06052-1412
Toulouse-Lautrec & His World
January 12–May 12, 2013
Henri de Toulouse Lautrec, Divan Japonais, color lithograph, 1893, 808 x 608 mm, Herakleidon Museum, Athens Greece.
Henri de Toulouse Lautrec
Henri de Toulouse Lautrec, Eldorado: Aristide Bruant, color lithograph, 1892, 1380 x 960 mm, Herakleidon Museum, Athens Greece.


For the first time out of Europe, Toulouse-Lautrec & His World begins its U.S. tour here before moving on to Allentown Art Museum in Allentown, PA.
On view from January 12–May 12, 2013 in the McKernan Gallery, this traveling exhibition is on loan from the Herakleidon Museum, in Athens, Greece and is from the collection of Paul and Belinda Firos, the Connecticut collectors who also brought us M.C. Escher: Impossible Reality in 2010.
Henri de Toulouse-Lautrec lived in Paris during the Belle Époque (Beautiful Era) frequenting cabarets and cafés where he captured its famous singers, actors, his friends and the working class in his highly celebrated posters, prints, caricatures, sketches, and paintings. Greatly influenced by the French Impressionist movement, Henri de Toulouse-Lautrec is a post-impressionist of the mid-late 1800's. Due to his excessive lifestyle Henri de Toulouse-Lautrec died from complications of alcoholism and syphilis in 1901 at age 36.

This exhibition highlights approximately 150 of Toulouse-Lautrec’s rare works on paper including sketches, and some of his iconic posters like Jane Avril, Divan Japonais, and La Troupe de Mademoiselle Eglantine. The included posters are incredibly rare and fragile because as temporary advertisements for a particular show they were not done on quality paper. Some of the works are accompanied by appropriate passages from French literature, photographs, and other objects, in order to help the viewer better understand the atmosphere of that time. Herakleidon
Toulouse-Lautrec & His World is from the collection of Herakleidon Museum, Athens, Greece, www.herakleidon.com

Uma turista não acidental, instruída e experta. Estivemos em Albi, mas infelizmene o Museu Toulouse-Lautrec, no castelo da família, estava fechado para reformas.

 Quem está mais imóvel: o guarda ou eu?
Paulo Roberto de Almeida 
Hartford, 24 Fevereiro 2013 

Governo do Nunca Antes, 10 anos: um balanco que os companheiros vao detestar (Reinaldo Goncalves)

Nem sempre concordo com este economista, aliás raras vezes concordo com suas análises, que partem de pressupostos que considero falhos, quando não politicamente enviesados. Mas, não deve lutar contra os números, e o balanço que ele faz dos dez anos gloriosos da gestão incomparável do nuncaantesnestepaiz deve deixar os companheiros ressabiados, quando não enraivecidos...
Paulo Roberto de Almeida

Avanços ilusórios
Merval Pereira
O Globo, 24/02/2013

Durante os governos petistas, a estrutura econômica brasileira iniciou ou aprofundou tendências que comprometem a capacidade de desenvolvimento do país no longo prazo, afirma o professor titular de Economia Internacional da UFRJ Reinaldo Gonçalves em análise da economia brasileira nos 10 anos de governos petistas em trabalho intitulado “Brasil Negativado, Brasil Invertebrado: Legado de 2 governos do PT”.

Essas tendências, entre outras, segundo ele, são desindustrialização; reprimarização das exportações; maior dependência tecnológica; desnacionalização; perda de competitividade internacional; crescente vulnerabilidade externa estrutural; maior concentração de capital e política econômica marcada pela dominação financeira.

Até mesmo no campo social o professor da UFRJ vê ilusão onde o governo vende “conquistas notáveis”. Para ele, as políticas distributivas não atingem a estrutura de concentração de riqueza e não alteram a distribuição funcional da renda (salários versus juros, lucros e aluguéis). No que se refere ao desenvolvimento social, tomando o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) como referência, Gonçalves constata “a total ausência de ganhos do país relativamente ao resto do mundo”.

O Brasil Negativado também aparece em outro importante indicador de desempenho econômico, a inflação. Durante os governos petistas a taxa média de inflação é 6,1% (preços ao consumidor). Segundo o estudo, a taxa de inflação no Brasil é maior do que média mundial em 6 anos e maior do que a mediana mundial em 9 anos.

A melhora na distribuição de renda, na visão de Gonçalves, não é vigorosa ou sustentável em decorrência da própria natureza do modelo de desenvolvimento, que envolve trajetória de desempenho fraco e instável. Ele alega que os indicadores capturam fundamentalmente os rendimentos do trabalho e os benefícios da política social, e a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD), que serve de base para o cálculo dos indicadores de desigualdade, subestima os rendimentos do capital (juros, lucros e aluguéis).

Segundo o estudo, a distribuição da riqueza, muito provavelmente, não se alterou tendo em vista a vigência de elevadas taxas de juros reais no governo Lula, o reduzido crescimento do salário médio real, a concentração de capital e a ausência de medidas que inibam práticas comerciais restritivas (abuso do poder econômico) das grandes empresas.

Também como exemplo de concentração de capital e de riqueza, Gonçalves ressalta que no início do século XXI o valor dos ativos totais dos 50 maiores bancos era igual aos ativos totais das 500 maiores empresas; em 2011 os ativos dos 50 maiores bancos eram 78% mais elevados do que os ativos das 500 maiores empresas.

A base de dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) com coeficientes de Gini (que mede a desigualdade) num painel de 110 países mostra que, apesar de haver queda da desigualdade na América Latina na primeira década do século XXI, os países da região continuam com os mais elevados indicadores de desigualdade de renda no mundo.

Em meados desta década, lembra Reinaldo Gonçalves, 4 entre os 5 países com maior desigualdade estão na região (Colômbia, Bolívia, Honduras e Brasil).

No conjunto dos 10 países mais desiguais, há 8 países latino-americanos. Segundo o levantamento, o Brasil experimentou melhora marginal na sua posição no ranking mundial dos países com maior grau de desigualdade entre meados da última década do século XX e meados da primeira década do século XXI. Saiu da 4ª posição no ranking mundial dos mais desiguais para a 5ª posição.

Gonçalves ressalta que os avanços que ocorrem no Brasil não implicam ganhos em relação ao resto do mundo durante os governos petistas. Ele toma como exemplo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do PNUD. Embora ao longo do período 2000-11 o IDH do Brasil tenha aumentado de 0,665 em 2000 para 0,718 em 2011, este mesmo fenômeno ocorreu com a maioria dos países.

Em consequência, destaca Gonçalves, não há mudanças nas diferenças entre o IDH do Brasil, que se manteve praticamente estável (70ª posição) durante os governos petistas, e a média dos IDHs dos outros países.

La revolte des clercs, contre le droit de cuissage...

Os medievalistas, sobretudo os que leram Georges Duby ou Marcel Bloch, saberão o que significa "droit de cuissage", e os que ouviram falar de Julien Benda, saberão o que é o significado da revolta dos clérigos...
Com mil desculpas pelo pedantismo acadêmico, aqui vai um assunto muito terrestre, talvez até pedestre, a quatro patas, a julgar pelo comportamento de alguns personagens...
Paulo Roberto de Almeida

ABAIXO ASSINADO CONTRA O ASSÉDIO MORAL NO ITAMARATY.
http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/10639
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From: asof@asof.org.br [asof@asof.org.br]
Sent: 21 February 2013 16:09
To: Itamaraty - Ofchan
Subject: Abaixo-assinado contra o assédio moral no Itamaraty

A questão do assédio moral dentro do Itamaraty tem sido algo cada vez mais reincidente, sem que culpados sejam devidamente punidos. Nos últimos dois anos, a ASOF vem tratando, junto a seu corpo de advogados, de casos de denúncias de colegas que sofreram (e ainda sofrem) por conta de assédio moral de diplomatas - atitude que, nos corredores, os diplomatas lamentam, mas, por conta do tal cooorporativismo, do "Esprit De Corps", tentam amenizar, atribuindo isso a uma certa "cultura da casa".
Os casos de assédio moral, coincidentemente, acontecem de forma mais aviltante no exterior, quando, alguns, longe dos olhos da Administração, diplomatas sentem-se no direito de perseguir os demais como se superiores fossem. Há de se lembrar que as 3 carreiras do SEB não possuem, na Lei, uma hierarquia entre elas, ou seja, ninguém é mais ou menos do que o outro.
A ASOF repudia toda e qualquer atitude que, envolta em um rótulo hipócrita de "cultura da Casa", venha a desmerecer e desrespeitar todo e qualquer servidor - mesmo os contratados locais. Que "cultura da Casa" é essa, que permite que diplomatas gritem, xinguem e menosprezem, sem qualquer punição, quem justamente trabalha para que a Diplomacia brasileira seja séria e o nome do Brasil respeitado lá fora ?
Ministério é local público de trabalho; não é "Casa" de ninguém. Se, em casa, tais pessoas estão acostumadas a agir assim, a Administração do Itamaraty deve exigir que, no trabalho, ajam com civilidade, sendo polidas e educadas. Caso contrário, deverão sofrer as consequências de seus atos, pois, até agora, quem vem sofrendo com isso são somente os assediados moralmente, adoecendo, tendo que entrar em licença médica e, em alguns casos, tendo que pedir para ser removido do posto, antes do prazo, por não suportar mais tanta humilhação.  A ASOF espera que a Administração do Itamaraty adote, doravante, regras mais rígidas nos casos de assédio moral e que as investigações sejam, de fato, sérias e isentas, sendo os culpados punidos, no rigor da Lei.
Em apoio não somente ao caso do contratato local em Sydney, mas em nome de todos os demais colegas que sofreram e ainda sofrem por conta de atitudes recrimináveis de certos diplomatas que pensam em viver no tempo da "Casa Grande e Senzala", assediando moralmente quem não é diplomata, a ASOF reitera a divulgação de ato de repúdio contra o assédio moral, promovido pelo SindIItamaraty, hoje, às 15h, defronte ao "Bolo de Noiva" e aproveita para encaminhar link de abaixo-assinado que chegou à associação, em protesto contra tais atitudes, com carta anexa ao Ministro das Relações Exteriores.  O ato já conta com 285 assinaturas.
Soraya Castilho
Presidente da ASOF
http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/10639

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Comentário de um iconoclasta não identificado:

Existe, da parte de muitos diplomatas, infelizmente, um comportamento que foi caricaturizado como "Casa Grande e Senzala", mas que é mais apropriadamente identificado como uma postura feudal, de senhorio e vassalagem, quando não é um triste comportamento de separação estamental, muito próximo ao histórico regime de castas, na Índia. As castas são mentais, entre alguns, que se sentem pertencer a uma categoria superior, achando que todos os demais lhes devem subserviência, respeito, temor reverencial e outras submissões mentais desse tipo. Esse tipo de postura não existe apenas entre os diplomatas de um lado e os demais servidores de outro, mas entre os próprios diplomatas, com uma atitude mental que costuma distinguir entre o "lumpesinato" do secretariado, de um lado, e a aristocracia dos fidalgos ministrados, de outro. Isso um dia acaba, e não tem nada a ver com governos de esquerda, de direita (ou neoliberais) ou de centro: tem a ver com a atitude mental feudal que ainda caracteriza o Itamaraty. Infelizmente.


Caixa Preta? O Brasil se enreda na sua propria selva legal...

Nossa tradição cartorialista nos impõe uma pletora de leis, decretos, portarias, regulamentos, atos administrativos os mais diversos, que se acumulam, se duplicam, se contradizem, e tornam a todos confusos, a começar pela burocracia encarregada de zelar pela pureza da legalidade formal.
Só que a legalidade formal nem sempre, ou quase nunca se coaduna com a realidade material, ou seja, a economia real, e aí começam a existir milhares de penduricalhos, aditivos, correções e exceções, uma série de "espertezas" que os mais espertos criam para beneficiar a si póprios, como por exemplo os 14o. e 15o. salários dos congressistas, os adicionais de qualquer coisa para os magistrados, sem falar nas famosas correções, que sempre são corrigidas para cima, muito acima, nunca para baixo.
E também tem aqueles que acham que o Brasil é o paradigma universal dos rendimentos globais, e que o teto (que por si já é uma grande embromação, pois todo mundo se acha no direito de bater no teto ou quase perto) fixado internamente deve valer para todas as latitudes e longitudes, independentemente de onde se viva, e de qual seja o custo de vida.
Parece que os funcionários do serviço exterior -- que no Brasil ganham muito menos que seus contrapartes funcionais de outros poderes, e que compensam, precariamente com salários razoáveis no exterior -- terão de se pautar pelo teto, em reais, para uma vida em dólares ou outras moedas, com padrões de consumo e índices de custo de vida totalmente diferentes dos nossos.
Bravo! Vão fazer com que ninguém mais queira ir para o exterior, pois os salários no Brasil até que melhoraram em relação ao passado de miséria.
Quando oferecerem um posto -- pode ser A, B, C, ou E -- a um secretário com dois filhos, ele vai perguntar: quanto vou ganhar? Quanto é que vai custar a escola -- internacional, ou americana, não coberta pelo MRE -- para os meus filhos? Sinto muito mas obrigado, prefiro ficar aqui mesmo...
É isso o que vão criar...
Paulo Roberto de Almeida

Caixa-preta: só Itamaraty não revela salários de funcionários

Ministério não revela vencimentos de servidores lotados no exterior; atraso já completou 6 meses
Carolina Brígido (Email · Facebook · Twitter)
O Globo,

Ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota
Foto: Reuters
Ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota Reuters
BRASÍLIA Seis meses após o governo divulgar a lista de salários dos servidores públicos federais, o Itamaraty continua sem revelar quanto ganham diplomatas e outros funcionários lotados no exterior. Atualmente, o Ministério das Relações Exteriores publica apenas os vencimentos dos que trabalham no Brasil. Em novembro, o Tribunal de Contas da União (TCU) deu prazo de um mês para que fossem divulgados também os vencimentos de pessoas a serviço em outros países. Também foi determinado que os salários superiores ao teto federal (R$ 28.059,29) fossem cortados. No mês seguinte, o próprio TCU revogou a decisão, diante de recurso proposto pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Ele alegou falha técnica do TCU no processo e teve o pedido atendido.
O processo retornou ao gabinete do relator, ministro Benjamin Zymler, para ser reavaliado. A expectativa é que ele devolva o caso à apreciação dos colegas em breve. A próxima sessão plenária do TCU está marcada para o dia 23, mas não se sabe se o assunto será incluído na pauta de votações. Enquanto isso, os proventos de 1.934 servidores do Itamaraty que cumprem missão no exterior continuam sob sigilo.
A divulgação dos salários de todos os servidores públicos foi determinada pela Lei de Acesso à Informação, em vigor desde maio de 2012. No dia 27 de junho, todos os vencimentos foram ao ar no Portal da Transparência. Os funcionários do Itamaraty no exterior e dos servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) não entraram no sistema — esses últimos, por questões de segurança.
A decisão do TCU de enquadrar o Itamaraty na lei e nos limites impostos pelo teto constitucional foi proferida em 6 de outubro de 2012. Em 28 de novembro de 2012, o plenário do TCU julgou o recurso proposto pelo ministro Patriota. O chanceler argumentou que houve falha processual, pois a forma como o caso foi julgado desobedeceu ao Regimento Interno do tribunal.
Julgamento deveria ter sido individual
O TCU realiza julgamentos individuais e por relação. Na primeira situação, cada processo é amplamente discutido e votado separadamente. Na segunda, há uma lista de processos votada de uma só vez, sem haver discussão mais aprofundada de cada caso. O processo do Itamaraty, por se tratar de salários de servidores, deveria ter sido votado da primeira forma, mas foi decidido por relação.
“A determinação em questão amolda-se à hipótese vedada pelo dispositivo regimental ora citado, pois resulta na supressão de parcela remuneratória de interesse de servidores vinculados ao MRE”, afirma o acórdão do TCU de novembro. Para o TCU, houve “nulidade absoluta” da decisão anterior, que foi declarada insubsistente.
O processo para investigar eventuais ilegalidades na folha de pagamentos do Itamaraty foi instaurado em maio de 2012. O relator era o ministro Augusto Nardes. Como ele assumiu a presidência do TCU em dezembro, o processo mudou de relatoria e hoje está nas mãos do ministro Benjamin Zymler. Procurado pelo GLOBO, Zymler não quis falar sobre o assunto.
A decisão de outubro também dava ao Ministério das Relações Exteriores prazo de 180 dias para “interromper os pagamentos de valores referentes ao fator de correção cambial aos servidores lotados no exterior, tendo em vista a ausência de amparo legal para tais pagamentos”. Segundo o tribunal, esse tipo de parâmetro para a remuneração desrespeitava “os princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência” previstos na Constituição.
O TCU também enviou recomendação à Casa Civil da Presidência da República, ao Ministério do Planejamento e ao Itamaraty para elaborar um projeto de lei disciplinando os procedimentos de fixação dos vencimentos no exterior, “de forma a eliminar o uso de parcelas não previstas legalmente, como é o caso do fator de correção cambial, o qual não se coaduna com a exigência constitucional de edição de lei específica para fixação de remuneração de servidores públicos”.
O projeto de lei também deveria conter a informação de que nenhum servidor do Itamaraty estaria autorizado a receber remuneração superior ao valor do teto constitucional. O fator de correção é aplicado para elevar os salários de diplomatas lotados em cidades no exterior com custo de vida elevado.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/caixa-preta-so-itamaraty-nao-revela-salarios-de-funcionarios-7317194#ixzz2LrZ5RrmA
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Politica industrial brasileira (política?) - enfim, livro no mercado

Desconfio que o termo política seja um pouco forte, ou coerente demais, para se aplicar à atual salada confusa, desorganizada, improvisada, que os companheiros keynesianos de botequim vem aplicando no Brasil, para algum alívio de setores promíscuos, para desespero de economistas racionais (nem todos o são), para o maior desconforto de todos os brasileiros (que são chamados, mesmo sem saber e sem querer, a pagar a conta), e para resultado nenhum, finalmente, já que continuamos a perder competitividade dentro e fora do país, graças, justamente, às trapalhadas econômicas companheiras.
Enfim, esta digressão meio para a bronca e a condenação, não deve impedir nenhum dos leitores de se interessar pela publicação deste novo livro, de gente racional, responsável, com os pés no chão (nada a ver, portanto, com o pessoal do botequim acima referido), e que apresenta o livro em lançamentos próximos em SP e Rio.
Aliás, a indústria certamente tem um passado no Brasil (e ele foi bastante stalinista em certas épocas), mas não tenho certeza de que tenha futuro: em todo caso, os companheiros estão pretendendo voltar, ao que parece, ao stalinismo industrial do passado. Não vai dar certo...
Transcrevo abaixo o post do Mansueto Almeida, que participa do livro com um capítulo, como ele explica em seu blog.
Paulo Roberto de Almeida 

Lançamento: O Futuro da Indústria no Brasil

Indœstria_Estudo 22
Na próxima quinta-feira será lançado, na Livraria Travessa do shopping Leblon no Rio de janeiro, o livro O Futuro da Indústria no Brasil: desindustrialização em debate, organizado pelos economistas Edmar Bacha e Monica De Bolle. O livro decorreu de duas reuniões no instituto Casa das Garças, no primeiro semestre de 2012.
O livro tem vários textos interessantes de vários autores famosos, como por exemplo, o próprio Edmar Bacha, Affonso Celso Pastore, Ilan Goldfajn, Régis Bonelli, Samuel Pessoa, etc. Eu escrevi um capítulo muito simples com o título: “Padrões de política industrial: a velha, a nova e a brasileira.” Quem quiser ler a introdução do meu capítulo reproduzo abaixo.
Mas não deixem de comprar o livro, porque é talvez o primeiro livro sobre o problema da indústria no qual pouco se fala de taxa de câmbio. Eu talvez não consiga ir para o lançamento no Rio de Janeiro mas devo ir no lançamento de São Paulo.

Padrões de política industrial: a velha, a nova e a brasileira.

Mansueto Almeida
Introdução
No início deste século, vários países da América Latina voltaram a adotar políticas de incentivos setoriais identificadas como políticas industriais (Peres, 2006; Peres e Primi, 2009). O Brasil não foi exceção e, desde 2004, já adotou três versões diferentes dessas políticas.
A primeira política industrial do governo brasileiro no período recente foi a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE). Essa política consistia em um plano de ação do governo federal que tinha como objetivo o aumento da eficiência da estrutura produtiva, da capacidade de inovação das empresas brasileiras e a expansão das exportações. Em 2008, o governo ampliou sua política industrial para vários setores por meio da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e, em 2011, a política foi novamente ampliada com o estabelecimento de novas metas, mecanismos de proteção comercial e uma política de compras governamentais com margem de preferência de até 25% para produtos manufaturados e serviços nacionais no complexo de saúde, defesa, têxtil e confecção, calçados e tecnologia da informação e comunicação.
As várias políticas industriais adotadas desde 2003 sofrem de pelos menos três grandes problemas que serão detalhados ao longo deste capítulo. Primeiro, o desenho dessas políticas  baseia-se, excessivamente, no modelo sul-coreano dos anos 1960 e 1970 com um agravante.  Ao invés de a política promover a diversificação produtiva, ela toma a forma da concessão de crédito subsidiado para empresas grandes que atuam em setores nos quais o Brasil já possui claras vantagens comparativas como, por exemplo,  alimentos, petróleo e mineração.
Segundo, esse tipo de política industrial onera de forma excessiva e desnecessária o Tesouro Nacional, já que  seu principal instrumento é a concessão de crédito subsidiado via BNDES.  No entanto, para que o governo ajude o setor privado em seu esforço de inovação ou de diversificação não é preciso o uso excessivo de recursos financeiros. Ao contrário, há um vasta literatura moderna baseada em  estudos de casos que mostram que o apoio do setor público deva se pautar pela solução de problemas de ação coletiva e pela oferta de bens públicos locais como, por exemplo, a disseminação do requisitos fitossanitários exigidos pelos países importadores de produtos vegetais e animais.
Terceiro, o Brasil já possui um conjunto de instituições que permitiriam adotar essa política industrial moderna sem onerar o contribuinte. Esse tipo de política é  local, de menor custo e seu foco não é a criação de grandes empresas. Assim, mais do que incentivar a formação de grandes grupos, a política industrial deveria se pautar pela  oferta de bens públicos.
Além desta introdução, este capítulo se divide em três seções.  A Seção 2 explica o que aqui se denomina de “velha política industrial” que é o modelo sul-coreano no qual o Brasil ainda se baseia para apoiar a indústria. Argui-se a diferença entre essa política e as “novas políticas industriais”. A Seção 3 mostra as principais características da política industrial brasileira, enfatizando  seu elevado custo devido ao crescente endividamento do Tesouro Nacional para emprestar para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A Seção 4 conclui  com uma discussão sobre os aspectos institucionais das novas políticas industriais e sugestões sobre como deveria ser a política industrial brasileira.
   

Companheiros redescobrindo a polvora... (demorou um bocado)

Fernão de Magalhães demorou três anos para dar a volta ao mundo, provando na prática que o mundo é redondo (diferente do gosto de certo ex-presidente, que talvez preferisse, para fins de não disseminação da poluição, que o mundo fosse quadrado), e na verdade não conseguiu. Morreu nas Molucas, coitado, enfrentando nativos, e quem completou a volta, com alguns miseráveis companheiros, foi seu escrivão, Sebastian El Cano, aliás o nome de um excelente instituto (real) espanhol de relações internacionais.
Pois os companheiros estão piores do que Fernão de Magalhães: demoraram mais de dez anos para dar a volta ao mundo, e na verdade ainda não terminaram. Na verdade, eles nunca se convenceram que a sua versão do mundo quadrado não funciona, e só estão aderindo às privatizações por absoluta falta de saberem o que fazer, ou absoluta incapacidade (que é acima de tudo mental) de saber o que fazer de outro modo, por falta total de alternativas credíveis.
Eles já tentaram de tudo: pararam as privatizações, acusando-as de serem privataria (mas nunca reverteram nenhuma, de safados), criaram dezenas de novas estatais (com milhões perdidos na gestão incompetente dos companheiros, sendo o Banco Popular do Brasil apenas um exemplo entre muitos outros, como uma tal empresa de coleta de sangue), fizeram (depois de anos e anos de debate inútil) uma lei de PPP (parcerias público-privadas), para depois NUNCA usar, tentaram manietar (e conseguiram) as agências públicas e remeteram um projeto para amordaçá-las (que dorme placidamente no Congresso), mas de toda forma aparelharam todas as agências de companheiros ineptos e incompetentes (quando não larápios, em vários casos), enfim, fizeram de tudo antes de se renderem às tais "concessões" (que dizem não ser privatizações, como gostam de abusar da semântica).
Em alguma coisa não inventaram nada: apenas roubaram o software de gestão econômica dos neoliberais, sem reconhecer, sem pagar direitos autorais, e dizendo que estavam fazendo diferente, quando nada fizeram de diferente.
No que mexeram, o fizeram para pior, como o desmantelamento atual das metas de inflação, da flutuação cambial, da responsabilidade fiscal e do superávit primário (que em si já é uma bizarrice).
Enfim, verdade seja dita: os companheiros vão precisar de mais dez anos para dar a volta ao mundo...
Paulo Roberto de Almeida

Foi FHC que abriu os portos
ALBERTO TAMER
O Estado de S.Paulo - 17/02/2013

A presidente Dilma Rousseff assinou medida provisória autorizando a privatização dos portos, mais uma louvável decisão que vem somar-se à privatização dos aeroportos. O objetivo é modernizar esses dois setores que, fechados aos investimentos privados, pararam no tempo e são em grande parte responsáveis pelo alto custo das exportações brasileiras que perdem espaço em um mercado retraído e altamente competitivo.
Tudo começou com Fernando Henrique Cardoso. De fato, a ideia e a iniciativa de abrir, de privatizar os portos foi de Fernando Henrique não como presidente, mas, anteriormente, atuando como senador e depois como ministro da Fazenda de Itamar Franco. Todos reconhecem que a Lei 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, inaugurou uma nova fase no sistema portuário brasileiro, e seu artífice maior se chama Fernando Henrique Cardoso. Ministro, foi o ex-presidente que na época teve a coragem de promover a privatização dos portos nacionais, enfrentando uma das maiores corporações públicas do País, para não dizer um dos seus grandes antros de corrupção. Foi dele também a iniciativa histórica de tirar da Petrobrás o monopólio de exploração, que estava inscrito na Constituição.
Vitória da persistência. Agora que temos a abertura dos portos decretada por uma medida provisória, a coluna conversou com o ex-presidente.

Como foi a sua luta pela privatização dos portos, que podemos chamar de vitória quase isolada sua?
"Quando fui eleito presidente, nos meus dois mandatos implementei o Programa Integrado de Modernização Portuária (Pimop), estruturado em torno de 13 objetivos, derivados da Lei 8.630/1993. Dessa maneira, embora enfrentando enormes resistências políticas lançadas ou encampadas pelo PT, completamos a primeira etapa da reestruturação da administração portuária brasileira", diz Fernando Henrique.
Ela compreendia, entre outros aspectos a) a implantação do modelo de Autoridade Portuária; b) a desestatização da exploração das operações portuárias transferindo-a para o setor privado, através de operadores portuários de cais público, e de terminais de uso público e terminais de uso privativo (exclusivos e mistos); c) a implantação dos Conselhos de Autoridade Portuária (CAP) em todos os portos organizados; d) a implantação de um Programa de Harmonização das Atividades dos Agentes de Autoridade nos portos e terminais portuários (Prohage).

Estavam assim, sob a liderança do ex-presidente Fernando Henrique, lançadas bases sólidas para desenvolver um processo de modernização dos portos brasileiros, solucionando um dos maiores gargalos da logística nacional. "Faltava continuar avançando e as sugestões nesse sentido foram repassadas por minha equipe aos representantes do governo entrante de Lula."

Dez anos de atraso. "Mas, infelizmente, nada se fez no governo Lula, abandonando-se o Programa Integrado de Modernização Portuária. Como resultado, a administração portuária brasileira continua burocratizada e carente de agilidade, não se tendo notícia de nenhum esforço sistemático do governo a respeito desse assunto." 
Agora, passados dez anos, o governo de Dilma Rousseff anuncia que vai retomar a agenda perdida da modernização dos portos iniciada por FHC. Tomara que seja pra valer.

Fernando Henrique lembra à coluna que as carências na área portuária levaram, segundo a Fundação Dom Cabral, o Brasil a ocupar a 123.ª posição entre 134 países no ranking de qualidade dos portos (2009). "A excessiva burocracia coloca o Brasil na 61.ª pior posição no ranking do Banco Mundial de tempo para liberação da entrada e saída de navios nos portos, com 5,8 dias, enquanto na China o tempo é de 0,4 dia, na Alemanha 0,7 dia e nos Estados Unidos 1,1 dia." 
O que mais preocupa Fernando Henrique é a gestão delegada dos portos. "Identifica-se uma predisposição do governo em revogar os convênios de estadualização ou municipalização, embora ninguém tenha reunido dados suficientes para demonstrar que a gestão delegada a Estados e municípios tenha sido pior do que a federal. Ambas se equivaleram, no bem e no mal. Pode-se inclusive afirmar que os portos melhor administrados estão entre os delegados a Estados e municípios: São Francisco do Sul, São Sebastião, Suape e Itaqui." 
E, na conversa com a coluna, Fernando Henrique eleva o tom: "A trágica politização da Autoridade Portuária, uma doença quase secular da administração pública dos portos continua aberta. E, como se não bastassem os preconceitos alimentados pelos segmentos corporativos ainda enquistados na máquina pública, existem grupos proeminentes do setor privado que, há muitos anos, pelejam pela transformação desse Conselho no próprio Conselho de Administração das Companhias Docas. Nada mais absurdo."
Por fim, o decreto 6.620, de rara infelicidade, além de ter introduzido, de forma confusa, definições e exigências relativas à "carga própria", não previstas na Lei 8.630, agravou o quadro de insegurança regulatória dos últimos dez anos. Para o ex-presidente, se Dilma quiser, realmente, impulsionar o crescimento econômico, terá de avançar na gestão portuária seguindo os princípios básicos propostos pelo governo anterior. Na verdade, nos padrões da época (1993), sua atuação significou uma pequena revolução, enfrentando os monopólios corporativos, descentralizando a gestão, para abrir os portos às empresas privadas.

Fernando Henrique deu o primeiro passo, Lula parou e até voltou atrás, e Dilma diz que a abertura dos portos e a privatização são irreversíveis. Só que já estamos atrasados em mais de uma década. E os que não querem mudar nada ainda estão aí.

Ah, essa rivalidade diplomatica com o Mexico... - Thomas Friedman

Não, não é da tradicional rivalidade diplomática brasileira com o México por uma ilusória liderança na América Latina de que trata este artigo do conhecido colunista americano do NYTimes.
É apenas da nova ascensão do México.
Apenas duas informações que por acaso lhes tenham passado despercebidas.
Com 44 acordos de livre comércio, o México é a nação mais livre-cambista do mundo, pelo menos em quantidade (e quatro vezes mais do que o Brasil, que pela qualidade, aliás, fica ainda mais abaixo).
E, sozinho, o México exporta mais manufaturados do que todo o resto da América Latina junta, o Brasil inclusive.
Como isso foi possível?
Bem, quem sabe trabalhando?
Outra informação, talvez interessante para o Brasil, diretamente:
"Mexico’s three major political parties have just signed “a grand bargain,” a k a “Pact for Mexico,” under the new president, Enrique Peña Nieto, to work together to fight the big energy, telecom and teacher monopolies that have held Mexico back."
 Quem sabe a gente consegue combater os sindicatos mafiosos de professores, o estatismo ineficiente na energia e os carteis pornográficos das telefônicas, para também crescer e se desenvolver?
Apenas uma sugestão...
Paulo Roberto de Almeida
Op-Ed Columnist

How Mexico Got Back in the Game

Adriana Zehbrauskas for The New York Times
Mexico is attracting more global investment in autos, aerospace and household goods. General Electric has an office in Querétaro.
MONTERREY, Mexico
Josh Haner/The New York Times
Thomas L. Friedman

IN India, people ask you about China, and, in China, people ask you about India: Which country will become the more dominant economic power in the 21st century? I now have the answer: Mexico.
Impossible, you say? Well, yes, Mexico with only about 110 million people could never rival China or India in total economic clout. But here’s what I’ve learned from this visit to Mexico’s industrial/innovation center in Monterrey. Everything you’ve read about Mexico is true: drug cartels, crime syndicates, government corruption and weak rule of law hobble the nation. But that’s half the story. The reality is that Mexico today is more like a crazy blend of the movies “No Country for Old Men” and “The Social Network.”
Something happened here. It’s as if Mexicans subconsciously decided that their drug-related violence is a condition to be lived with and combated but not something to define them any longer. Mexico has signed 44 free trade agreements — more than any country in the world — which, according to The Financial Times, is more than twice as many as China and four times more than Brazil. Mexico has also greatly increased the number of engineers and skilled laborers graduating from its schools. Put all that together with massive cheap natural gas finds, and rising wage and transportation costs in China, and it is no surprise that Mexico now is taking manufacturing market share back from Asia and attracting more global investment than ever in autos, aerospace and household goods.
“Today, Mexico exports more manufactured products than the rest of Latin America put together,” The Financial Times reported on Sept. 19, 2012. “Chrysler, for example, is using Mexico as a base to supply some of its Fiat 500s to the Chinese market.” What struck me most here in Monterrey, though, is the number of tech start-ups that are emerging from Mexico’s young population — 50 percent of the country is under 29 — thanks to cheap, open source innovation tools and cloud computing.
“Mexico did not waste its crisis,” remarked Patrick Kane Zambrano, director of the Center for Citizen Integration, referring to the fact that when Mexican companies lost out to China in the 1990s, they had no choice but to get more productive. Zambrano’s Web site embodies the youthful zest here for using technology to both innovate and stimulate social activism. The center aggregates Twitter messages from citizens about everything from broken streetlights to “situations of risk” and plots them in real-time on a phone app map of Monterrey that warns residents what streets to avoid, alerts the police to shootings and counts in days or hours how quickly public officials fix the problems.
“It sets pressure points to force change,” the center’s president, Bernardo Bichara, told me. “Once a citizen feels he is not powerless, he can aspire for more change. ... First, the Web democratized commerce, and then it democratized media, and now it is democratizing democracy.”
If Secretary of State John Kerry is looking for a new agenda, he might want to focus on forging closer integration with Mexico rather than beating his head against the rocks of Israel, Palestine, Afghanistan or Syria. Better integration of Mexico’s manufacturing and innovation prowess into America’s is a win-win. It makes U.S. companies more profitable and competitive, so they can expand at home and abroad, and it gives Mexicans a reason to stay home and reduces violence. We do $1.5 billion a day in trade with Mexico, and we spend $1 billion a day in Afghanistan. Not smart.
We need a more nuanced view of Mexico. While touring the Center for Agrobiotechnology at Monterrey Tech, Mexico’s M.I.T., its director, Guy Cardineau, an American scientist from Arizona, remarked to me that, in 2011, “my son-in-law returned from a tour of duty in Afghanistan and we talked about having him come down and visit for Christmas. But he told me the U.S. military said he couldn’t come because of the [State Department] travel advisory here. I thought that was very ironic.”
Especially when U.S. companies are expanding here, which is one reason Mexico grew last year at 3.9 percent, and foreign direct investment in Monterrey hit record highs.
“Twenty years ago, most Mexican companies were not global,” explained Blanca Treviño, the president and founder of Softtek, one of Mexico’s leading I.T. service providers. They focused on the domestic market and cheap labor for the U.S. “Today, we understand that we have to compete globally” and that means “becoming efficient. We have a [software] development center in Wuxi, China. But we are more efficient now in doing the same business from our center in Aguascalientes, [Mexico], than we are from our center in Wuxi.”
Mexico still has huge governance problems to fix, but what’s interesting is that, after 15 years of political paralysis, Mexico’s three major political parties have just signed “a grand bargain,” a k a “Pact for Mexico,” under the new president, Enrique Peña Nieto, to work together to fight the big energy, telecom and teacher monopolies that have held Mexico back. If they succeed, maybe Mexico will teach us something about democracy. Mexicans have started to wonder about America lately, said Bichara from the Center for Citizen Integration. “We always thought we should have our parties behave like the United States’ — no longer. We always thought we should have the government work like the United States’ — no longer.”

Estamos sendo governados por um poste (nao fui eu quem disse, mas elle...)

Sincero, até na sua aparente esperteza, que também pode ser ingenuidade psicológica...

Confissão histórica
Augusto Nunes
“A primeira vez que votei para presidente foi em mim mesmo, de tanto que gostava de mim. Na segunda votação, também foi em mim; na terceira, por azar, foi num poste que está iluminando o Brasil”.

Lula, cinco vezes candidato à Presidência da República, durante a discurseira na festa dos dez anos da Descoberta dos Cofres Federais, confessando que votou em Lula só 1989 e 1994, sem revelar se em 1998, 2002 e 2006 optou pela abstenção, pelo voto em branco ou pelo adversário.

Prenuncio de uma crise cambial? - Editorial Estadao

Pouco provável. Essas coisas demoram a acontecer, inclusive porque o déficit de transações correntes não evolui tão rapidamente assim, no curso normal das coisas. As autoridades dispõem de amplo tempo para remediar, seja atraindo mais investimento estrangeiro, seja emitindo mais bônus externos, seja ainda desestimulando viagens internacionais (tornando o câmbio mais caro, por exemplo).
Mas a reversão pode ser repentina, se por acaso houver uma deterioração externa, quebra de confiança, diminuição da cotação do país pelas agências de classificação de riscos, ou algum aumento mais intenso da inflação interna que induza os nacionais a buscar refúgio em outras moedas, provocando então alguma fuga de capitais mais evidente.
Pode demorar 3ou 4 anos para o déficit de transações correntes passar de 3 para 5% do PIB, mas uma vez chegado nesse patamar, pode passar muito rapidamente a 7 ou 8% do PIB, e aí entra o pânico, que gera mais corrida e mais desastre.
O resultado sabemos qual é: uma maxidesvalorização, que deixa todos mais pobres, mas que restabelece a competitividade dos produtos nacionais (ainda que por razões espúrias, e não por maior produtividade) e equilibra a balança novamente.
Em todo caso, o ideal seria ter uma economia sadia, e equilibrada pelas forças do mercado, não a golpes e patadas governamentais.
Paulo Roberto de Almeida

As contas cambiais pioram um pouco mais

23 de fevereiro de 2013 | 2h 09
Editorial econômico O Estado de S.Paulo
 
As contas cambiais apresentaram nova piora em janeiro, decorrente do déficit crescente do comércio exterior, das remessas de dividendos das empresas instaladas no País e do déficit de serviços, liderados pelo turismo. O resultado foi um déficit mensal nas contas correntes de US$ 11,4 bilhões e de US$ 58,6 bilhões nos últimos 12 meses - equivalente a 2,58% do PIB, ante 2,26% e 2,2%, respectivamente, nos 12 meses terminados em janeiro de 2011 e 2012. É cerca de US$ 2 bilhões mais elevado do que esperavam os analistas e indício de maiores dificuldades neste ano.
A entrada de Investimento Estrangeiro Direto (IED) foi de US$ 3,7 bilhões, no mês passado, muito inferior à de janeiro de 2012 (US$ 5,4 bilhões) e à média mensal do ano passado, de quase US$ 5,7 bilhões.
Em resumo, o Brasil está importando cada vez mais - e, assim, reduzindo o superávit da balança comercial, que vinha sendo um dos pontos fortes do balanço de pagamentos nos últimos anos. Entre 2011 e 2012, o peso dos importados no consumo doméstico de produtos industriais aumentou de 23,1% para 23,5% e chegou ao maior nível histórico, segundo estudo distribuído ontem pela Fiesp.
No curto prazo, há pouco a fazer para alterar a trajetória das contas cambiais. De fato, os analistas continuam esperando que elas melhorem nos próximos meses. Mas ainda falta contabilizar, provavelmente até o mês que vem, US$ 2,7 bilhões em importações de derivados de petróleo feitas no ano passado. E as projeções do mercado para este ano são de um déficit de US$ 70 bilhões nas contas correntes, quase 30% superior ao de 2012 (US$ 54,2 bilhões) e acima dos US$ 65 bilhões estimados pelo Banco Central para 2013, mostrou relatório distribuído ontem pela instituição.
O mais provável é que o déficit projetado para este ano seja, mais uma vez, financiado pelo investimento estrangeiro - o que depende de que outros países não se mostrem mais atraentes do que o Brasil.
As contas teriam sido piores, em janeiro, sem o retorno de US$ 4,3 bilhões de recursos brasileiros no exterior e sem o ingresso de US$ 3,3 bilhões para aplicações em bolsa.
Graças à acumulação de reservas de US$ 376 bilhões e aos bons resultados do balanço de pagamentos nos últimos 11 anos, o País dispõe de uma situação cambial que permite enfrentar dificuldades. Mas nem por isso o governo deve dar-se ao luxo de adicionar riscos à economia com uma política errática para o câmbio, capaz de afastar investidores e de elevar gastos, como as remessas de renda.

Mensalao e outras corrupcoes: o que se ve, e o que nao se ve...

O economista Frederic Bastiat ficou famoso pelo seu recurso genial a um tipo de metodologia analítica que ilustra de maneira muito simples, e absolutamente correta, os efeitos visíveis e invisíveis de qualquer medida de política pública que incida sobre os agentes econômicos e seus ativos: o que se vê, e o que não se vê.
De fato, o universo econômico é dominado, como não poderia deixar de ser no mundo contemporâneo, por medidas governamentais. Os Estados, ou os governos, determinam tudo, inclusive a liberação total dos fluxos, se por acaso dominados por uma ideologia liberal, ou libertária, ou o intervencionismo mais completo e absoluto, como nos sistemas comunistas defuntos (nem todos) e nos fascismos enterrados. Ficou, porém, e o keynesianismo é apenas uma variante mais light e insidiosa dessa realidade, o fato da intervenção governamental, para regular, liberar, constranger, taxar, etc.
E qualquer medida econômica possui, justamente, o seu lado visível, que é o que se pretende, sempre com boas intenções, e o seu lado menos visível, até obscuro, que são os efeitos indesejados, imprevistos, até inéditos, que é o que se obtem quando governos iluminados pretendem ditar às pessoas e empresas o que elas podem, ou não podem fazer com os seus ativos.
Em política, também é assim, e mais do que tudo ela tem muitos lados invisíveis que não sabemos como as coisas se deram, exatamente, e só uma pequena parte vem à tona.
Assim é, assim foi, e assim será, com o julgamento mais famoso ocorrido no Brasil contemporâneo, o do Mensalão, pelo qual um bando de meliantes travestidos de políticos foi pego com a boca na botija. O bandido mais condenado, coitado, é provavelmente, o menos culpado de todos, pois é evidente que o famoso operador financeiro da quadrilha do Mensalão não teria feito nada daquilo se não tivesse carta branca do chefe da quadrilha, que deveria ter recebido uma pena três vezes maior.
Assim ocorre, também, com o outro lado da história, sequer presente na história do Mensalão: o chefão maior, o capo di tutti i capi, não apareceu, mas foi ele o responsável final de tudo isso.
O mesmo ocorre no atual escândalo chamado de Rosegate, a amante do capo, que nunca teria feito o que fez se não autorizada, talvez até instruída pelo mesmo obscurso personagem.
Talvez haja um processo rumoroso, talvez não. Talvez o criminoso maior apareça, talvez não. Não sabemos ainda o que vai acontecer.
Uma coisa é certa: nunca saberemos exatamente o que aconteceu, pois os bandidos não vão confessar.
Quem conhece a história toda?
Eles próprios, claro. Mas também tem outros que sabem, que assistiram, que espionaram, que talvez chantageiem os personagens principais, e não apenas em torno desses dois casos tristemente famosos. Tem muitos outros episódios que não sabemos, que sequer desconfiamos e que nunca iremos saber.
Quem sabe algo a respeito? Eu tenho um palpite, apenas isto: um palpite.
Os cubanos sabem de muitas coisas...
Vão revelar? Não em público, apenas para os próprios interessados, para usar na medida de suas necessidades.
E quando a história der as suas voltas, vão queimar os papeis por que isso os compromete também.
Grandes bandidos se esforçam para não deixar pegadas.
É isso. Por enquanto fiquem com uma crônica do Mensalão, que conta apenas uma parte da história...
Paulo Roberto de Almeida 

O jornalismo independente ilumina a paisagem infestada de repórteres invertebrados e colunistas estatizados
Augusto Nunes, 23/02/2013

Na edição impressa de VEJA, comentei o livro do jornalista Merval Pereira sobre o julgamento do mensalão. Segue-se o texto. (AN)

Numa paisagem infestada de repórteres invertebrados, críticos construtivos, colunistas estatizados e analistas que combatem valentemente quem ousa discordar do governo, o espaço ocupado por jornalistas nascidos sob o signo da independência e condenados a amar a verdade acima de todas as coisas parece perturbadoramente acanhado. É mesmo diminuto, mas não há motivos para inquietação.

Os integrantes dessa linhagem nunca foram muitos. Mas cada um vale por uma multidão, comprova Merval Pereira em Mensalão – O dia a dia do mais importante julgamento da história política do Brasil (Editora Record; 285 páginas; 34,90 reais). “O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter”, ensinou Cláudio Abramo.

É o que Merval tem feito há mais de 40 anos, ao longo dos quais brilhou como repórter de campo ou exercendo cargos de chefia nas Organizações Globo, no Jornal do Brasil e em VEJA. É o que faz todos os dias em sua coluna no Globo e nos comentários para a GloboNews e para a rádio CBN. Foi o que fez durante os quatro meses e meio em que milhões de brasileiros acompanharam ─ primeiro com ceticismo, em seguida com esperança, enfim com justificado entusiasmo ─ o julgamento da quadrilha que tentou a captura do Estado Democrático de Direito até ser desbaratada em meados de 2005.

Aos 63 anos, eleito há quase dois para a Academia Brasileira de Letras, o jornalista carioca reconstitui essa metamorfose fascinante no livro que reúne 86 artigos publicados na página 4 do Globo, precedidos por um pedagógico prefácio do ex-ministro Carlos Ayres Britto e completados por dois textos, até agora inéditos, que induzem o mais descrente dos leitores a acreditar que o Brasil nunca mais será o mesmo. Começou a mudar ─ para melhor.

Como adverte o posfácio, nenhuma decisão judicial é capaz de iluminar da noite para o dia a face escura de um país. Se no Brasil Maravilha que Lula inventou é possível até erradicar a miséria por decreto, no Brasil real os avanços são mais demorados. O Supremo não erradicou a corrupção. Ao condenar uma organização criminosa comandada por figurões federais, contudo, revogou a norma não escrita segundo a qual alguns são mais iguais que os outros, embora todos sejam iguais perante a lei.

Ao contrário do miserável-brasileiro, o brasileiro corrupto não virou uma espécie extinta. Mas ninguém mais pode considerar-se condenado à perpétua impunidade. Veja-se o escândalo protagonizado por Rosemary Noronha e seus comparsas. Um jipe doado a um dirigente do PT por serviços prestados a uma empresa privada, exemplifica Merval, “equivale à operação plástica para a chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, em troca talvez de uma audiência marcada”.

Nem existem diferenças notáveis, lembra o autor, entre arranjar emprego para a ex-mulher do político poderoso ou premiar com um cruzeiro marítimo a secretária que diz que conversa com o ex-presidente todos os dias. O caso Rose sugere que o país é o de sempre. Visto de perto, informa aos gritos que as coisas mudaram.

Há um ano, como demonstra o livro, Lula estava em campanha para adiar o julgamento do mensalão ou absolver todos os culpados. Confiante no apoio de gente que nomeou, como o presidente Ayres Britto ou o relator Joaquim Barbosa, enxergou subordinados obedientes onde havia juízes honrados. Decidido a ganhar de goleada, recorreu à chantagem para enquadrar Gilmar Mendes. A vítima do achaque contou o que acontecera e Lula preferiu acompanhar o julgamento pela TV Justiça.

Atropelado em novembro pela Operação Porto Seguro, que apurou as bandalheiras da turma de Rose, o mais falante dos palanqueiros foge da história há mais de três meses. “Depois do julgamento do mensalão, há mais chance de o poderoso de plantão, apanhado com a boca na botija, pagar por seus crimes, até mesmo na cadeia”, constata Merval. É verdade, confirma a estridente mudez de Lula.