O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

terça-feira, 1 de abril de 2014

Think tanks: Mario Vargas Llosa joins Mont Pelerin Society - Alex Chafuen

Away From Socialism: Mario Vargas Llosa Joins The Mont Pelerin Society – by Alejandro Chafuen

The Mont Pelerin Society (MPS), has been credited as being one of the key groups that succeeded in moving the world away from socialism and into a more liberal world order. In the move away from socialism, few can be such good witnesses as Nobel Laureate Mario Vargas Llosa. He recently became a prominent new member of MPS.
Few organizations can show a history with so many Nobel Laureates. Vargas Llosa, however, is the first from the world of literature. MPS was founded by F.A. Hayek in 1947, who later became a Nobel Laureate in 1974. Other Nobel Laureates in the society included Milton Friedman, Ronald Coase, James Buchanan, and George Stigler. They are deceased, but they left an enormous legacy. Vernon Smith and Gary Becker are still going strong and are active members.
Despite coming from the world of literature, Vargas Llosa is no stranger to the world of economic liberty. In 2002, he founded the Fundación Internacional para la Libertad. In 2005, he won the American Enterprise Institute’s Irving Kristol award, and in 2010, he became an Atlas Templeton Fellow. Few can match his track record as keynote speaker for free-market think tanks. In a recent presentation at the Montreal Economic Institute he explained in detail his personal journey away from socialism.
A short history of the society shows how well Vargas Llosa fits in, and emblazons its membership. MPS is not a secret society, it is a private society. Any person can find ample information on the official website, however a few things are private: the member list, the discussions, and the pictures of meetings.
The MPS founders saw that the major threat came from “the spread of creeds which, claiming the privilege of tolerance when in the position of a minority, seek only to establish a position of power in which they can suppress and obliterate all views but their own.”  These were generated by “a view of history which denies all absolute moral standards and by the growth of theories which question the desirability of the rule of law.”
The six goals of the society have not changed, nor have their relevance:
1.       The analysis and exploration of the nature of the present crisis so as to bring home to others its essential moral and economic origins.
2.      The redefinition of the functions of the state so as to distinguish more clearly between the totalitarian and the liberal order.
3.      Methods of re-establishing the rule of law and of assuring its development in such manner that individuals and groups are not in a position to encroach upon the freedom of others and  private rights are not allowed to become a basis of predatory power.
4.       The possibility of establishing minimum standards by means not inimical to initiative and functioning of the market.
5.      Methods of combating the misuse of history for the furtherance of creeds hostile to liberty.
6.      The problem of the creation of an international order conducive to the safeguarding of peace and liberty and permitting the establishment of harmonious international economic relations.
The permanence of its aims, such as focusing on moral origins, avoiding private rights from becoming a “basis of predatory power,” keeping in mind the true lessons of history, and helping create an international order that assures the peace and liberty most want, all explain part of the great prestige of their meetings. The quality of the papers and speakers, as well as the private setting of the discussions, is also essential. Among free-market groups, the Mont Pelerin Society meetings ranked first in the GoToThinkTank list for “The Best Think Tank Conference.” This despite never promoting or advertising its conferences beyond its members.
GoToThink Tank rank among free- market groupsOrganizationAttendance and length of largest meetingsProfile of most participants
1The Mont Pelerin Society5 days, 500 peopleAcademic economists, intellectuals and think tank leaders
2Acton Institute4 days, 900 peopleReligious studies professors and students from different denominations
3Atlas Economic Research Foundation2 days, 500Think Tank leaders, staff members, and their supporters
4The Fraser Institute(Canada)500 for dinners, 80 for networkingBusiness leaders for dinners
Think Tank Academics for the Economic Freedom Network
5CEDICE Libertad(Venezuela)400 (2 days)50% business persons, 25% students 25% policy leaders
6Istituto de Estudos Empresariais(Brazil)5000 (2 days)85% students, 10% policy leaders, 5% business persons
F.A. Hayek dedicated his “Road to Serfdom” to “Socialists of all Parties.” Vargas Llosa was one of them. The magic of the well spoken word, coupled with his insights that go deep into the human spirit, helps him attract audiences that fill the largest lecture halls and theaters. His vision of liberalism is respectful of the free market and grounded on personal freedom, it is open to conservatives and libertarians, religious and atheists, and will be a stronger magnet for “freedom lovers of all parties.”
* Alejandro Antonio (Alex) Chafuen, Ph.D., has been president of Atlas Economic Research Foundation since 1991. A member of the board of advisors to The Center for Vision & Values and a trustee of Grove City College, he is also the president and founder of the Hispanic American Center of Economic Research. Dr. Chafuen serves on several boards including the Chase Foundation of Virginia, the Acton Institute, the Fraser Institute (Canada), and is an Active Honorary Member of the John Templeton Foundation.
Source: Forbes.com

Reflexoes ao leu: a França e seus problemas - Paulo Roberto de Almeida

Reflexões ao léu: a França e seus problemas...

Paulo Roberto de Almeida

A França parece ter um problema, ou vários problemas. Na sequência da mais formidável derrota eleitoral já infringida a um partido, o socialista, seu presidente (da França, mas era também presidente do partido até assumir) acaba de aceitar a demissão de seu primeiro-ministro, e designou um outro, da mesma equipe, agora promovido ao cargo mais explosivo de todo o gabinete.
O único problema desse “problema” é que o problema não são os ministros. O problema é o presidente. Mas o problema não tem nada a ver com as duas, ou três, mulheres do presidente, e sim com seus outros hábitos políticos, e com suas crenças econômicas. Como ele não pretende se demitir, ou renunciar, os franceses terão de conviver com esse grande problema por algum tempo mais, enquanto durar a paciência de uns e de outros. Antigamente, eles faziam revoluções, agora só fazem greves.
Os franceses também têm um problema, ou vários, que eles acreditam estar nas políticas adotadas pelo presidente e por seu partido. Mas o problema dos franceses não são as políticas do presidente, ou são apenas em parte, uma vez que essas políticas refletem o que pedem os franceses, pelo menos uma parte dos franceses. O problema da França são os franceses, ou seja, o povo. Sim, isso mesmo, o problema da França são os franceses, ainda que eles provavelmente não vão gostar de ler isto. Se a França tivesse um pouco mais de alemães, ou de suíços, entre outros povos mais empreendedores, ou mesmo um pouco mais de estrangeiros (talvez do norte da África, entre outros valentes trabalhadores) talvez os franceses não tivessem tantos problemas consigo mesmos.
O presidente representa um problema, certamente, mas ele apenas tentou atender o que pediam os franceses, pelo menos uma parte deles, a que votou em massa nos socialistas. Os franceses pensaram que, depois de alguns anos de muita austeridade de “direita”, os socialistas iriam trazer de volta os famosos “lendemains qui chantent”, ou seja, aqueles dias gloriosos, feitos de menos trabalho (35 horas por semana, talvez menos), mais salários, empregos garantidos (de preferência no setor público, como todo mundo gosta, com toda aquela estabilidade para 25% da força de trabalho do país), subsídios maternais, habitacionais, educacionais, hospitalares, de desemprego, de lazer, e para o vinho. Enfim, os franceses gostariam de trabalhar menos e ganhar mais, como todo mundo, o que é apenas humano.
Os franceses já tiveram muitos problemas no passado, mas depois da terceira guerra que perderam para os alemães, pensavam que tudo estava resolvido. Sim, um dos antigos problemas dos franceses eram os alemães: os bárbaros germânicos começaram um pouco tarde no itinerário da industrialização, e até da construção do seu Estado nacional. Enquanto a França exibia uma monarquia unificada desde a Renascença, e até um Estado absolutista depois disso, mercantilista, empreendedor, dirigista e colbertista, os alemães ainda estavam se matando reciprocamente nas guerras de religião e nos conflitos entre os pedaços do sacro império romano germânico (mas que não era nenhuma dessas coisas, e só era parcialmente germânico). Mas eles avançaram bem rapidamente, até alcançar, e superar o maior império da modernidade, o britânico. Os alemães derrotaram os franceses em três guerras em três gerações, e só não lograram vitória completa na segunda vez porque os britânicos, primeiro, os americanos, depois, os salvaram de uma nova entrada da horda de bárbaros em Paris.
Da primeira vez, a Prússia impôs uma humilhação aos franceses, obrigando-os a ceder, em Versalhes, o controle sobre a Alsácia-Lorena. Os franceses tentaram devolver a humilhação, na segunda vez, impondo em Versalhes reparações impossíveis de serem pagas, e que só serviriam, segundo Keynes, para provocar uma nova guerra. Dito e feito. Da terceira vez, eles foram salvos pelos americanos, e por isso o problema dos franceses, no pós-guerra, se transferiu dos alemães para os americanos, que insistiam em não falar francês. Os franceses tentaram proibir a Coca-Cola, logo após, mas não conseguiram; mas conseguiram expulsar a OTAN de Paris, que teve de se mudar para a terra dos belgicanos, mais acostumados com exércitos estrangeiros. De Gaulle ainda conseguiu trocar a maior parte dos dólares que tinha de reserva, antes que os americanos fechassem a torneirinha de Fort Knox, e acabasse com a alegria de japoneses e alemães.
Na mesma época, os franceses reclamavam da invasão do seu belo país por uma nova horda de bárbaros, comedores de hot-dogs, trabalhando para dezenas, centenas, de empresas americanas, que partiram à conquista econômica do hexágono, sem qualquer respeito pelo camembert e pelo beaujolais (mas eles aprenderam a gostar, depois). Os franceses consideravam os americanos um problema, não uma solução, como pareciam admitir alemães e japoneses. Conclusão: alemães e japoneses se recuperaram muito mais rapidamente, chegando até a exibir milagres econômicos, com altas taxas de crescimento durante vários anos no pós-guerra. Os franceses voltaram ao seu modo gaulês habitual, com muitas brigas em família – socialistas e gaullistas, por exemplo – em parte compensadas por todas aquelas maravilhas da gastronomia e do patrimônio cultural, que os mantiveram em boa situação até que novos problemas surgiram.
Os novos problemas dos franceses são os chineses, com sua mania de trabalhar demais, consumir de menos e vender barato demais. Os franceses se desesperaram durante anos com a tal de délocalisation, um dos vetores mais nefastos, segundo eles, da globalização, ops, da mondialisation. Eles até chegaram a instituir, justamente sob o atual presidente, um ministério da restauração industrial, de redressement industriel, dirigido por um socialista aristocrata convencido de que os problemas dos franceses se resumem a marchés trop libres et concurrence déloyale (dos chineses, obviamente). Os chineses não acham que os franceses sejam um problema, embora essas greves constantes de metro, de trens suburbanos e até de taxis atrapalhem um pouco na hora de ir fazer compras nas Galeries Lafayette ou de visitar a Mona Lisa no Louvre.
Os franceses não querem enfrentar o mundo como ele é, e estão perdendo terreno todos os dias na batalha da globalização. O presidente socialista foi eleito para diminuir uma já alta taxa de desemprego, em 2012; ela só fez aumentar desde então. Ele até ensaiou fazer um pacto de responsabilidade, tentando convencer as empresas a contratar mais franceses, contra uma diminuição dos encargos laborais. Os patrões gostaram da redução de impostos, mas não se comprometeram com novos empregos: a razão é que é muito difícil despedir um trabalhador francês, pois cada vez tem de primeiro negociar com o sindicato, e depois pagar uma multa pela demissão. Melhor nem contratar, então, e “délocaliser” a indústria para a Ásia, onde os trabalhadores são mais disciplinados e menos exigentes. 
Talvez os chineses comecem a comprar vignobles famosos e até mesmo alguns châteaux de province, antes de se atacar às marcas francesas de luxo, que é um pouco o que sobrou da terrível desindustrialização dos últimos anos. Isso vai deixar os franceses furiosos, pois vão ter de passar a trabalhar para os chineses, que não brincam em serviço. Oh lá lá, ça sera terrible! Os franceses têm um grande problema, e eles não conseguem livrar-se deles, pois eles é que são o problema, um grande problema. O presidente até que é um mal menor, mas ele é muito parecido com os franceses. Esse é o problema: quem sabe os franceses não se tornam um pouco alemães, ou chineses? Eles vão acabar gostando...

Hartford, 1o. de Abril de 2014.

Frank D. McCann: tentando entender os militares brasileiros - Entrevista Estadao

'Vivi com o golpe toda a minha carreira'
Em entrevista ao Estado, historiador americano explica em que 1964 foi diferente das outras tentativas de golpe
Entrevista: Frank D. McCann
Wilson Tosta
O Estado de S. Paulo28 de março de 2014

Entender 1964 tem sido um dos desafios profissionais do historiador norte-americano Frank McCann. “Vivi com o golpe toda a minha carreira”, conta o pesquisador, que era estudante da pós-graduação em História do Brasil na Universidade de Indiana quando o governo João Goulart caiu. Ele relata que ainda lembra de quando viu a foto do presidente Castelo Branco pela primeira vez no New York Times e afirma que acompanhou “obsessivamente” o noticiário da época, tentando compreender o que acontecia em seu objeto de estudo. Em 1965, saciou um pouco da curiosidade no Brasil, para onde se mudara com a família para pesquisar e preparar sua dissertação. McCann ainda se lembra de ler as manchetes sobre o AI-2, que acabou com os partidos, nas bancas da Avenida Rio Branco, no Centro do Rio de Janeiro. O ambiente, diz, era muito tenso, devido a rumores de uma rebelião de linha dura na Vila Militar.
“Eu não tinha ideia, então, de que eu passaria muito da minha vida tentando entender os militares brasileiros", afirma
A seguir, os principais trechos de sua entrevista ao Estado:

Antes de 64, o Brasil viveu várias tentativas de golpe militar de direita: 54, 55 , 61, além das Revoltas de Jacareacanga e Aragarças. Todas fracassaram . Por que a tentativa de 64 foi vitoriosa?
As tentativas de golpe anteriores a 64 fracassaram porque não foram suficientemente apoiadas por todas as Forças Armadas, porque faltou apoio civil em grande escala ou porque foram localizadas dentro de uma das Forças. Oficiais superiores e a elite civil culparam Goulart e seus aliados , como Brizola , da extensa agitação social em todo o Brasil. As imagens das manifestações das Ligas Camponesas no Nordeste permaneceram na memória dos opositores do governo. A discussão da necessidade de reforma agrária , da expansão da educação, do controle dos recursos naturais, foi considerada muito radical, de alguma forma contaminada pelo comunismo. A opinião pública foi manipulada para alimentar o medo. As elites civis e a Igreja Católica viram a ameaça vermelha à sua porta. Brizola falando em armar um tipo de milícia deixou as pessoas assustadas. O Brasil parecia prestes a explodir. Discussão racional, calma, dos problemas nacionais tornou-se rara.

De onde veio o golpe?
Para mim, a grande questão é: por que os militares pensavam que tinham o direito ou dever de criticar publicamente , atacar ou depor um governo? Historicamente, eles têm dito muitas vezes que seus antecessores tinham deposto a monarquia e instalado a República, e tinham o dever de defendê-la e protegê-la. Claro que era uma responsabilidade autoassumida. Infelizmente, na República Velha políticos civis aparentemente encorajaram esse tipo de pensamento, de envolver os militares em seus esquemas partidários. A disciplina solta no Exército permitiu que oficiais acreditassem que eram os guardiães da República. A muito antiga prática de dar anistia a todos os envolvidos em revoltas diminuiu o autocontrole. Em 1904, 1922 e 1924, os rebeldes foram expulsos, mas depois de um tempo tiveram permissão para retornar e ter carreiras normais. Isso significava que os rebeldes não eram fortemente penalizados por sua rebelião. A instituição era muito insular, uma coisa à parte da sociedade, muito controlada pelo próprio corpo de oficiais. A estrutura das Forças Armadas tornou o controle civil extremamente difícil, se não impossível.

Mas o que diferencia o golpe de 64 das tentativas anteriores?
Uma coisa que aconteceu em 54, 55 e 61 foi que a intervenção dos militares levou à passagem da Presidência para outro civil. Em 64 não havia apoio suficiente para qualquer político civil. As figuras proeminentes foram, cada um, um pouco divisionistas, Carlos Lacerda  foi o mais divisionista. Antes do golpe, Castelo Branco tinha passado semanas de reuniões reservadas  com os líderes civis e ganhou sua confiança. Ao determinar a deposição de Goulart, os políticos civis pensaram que o golpe seria apenas empurrá-lo de lado, e um deles levaria o Planalto. Eles não sabiam que um conjunto significativo de oficiais passou a acreditar que seu caminho para servir à nação era dirigi-la. Claro que é necessário lembrar que foi um período quente da Guerra Fria, e os militares brasileiros estavam imersos na mentalidade do anticomunismo. Eles faziam um culto a 1935, a rebelião financiada por Moscou no Exército. Os generais de 64 tinham sido jovens oficiais em 1930 e abraçaram os mitos sobre 1935, como o de oficiais brasileiros assassinados durante o sono, o que não aconteceu, mas eles acreditavam. A falta de disciplina que mencionei anteriormente foi um fator que contribuiu para a revolta de 1935 . Oficiais legalistas afrontados pelos rebeldes derrotados riram quando eles foram levados para a prisão.

Sem o cabo Anselmo e sem a reunião dos sargentos no Automóvel Club teria havido golpe?
Certamente o motim dos marinheiros e a revolta dos sargentos contrariaram e preocuparam os oficiais, que viram essas ações como quebra de disciplina. Foi bom para os oficiais insuflar a revolta , mas não para a tropa mais baixa. O cabo Anselmo foi, naturalmente , muito problemático, porque era um agente dos golpistas que agia como um provocador . Mas veja, realmente, todos os participantes no golpe estavam quebrando a cadeia de comando , quebrando hierarquia.

 Por que o suposto esquema militar de apoio ao presidente Jango falhou?
Era muito pequeno, muito desorganizado e sem saber o que estava acontecendo até muito tarde. Eu suspeito que muitos oficiais acharam mais fácil apenas serem arrastados na corrente e não estavam dispostos a se opor a seus comandantes e colegas.

Os militares eram um grupo coeso na ditadura ou havia divisões significativas entre eles?
Durante os anos militares, houve uma divisão, com aqueles que eram oficiais profissionais e não pensavam que governar o país era o seu papel (de um lado). Havia outros, menos comprometidos com a profissão de soldado, que foram corrompidos pelas oportunidades de remuneração extra e benefícios ilegais. Sem dúvida, houve alguns que gostaram dos papéis repressivos, da espionagem, do sigilo, na verdade talvez até gostassem de ferir os outros. Alguns, talvez por causa de sua educação limitada, não conseguiam entender que o que as pessoas que queriam era uma sociedade justa , com oportunidades reais de possuir terra , obter educação e expressar seus pensamentos. Lembro-me de, em 1976, um coronel em uma reunião em Brasília, que me disse que ele e seu irmão, também um coronel, mal podiam falar um com o outro, porque discordaram totalmente ao longo da "Revolução" . O irmão aparentemente justificava as prisões , desaparecimentos e torturas, enquanto ele acreditava que esse tipo de comportamento repressivo estava abaixo da dignidade de um oficial do Exército.

 Por que a transição política foi tão lenta, com a demora em desmontar o aparato repressivo, com o SNI, em contraste com países vizinhos, como a Argentina?
Boa pergunta . Acho que Geisel não sabia como domar o tigre. Talvez ele pensasse que, dando tempo suficiente, as emoções fortes iriam passar, e o discurso racional seria possível. Por que demoraram tanto tempo para desmantelar o SNI eu não sei, mas suspeito que era de alguma utilidade para Sarney. Provavelmente vai demorar muitos anos para que todos os arquivos sejam estudados. A Argentina foi um caso muito diferente. O Exército não tinha histórico de assumir o governo. O caso argentino foi mais brutal e ainda mais irracional do que o brasileiro. Foi uma sorte que os generais fossem loucos o suficiente para atacar as Malvinas e fossem derrotados pelo Reino Unido.

 Um dos grupo mais perseguidos, talvez o mais perseguido, durante a ditadura foi o dos militares. Houve 7.500 militares cassados. Ocorreu uma guerra à parte entre militares durante o período?
Sim, houve uma purga interna nas Forças Armadas. Estou certo de que muitos inocentes sofreram. O pensamento cego que passou no Exército sobre o comunismo é notável . Alguns oficiais que estavam simplesmente a favor da regra constitucional foram rotulados como radicais e, portanto, comunistas . O livro de Shawn Smallman, “Fear and Memory in the Brazilian Army and Society, 1889-1954” (Univ. of North Carolina Press, 2001) estudou os aspectos da purga . O livro de Maud Cahirio, “A Política nos Quartéis” ( Zahar , 2012) traça as lutas internas . As instituições militares sofreram com tudo isso e perderam um pouco de sua capacidade 
.
 Na Argentina, no Uruguai e no Chile, as ditaduras não foram nacionalistas nem estatizantes. Por que no Brasil os governos militares criaram e fortaleceram empresas estatais e mantiveram a legislação de direitos trabalhistas , além de tentar desenvolver alguns setores nacionais, diferentemente do que aconteceu em ditaduras vizinhas?
Os militares brasileiros estiveram profundamente comprometidos com o desenvolvimento econômico por décadas. Eles costumavam dizer que um país pobre não poderia ter um bom establishment militar. Eles se sentiram no dever de desenvolver e melhorar o País, para que pudessem ter os meios para se defender adequadamente. Eles não queriam os recursos naturais do País em mãos de estrangeiros . Curiosamente, alguns oficiais me disseram que na década de 1990, quando conversaram com ex-comunistas , ficaram surpresos ao descobrir que eles queriam as mesmas coisas para o Brasil. Um coronel intelectual disse que pensou que a coisa toda, o golpe , o regime militar , tudo tinha sido um erro enorme.

 A tortura foi excesso de fanáticos e sádicos ou foi política de Estado, estimulada pelo topo da hierarquia?
O uso de tortura é algo que faz pouco sentido. Oficiais , mesmo seniores como o general Carlos Meira Mattos, a justificavam como a única forma rápida para encontrar o a bomba-relógio ligada. Mas a realidade é que havia poucas bombas em funcionamento, e pior que muitas pessoas foram torturadas semanas e meses depois de serem presas quando não poderiam ter nenhuma informação útil. Uma estudante minha de pós-graduação, Martha K. Huggins , fez dois estudos, “Political Policing: the United States and Latin America” (Durham: Duke University Press, 1998) e “Violence Workers: Police Torturers and Murderers Reconstruct Brazilian Atrocities” (Berkeley: University of California Press, 2002), que mostraram alguma influência americana no uso da tortura . Lembro-me de estar no Rio em 1969 e de relatos de americanos estarem presentes durante as sessões de tortura no quartel-general da Marinha. De meus estudos de história do Exército , eu diria que nenhum estrangeiro tinha nada a ensinar aos brasileiros sobre como torturar ou maltratar prisioneiros. É verdade que os brasileiros estavam longe de serem tão perversos quanto os argentinos ou chilenos no uso de tortura ou assassinato, mas isso não é algo de que se orgulhar . Alguns dos abusos foram protagonizados por pessoal das polícias militares estaduais, mas porque o Exército brasileiro colocou seus oficiais no comando de cada PM estadual, o que traz a responsabilidade de volta para o Exército. A tortura era generalizada.
Claro que os leitores vão dizer que os Estados Unidos fizeram o mesmo contra supostos terroristas após o 11 de setembro. Infelizmente isso é verdade, mas eu acho que não foram os Estados Unidos , mas o governo de George W. Bush , que fez isso. Até onde sei, o Exército dos Estados Unidos não estava envolvido, pelo menos até o episódio da prisão no Iraque. Como cidadão americano estou profundamente envergonhado com o que o gangue de Bush fez.
 Agora, assassinato é algo ainda pior do que tortura. Sabemos a partir do caso da Casa da Morte de Petrópolis que as pessoas presas lá foram torturadas até morrerem e foram enterradas em segredo. Segundo a imprensa, os torturadores eram pessoal do Exército . Talvez mais vergonhoso de um ponto de vista militar foi o assassinato de prisioneiros no Araguaia. Em combate é matar ou ser morto , mas a honra militar exige que os prisioneiros sejam protegidos. Foram esses assassinatos encomendados? Por quem? Por quê? Parece que alguns oficiais generais estavam cientes de que isso estava acontecendo . É muito possível que Ernesto Geisel soubesse .

 O que fica do golpe para o Brasil de hoje?
A questão desde 1985 tem sido: como evitar que tudo aconteça de novo? É bom que presidente Dilma tenha proibido os militares de comemorar 1964 e o regime posterior , mas isso não é suficiente. As escolas militares deveriam estar ensinando sobre tudo isso como um exemplo do que os militares brasileiros não devem fazer. A melhor proteção para as Forças Armadas é ver o golpe como um erro grave. Não foi uma vitória sobre o comunismo, mas um ataque à democracia e ao Brasil como um país livre. Devo lembrar que as Forças Armadas de hoje não são as mesmas que as de 1964.
Os instituições militares de hoje no Brasil são politicamente neutras e totalmente engajadas na sua missão de defesa nacional.
=========

Original das respostas, em inglês, do historiador, como recebido do próprio:

Questions sent by Wilson Tosta as an ‘interview’ on Golpe of 1964.
Ah Wilson, these are very good questions.  I have lived with the coup of 1964 for my whole career.  I was a graduate student at Indiana University specializing in Brazilian history when it occurred.  I remember where I was the day I first saw Castello Branco’s photo in the New York Times.  I followed the news reports obsessively trying to understand what was happening.  Then in 1965 my wife and I and our two little girls went to Rio for a year so I could research my dissertation.  I remember reading the headlines at the news stands on Av. Rio Branco when the AI-2 was decreed abolishing the then political parties.  The atmosphere was very tense due to rumors of a rebellion of hard liners at Vila Militar.  I had no idea then that I would spend much of my life trying to understand the Brazilian military.
1) Antes de 64, o Brasil viveu várias tentativas de golpe militar de direita: 54, 55, 61, além das revoltas de Jacareacanga e Aragarças, no governo Juscelino. Todas fracassaram. Por que a tentativa de 64 deu certo? O que a diferenciou das outras?
The earlier coup attempts failed because they were not sufficiently supported throughout the armed forces, lacked large scale civilian backing, or were localized within one service. 
Higher officers and the civilian elite blamed Goulart, and his allies such as Brizola, for the extensive social unrest throughout Brazil.  The images of the demonstrations of the Peasant Leagues in the northeast lingered in the memories of government opponents.  Talk of the need for land reform, expanded education, control of natural resources was perceived as very radical, somehow tainted by communism.  Public opinion was manipulated to stoke fear.  The civilian elites and the Catholic Church saw the Red Menace at their doorsteps.  Brizola talking about arming a type of militia frightened people.  Brazil seemed to be ready to explode.  Rational, calm discussion of national problems became rare.  
For me the big question is why would military officers (in Brazil this mostly means army officers) think that they had the right (duty??) to publicly criticize, attack, or depose a government?  Historically they have often said that their predecessors had deposed the monarchy and installed the republic and they had the duty thereby to defend and protect it.  Of course that was a self-assumed ‘responsibility’.  Unhappily in the Old Republic civilian politicians seemingly encouraged that kind of thinking to involve the military in their partisan schemes. 
The loose discipline in the army allowed officers to believe that they were the guardians of the republic. The very old practice of giving amnesty to those involved in revolts diminished self-control.   In 1904, 1922, and 1924 rebels were expelled from the ranks, but after a while allowed to return and have normal careers.  That meant that rebels were not heavily penalized for their rebellion.  A basic lack of discipline was bred into the officer corps.   The institution was too insular, too much a thing apart from society, too much controlled by the officer corps itself.  The structure of the armed forces made civilian control extremely difficult, if not impossible.
The plotting in 1954 against Getúlio was cut short by his suicide and the huge popular reaction in the streets.  Some scholars think it delayed the seizure of power until the next decade, I think it was more complicated and that the events of the next years produced the climate that made 64 possible. 
One thing that happened in 54, 55, and 61, was that whatever intervention the military took, they supported the passing of the presidency to another civilian.  In 64 there was not sufficient elite support for any particular civilian politician.  The outstanding figures were each somewhat divisive, Carlos Lacerda being the most divisive.  Prior to the coup Castello Branco had spent weeks meeting quietly with civilian leaders and had gained their confidence.  By determining to depose Goulart the civilian politicians thought that a coup would merely push him aside and one of their number would take the Planalto.  They were unaware that a significant body of officers had come to believe that the way for them to serve the nation was to direct it. 
Of course it is necessary to remember that it was a hot period of the Cold War and the Brazilian military mentally was deep into the mindset of anti-communism.  They had made a cult out of the 1935 Moscow- funded rebellion in the army.   The generals of 64 had been young officers in the 1930s and they embraced the myths about 1935 , such as Brazilian officers being shot in their sleep.  that did not happen but they believed that it did.  The lack of discipline that I mentioned earlier was a contributing factor to the 1935 revolts.  Loyalist officers long remembered and were affronted that the defeated rebels laughed as they were marched to prison. 
2) Qual foi o papel da quebra de hierarquia para o sucesso do golpe? Podemos dizer que, sem o cabo Anselmo, sem o motim dos marinheiros no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio e sem o almoço dos sargentos no Automóvel Clube, teria havido golpe bem-sucedido?

Certainly the sailors’ mutiny and the earlier sergeant’s revolt upset and worried the officers, who saw these actions as breaking of discipline.  It was fine for officers to plot and revolt but not for the lower ranks.  Cabo Anselmo was, of course, really problematic because he was an agent of the golpistas acting as a provocateur.   Legally everyone participating in the coup was breaking the chain of command, quebrando hierarquia.  Just because Generals were leading and giving orders did not make the rebellion legal or right.
3) Como era o jogo dos generais na época? Quem ficou com João Goulart, quem mudou de lado e quem estava contra ele desde o início, nas Forças Armadas? E quais eram os motivos dessas posições (ou suas mudanças)?
A few general officers attempted to side with the government, the Third Army in Rio Grande do Sul comes to mind.  But supporters were quickly pushed aside, arrested, retired. 
4) Golpistas civis esperavam que os militares apenas derrubassem o governo Goulart e lhes passassem o poder. Por que isso não aconteceu e os militares ficaram 21 anos mandando no Brasil?
I think I mentioned this above.   But it is important to remember that a lot of civilians supported the military’s intervention. 
5) Por que o suposto esquema militar de apoio ao presidente Jango falhou?
Why did it fail?  It was too small, too disorganized and unaware what was happening until too late.   I suspect that many officers found it easier just to be swept along in the current and were unwilling to oppose their commanders and colleagues. 
 6) A visão de que os militares eram um grupo coeso durante o regime é verdadeira ou havia divisões políticas significativas entre eles? Quais eram essas divisões?
During the military years there was a division between those who were professional officers who did not think that running the country was their role.   There were others less committed to the profession of soldiering who were corrupted by the opportunities for extra pay and illegal benefits.  Undoubtedly there were some who enjoyed the repressive roles, the spying, the secrecy, indeed maybe even enjoyed hurting others.  Some, perhaps because of their limited education, could not understand that people who wanted a just society with real opportunities to own land, get an education, and to express their thoughts, could be anything other than communists.
   I remember in 1976 meeting a colonel in Brasilia who told me that he and his brother, also a colonel, could barely speak with each other because they disagreed completely over the course of the “Revolution”.   His brother apparently justified the arrests, disappearances, and torture, while he believed such repressive behavior was beneath the dignity of an army officer.
7) A abertura política começou em 1975, e os militares só deixaram o poder dez anos depois. Mesmo assim, por pelo menos mais dez anos os militares eram vistos com receio pelos brasileiros. Houve ainda demora no desmonte de estruturas repressivas - o SNI só acabou em 1990, por exemplo. Qual foi o motivo de uma transição tão lenta? Como comparar essa transição com as de países vizinhos, como Argentina e Uruguai?
Why so slow a transition?  Good question.  I think that Geisel did not know how to get off the tiger.  Perhaps he thought that given enough time the high emotions would pass and rational discourse would be possible.  Why it took so long to dismantle the SNI I do not know, but I suspect that it was of some use to Sarney.   Likely it will take many years for all those files to be studied.
 Argentina was a very different case.  The army there had a history of coup making and taking over the government.  The Argentine case was more brutal and even more irrational than the Brazilian one.  It was fortunate that the generals were crazy enough to attack the Falklands and get routed by the British.  Today, the Argentines should be thanking the British rather than posturing ridiculously about the islands being theirs. 
8) Fala-se que os militares perseguiram adversários durante a ditadura. Um dos grupos mais atingidos, talvez aquele que foi mais perseguido, era formado por militares: 7.500 integrantes das Forças Armadas foram cassados no período. Pode-se falar que houve uma guerra à parte entre os militares naquela época?
Yes there was an internal purge within the armed forces.  I am sure that many innocents suffered.  The blind thinking that went on in the army about communism is notable.  Some officers who were simply in favor of constitutional rule were labeled as radicals and thus communists.  Shawn Smallman’s book Fear and Memory in the Brazilian Army and Society, 1889-1954 (Univ. of North Carolina Press, 2001) studied aspects of the purge.  Maud Cahirio’s A Política nos Quartéis (Zahar, 2012) traces the internal struggles.  The military institutions suffered from all this and lost some of their capability.
9) Na Argentina, no Uruguai e no Chile, as ditaduras não foram nacionalistas nem estatizantes. Por que no Brasil os governos militares criaram e fortaleceram empresas estatais e mantiveram a legislação de direitos trabalhistas, diferentemente do que acontecia em países vizinhos?
 The Brazilian military was deeply committed to economic development going back decades.  They used to say that a poor country could not have a good military establishment.  They felt a duty to develop and improve the country so that they could have the means to defend it adequately.  They did not want the nation’s natural resources in the hands of foreigners.  Interestingly, some officers told me that in the 1990s they had conversations with ex-communists, they were surprised to find that they wanted the same things for Brazil.  One intellectual colonel said he thought the whole thing, the golpe, the military regime, had all been a huge mistake.
10) A tortura e o extermínio de oposicionistas foi fruto de excessos de subordinados ou havia aquiescência do topo da hierarquia para que se torturasse, em defesa do regime?
The use of torture is something that makes little sense.  Officers, even senior ones like General Carlos Meira Mattos justified it as the only quick way to find the ticking “time bomb”.   But the reality is that there were few such ticking bombs and worse that many people were tortured weeks and months after being arrested when they could have no useful information.  A graduate student of mine, Martha K. Huggins, who did two studies: Political Policing: the United States and Latin America (Durham: Duke University Press, 1998) and Violence Workers: Police Torturers and Murderers Reconstruct Brazilian Atrocities (Berkeley: University of California Press, 2002) that showed some American training in the use of torture.   I recall being in Rio in 1969 and hearing reports of Americans being present during torture sessions in the Naval headquarters. 
From my studies of army history I would say that no foreigner had to teach Brazilians how to torture or mistreat prisoners.  It is true that the Brazilians were nowhere near as bad as the Argentines or Chileans in the use of torture or murder, but that is not something of which to be proud.   Some of the abuses were carried out by state Policia Militar personnel, but because the Brazilian army placed one of its officers in command of every state PM, that brings the responsibility back to the army.  Torture was widespread.  
 Of course your readers will say that the United States did the same against supposed terrorists after 9/11.  Sadly that is true, but I think it was not the United States, but the George W. Bush administration, that did it.  As far as I know the United States Army was not involved, at least until the prison episode in Iraq.  As an American citizen I am deeply, deeply ashamed of what the Bush gang did.
Now murder is something even worse than torture.  We know from the case of the ‘Death House’ in Petropolis that people taken there were tortured to death and buried in secret.  According to press accounts the torturers were army personnel.
Perhaps more shameful from a military point of view was the murder of prisoners in the Araguaia.  In combat it is kill or be killed, but military honor demands that prisoners be protected.  Were these murders ordered?  By whom?  Why?  It seems that some general officers were aware that this was happening.  It is very possible that Ernesto Geisel knew.  Elio Gaspari laid it out clearly.  Interested readers will find more than they want to know in Claudio Guerra’s Memórias de uma Guerra Suja (Topbooks, 2012).   He tells of his experiences as a DOPS agent working with a parallel army chain of command to murder leftists.
The question since 1985 has been how to prevent all this happening again?  It is good that Presidenta Dilma has forbidden the military to commemorate 1964 and the subsequent regime, but that is not enough.  The military schools should be teaching about all this as an example of what the Brazilian military should not do.  The best protection is for the armed forces to see it as a serious mistake.  It was not a victory over communism, rather it was an attack on democracy and on Brazil as a free country.   

Devo lembrar aos leitores que as Forças Armadas de hoje não são as mesmas que as de 1964. Os instituições militares de hoje no Brasil são politicamente neutra e totalmente engajados na sua missão de defesa nacional.


Filme: 'O Dia que Durou 21 Anos' - OK, foram os americanos que deram o golpe...

Os militares brasileiros só colocaram diesel nos tanques: os que guiaram e comandaram todas as trajetórias foram os agentes da CIA, como se sabe...
Paulo Roberto de Almeida 

Universidades dos EUA exibem 'O Dia que Durou 21 Anos'
Documentário trata da influência americana na ação militar de 1964
Felipe Resk
O Estado de S. Paulo, 31/03/2014

O premiado documentário "O Dia que Durou 21 Anos", de Camilo Tavares, que aborda a influência do governo americano no golpe militar de 1964 no Brasil, vai realizar uma temporada de exibição em universidades renomadas dos Estados Unidos. Entre os dias 1 e 15 de abril, os produtores ficam no país para divulgar o filme em cinco grandes centros acadêmicos: Columbia, MIT, Yale, Brown e Princenton.

Em outubro de 2013, o documentário foi apresentado no Palácio da Alvorada, em Brasília, com a presença da presidente Dilma Rousseff. A repercussão abriu espaço para que o filme chegasse no mesmo mês a Harvard, onde a Rockfeller Foundation sediou um debate sobre o papel americano durante a ditadura no Brasil, com a participação de professores e estudantes universitários dos Estados Unidos.

"Nós queremos levar consciência ao ninho da serpente", brinca o diretor Camilo Tavares. O objetivo não é só retratar a participação dos presidentes John Kennedy e Lyndon Johnson, e do embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, na ação militar que deu início à ditadura, há exatos 50 anos. "O Dia que Durou 21 Anos" também pretende problematizar o modelo político dos Estados Unidos. "Espero que eles reflitam sobre a democracia e sobre o conceito de Freedom, que parece estar sempre relacionado a um viés militar no país", diz Tavares.

O documentário já recebeu o Prêmio Especial do Júri em Festival em Nova York - 29º Long Island Film Festival, o Prêmio Especial do Júri no 22º Arizona International Film Festival, ambos nos Estados Unidos. Na França, recebeu o prêmio de melhor documentário estrangeiro no St. Tropez International Film Festival. Também faturou o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 2013.


Agora, a produtora Pequi Filmes, que pretende fazer uma sequência do documentário, procura levantar fundos por meio da Lei Rouanet, Lei do Audiovisual, do Programa de Ação Cultura de São Paulo e da Lei Mendonça. Segundo Tavares, a viagem aos Estados Unidos serve também para buscar patrocinadores privados e estabelecer contato com possíveis financiadores. Como está em processo de captação de recursos, ainda não há previsão para o lançamento do novo filme.