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domingo, 2 de fevereiro de 2014

Existe oposicao ao partido totalitario no poder? Aparentemente NAO! -Percival Puggina

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A PERGUNTA CERTA
Percival Puggina


É tamanho o descrédito dos partidos políticos que eles desistiram de proclamar suas virtudes. Ao contrário, dedicam-se a demonstrar que os outros chafurdam em ainda maiores vícios. Nesse contexto, nesse indiscutível contexto, fica imensamente favorecida a vida de quem está no poder. Ali, as facilidades voam em jatinhos militares devidamente decorados para os prazeres da vida civil. Ali, roda a ciranda em torno do Erário, que abre portas na hora certa para alegria dos folgazões. Ali há dinheiro, empregos, poder, honrarias, favores. E tudo isso, no tempo devido, vira mercadoria ou moeda eleitoral.

"E a oposição?", indagará o leitor atento à relevância política deste ano de 2014. Ora, a oposição é aquele pequeno reduto onde só ficam os que não se deixaram seduzir pelo que de mais atraente existe nas tentações do poder. No Brasil destes anos constrangedores, só é oposição quem faz muita questão de sê-lo. O poder tem do bom e do melhor para todos os seus. A oposição é trincheira de poucos e mal apetrechados combatentes.

Quem acompanha a política nacional com interesse cívico sabe, também, que o PT muito pouco pode apresentar como resultado positivo de suas três administrações que não provenha de políticas que antes condenou e, posteriormente, adotou. Mas, convenhamos: isso não serve para estabelecer diferenças. Bem ao contrário. A estratégia oposicionista precisa ser outra. Para vencer o desequilíbrio estabelecido entre as forças do governo e as da oposição é preciso identificar e apontar ao juízo soberano dos eleitores certos abismos que as separam. A contribuição que trago nestas linhas é uma lista de pautas, de condutas e de políticas pelas quais esse rio de águas turvas chamado Partido dos Trabalhadores ganha corpo com seus afluentes pela margem esquerda e pela margem direita. Elas me levam ao que chamo de a pergunta certa: qual o partido brasileiro que se identifica com as seguintes políticas, condutas e pautas?

Marco regulatório da imprensa; marco civil da internet; PLC 122 (da "homofobia") e seus disparates; imposição do "politicamente correto" e da novilíngua; confabulações do Foro de São Paulo; apoio e refúgio a terroristas (Cesar Battisti é apenas um dos casos); captura e devolução a Fidel dos boxeadores cubanos; apoio aos governos comunistas de Cuba, Venezuela e Bolívia; incondicional afeição a qualquer patife adversário do Ocidente; homenagens e nomes de ruas para líderes comunistas; memorial para Luiz Carlos Prestes; apoio explícito a companheiros condenados pela justiça por graves crimes; verdadeira fobia por presídios e órgãos de segurança, resultando em gravíssima instabilidade social; absoluta e incondicional dedicação aos direitos humanos dos bandidos; empenho em inibir a ação armada das instituições policiais; dedicação à causa do desarmamento dos cidadãos; recusa à redução da maioridade penal; criação do MST e apoio às suas truculentas invasões de propriedades rurais; apoio a invasões no meio urbano e a políticas que restringem o direito de propriedade; cobertura às estripulias imobiliárias dos quilombolas; avanços do Código Florestal contra o direito de propriedade; expansão das reservas indígenas sobre áreas de lavoura; mudança, para pior, do Estatuto do Índio; supressão de símbolos religiosos em locais públicos; lei da palmada; apoio à legalização do aborto; políticas de gênero; kit gay nas escolas; apoio à parada gay, à marcha das vadias e à marcha pela maconha; leis de cotas raciais; uso de livros didáticos para doutrinação ideológica; fim da lei de anistia e manipulação da História; aparelhamento da administração pública e dos órgãos de Estado pelos partidos do governo; e mais recentemente, defesa dos rolezinhos e suas perturbações em locais de comércio.

Examine bem a lista acima e depois me diga se não é urgente espantar, pela força do voto, esse mau agouro político que lança sortilégios sobre nossa sociedade e sobre a democracia brasileira.
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* Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.

Embrapa: uma empresa de sucesso, mas ainda contaminada pela ideologia companheira

A Embrapa é uma realização brasileira que poderia ter emergido em quaisquer circunstâncias, pois corresponde ao que pode ser chamado de especializações ricardianas, ou seja, as vantagens comparativas relativas, inteiramente cobertas pela teoria do comércio internacional de David Ricardo (uma teoria rejeitada por companheiros mais obtusos, que a confundem com alguma fatalidade do essencialmente agrícola).
Quis o destino -- e nossa trajetória política e tecnológica -- que ela surgisse durante o governo militar, mais exatamente em 1971. Ela se fez, como ocorreu com a "substituição de importações" na pós-graduação de maneira geral, com base na formação de quadros, ou seja, de capital humano, no exterior e no desenvolvimento de tecnologia própria, adaptada ao Brasil.
Trata-se do maior sucesso técnico em matéria de agricultura tropical do mundo, e sua experiência pode ser estendida a todas as demais regiões com biótipos relativamente semelhantes aos do Brasil, e mesmo diferentes, pois o essencial está na P&D adaptada ao ambiente geográfico, ecológico.
Com os companheiros no poder, quiseram transformar a Embrapa em auxiliar da pequena agricultura camponesa, o que é uma estupidez monumental, pois agricultura responde a condições técnicas e a dados de mercado, independente de quem está atrás da máquina ou da propriedade. Agricultura de sucesso é aquela que produz ao menor custo com o maior volume possível, ponto.
O mercado se encarrega do resto, e guia, justamente, os passos dos técnicos que precisam responder aos incentivos e estímulos de mercado para orientar a agricultura.
Tentar transformar a Embrapa em instrumento de justiça social, de redistribuição de renda é criminoso, pois ela foi feita para resolver problemas técnicos, não sociais, que devem ser resolvidos na esfera das políticas públicos, ao maior nível de eficiência possível.
Essa coisa da "diplomacia Sul-Sul" é uma estupidez em si, para si, e para o Brasil, pois é ideologia misturada ao interesse nacional.
A Embrapa deve colaborar com outros países da mesma faixa de latitude pois é nisso que residem suas vantagens comparativas, não porque se pretenda fazer política da agricultura, ou de uma instituição como ela. Ela deve disseminar sua tecnologia pois é do interesse da humanidade, não do governo companheiro. Ela deve ajudar na produtividade agrícola de outros povos pois é nisso que reside sua vocação, sem qualquer exploração política ou ideológica, ou restrição de natureza partidária.
Enfim, uma Embrapa liberta das loucuras companheiras seria uma Embrapa melhor, e mais eficiente.
Paulo Roberto de Almeida

Brasil quer expandir "diplomacia agrícola" na África e na América Latina


UOL/Midiamax, 2/022014

O Brasil pretende expandir em 2014 sua "diplomacia agrícola", como é conhecida a rede de cooperação em tecnologia agropecuária que o governo vem realizando em mais de 30 países da África e América Latina e que faz parte da estratégia sul-sul da política externa brasileira.
"Este será o ano de massificar os projetos de agricultura familiar, sobretudo na África, destinados principalmente à segurança alimentar", disse à Agência Efe o diretor de projetos de cooperação técnica da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Alberto Santana.
A estatal atua na África e na América Latina através da Agência Brasileira de Cooperação, órgão do Ministério das Relações Exteriores, e é uma das ferramentas da política externa do país, que aspira ser um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 2014 será o Ano Africano da Agricultura e da Segurança Alimentar.
De 2002 até 2013, por exemplo, a relação comercial entre Brasil e África cresceu 449%, de acordo com os números do fluxo comercial do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, como parte da estratégia traçada em 2003 com a chegada ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
"Isto faz parte da cooperação sul-sul iniciada com o governo Lula, porque a grande questão na África é a cultura alimentícia e dotar a população rural de conhecimento e técnica para que não sejam dependentes dos alimentos estrangeiros", política que continua com a presidente Dilma Rousseff, segundo Santana.
Na África, o Brasil tem escritórios de Embrapa em Moçambique e Gana e a presença de um funcionário no Mali.
Os países que recebem cooperação do Brasil, principalmente destinada à agricultura familiar, são Senegal, Guiné-Bissau, Mali, Burkina Fasso, Gana, Togo, Benin, Nigéria, Chade, Gabão, Congo, Angola, Zâmbia, Moçambique, Malawi, Quênia, Etiópia, Uganda e Burundi.
"Sempre atuamos sob a demanda do país interessado", ressaltou Santana.
Em Moçambique, a Embrapa trabalha com o Japão no programa Pró Savana para a difusão entre os agricultores familiares de produtos como milho, feijões, sorgo, mandioca, amendoim, algodão, arroz e soja.
Da mesma maneira, trabalha com a agência de cooperação americana (USAID) na confecção de uma rede de produtos agrícolas que possam ser provedores da merenda escolar, à base de hortaliças, aos alunos das escolas públicas.
"Nosso trabalho é fortalecer a pesquisa rural, a infraestrutura e o treinamento dos agricultores", sustentou Santana, para quem um dos pontos mais importantes na cooperação será o envio de maquinaria agrícola.
A experiência brasileira sobre algodão nos países do centro da África foi levada a partir dos resultados da produção na Bahia e em outros do nordeste.
Os resultados, de acordo com os técnicos de Embrapa, serão vistos em cinco anos porque devem sobrepor-se, para estes cultivos, barreiras culturais e antropológicas em relação ao uso da terra.
Em relação à América Latina, existem cooperações diferenciadas, como na Venezuela com um programa de plantação da soja extensiva.
No âmbito sul-americano, o Brasil tem um projeto de aplicar na Bolívia, Peru, Argentina, Uruguai e Paraguai um projeto para financiar a cooperação técnica em adaptar o cultivo do algodão nas pequenas propriedades rurais com a produção de alimentos.
Esta iniciativa se encontra no marco da sanção da Organização Mundial do Comércio (OMC) de 2009 que autoriza o Brasil a adotar represálias comerciais contra os Estados Unidos no valor de US$ 830 milhões por ano pelo fato de ter subsidiado seus produtores de algodão, o que prejudicou os brasileiros.
Na América Central, a apicultura em Honduras é o principal projeto e no Caribe a cooperação aponta à assessoria técnica no plantio de frutas e hortaliças em Trinidad e Tobago e no Haiti, com agricultura familiar voltada para a alimentação nacional.
Nesse sentido, a Empraba desenvolve em Cuba, país visitado nesta semana por Dilma, uma das maiores conquistas da pesquisa brasileira desde os anos 70, que é a semente de soja tropical.
Em Cuba "temos quatro projetos: soja, milho, combate às pragas agrícolas e controle de metais pesados na agricultura, além de criação de gado ovino e caprino", concluiu Santana.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Carreira Diplomatica: uma postagem de sucesso, com 160 comentários; UAU!

Parece que vivemos perdidos num oceano de blogs concorrentes e, de vez em quando, somos relembrados das coisas simples da vida: o que fazer da vida, justamente, estudar ou não, para entrar na carreira diplomática, mesmo quando a vida já avançou um pouco (pois é, junto com os impostos, os anos são impiedosos...).
Isso a propósito de mais uma consulta que me chegou hoje numa das postagens possivelmente de maior "sucesso" deste blog, esta aqui:

quinta-feira, 21 de maio de 2009

1112) Carreira Diplomatica: respondendo a um questionario

- See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/2009/05/1112-carreira-diplomatica-respondendo.html#sthash.oAJZ82Ls.dpuf
http://diplomatizzando.blogspot.com/2009/05/1112-carreira-diplomatica-respondendo.html

Fui tentar responder, e tive de deslizar o marcador da direita durante vários minutos para chegar ao final, até descobrir que o post recebeu 160 comentários (um pouco menos da metade, os meus, em resposta às perguntas curiosas, bizarras, repetidas, impertinentes, inteligentes, engraçadas, apoiadoras, simplesmente ingênuas, dos muitos comentaristas que se apresentaram).
Bem, quem tiver paciência e curiosidade pode descer até o final.
Sempre se pode aprender alguma coisa com as experiências dos outros, mesmo as minhas, não exatamente típicas ou exemplares...

Gostaria apenas de relembrar aos curiosos que eu NÃO me dedico a cursos preparatórios, não tenho a pretensão de deter alguma competência nessa área, e que poucos dos meus livros são voltados para isso, pois estão concentrados numa discussão de questões relevantes da política internacional, das relações econômicas internacionais em especial, e um pouco à política externa do Brasil. Simplesmente não pretendo refletir a política externa oficial, sequer a oficiosa, como existe de vez em quando...
Mas, eles podem servir para uma discussão (inteligente, suponho) de todas essas questões.
Meu site tem uma seção de dicas (não atualizadas) sobre a carreira diplomático e o concurso do Itamaraty, mas confesso que não sou a melhor fonte de informação nesse terreno.
Este meu blog é apenas um divertimento pessoal, com motivação para o registro de informações e análises, nada mais do que isso...
Em todo caso, boa sorte nos estudos, a todos.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 2 de Fevereiro de 2014.

Crise energetica: incompetencia do governo (claro)

A matéria abaixo (agradeço ao amigo Orlando Tambosi por me chamar a atenção para ela) se refere apenas à eletricidade, onde a incompetência foi grande. Mas ela foi muito maior, enorme, na área dos combustíveis, como todo mundo sabe. Nunca antes na história do Brasil tivemos governos tão fabulosamente incompetentes quanto os dos companheiros, monumentais na sua estupidez ideológica.
Paulo Roberto de Almeida 

Setor elétrico

Preço da energia dispara e previsão é de calamidade para o ano

No mercado livre, a taxa de referência para as negociações de contratos quase dobrou em uma semana. Isso prejudicará distribuidoras – e os brasileiros – no longo prazo

Veja.com, 1/02/2014
Naiara Infante Bertão
Nem na época do racionamento em 2011 a energia no mercado livre estava tão cara
Nem na época do racionamento em 2011 a energia no mercado livre estava tão cara (Agliberto Lima/AE)
A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) divulgou nesta sexta-feira o preço de referência usado pelo mercado livre de energia elétrica para a próxima semana. O valor passou de 476 reais por megawatt-hora (MWh) para 822,83 reais a partir de segunda-feira. O salto só não foi maior porque a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) fixou para o ano este teto. Nos cálculos da CCEE, o valor real do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), que é a taxa usada como referência nos contratos de energia do mercado livre, seria de 1063,69 reais por MWh para o Sudeste, região responsável por 70% do fornecimento de energia do país. Trata-se do maior patamar da história, superando até mesmo as épocas de racionamento de energia. 
Essa elevação inédita significa que o mercado está apostando em um quadro nada otimista para o setor elétrico em 2014 — que beira a calamidade, mesmo com os reservatórios de água das usinas hidrelétricas acima dos níveis registrados em janeiro do ano passado. O cálculo do PLD é feito com base em projeções que levam em conta o cenário atual de abastecimento. Tal alta reflete, segundo especialistas ouvidos pelo site de VEJA, fatores climáticos, o aumento da demanda e a falta de planejamento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Com as altas temperaturas registradas em dezembro e janeiro, é natural que se gaste mais energia com refrigeradores, ventiladores e aparelhos de ar condicionado — o que impacta diretamente a demanda. Ao mesmo tempo, os reservatórios são penalizados devido à rápida evaporação da água e falta de chuvas. Além disso, as perspectivas climáticas para 2014 não são animadoras – previsões usadas no cálculo da PLD apostam em menos precipitações em relação a anos anteriores. Assim, as usinas terão dificuldades em conseguir preencher o déficit em seus reservatórios e, talvez, nem mesmo compensar os gastos do ano, no cenário mais pessimista. Hoje, o reservatório do Sudeste/Centro Oeste usa 40,57% de sua capacidade de armazenamento, contra 37,46% em janeiro de 2013.
Falta de planejamento - Problemas no planejamento energético do governo também tiveram papel crucial na subida dos preços — e podem fazer com que os consumidores paguem mais caro pela energia em 2015. Ocorre que as distribuidoras vêm tendo de comprar mais energia no mercado livre, justamente onde os valores estão batendo recordes. Tais empresas são abastecidas, geralmente, por leilões públicos de energia organizados pela EPE. Contudo, nas últimas licitações, a estatal fixou preços muito abaixo dos padrões de mercado, o que fez com que muitas geradoras optassem por não comercializar seus megawatts/hora, impactando a oferta energética. “Há um problema muito sério de planejamento e forma como o modelo (do sistema elétrico) está programado”, disse Mariana Amim, diretora jurídica da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace).
As distribuidoras são impedidas de negociar livremente com as geradoras, mas, se os pleitos organizados pelo governo não forem suficientes para preencher sua demanda, elas são obrigadas a compensar seu déficit comprando energia no mercado livre e pagando o preço do PDL. Erik Rego, diretor da consultoria Excelência Energética, disse ao site de VEJA que as distribuidoras precisaram contratar 7,5% de toda sua energia ofertada neste mercado neste início de ano, o equivalente a 3,5 mil MWh. Isso significa um impacto aproximado de 1 bilhão de reais em seu caixa, levando em consideração um preço médio de 393 reais/MWh em janeiro. “Elas (distribuidoras) terão de pagar até a segunda semana de fevereiro essa conta. E se o PDL se mantiver em seu preço máximo (822 reais/MWh), essa conta pode passar de 2 bilhões de reais no pagamento de março”, afirma.
Ao invés de deficitárias, as distribuidoras devem acumular sobras de 3% a 5% de oferta de energia para conseguirem sustentabilidade econômica. Mas, com os últimos leilões frustrados, a conta não fechou e é possível que elas continuem precisando de ajuda do Tesouro para arcar com suas contas. Este cenário piora ao se constatar que 2014 indica dificuldade fiscal e necessidade de corte de gastos. “O Tesouro precisará cobrir o custo das térmicas ligadas e o preço alto no mercado livre. Dificilmente vai repassar para o consumidor porque é ano eleitoral. Mas, depois das eleições, um aumento da conta de luz será inevitável”, comentou Adriano Pires, consultor de energia e diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE). “Tudo isto está acontecendo por um erro de política do governo, que resolveu que tinha de baixar o preço (da energia) e que controlava a lei da oferta e da demanda do setor”, acrescentou. Para ele, o governo "quebrou" a Eletrobras — empresa mais prejudicada pela promessa de desconto da conta de luz.
Impacto das térmicas - O religamento das termelétricas também impactou diretamente o PDL recorde. Tais usinas garantem, hoje, a oferta de energia no país, uma vez que o Brasil tem dificuldades em aumentar sua capacidade de armazenamento nas hidrelétricas. Contudo, o custeio das térmicas requer gastos altíssimos — especialmente para as que funcionam à base de óleo diesel. “O mercado já está incorporando no PDL o uso das termelétricas mais caras”, afirmou Rego, da Excelência Energética.
Durante todo o ano passado, a geração de energia por usinas térmicas foi 75% maior que em 2012. O custo do acionamento ficou em aproximadamente 9 bilhões de reais. Com as distribuidoras em dificuldades financeiras para arcar com esse rombo – elas só repassam uma vez no ano o aumento de custos ao consumidor – o Tesouro Nacional atuou como 'caixa forte' da conta de luz e cobriu o montante com dinheiro público injetado na Conta de Desenvolvimento Energética (CDE). Tal valor não foi dado às empresas, mas financiado. Isso significa que em 2018 o contrato vencerá e as distribuidoras terão de repassar integralmente ao consumidor seus gastos com as térmicas. Assim, na melhor das hipóteses, o desconto imposto pela presidente Dilma Rousseff será retirado aos poucos nos anos que virão. Na pior, será retirado de uma só vez, penalizando ainda mais o consumidor e impactando a inflação.

O secretismo financeiro do partido totalitario - Marlos Apyus

Brasil: o unico a crescer, o ogro famelico do Estado - Paulo Rabello deCastro

Ele devora a sociedade, literalmente. Se os brasileiros não amarrarem o Gulliver, ele vai devorar os lilliputianos, que somos todos nós, inclusive os maiores empresários. Por isso, renovo minha consigna: Por Uma Fronda Empresarial!
Paulo Roberto de Almeida

DISPÊNDIO PÚBLICO FEDERAL

O pior do pior de 2013 (e da década!)

No declínio da economia, a única estrutura que explode em crescimento é o próprio governo, devorando o resto à sua volta

por Paulo Rabello de Castro
Opinião e Notícia, 31 de janeiro de 2014

O dispêndio público federal mais uma vez explodiu, como em cada ano desta década, sem “falhar” um único período desde 2004. O governo converteu-se num gastador compulsivo e dissimulado. Em 2013 o rega-bofe tornou-se um escárnio: o gasto total do governo cresceu quase 15%, o dobro do crescimento do produto interno bruto (PIB) tributável, que paga a gastança – o PIB nominal só aumentou cerca de 8% no ano passado.
Recordes de arrecadação são comemorados como algo positivo. Não é casual. O Estado gasta demais, a sociedade paga a conta e isso se transformou no grande nó que amarra o desenvolvimento do país. O estouro da despesa pública em todos os níveis está no centro da explicação — a única plausível — para o baixo desempenho da economia brasileira. A afirmação pode soar contraintuitiva. Mas é exata. No Brasil, o governo é que impede o desenvolvimento que ele mesmo se propõe a conduzir. Nem Keynes discordaria: sua lição de ampliar gastos públicos como remédio numa severa recessão em nada se aplica para justificar a explosão do gasto público total. Tendo a despesa pública brasileira se tornado veneno, como podemos denunciar e combater essa tragédia coletiva no debate eleitoral de 2014? Será que os candidatos sabem e compreendem a natureza do mal da despesa pública excessiva?
A natureza nos ensina. No cultivo de cítricos, a doença mais grave de um pomar é o “declínio”. De origem desconhecida, o declínio vai atingindo as árvores mais vulneráveis, sempre de modo gradual. A árvore não morre, mas já não consegue produzir como antes. Algo a devora por dentro, como um câncer. A anterior vitalidade é substituída por uma produtividade recessiva da planta. Como no declínio dos cítricos, também alguma coisa consome o vigor da economia brasileira. E por ser algo lento e mudo, torna-nos desatentos à malignidade do processo.
No declínio da economia, a única estrutura que explode em crescimento é o próprio governo, devorando o resto à sua volta. Ao crescer, por uma década, ao dobro do ritmo da economia produtiva, o setor público vai inchando em patológica progressão. Instala-se um processo de substituição das forças da sociedade e dos mercados pela articulação típica dos processos facciosos na decisão de gastar. Gasta-se para nada. Gasta-se para agradar a grupos, para pacificar descontentes, comprar mais poder, para ir ficando.
Vamos aos números. No Plano Real, há duas décadas, o gasto total do Estado nacional, nos seus três níveis de comando, ainda era a quarta parte do PIB brasileiro, o que já representava um nível superior ao de países de semelhante estágio de renda per capita. Hoje o tamanho do setor público atinge 40% do PIB, ombreando-se com a velha Europa, mas sem qualidade de serviço público. Está aí o cerne da questão. O Estado brasileiro explodiu, consumindo tudo à sua volta. Avançou como uma célula anormal, devorando o resto sem piedade. A enorme velocidade com que isso tem ocorrido é o traço essencial que distingue o caso da expansão do Estado no Brasil. Não existe paralelo mundial para o que vem sucedendo aqui. O tamanho do Estado quase dobrou, empurrando a carga tributária para um patamar insuportável, ao tornar o País um dublê de selva burocrática e manicômio tributário.
A extração de meios para a “sobrevivência” do governo é alcançada pelo confisco da poupança das famílias e pela derrama sobre o caixa gerado nas empresas. Ano após ano, as famílias deixam de fazer poupanças voluntárias e as empresas deixam de investir seus lucros, levados pelos escorchantes impostos que se recolhem ao longo do processo produtivo. O Estado extrator, ao contrário, quer sempre mais. Pior: os recursos extraídos da sociedade passam longe dos investimentos sociais e da melhoria da infraestrutura. Como a capacidade investidora do Estado é incomparavelmente menor que a dos contribuintes, trocamos avanços do setor privado pela debilidade investidora do Estado. Não é surpresa que nossa taxa de investimento seja a mais baixa entre todos os nossos vizinhos na região e uma das mais baixas do mundo emergente.
Capa da revista britânica The Economist estampou o Brasil como um foguete descontrolado – de fato, a estátua do Cristo Redentor caindo do Corcovado, numa insólita expressão do humor trash dos britânicos. A revista fazia referência a outra capa, de 2010, em que o Cristo Redentor decolava do morro, exprimindo a esperança dos estrangeiros na força investidora do Brasil naquele momento. Má avaliação e equívoco flagrante de prognóstico. O Brasil nunca contratou o progresso acelerado antevisto pela publicação inglesa.
Estamos nos comendo por dentro. Apenas temos muito para devorar antes de fenecer. Não é progresso, é mera transferência da vitalidade de uma grande nação para um insaciável aparelho estatal que, no caminho, vai distribuindo “o peixe”, em vez de entregar a vara de pescar. Minamos as chances de progresso verdadeiro. Mantemos, apesar da arrecadação pantagruélica, uma educação de baixa qualidade e um sistema de saúde pública de fancaria. Nada senão o excesso de gasto explica o mal que nos acomete.
O diagnóstico do excesso da despesa pública é a grande razão por que as eleições de 2014 são tão importantes. O debate eleitoral poderá propiciar nossa última chance de constatar duas coisas: primeiro, quão distantes estão os candidatos de um diagnóstico verdadeiro do que realmente tem sufocado o progresso nacional; e, por fim, quão próximos ainda estamos de repetir, em 2014, mais um ato continuísta da trágica política econômica do “declínio”. Para conter o avanço do Estado e resgatar as chances de progresso da sociedade brasileira é fundamental pactuar uma regra clara de crescimento da despesa corrente pública.

11 anos de equivocos, esperando a Copa do Mundo de 2014

Como o Brasil não se preparou para a Copa em 11 anos

Opinião: TIM VICKERY

BBC Brasil, 31/01/2014


"Estádios são coisas relativamente simples de se construir", disse a presidente DilmaRousseff em visita à Suíça na semana passada. Isso de fato nos leva a uma pergunta óbvia: então por que tantos estádios para a Copa do Mundo estão tão atrasados?

A alta procura por ingressos e pacotes de hospitalidade ajudam a explicar a falta de paciência da Fifa com os prazos assumidos e não cumpridos - e não importa o que se pense sobre o relacionamento entre a Fifa e o governo brasileiro, a Copa do Mundo foi um negócio em que o Brasil entrou (e que o Brasil aceitou) voluntariamente.

Mas uma hora as máscaras caem, como quando o presidente da Fifa, Joseph Blatter, comentou recentemente que, em todos os anos que esteve no comando da entidade, nunca viu uma Copa do Mundo com tantos atrasos. Ele ainda acrescentou que o Brasil foi definido como país-sede da Copa de 2014 em 2007 e, portanto, acabou se beneficiando de um ano extra para se preparar - sete, em vez dos tradicionais seis.
E aqui ele não está sendo generoso. Porque a realidade é que o Brasil não teve sete anos para se preparar. Teve 11.

Um pouco de história: Blatter tentou levar a Copa do Mundo de 2006 para a África do Sul, mas ele perdeu uma votação controversa no Comitê Executivo da Fifa. Por razões políticas, ele não poderia fracassar de novo quatro anos depois. Por isso, junto com Danny Jordaan (presidente da Confederação Sul-Africana de Futebol), ele sugeriu a ideia de revezar o torneio entre os cinco continentes. Em 2010, ele conseguiu decretar: seria a vez da África. Problema resolvido.

E para onde a Copa do Mundo iria depois? A América do Sul, que não recebia o Mundial desde 1978, era o candidato óvio. Então, em março de 2003, Joseph Blatter anunciou que em 2014 seria a vez do subcontinente. O torneio havia dobrado de tamanho desde a Copa da Argentina, em 1978. Quantos países no continente seriam capazes de sediar um Mundial com os 32 times que jogam atualmente? Na realidade, havia apenas um - e assim, alguns dias após o anúncio de Blatter, a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) declarou que o Brasil era o seu único candidato.

(É verdade que a Colômbia rapidamente rompeu com a Confederação e até lançou uma candidatura separada, mas nunca chegou a alimentar sérias esperanças. Ela estava apenas se protegendo contra a vizinha e rival Venezuela, que estava investindo pesado em estádios à época para sediar a Copa América de 2007. O real objetivo da Colômbia —que foi alcançado— era superar a Venezuela na disputa para sediar o Mundial Sub-20 de 2011).

Mas não dá para escapar da verdade: o Brasil sabia que iria sediar a Copa do Mundo de 2014 desde março de 2003. Não havia nenhuma tensão dramática quando, quatro anos e meio depois, a palavra "Brazil" saiu do envelope. Isso simplesmente confirmou o que todos já sabiam. Então por que outubro de 2007 foi tratado, não apenas pela mídia brasileira, como o ponto de partida?

Se tivesse havido uma disputa competitiva pela Copa de 2014, os países candidatos teriam que apresentar propostas. Uma das primeiras coisas que eles teriam quem fazer seria identificar as cidades-sede. Seria um princípio básico, necessário apenas para entrar na briga.

Mas nenhum outro país estava na briga com o Brasil. A disciplina da competição, então, acabou não existindo e abriu espaço para alguns velhos vícios brasileiros; muita politicagem nos bastidores, muita esperteza e pouco progresso. De fato, a consequência da experiência brasileira foi o fim da ideia de revezamento de continentes para sediar a Copa do Mundo.

Nenhuma decisão definitiva sobre as cidades-sede foi tomada até o fim de maio de 2009. Anos foram jogados fora. E uma vez que você fica atrás do relógio, os princípios básicos começam a valer; o custo do que você pode fazer aumenta. A escala do que você pode fazer diminui. E muitos estádios estão atrasados, com o orçamento estourado, enquanto inúmeros projetos de mobilidade urbana, a principal área que iria beneficiar realmente a sociedade, ainda não saíram do papel ou sequer têm chances de ficarem prontas a tempo.

Os estádios são bastante impressionantes. Ainda em 2007, o medo era que eles se tornassem Engenhões, versões maiores do estádio construído no Rio de Janeiro para os Jogos Pan-Americanos de 2007 que custou caro e nasceu obsoleto. Em vez disso, deixando de lado por um minuto a questão dos preços dos ingressos, os estádios são grandiosamente modernos. Eu não voltei lá depois da Copa das Confederações, mas achei a Fonte Nova, em Salvador, um lugar maravilhoso para se apreciar o futebol.

Em termos políticos, porém, o fato de os estádios serem impressionantes cria um problema. Isso ficou implícito - e em muitas vezes explícito - na mensagem dos protestos que estouraram em junho e julho do ano passado; se os estados brasileiros foram capazes de construir essas arenas, então por que seriam incapazes de entregar os serviços públicos no chamado "padrão Fifa"?

O pentacampeão em 2002, Rivaldo, disse outro dia que "o Brasil vai passar vergonha na Copa". Não vejo exatamente assim, embora imagino que haverá problemas e que já ficou claro que o evento não vai cumprir seu potencial para a sociedade brasileira.

Mas a "vergonha" é de quem? Do frentista ou da recepcionista que moram na periferia de uma grande cidade, acordando às 4 da manhã todo dia para chegar ao trabalho? Por que eles deveriam se sentir envergonhados? Eles não tiveram qualquer participação no processo. Não houve nenhum debate público no Brasil sobre os objetivos da Copa do Mundo, sobre quanto a sociedade estava disposta a gastar e o que queria em troca. Por anos, não havia sequer um lugar no Comitê Organizador Local para representantes eleitores pela sociedade (o que, por sinal, é um contraste gritante com a Copa da África do Sul, onde havia um envolvimento generalizado no governo). As pessoas não são porta-vozes das suas nações ou responsáveis por ações da classe dominante.

Infelizmente, todos os atrasos que afetaram a Copa do Mundo de 2014 eram previsíveis. O que não era nem um pouco previsível foi a reação do povo durante a Copa das Confederações, saindo às ruas em centenas, milhares, desafiando a noção que os brasileiros tinham - tinham, no passado - deles mesmos de ser um povo tão passivo a ponto de ser idiota.

O país estava mudando bem em frente aos nossos olhos. O Brasil que existia até maio de 2013 se foi para sempre. Ainda não está claro aonde isso vai nos levar em julho de 2014. Mas aqueles envolvidos na luta positiva para formar uma nova nação não estão passando vergonha. Estão passando para o mundo a visão de um Brasil alternativo, um Brasil mais justo e mais competente.

Socialismo para os incautos - Paulo Roberto de Almeida

Socialismo para os incautos

Paulo Roberto de Almeida

Quem diria?!: o socialismo, temporariamente aposentado e relegado a um esquecido e remoto depósito de alternativas credíveis ao velho e duro capitalismo, parece estar voltando novamente à cena, agora travestido em sua nova roupagem “do século XXI”. Ele passou a ser oferecido, sobretudo, na América Latina, terra de todos os milenarismos.
Com efeito, depois de seu brilhante fracasso no final dos anos 1980, o socialismo tinha ido fazer companhia à roca de fiar e ao machado de bronze, no museu das antiguidades, como pretendia Engels em relação ao Estado. Surpreendentemente, ele parece ensaiar um retorno triunfal nos remakes que vem sendo servidos em tom triunfalista – e a grandes doses de subsídios petrolíferos – por alguns personagens diretamente retirados dos livros de história, ainda que de épocas que se imaginavam enterradas e esquecidas.
Seu retorno em grande estilo se deve, ao que parece, aos fracassos igualmente rotundos do “neoliberalismo” na região, no decorrer das duas décadas seguintes ao desmantelamento do socialismo real na Europa do leste (e um pouco em todas as outras partes do mundo). O fato é que o velho capitalismo continuava a ser, de fato, um sistema injusto e desigual, mas ele se impunha quase que naturalmente como forma de organização econômica e social, uma vez que não tinha sobrado quase nada de alternativo, e que fosse factível, nas reduzidas prateleiras do supermercado da história. Tivemos passar a consumir capitalismo, em doses maciças, de forma praticamente obrigatória.
Para alguns, a experiência de ter de aceitar compulsoriamente o capitalismo deve ter sido traumática. Os órfãos do velho socialismo – tão mais numerosos quando nunca tiveram de viver a experiência do “socialismo real” – devem estar novamente esperançosos, ao assistir os anúncios triunfalistas que são atualmente feitos em nome do novo socialismo, cujos contornos são ainda em grande parte indefinidos, mas que envolvem as fórmulas habituais de estatização e os cacoetes culturais conhecidos em torno da criação do “homem novo”, como convém aos sistemas deliberadamente messiânicos e salvacionistas. Aos velhos socialistas se juntaram vários grupos de jovens idealistas, comumente referidos como antiglobalizadores ou altermundialistas, que acreditam, em grande medida sinceramente, que o capitalismo representa, de fato, a maior soma de iniqüidades possíveis de todas as formas conhecidas de organização econômica e social, entre elas as comunidades primitivas e o feudalismo medieval.
Contemplo essa “nova marcha para a frente”, no sentido da “redenção da humanidade”, com o olhar cético de quem já assistiu a esse filme antes, inclusive por ter me engajado, em outras eras, na luta contras as iniqüidades do capitalismo latino-americano e sua submissão aos ditames do imperialismo colonizador e de ter tido, na seqüência, a oportunidade de conhecer os diversos socialismos reais disponíveis nas lojas de departamento da história, a maior parte nos países do leste europeu, do início até quase o final dos anos 1970. Estou portanto habilitado a pronunciar-me por experiência própria quanto às esperanças de se ter um “novo socialismo”, desta vez sem as habituais bulas marxianas ou leninistas, apenas com roupagens e cenários que me lembram, vagamente, as fórmulas mussolinianas.
Se isto pode servir de consolo aos jovens idealistas da antiglobalização – uma vez que eu considero os “velhos órfãos” do socialismo “irreformáveis” e “intransformáveis” –, eu diria o seguinte: aqueles que hoje condenam o capitalismo por todas as suas iniqüidades, provavelmente nunca conheceram suas alternativas “reais”, que eram as do socialismo de tipo soviético e suas diversas variantes, algumas delas sobrevivendo ainda numa pequena ilha do Caribe e num canto remoto da Ásia. Apenas a falta de informação e uma irracional recusa em se informar, a despeito da massa de conhecimento acumulada a respeito das experiências do socialismo real podem explicar essa demanda, atualmente crescente, por um “socialismo do século XXI”.
Eu, por ter conhecido pessoalmente, se ouso dizer, todos os socialismos reais e o seu modo de funcionamento interno, posso assegurar, com toda a candura de uma alma reconciliada com as supostas iniqüidades do capitalismo, que não há maior miséria moral, maiores atentados à dignidade humana, do que os regimes socialistas que existiram na face da terra até bem pouco. Posso parafrasear o que disse o poeta e revolucionário cubano José Marti dos Estados Unidos, país no qual ele se exilou temporariamente, para escapar dos opressores coloniais de sua pátria: “eu conheci as entranhas do monstro”. De fato, pude conhecer o interior da “baleia socialista” e o que vi não era nada bonito, muito pelo contrário.
O mais chocante, justamente, não eram apenas as pequenas misérias materiais, o aspecto deteriorado dos equipamentos públicos, a falta habitual de produtos de primeira necessidade, as estantes sempre vazias nos comércios, a rudeza de apresentação e o caráter tosco da maior parte dos bens e serviços oferecidos nos “mercados” socialistas, tudo isso era habitual e esperado e não me surpreendeu mais do que a decepção dos primeiros contatos. O que estava por trás de tudo aquilo era muito mais importante, pois tinha a ver, não com a simples miséria material, mas com os comportamentos sociais, com o olhar furtivo das pessoas, com a contenção da linguagem, com a retenção do pensamento, com o permanente estado de vigilância policial, em uma palavra, com a miséria moral que só os verdadeiros regimes socialistas são capazes de exibir.
Não estou me referindo aqui ao Estado policial em estado quimicamente puro, se ouso dizer, uma amostra do qual pode ser conferido na grande “biografia” do Gulag da historiadora Anne Applebaum. Não tem a ver com a repressão direta, estilo Gestapo ou NKVD, apenas com a vida cotidiana num país socialista “normal” do Leste europeu em meados dos anos 1970. Aquilo deve ter me vacinado de maneira eficaz contra minha anterior inclinação revolucionária a querer implantar o socialismo a golpes de martelo, como pretendíamos na nossa juventude de opositores do regime militar brasileiro.
Por isso, quando ouço novamente os novos cantos de sereia sobre o “socialismo do século XXI”, permito-me retrucar modestamente: vamos ficar com as modestas iniqüidades materiais do capitalismo – que permitem, ainda assim, o progresso individual baseado no mérito individual e no esforço próprio – e deixar de lado as tentações totalitárias de pretender implantar a igualdade na base do autoritarismo, o que só pode conduzir às grandes iniqüidades morais do socialismo.
Não existem grandes virtudes no socialismo, apenas “heróis” do povo, devidamente fabricados por ditadores pouco esclarecidos que implantam regimes muito parecidos com os sistemas fascistas existentes na Europa do entre-guerras. Por experiência própria, eu constatei que a ditadura dos medíocres – que caracteriza quase sempre os regimes socialistas – é uma coisa terrível, e a miséria daí derivada é muito superior à eventual miséria material do capitalismo...


Brasília, 1733, 18 março 2007