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domingo, 2 de agosto de 2015

Contra todos os maniqueismos; pela total liberdade de opcoes - Paulo Roberto de Almeida


Contra todos os maniqueísmos; pela total liberdade de opções

Paulo Roberto de Almeida


Tomar banho é uma das minhas grandes aventuras intelectuais. Digo isto sem qualquer ironia: quando estou debaixo da ducha, me ensaboando ou passando shampoo nos cabelos, que é quando justamente não consigo ler nem escrever – atividades que, como todos sabem, distraem o espírito e nos impedem de pensar direito –, aí sim é que costumo ter algumas ideias novas, como a deste artigo, por exemplo. Penso em coisas que não poderia pensar, ao ter em frente de mim uma página de livro, jornal ou revista, ou telas de um computador, que servem apenas para consolidar ideias já concebidas anteriormente, ou seja, sem qualquer inovação momentânea ou surpreendente. A ducha é o momento da centelha inovadora. Tentem a aventura vocês também: ao tomar banho, na próxima vez, experimentem pensar em coisas nunca antes pensadas. É o que faço regularmente, e o que me dá mais prazer; daí certas duchas prolongadas...
Pois bem, ao tomar a minha ducha num hotel na Filadélfia, terra de Benjamin Franklin, o maior, talvez único, filósofo americano (sans blague), estava pensando em como é chato ter de se classificar de alguma forma para se fazer entender pelos outros. Não só os jornalistas – que são maniqueístas e simplificadores por profissão, e vocação estupidamente entranhada nas faculdades de jornalismo –, mas também as pessoas comuns, aquelas como eu e você – que passamos a vida lendo e escrevendo – sentem uma necessidade para mim incompreensível de catalogar a si mesmas, e aos outros, segundo certos cânones pré-fabricados: “ah, você agora é liberal?”; ou então: “mas você ainda é marxista, de esquerda?” A coisa avança por aí: “Não sou de direita, mas...”, ou “Desculpe, mas isso é muito neoliberal; você acha mesmo que o mercado resolve tudo?; certas coisas têm de ser feitas pelo Estado.”
Faz muito tempo que cansei de todos os maniqueísmos. Tendo vindo do, ou me criado no marxismo acadêmico – até por força da literatura e dos debates disponíveis no mercado intelectual dos anos 1960, eu naturalmente me classificava à esquerda, sempre identificado com a “justiça social” – até por uma questão de situação de família – e com as causas “progressistas’’, o que sempre significou, naquela e em todas as épocas, com a contenção do mercado e a regulação estatal de grande parte das atividades produtivas. Mesmo quando eu estava lendo o meu Marx, ou achando o Ché Guevara um grande sujeito, eu não deixava de ler o Roberto Campos e refletir sobre tudo aquilo que estava sendo feito pela ditadura militar, teoricamente a serviço do imperialismo e do capitalismo monopolista internacional (era assim que definíamos as polaridades naqueles anos conturbados). Ao partir para a Europa, no início dos anos 1970, continuei a ler Jean-Paul Sartre, mas nunca deixei de também ler Raymond Aron, ainda que buscando recusar, bestamente, os bons fundamentos dos argumentos que defendiam, respectivamente, Roberto Campos ou Raymond Aron (nunca consegui, confesso).
Como eu sempre li muito, demasiadamente talvez, mas justamente aproveitava os momentos de não leitura – no banho, ou na penumbra das vigílias noturnas – para pensar, refletir sobre o que havia visto e lido, durante o dia, para, a partir daí, formar a minha própria opinião sobre as coisas do mundo. Por isso mesmo, cansei rapidamente de todos os fundamentalismos, de todos os tipos, e um dos primeiros foram os dogmas religiosos da Igreja Católica. Como leitor precoce de Monteiro Lobato, era impossível aceitar aquelas explicações furadas do padre no preparatório da primeira comunhão: eram tão primárias e risíveis as “verdades da fé”, que desisti de prestar atenção ao catecismo para começar a pensar sobre aqueles ritos que me pareciam ridículos. Por isso comecei por me definir como ateu – ou algo próximo disso – já entre 12 e 13 anos, mas como isso causasse certa suspeição entre os próximos, o jeito era apelar para algo mais aceitável: o agnosticismo. Mais tarde, verifiquei que tudo isso continha uma referência inevitável à religião, ou a um deus – ateu, aquele que nega a existência de deus – e passei simplesmente a me classificar como irreligioso. Pronto, isso resolve a questão.
No que se refere aos dogmas políticos e às escolas econômicas, ao aderir ao marxismo e ao socialismo, eu nunca deixe de estudar a história do capitalismo e de examinar, com lupa e sofreguidão, as supostas conquistas do socialismo e dos regimes de esquerda, em todas as partes do mundo que fui dado visitar e conhecer diretamente. O problema dos marxistas brasileiros, ou latino-americanos, assim como de acadêmicos em quase todos os países de economia capitalista, é que eles nunca vivenciaram, de fato, o socialismo real, em toda a sua extensão. Este não foi o meu caso. Tanto por força do exílio voluntário, quanto de minha profissão adulta, o nomadismo, a compulsão por viagens, a sede de conhecimento, a busca pela razão última das coisas me levaram, todas elas, a conhecer, e a refletir sobre, todos os regimes políticos, todos os sistemas econômicos realmente existentes, do capitalismo ideal (onde?) ao socialismo surreal (depois eu conto onde), das economias de mercado as mais avançadas do mundo ao estatismo mais subdesenvolvido, da prosperidade insolente à miséria alucinante. Creio ter visto um pouco de tudo em minhas andanças – por todos os meios disponíveis de locomoção, nos últimos 38 anos sempre com Carmen Lícia – e reflexões peregrinas.
Isso me tornou mais modesto em certos julgamentos “definitivos” sobre certos arranjos econômicos e sociais, me ensinou a ser mais tolerante com a opinião de outros estudiosos ou atores sociais, mas também mais crítico em relação a certos “engenheiros sociais” das academias, geralmente os seres mais alienados que encontrei em uma vida repleta de boas e más experiências (estas últimas costumam ensinar bem mais do que as primeiras). Passei a recusar modelos ou projetos de qualquer coisa, esses mesmos saídos das pranchetas desses ideólogos da felicidade alheia, ou apenas considerar experimentos fracassados como dignos de serem objetos de reflexão ponderada. E passei a recusar essas classificações simplistas e maniqueístas que costumam dividir os interlocutores em dois campos opostos (e desprezo aquelas páginas de jornal com artigos a favor e contra qualquer coisa que esteja na agenda do momento).
Com isso, passei a surpreender, ou a decepcionar muita gente, de todas as latitudes e quadrantes do espectro político. Já recebi vários convites para escrever um capítulo de livro, ou um artigo de opinião, de publicações marxistas, ou progressistas, para depois ser confrontado a uma recusa de aceitação, pelo fato de minhas opiniões ou argumentos não se encaixarem no molde conceitual dos organizadores. Uma revista acadêmica de esquerda, com a qual colaborei durante dez anos – certamente irritando os colegas do conselho editorial – me “demitiu” sumariamente depois de dois ou três artigos provocadores: “A cultura da esquerda: sete pecados dialéticos que atrapalham seu desenvolvimento” (http://www.espacoacademico.com.br/047/47pra.htm); “Falácias acadêmicas, 15: o modo repetitivo de produção do marxismo vulgar no Brasil” (http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/13823/7221); “Pode uma pessoa inteligente pretender-se comunista, hoje em dia?; Reflexões sobre um paradoxo acadêmico brasileiro” (http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/14334/7601). Assim ocorreu em outras instâncias, igualmente, quando os companheiros começaram a me classificar como de direita, ou “neoliberal”, apenas porque ousei contestar certos dogmas estatizantes – mais por serem estúpidos economicamente, do que propriamente estatais – que se encontram disseminados em pasquins medíocres.
Mas isso aconteceu igualmente no espectro da direita, ou daquilo que se entende como tal no Brasil: grupos liberais, ou conservadores, me convidaram para palestras ou para escrever artigos, e depois devem ter se decepcionado com o fato de eu não me classificar politicamente à direita, ou sequer como liberal econômico. Sou apenas e tão somente, como eu sempre digo, um racionalista e um praticante do ceticismo sadio, o que me habilita a ser um questionador de todo e qualquer fundamentalismo político ou de quaisquer dogmatismos econômicos que possam existir. Na verdade, não tenho uma filosofia determinada, a não ser essa sadia desconfiança questionadora, e não pretendo que minhas ideias, ou “soluções” tentativas para qualquer coisa sejam justamente outra coisa que não tentativas racionais de ensaio e erro para ver o que pode ser feito de mais eficiente, e eficaz, no encaminhamento dos grandes problemas da humanidade.
E quais são eles? Os de sempre: segurança alimentar, segurança física, liberdade de pensamento, de inovação, de empreender, direito de propriedade, de acumulação de bens, de prosperidade, de bem-estar, de felicidade pessoal, capacidade de ser aceito e ser reconhecido por seus méritos próprios, sem necessitar de pertencer a um grupo, a uma tribo,  sem a obrigação de aderir uma religião, ponto e paro por aí. Esses são os grande problemas e as grandes tragédias da humanidade, pelo menos daquela parte (certamente imensa) que ainda não construiu sua prosperidade com base nas liberdades individuais, o que inclui o direito de empreender sem a mão extratora dos Estados intrusivos e cerceadores da liberdade de empreender, justamente.
Esses são meus critérios e esta é a minha filosofia: existem certas coisas que funcionam, no mundo, e outras coisas que não funcionam. Prefiro, obviamente, ficar com as primeiras, e rejeito tolerantemente as segundas, que entendo serem patrocinadas por mentes simples, ignorantes, ou de má-fé. Por exemplo: educação universal, de boa qualidade, aberta a todos os talentos, capacidades e condições sociais, é uma boa coisa em si: populações educadas sempre serão mais prósperas, mais propensas a rejeitar políticos demagogos e tiranos sanguinários (o que nem sempre é o caso, como vimos no triste exemplo do nazismo alemão, mas ele surgiu numa situação de profunda crise social e econômica, de exacerbação dos espíritos, justamente, com maniqueísmos bem implantados por todos os lados). Se essa educação vai ser feita pelas famílias – ou seja, pelos mercados – ou pelo Estado, esse é um bom debate econômico, que aceito com prazer, pois disso depende o futuro da humanidade, e modestamente do Brasil.
As questões certamente não são simples: certos serviços coletivos – água, saneamento, infraestrutura, transportes e segurança – devem ser buscados nos mercados ou fornecidos pelo Estado? Tudo depende de como a sociedade se organiza, e de como os seus agentes privados – indivíduos e empresas – podem ser habilitados e liberados para se exercerem nessas áreas, sob concessão, monopólio, competição aberta? Tudo isso é muito difícil, e não é possível ter respostas prontas – liberais ou estatais – para cada um dos desafios que se apresentam em sociedades complexas, altamente burocratizadas como as nossas. Não tenho a pretensão de ter todas as respostas corretas, ou definitivas, e por isso mesmo costumo repetir: vamos raciocinar juntos, vamos nos munir dos melhores estudos e testes de proficiência, de análises custo-benefício e de simulações de desempenho antes de adotar uma solução de âmbito parcial, de escopo estritamente dirigido ao objeto em questão, e de temporalidade variável (ou seja, podendo ser modificada assim que se modificarem as circunstâncias que determinaram a escolha de uma ou outra solução). Isso é puro pragmatismo, ou apenas racionalidade instrumental, ou seja, adequação entre meios e fins, como todo engenheiro verdadeiro poderia determinar.
O problema tampouco se colocar como sendo o da melhor teoria, ou o do melhor argumento racional que deveria prevalecer. Não existem respostas teóricas a problemas práticos, que tenham a virtude de ganhar um debate apenas porque são superiores em sua racionalidade intrínseca às respostas de menor qualidade que são oferecidas, e implementadas, por quem tem o poder de fazê-lo. Apenas relembrando um famoso debate intelectual – um dos poucos – que ocorreu no Brasil, três gerações atrás: aquele que opôs o intelectual, economista, Eugênio Gudin, liberal, ao industrialista, e também intelectual, Roberto Simonsen, protecionista e estatal-industrializante. Esse debate refletia, de certo modo, aquele que ocorria no mesmo momento entre o economista, e filósofo social, John Maynard Keynes e o filósofo social, e economista, Friedrich Hayek, a propósito das mesmas questões: o que devemos privilegiar, as soluções de mercado, ou os arranjos dos governos.
Quem ganhou o argumento teórico? Certamente Hayek e Gudin, do ponto de vista puramente racional, intelectual. Mas quem ganhou o argumento prático, com “respostas” que foram implementadas pelos governos, foram Keynes e Simonsen. O mundo ficou melhor? Impossível de dar uma resposta simples a essa questão, pois as outras soluções, as liberais, não foram implementadas, e não sabemos, assim, se teriam tido a melhor eficácia resolutiva, a melhor adequação entre meios e fins, a maior dose de prosperidade com a menor cota de sacrifícios pessoais. As liberdades certamente recuaram, mas talvez a maior parte dos indivíduos prefiram a segurança prometida pelos Estados do que a concorrência aberta oferecida pelos mercados. Esses são os dilemas. É isso que eu tento resolver todos os dias. Sempre tentando, sempre refletindo, sempre pensando no que pode ser melhor para todos, na maior extensão possível.
Isso é liberalismo? Provavelmente, mas não no sentido comum da expressão, enquanto doutrina ou conjunto de princípios guardando certa coerência com seus pressupostos básicos e objetivos finalistas. Liberdade a mais completa possível, por certo, com a menor intrusão possível por parte do Estado, que cede precedência aos direitos e liberdades individuais. Estado mínimo, por que não?, já que devemos pagar ao Estado apenas para que ele faça aquilo que não podemos fazer enquanto indivíduos ou a própria sociedade civil, organizada tanto quanto possível diretamente. Mercados livres, certamente, mas de uma forma não dogmática e não fundamentalista, pois no caso de sociedades complexas, as nossas, com muitas assimetrias de informação, alguma regulação estatal pode, ou deve, ser necessária. Tudo isso sempre considerando o que pode ser feito da melhor forma, ao menor custo, o que indica para soluções de mercado mesmo no caso de prestações públicas. Algumas soluções serão provavelmente estatais, por impossibilidade prática de fazer de outra forma. Mas que o seja da forma menos coercitiva possível, com o maior grau de liberdade para todos...
Vale!

Filadélfia, 2851: 2 agosto 2015, 6 p.

Brasil: a doenca do lulo-petismo, uma coceira tremenda (mas se pode eliminar) - Paulo Roberto de Almeida


A persistirem os sintomas do lulo-petismo, procure um médico...

Paulo Roberto de Almeida

A sociedade brasileira está emergindo de um longo pesadelo: o lulo-petismo. Essa variante tupiniquim de um persistente mal latino-americano, a crença ingênua nas virtudes sociais supostamente benéficas do populismo demagógico e do salvacionismo redentor – ambos irracionais, mas possuindo poderosos efeitos eleitorais –, tinha sido quase elevado à categoria de doutrina política, quando não de projeto nacional, por um desses gramscianos de academia conquistados à causa dos companheiros. Entretanto, ele revelou-se, ao fim e ao cabo, uma enfermidade passageira no cenário político, uma espécie de doença da pele, que coça bastante durante certo tempo, mas que acaba sendo eficazmente combatida desde que aplicada a pomada correta: a consciência cidadã.
O lulo-petismo foi a nossa doença de pele, que persistiu enquanto as reais desigualdades da sociedade brasileira estiveram falsamente identificadas a supostas “falhas de mercado”, ou a maldades do “neoliberalismo”, duas “deformações do capitalismo” que poderiam ser superadas com “distribuição de renda” e políticas sociais “inclusivas”. Foi assim que mergulhamos na década e meia de medidas ativas em prol da desconcentração de renda e da correção das tais “falhas de mercado”, pelas mãos (e pés) de um Estado comprometido com a “justiça social”. Os verdadeiros efeitos – que eu chamo de crimes econômicos – só se tornaram explícitos depois da aplicação dos exercícios de engenharia econômica da tropa no poder, a tal de “nova matriz econômica”, com o seu séquito de consequências devastadoras sobre a economia.
Os historiadores econômicos podem até chamar estes anos negros do lulo-petismo de “A Grande Recessão”, que se reflete no recuo geral de todos os indicadores econômicos e sociais – estagnação ou crescimento negativo, alta da inflação, do desemprego, déficits ampliados, dívida acrescida, perda da competitividade externa e interna, forte desvalorização cambial, desinvestimentos –, mas o fato é que o declínio econômico está apenas começando. Teremos pela frente anos de penoso reajuste para, finalmente, voltar a uma situação parecida com a que estávamos, digamos, na segunda metade dos anos 1990, ou no início dos anos 1980. Esses são os efeitos catastróficos dos anos persistentemente equivocados do lulo-petismo econômico. Estaríamos mesmo no início de uma grande recessão?
Não descarto o prolongamento de uma fase realmente dura na área econômica, uma experiência poucas vezes registrada nos anais da vida nacional, que conheceu taxas de crescimento relativamente satisfatórias, a despeito dos anos de crise e de aceleração inflacionária, das trocas de moedas e dos “voos de galinha”, depois de tentativas mal conduzidas de estabilização. Que ocorra agora uma Grande Recessão, essa é uma marca histórica que ficará para sempre identificada com a esquizofrenia econômica do lulo-petismo, um resultado exemplar do ponto de vista daqueles que pretendiam corrigir as tais falhas de mercado por meio de unguentos e poções mágicas que só revelam a extraordinária ingenuidade econômica (ou seria estupidez?) dos seus aprendizes de feiticeiros, esses que eu chamo de “keynesianos de botequim”.
O que ocorreu, na verdade, desde os primeiros anos, ditos gloriosos, do lulo-petismo, foi uma Grande Destruição, em todos os setores, um desmantelamento geral das instituições, da organização política e da ética pública. Ela começou cedo, pelo aparelhamento das agências públicas, dos ministérios (com a possível exceção do Itamaraty), dos demais órgãos de Estado, pelos “servidores” do partido neobolchevique, não exatamente os gramscianos de academia (eles não são muito confiáveis), mas os militantes de chinelo de dedo; estes são os membros obedientes e disciplinados do partido leninista, que repetem de forma canina os ditames do comitê central – vale dizer, do chefe da tropa e da pequena clique de super-apparatchiks – e que pagam o dízimo mensal costumeiro, assim como uma boa parcela (30%?) dos subsídios associados aos cargos ganhos na máquina do Estado.
A Grande Destruição seguiu pelo ativismo exacerbado das “políticas públicas”, estendendo-se em todas as direções e dimensões da vida nacional, criando uma clientela de beneficiários planejados – o curral eleitoral do Bolsa Família – e uma outra de ricos beneficiários mais planejados ainda. Quem são, finamente, os financiadores do partido hegemônico? Eles são industriais e banqueiros, pagadores compulsórios de “doações legais ao partido”, com parte das rendas asseguradas pela mesma máquina do Estado: empréstimos generosos por parte do BNDES, proteção tarifária, linhas de crédito consignado, juros da dívida pública e várias outras prebendas setoriais.
Tudo isso se refletiu no crescimento dos gastos do Estado além e acima do crescimento do PIB e da produtividade, excedendo a capacidade contributiva do setor produtivo da economia – daí o esforço sempre crescente de extração fiscal por parte desse órgão fascista por excelência que é a Receita Federal –, tudo em detrimento dos investimentos produtivos. Não há dúvida quanto a isso: a Grande Recessão, que está recém começando, foi precedida pela grande devastação efetuada pelo lulo-petismo econômico. E não se enganem: o pior ainda está por vir.
É por isso que eu chamo o período lulo-petista de “A Grande Destruição”, um mal de pele que se incrustou em todos os poros da sociedade brasileira. Esta se deu conta, finalmente, das fontes do mal, e se prepara para expulsar pelas vias legais os sabotadores da economia e os fraudadores da moralidade. As causas do mal de pele já foram identificadas; as prescrições estão a caminho, e esperamos que rapidamente.
Mas, a persistirem os sintomas do mal, recorra-se aos cuidados de um médico. Os bons médicos, nas democracias, costumam receitar a cura constitucional: na hipótese de mal crônico, a prescrição é sempre a via eleitoral. Em caso de ataques agudos, ou de câncer ameaçando metástase – como um procurador já alertou –, a solução tem de ser mais drástica, para se extirpar o mal em toda a sua extensão. Nesses casos, o Congresso e os tribunais superiores são chamados a operar o paciente. Depois, no pós-operatório, economistas sensatos costumam ser bons enfermeiros, desde que eles não tenham sido contaminados pelo keynesianismo de botequim que sempre caracterizou os economistas aloprados do lulo-petismo. Adiante, minha gente: mais um pouco e acabamos com a coceira...

Paulo Roberto de Almeida
[Filadélfia, 1 de agosto de 2015, 3 p.]

sábado, 1 de agosto de 2015

Historia economica global: programa de disciplina em mestrado e bibliografia - Paulo Roberto de Almeida


HISTÓRIA ECONÔMICA GLOBAL

Professor Paulo Roberto de Almeida
Disciplina a ser desenvolvida no curso de Mestrado em Economia online
da Universidad Francisco Marroquin, sob administração do
Centro de Estudios Superiores Online de Madrid Manuel Ayau (http://economia.ommayau.com/pt/index.php/P%C3%A1gina_principal).


Descrição:
O conteúdo geral da matéria é a história econômica global, a partir da baixa Idade Média até o período recente, com especial atenção aos progressos das sociedades ocidentais e à experiência de desenvolvimento econômico na América Latina e, em particular, no Brasil.
Objetivos:
O aluno adquirirá a capacidade de:
·        Traçar um relato sobre o itinerário econômico das sociedades ocidentais nos últimos dez séculos.
·        Adquirir uma visão de conjunto da história econômica da Europa ocidental e do hemisfério americano.
·        Entender o nascimento e o desenvolvimento histórico do capitalismo e as transformações que ele provocou.
·        Organizar um mapa mental dos progressos que tornaram possível o mundo atual.
Compreender como se chegou ao momento presente e porque o mundo se configura do modo como o faz.


CONTEÚDO
SESSÃO 1 (VIDEOCONFERÊNCIA): O RENASCIMENTO ECONÔMICO  EUROPEU DO FIM DA IDADE MÉDIA
Descrição: A economia de Europa ocidental deslancha depois da relativa estagnação da alta Idade Média. As cidades renascem, o comércio floresce, assim como a população e a riqueza disponível. Mesmo numa situação de estagnação malthusiana, a Europa experimenta crescimento do produto e transformações tecnológicas. Comércio medieval e rotas marítimas e terrestres.
Conceitos: Comércio internacional, expansão demográfica, mudanças tecnológicas.
Objetivos: Explicar como uma região atrasada do globo, que estava há vários séculos dominada pela pobreza mais absoluta, deslancha economicamente e se prepara para, ao final de um lento processo de adaptações e transformações, colocar-se na vanguarda econômica, tecnológica e militar do mundo.
Leituras recomendadas: Diamond, Jared (1997). Guns, Germs, and Steel: The Fates of Human Societies. Nova York: W. W. Norton; Landes, David S. (1998). The Wealth and Poverty of Nations: why some are so rich and some so poor. Nova York: Norton; Clark, Gregory (2007). A Farewell to Alms: A Brief Economic History of the World. Princeton, NJ: Princeton University Press; Maddison, Angus (2013). The Maddison-Project, http://www.ggdc.net/maddison/maddison-project/home.htm , 2013 version; Maddison, Angus (2010). Historical Statistics of the World Economy, 1-2008 AD; Population, GDP and Per Capita GDP levels and growth rates; disponível: http://www.ggdc.net/maddison/Historical_Statistics/horizontal-file_02-2010.xls. (acesso: 28/03/2015); North, Douglass C. (1981). Structure and Change in Economic History. Nova York: W. W. Norton; North, Douglass C.; Thomas, Robert Paul (1973). The Rise of the Western World: A New Economic History. Nova York: Cambridge University Press; Blackhouse, Roger E. (2002). The Ordinary Business of Life: a History of Economics from the Ancient World to the Twentieth-First Century. Princeton, NJ: Princeton University Press.


SESSÃO 2 (VIDEOCONFERÊNCIA): A EXPANSÃO EUROPEIA
Descrição: Em finais do século XV, com os descobrimentos, a Europa se abre ao mundo formando a primeira rede comercial de alcance global da história. O “novo mundo”, ou seja, o hemisfério americano, é progressivamente integrado aos circuitos mundiais de produção e de comércio que até então compreendiam apenas velhas rotas que se estendiam da Ásia à Europa, no Mediterrâneo e no norte da Europa. Essa ampliação do universo conhecido alterou o equilíbrio mundial por completo. A expansão gera um crescimento econômico e uma riqueza como não se havia visto antes, ao mesmo tempo que o Estado se fortalece. A Europa ascende pela primeira vez à preeminência mundial.
Conceitos: Comércio intercontinental, consolidação do Estado, aparecimento das Américas na economia global.
Objetivos: Explicar quais fatores impulsionaram as nações costeiras da Europa ocidental a lançar-se nos oceanos desconhecidos e como essa decisão constitui a primeira onda de globalização real. Tratar da gênese do Estado moderno.
Leituras recomendadas: Pomeranz, Kenneth (2000). The Great Divergence: China, Europe and the Making of the Modern World. Princeton: Princeton University Press Cipolla, Carlo Maria (1974). História econômica da Europa pré-industrial. Lisboa: Edições 70; Villar, Pierre (2010). O ouro e a moeda na história Lisboa: Publicações Europa América;


SESSÃO 3 (VIDEOCONFERÊNCIA): A ECONOMIA DO MERCANTILISMO
Descrição: A primeira fase dessa expansão dá origem a um mundo bastante diferente do medieval. O Estado consolidou o seu poder sob a forma do absolutismo monárquico, que inventa a “política econômica”. A América se incorpora ao sistema mundial enquanto a China começa seu longo e lento processo de decadência. Na Europa, a acumulação de capital aumenta. Os mercados financeiros se sofisticam, não obstante as práticas mercantilistas, as restrições nacionais e a ilusão metalista.
Conceitos: O Estado toma forma, o poder real se consolida e se impõe.
Objetivos: Explicar como Europa alcança a hegemonia mundial colocando-se na vanguarda em praticamente todas as áreas relevantes. Descrever a concentração e a consolidação dos Estados modernos cuja interferência na economia passará a ser fundamental.
Leituras recomendadas: David Landes, A Riqueza e a Pobreza das Nações; Cameron, Rondo (1997). A Concise Economic History of the World: from paleolithic times to the present. 3ª ed.; New York: Oxford University Press; Bairoch, Paul (1993). Economics and World History: Myths and Paradoxes. Nova York: Wheatsheaf; Beaud, Michel (1981). Histoire du Capitalisme, 1500-1980. Paris: Seuil.


SESSÃO 4 (VIDEOCONFERÊNCIA): A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O NASCIMENTO DA ECONOMIA POLÍTICA
Descrição: Entre o final do século XVIII e princípios do XIX se produz na Grã-Bretanha um processo de crescimento econômico caracterizado por um aumento da produtividade e da renda disponível como não se havia visto em nenhum momento anterior, aumento que se sustentou até a atualidade. Novas concepções econômicas emergem sustentando as liberdades econômicas do novo espírito capitalista.
Conceitos: Novas tecnologias, novas formas de organização. Explosão demográfica, livre-comércio.
Objetivos: Explicar como e porque ocorreu o processo industrial y porque ele aconteceu na Grã-Bretanha. Detalhar as consequências que tal processo acarretou no curto prazo.
Leituras recomendadas: Landes, David S. (1994). Prometeu Desacorrentado: transformação tecnológica e desenvolvimento industrial na Europa ocidental, desde 1750 até nossa época. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Mauro, Frédéric (1976). História Econômica Mundial, 1790-1970. Rio de Janeiro: Zahar; Bairoch, Paul; Lévy-Leboyer, Maurice (1981). Disparities in Economic Development Since the Industrial Revolution. New York: St. Martin’s Press.


SESSÃO 5 (VIDEOCONFERÊNCIA): UM PROCESSO INCONTIDO E INCONTÍVEL: A REVOLUÇÃO SE DISSEMINA
Descrição: Depois das guerras napoleônicas, o modelo econômico inglês se estende à Europa ocidental e à América do Norte, alimentado pela irrupção do carvão e das ferrovias. Isso vem acompanhado de uma inédita explosão demográfica no Ocidente, não comprometida por fomes ou miséria: a Europa passa a “exportar” seus filhos para todos os continentes, especialmente para as Américas. As monarquias absolutas se desmantelam e nasce o Estado liberal, que irá adquirir um papel cada vez mais preponderante. As finanças entram em cena com força inusitada até aquele momento.
Conceitos: Revolução energética e dos transportes, finanças, migrações.
Objetivos: Explicar como e porque a Europa ocidental e a América do Norte se incorporam à revolução industrial e que consequências isso trouxe.
Leituras recomendadas: David Landes, A riqueza e a pobreza das nações; Ferguson, Niall (2008). The Ascent of Money: A Financial History of the World. Nova York: Penguin; Maddison, Angus (1995). Monitoring the World Economy 1820-1992. Paris: OECD; Bernstein, William J. (2008). A Splendid Exchange: How Trade Shaped the World. Nova York: Grove Press; Foreman-Peck, James (1983). A History of the World Economy: International Economic Relations since 1850. Brighton: Wheatsheaf; Osterhammel, Jürgen (2014). The Transformation of the World: A Global History of the Nineteenth Century. Princeton: Princeton University Press; O’Rourke, Kevin; Williamson, Jeffrey (1999). Globalization and History: The Evolution of a 19th Century Atlantic Economy. Cambridge, MA: The MIT Press.


SESSÃO 6 (VIDEOCONFERENCIA): O CIMENTO DO MUNDO MODERNO
Descrição: A partir de 1870 tem lugar nas nações industrializadas o maior processo de crescimento econômico da história, e que se mantém de un modo sustentado durante meio século. Todos os elementos da primeira industrialização são aperfeiçoados, incorporando pela primeira vez inovações substantivas, como o telégrafo. Se produz também um fenômeno inédito: migrações maciças entre os continentes que reposicionam a mão-de-obra y unificam o mundo. O livre-comércio e o Estado regulador se impõem. Apogeu do padrão ouro. A situação da periferia e a inserção da América Latina na economia mundial; o Brasil como fornecedor de matérias primas.
Conceitos: Globalização, a grande empresa, as migrações intercontinentais.
Objetivos: Explicar como a economia mundial vai adquirindo sua forma atual com duas áreas de desenvolvimento econômico bem delimitadas em função de sua participação nessa revolução tecnológica.
Leituras recomendadas: Eichengreen, Barry (1996). Globalizing Capital: a history of the international monetary system. Princeton: New Jersey: Princeton University Press (ed. bras.: A Globalização do Capital. São Paulo: Editora 34, 2002); Frédéric Mauro, História Econômica Mundial, 1790-1970; Prado Jr., Caio (1970). História Econômica do Brasil. 12a. ed.; São Paulo: Brasiliense; Williamson, Jeffrey G. (2011). Trade and Poverty: When the Third World Fell Behind. Cambridge, MA: The MIT Press.; Williamson, Jeffrey G. (2006). Globalization and the Poor Periphery before 1950. Cambridge, MA: The MIT Press; Haber, Stephen (ed.) (1997). How Latin America Fell Behind: Essays on the Economic Histories of Brazil and Mexico, 1800-1914. Stanford: Stanford University Press; Kwarteng, Kwasi (2014). War and Gold: A 500-Year History of Empires, Adventurers, and Debt. Nova York: Public Affairs.


SESSÃO 7 (VIDEOCONFERENCIA): CRESCIMENTO, APESAR DAS CRISES
Descrição: O período compreendido entre 1914 y 1945 foi marcado por duas guerras mundiais, pela ascensão dos totalitarismos de tipo socialista, pela instabilidade global, pela hiperinflação alemã e pela crise de 1929. Apesar disso, o motor do mundo não se detém. A economia começa a ficar dependente da política de forma permanente. Como a América Latina reconfigurou sua inserção na economia mundial a partir da grande depressão; o Brasil na grande depressão e seu fechamento progressivo.
Conceitos: Inflação, quebra de 1929, depressão, protecionismo, economia de guerra.
Objetivos: Descrever a delicada situação mundial dessa época, enfatizando seus efeitos devastadores sobre a economia. Compreender os efeitos da 1a. Guerra Mundial, a crise de 1929 e suas consequências, e as causas econômicas que motivaram a ascensão dos nazistas ao poder. As concepções dirigistas de economia.
Leituras recomendadas: Murphy, Craig N. (1994). International Organization and Industrial Change: global governance since 1850. Nova York: Oxford University Press. Ahamed, Liaquat (2009). Lords of Finance: the bankers who broke the world. Londres: Penguin; Kindleberger, Charles P. (1986). The World in Depression, 1929-1939. Berkeley: University of California Press; Kindleberger, Charles P. (1978). Manias, Panics, and Crashes: A History of Financial Crises. Nova York: Basic Books; Luz, Nícia Vilela (1975). A Luta pela Industrialização do Brasil: 1808 a 1930. 2ª ed.; São Paulo: Alfa-Omega; Malan, Pedro S. e alii (1980). Política Econômica Externa e Industrialização do Brasil, 1939/52. Rio de Janeiro: Inpes; Feinstein, Charles A.; Temin, Peter; Toniolo, Gianni (2008). The World Economy Between the Wars. Nova York: Oxford University Press; Marichal, Carlos (1989). A Century of Debt Crises in Latin America: From Independence to the Great Depression, 1820-1930. Princeton, NJ.: Princeton University Press.


SESIÓN 8 (VIDEOCONFERENCIA): O SOCIALISMO REAL
Descrição: Entre 1917 e a década dos 90 se realiza a maior experiência econômica jamais levada a cabo: o socialismo real. Afeta em seu ponto máximo, durante os anos 70, países e povos de quatro continentes que compreendiam um terço da humanidade. Ascensão e queda do socialismo real; experimentos na América Latina.
Conceitos: Socialismo. Planejamento econômico centralizado. Mercados.
Objetivos: Explicar en que consistiu a economia socialista planificada, como ela foi implantada, como evoluiu com o passar dos anos, como implodiu e que ensinamentos se podem extrair de semelhante experimento.
Leituras recomendadas: Mises, Ludwig von (2006). Socialism: An Economic and Sociological Analysis. Mises Institute; disponível: https://mises.org/library/socialism-economic-and-sociological-analysis; Robert Skidelsky, Robert (1997). The Road From Serfdom: The Economic and Political Consequences of the End of Communism. Nova York: Penguin Books.


SESSÃO 9 (VIDEOCONFERÊNCIA): O GRANDE CONSENSO
Descrição: Entre o final da 2ª Guerra Mundial e a crise do petróleo de 1973 se registra um extraordinário crescimento econômico, acompanhado de grandes inovações e novas tecnologias. Tudo sob o patrocínio dos EUA, que se perfila já como a nova superpotência mundial. Uma espécie de idade do ouro do capitalismo que trazia embutida sua própria maldição. A industrialização substitutiva na América Latina.
Conceitos: Consenso socialdemocrata, Primeiro e Terceiro mundo. Keynesianismo.
Objetivos: Explicar como se produziu um crescimento tão pujante e sustentado no tempo e porque terminou estagnando nos anos 70.  
Leituras recomendadas: Van Der Wee, Herman (1990). Histoire Économique Mondiale, 1945-1990. Louvain-la-Neuve: Academia-Duculot; Abreu, Marcelo de Paiva (org.) (1990). A Ordem do Progresso: cem anos de política econômica republicana (1889-1989). Rio de Janeiro: Campus; Fishlow (2004). Albert. Desenvolvimento no Brasil e na América Latina: uma perspectiva histórica. São Paulo: Paz e Terra; Yergin, Daniel; Stanislaw, Joseph (2002). The Commanding Heights: the Battle for the World Economy. New York: Touchstone Books.

SESSÃO 10 (VIDEOCONFERÊNCIA): O SUPER-CICLO EXPANSIVO
Descrição: A crise dos anos 70 deu lugar a um ciclo expansivo global que foi incorporando novos atores y crescendo durante três décadas para terminar abruptamente na crise financeira de 2008, com todas as suas ramificações. Esse super-ciclo registrou o regresso da economia chinesa no cenário econômico mundial e a emergência de economias periféricas. Crises financeiras e inflacionárias na América Latina: os processos de estabilização na Argentina e no Brasil. Ciclos recorrentes e novas crises.
Conceitos: Bolha creditícia, unificação do mundo.
Objetivos: Explicar a crise dos anos 70 e o modo pelo qual se saiu dela, a recuperação econômica do Ocidente na década seguinte, a incorporação do antigo bloco soviético ao mercado mundial e a irrupção da Ásia como novo e principal ator econômico global para o século XXI. 
Leituras recomendadas: Roubini, Nouriel; Mihm, Stephen (2011). Crisis Economics: A Crash Course in the Future of Finance. Nova York: Penguin Books; Baldwin, Richard (2009). The Great Trade Collapse: Causes, Consequences, and Prospects. Londres: Center for Economic Policy Research, disponível: http://www.voxeu.org/sites/default/files/great_trade_collapse.pdf; Eichengreen, Barry; O’Rourke, Kevin (2010). “A Tale of Two Depressions: what do the new data tell us?”. Vox CEPR’s Policy Portal; disponível: http://www.voxeu.org/article/tale-two-depressions-what-do-new-data-tell-us-february-2010-update; Almeida Jr., Mansueto; Lisboa, Marcos de Barros; Pessoa, Samuel (7/2015).O ajuste inevitável: ou o país que ficou velho antes de se tornar desenvolvido”, disponível: http://bit.ly/1COJRo0; Reinhart, Carmen M.; Rogoff, Kenneth S. (2009). This Time is Different: Eight Centuries of Financial Folly. Princeton, NJ: Princeton University Press; Baer, Werner (1995). A economia brasileira. São Paulo: Nobel; Baumann, Renato (org) (1996). O Brasil e a Economia Global. Rio de Janeiro: Campus-SOBEET; Giambiagi, Fabio; Villela, André; Castro, Lavínia Barros de; Hermann, Jennifer (orgs.) (2005). Economia Brasileira Contemporânea (1945-2004). Rio de Janeiro: Elsevier; Gonçalves, Reinaldo et alii (1998). A Nova Economia Internacional: uma perspectiva brasileira. Rio de Janeiro: Editora Campus; Dias Leite, Antonio (2004). A Economia Brasileira: de onde viemos e onde estamos. Rio de Janeiro: Elsevier.


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METODOLOGIA

Aulas teóricas: Explicações teóricas de temas gerais relacionados com os trabalhos a serem preparados. Também consistirão de apresentações semanais progressivas dos temas teóricos ou conceituais a serem desenvolvidos no decorrer da matéria do curso.
Todas e cada uma das “palestras ou aulas teóricas” do professor serão complementadas pelas contribuições dos alunos: seja com a exposição de seus trabalhos, ou simplesmente com a sua participação nos debates que o professor estimule com a finalidade de ressaltar as diferentes visões acerca de um tema concreto.
Efetivamente, cada uma das “palestras” durará em torno de 45-50’ aos que se seguirão 10’ de perguntas por parte dos alunos. Ao longo do curso se irá construindo uma linha do tempo com os eventos mais relevantes para que se possa visualizar um rápido relato cronológico. A história se constitui da ação humana inscrita no tempo. Se deve saber o que ocorreu, mas também quando.

Trabalho individual: Cada um dos alunos escolherá um tema relacionado com a matéria e o preparará com vistas a escrever a partir dele um artigo de não mais que 12.000 caracteres com espaços para também defendê-lo em público.

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO E DE PONDERAÇÃO

Exercício final: Ensaio que servirá para uma avaliação geral dos níveis de conhecimento adquiridos com o desenvolvimento da matéria no decorrer do curso.

Trabalho individual: O professor avaliará cada um dos trabalhos, tanto em sua versão escrita quanto oral.

A qualificação final do aluno levará em conta não apenas seus conhecimentos finais, como também a sua participação em aula. A nota final será obtida a partir da qualificação do exercício final e do trabalho individual.

O ensaio será de tipo teórico e consistirá de uma reflexão teórica do aluno sobre algum dos temas tratados em aula. Para isso, ele terá que estudar e manejar as diferentes referências bibliográficas que o professor indicará. O ensaio será de três mil palavras e o tema de cada um deles será escolhido a partir de uma lista que o professor proporá em aula na terceira semana do curso. Os temas propostos cobrirão a totalidade da matéria, oferecendo a oportunidade para que os estudantes interessados em temas concretos possam se especializar em algum deles e, assim, realizar seus trabalhos e ensaios sobre esses temas escolhidos.

Cada estudante terá que expor em aula o ensaio preparado. Estas apresentações serão individuais ou em grupo, dependendo do tempo disponível.


FICHA BIOGRÁFICA
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
           
Áreas de estudo:
Historia econômica, Relações econômicas internacionais, história diplomática brasileira, desenvolvimento comparado, economia da América Latina.

Formação acadêmica:
Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Livre de Bruxelas (1975)
Mestre em Planejamento Econômico pela Universidade de Antuérpia (1977)
Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Livre de Bruxelas (1984)

Experiência profissional:
                        É diplomata de carreira desde 1977. Foi professor no Instituto Rio Branco e na Universidade de Brasília, diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI) e, desde 2004, é professor de Economia Política no Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Direito no Centro Universitário de Brasília (Uniceub). Como diplomata, serviu em diversos postos no exterior e na Secretaria de Estado. De janeiro de 2013 até outubro de 2015 foi Cônsul-Geral Adjunto do Brasil em Hartford, Connecticut, EUA. Ministra cursos regulares ou na qualidade de professor convidado em universidades brasileiras e estrangeiras, faz pesquisas em diversas áreas – entre as quais relações internacionais do Brasil e da América Latina, história econômica e desenvolvimento comparado – e tem experiência prática em negociações comerciais internacionais, integração regional e questões financeiras. É editor adjunto da Revista Brasileira de Política Internacional e participa dos comitês editoriais de diversas publicações acadêmicas.

Seleção de livros:
Nunca Antes na Diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Appris, 2014);
Integração Regional: uma introdução (São Paulo: Saraiva, 2013);
Relações internacionais e política externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização (Rio de Janeiro: GEN, 2012);
Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização (Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011);
O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado (Brasília: Senado Federal, 2010);
O estudo das relações internacionais do Brasil: um diálogo entre a diplomacia e a academia (Brasília: LGE, 2006);
Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (São Paulo: Senac, 2001; 2005);
Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas (São Paulo: Paz e Terra, 2002);
O Brasil e o multilateralismo econômico (Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 1999);
Mercosul: Fundamentos e Perspectivas (São Paulo: LTr, 1998).

Seleção de capítulos em livros coletivos:
“The Politics of Economic Regime Change in Brazilian History”, in: Goertzel, Ted and Almeida Paulo Roberto de (eds.), The Drama of Brazilian Politics (Kindle Book, 2014);
“L’historiographie économique brésilienne, de la fin du XIXème siècle au début du XXIème: une synthèse bibliographique”, In: Ferreira, Marie-Jo; Rodrigues, Simele; Rolland, Denis (orgs.): Le Brésil, territoire d'histoire. Historiographie du Brésil contemporain (Paris: L’Harmattan, 2013, p. 93-105);
“A economia do Brasil nos tempos do Barão do Rio Branco”, In: Gomes Pereira, Manoel (Org.): Barão do Rio Branco: 100 anos de memória (Brasília: Funag, 2012, p. 523-563);
“O Bric e a substituição de hegemonias: um exercício analítico (perspectiva histórico-diplomática sobre a emergência de um novo cenário global)”, In: Baumann, Renato (org.): O Brasil e os demais BRICs: Comércio e Política (Brasília: CEPAL-Escritório no Brasil/IPEA, 2010, p. 131-154);
“Evolução do regionalismo econômico e político da América do Sul: dilemas atuais e perspectivas futuras”. In: Danilo Nolasco Cortes Marinho (org.). Brasil e América Latina: colaboração e conflito (São Paulo: Francis, 2009, p. 35-94);
“Planejamento Econômico no Brasil: uma visão de longo prazo, 1934-2006”. In: João Paulo Peixoto (org.): Governando o Governo: modernização da administração pública no Brasil (São Paulo: Editora Atlas, 2008, p. 71-106);
 “A economia política do baixo crescimento econômico no Brasil: um Prometeu acorrentado pela sua própria Constituição”, In: Elizabeth Accioly (org.), O Direito no Século XXI: homenagem a Werter Faria (Curitiba: Editora Juruá, outubro 2007, p. 615-632);
“A formação econômica brasileira a caminho da autonomia política: uma análise estrutural e conjuntural do período pré-independência”, In: Luis Valente de Oliveira e Rubens Ricupero (orgs.), A Abertura dos Portos (São Paulo: Senac-SP, 2007; p. 256-283);
Acordos minilaterais de integração e de liberalização do comércio: Uma ameaça potencial ao sistema multilateral de comércio”, in Sidney Guerra (org.), Globalização: Desafios e Implicações para o Direito Internacional Contemporâneo (Ijuí: Ed. Unijuí, 2006, p. 187-203);
“O Brasil e o processo de formação de blocos econômicos: conceito e história, com aplicação aos casos do Mercosul e da Alca”, In: Eduardo Biacchi Gomes e Tarcísio Hardman Reis (orgs.), Globalização e o Comércio Internacional no Direito da Integração (São Paulo: Aduaneiras, 2005; p. 17-38);  
“Finanças internacionais do Brasil: uma perspectiva de meio século (1954-2004)” in José Flávio Sombra Saraiva e Amado Luís Cervo (orgs.), O crescimento das relações internacionais no Brasil (Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, 2005, 308 p.; p. 231-270);
“Dinâmicas da economia no século XX”, in: Francisco Carlos Teixeira da Silva (org.). O Século Sombrio: uma história geral do século XX (Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2004, p. 47-70);
“As relações econômicas internacionais do Brasil na primeira fase da era republicana (1889-1945)” in Estevão Chaves de Rezende Martins (org.), Relações Internacionais: Visões do Brasil e da América Latina (Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, 2003, p. 153-186).
O Brasil e o sistema de Bretton Woods: instituições e políticas em perspectiva histórica, 1944-2002”, in: Valério Mazzuoli e Roberto L. Silva, O Brasil e os acordos econômicos internacionais: perspectivas jurídicas e econômicas à luz dos acordos com o FMI (São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003; p. 30-64);
“A inserção econômica internacional do Brasil em perspectiva histórica” in Cadernos Adenauer 2, “O Brasil no cenário internacional” (São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2000, p. 37-56);
“OCDE, UNCTAD e OMC: uma perspectiva comparada sobre a macroestrutura política das relações econômicas internacionais” in Paulo Borba Casella e Araminta de Azevedo Mercadante (coords.), Guerra Comercial ou Integração Mundial pelo Comércio? a OMC e o Brasil (São Paulo: Ltr Editores, 1998, p. 149-198);
“A Diplomacia do Liberalismo Econômico: As relações econômicas internacionais do Brasil durante a Presidência Dutra”, in José Augusto Guilhon de Albuquerque (org.), Sessenta Anos de Política Externa Brasileira (1930-1990), vol. I: Crescimento, modernização e política externa (São Paulo: Cultura Editores associados, 1996, p. 173-210).

Artigos sobre a economia internacional e o Brasil:
“O Brasil e o FMI desde Bretton Woods: 70 anos de História”, Revista Direito GV (vol. 10, n. 2, 2014, p. 469-495; ISSN: 1808-2432; link: http://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/artigo-Edicao-revista/05-rev20_469-496_-_paulo_roberto_de_almeida_-_5.pdf);
Brazilian Economic Historiography: an essay on bibliographical synthesis”, História e Economia: Revista Interdisciplinar (vol. 12, n. 1, 1o. semestre de 2014, p. 149-165; ISSN: 1808-5318). Academia.edu (link: https://www.academia.edu/7858303/2479_Brazilian_Economic_Historiography_an_essay_on_bibliographical_synthesis_2013-14_).


Hartford, 29 de julho de 2015.