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domingo, 28 de agosto de 2016

Equivocos arabes com relacao a Israel - Fred Maroun

Equívocos Históricos dos Árabes em suas Interações com Israel
por Fred Maroun
27 de Agosto de 2016
Original em inglês: The Arabs' Historic Mistakes in Their Interactions with Israel
Tradução: Joseph Skilnik
Fonte: Gatestone Institute
https://pt.gatestoneinstitute.org/8790/arabes-israel-equivocos

Nós árabes gerimos nosso relacionamento com Israel de maneira cruel, mas o pior de tudo é a contínua situação dos palestinos. Nosso pior erro foi não ter aceito o plano de partilha das Nações Unidas de 1947.

Talvez não se deva iniciar uma guerra se não se estiver preparado para os resultados de uma possível derrota.

Os judeus não mantêm os árabes em acampamentos, nós sim.

A Jordânia integrou alguns refugiados, mas não todos. Nós poderíamos ter provado que nós árabes somos um povo maravilhoso e nobre, mas mostramos ao mundo, e continuamos mostrando, que o nosso ódio aos judeus e a nós mesmos é de longe muito maior do que qualquer conceito que implique em solidariedade árabe.

Esta é a primeira parte de um artigo dividido em duas partes. A segunda parte irá examinar as alternativas de hoje para nós árabes.

No estado atual das relações entre o mundo árabe e Israel vemos uma colcha de retalhos de hostilidades, paz tensa, cooperação limitada, tranquilidade e violência. Nós árabes gerimos nosso relacionamento com Israel de maneira cruel, mas o pior de tudo é a contínua situação dos palestinos.

Primeiro Equívoco

Nosso primeiro equívoco durou séculos, ocorrendo bem antes da declaração de independência de Israel, em maio de 1948. Consistiu em não reconhecer os judeus como iguais a nós.

Conforme documentado por um proeminente estudioso americano da história judaica no mundo muçulmano, Mark R. Cohen, naquela época "os judeus compartilhavam com os demais não muçulmanos o status de dhimmis (não muçulmanos que pagam por proteção e obedecem leis humilhantes, distintas, para serem tolerados nas regiões controladas pelos muçulmanos)... Não era permitido construir novas casas de culto e as antigas não podiam ser reformadas. Eles deviam se comportar discretamente na presença de muçulmanos. Em suas práticas litúrgicas eles tinham que honrar a supremacia do Islã. Eram obrigados a se diferenciar dos muçulmanos no tocante às roupas e tinham que se abster de usar insígnias. Eles também eram proibidos de ocupar cargos de autoridade no governo muçulmano".

Em 1º de março de 1944, enquanto os nazistas massacravam seis milhões de judeus, bem antes de Israel declarar a independência, Haj Amin al-Husseini, então o Grande Mufti de Jerusalém declarou na Rádio Berlim: "árabes, levantem-se como se fossem uno e lutem pelos seus direitos sagrados. Matem os judeus onde quer que vocês os encontrem. Isso agrada a Deus, história e religião. Isso salva suas honras, Deus está com vocês."

Se não tivéssemos cometido esse erro, talvez nos beneficiássemos de duas maneiras.

Provavelmente os judeus teriam permanecido em maior número no Oriente Médio muçulmano e teriam desenvolvido a civilização do Oriente Médio ao invés de desenvolver as civilizações dos lugares para onde fugiram, sobretudo a Europa e posteriormente os Estados Unidos.

Em segundo lugar, se os judeus se sentissem seguros e aceitos entre os árabes do Oriente Médio, talvez não tivessem sentido a necessidade de criar um estado independente, o que teria nos poupado de nossos equívocos subsequentes.

O Pior Equívoco

Nosso segundo e pior erro foi não ter aceito o plano de partilha das Nações Unidas de 1947. A Resolução 181 da ONU forneceu o fundamento legal para o estabelecimento de um estado judeu e um estado árabe, dividindo o que costumava ser o Mandato Britânico da Palestina (controlado pelos britânicos).

Conforme divulgado pela BBC, a resolução estipulava:

"Um estado judeu cobrindo 56.47% da área do Mandato Britânico da Palestina (excluindo Jerusalém), com uma população de 498.000 judeus e 325.000 árabes; um estado árabe cobrindo 43.53% do Mandato Britânico da Palestina (excluindo Jerusalém), com 807.000 habitantes árabes e 10.000 habitantes judeus; um regime de tutela internacional em Jerusalém, onde a população era formada de 100.000 judeus e 105.000 árabes."

A despeito da terra alocada ao estado judeu ter sido ligeiramente maior do que a terra alocada ao estado árabe, a maior parte da região judaica era totalmente desértica, Negev e Arava, com as terras férteis destinadas aos árabes. O plano também era vantajoso para os árabes por duas outras razões:

O estado judeu tinha apenas uma minúscula maioria de judeus, o que teria dado aos árabes praticamente a mesma influência dada aos judeus na condução do estado judeu, mas o estado árabe era quase que totalmente árabe, sem nenhum benefício político aos judeus que nele habitavam.
Cada estado proposto consistia de três áreas mais ou menos desconexas, resultando em forte interdependência geográfica entre os dois estados. Se os dois estados tivessem relações amigáveis, eles provavelmente trabalhariam em diversos aspectos como uma federação. Na federação, os árabes teriam uma maioria esmagadora.
Em vez de aceitarmos um presente de plano como este quando ainda tínhamos condições, nós árabes resolvemos que não podíamos aceitar um estado judeu e ponto final. Em maio de 1948, Azzam Pasha, secretário-geral da Liga Árabe, respondendo à proposta da nova área judaica da partilha: "esta será uma guerra de extermínio, um massacre memorável, que será lembrado como são os massacres mongóis e as Cruzadas". Iniciamos uma guerra destinada a erradicar o novo estado em sua incipiência, mas perdemos e o resultado de nosso erro foi um estado judeu muito mais forte:

A maioria judaica do estado judeu cresceu de forma dramática devido à troca de populações que se sucedeu, muitos árabes fugindo da guerra em Israel e muitos judeus fugindo de um mundo árabe hostil para se juntarem ao novo estado.
Os judeus adquiriram mais terras durante a guerra que nós iniciamos, resultando em linhas de armistício (hoje chamadas de Linha Verde ou fronteira pré-1967), que deram a Israel uma parte das terras anteriormente alocadas ao estado árabe. O estado judeu também adquiriu melhor contiguidade, ao passo que as porções árabes ficaram divididas em duas partes: (Gaza e Cisjordânia) separadas por quase 50 quilômetros.
Talvez não se deva iniciar uma guerra se não se estiver preparado para os resultados de uma possível derrota.




Em maio de 1948, Azzam Pasha (direita), secretário-geral da Liga Árabe, reagiu à proposta da nova área judaica da partilha: "esta será uma guerra de extermínio, um massacre memorável, que será lembrado como são os massacres mongóis e as Cruzadas."


Mais Guerras e Mais Equívocos

Após a Guerra de Independência (nome que os judeus deram à guerra de 1947-1948), Israel ficou, para todos os efeitos práticos, confinado às terras dentro da Linha Verde. Israel não tinha autoridade ou demanda sobre Gaza ou a Cisjordânia. Naquela época nós árabes tínhamos duas opções se quiséssemos fechar um acordo de paz com Israel:

Nós poderíamos ter incorporado Gaza ao Egito e a Cisjordânia à Jordânia, proporcionando aos palestinos cidadania em um dos dois países árabes relativamente fortes, tanto numérica quanto geograficamente mais fortes que Israel.
Poderíamos ter criado um novo estado em Gaza e na Cisjordânia.
Mas preferimos optar por continuar as hostilidades com Israel. Na primavera de 1967 formamos uma coalizão para atacar Israel. Em 20 de maio de 1967, o Ministro da Defesa da Síria Hafez Assad declarou: "chegou a hora de travarmos uma guerra de aniquilação." Em 27 de maio de 1967, o Presidente do Egito Abdul Nasser declarou: "nosso objetivo fundamental é a destruição de Israel". Em junho, em apenas seis dias Israel nos impôs a derrota que nos humilhou perante o mundo. Na guerra, perdemos muito mais território, incluindo Gaza e Cisjordânia.

Após a guerra de 1967 (guerra que os judeus chamam de Guerra dos Seis Dias), Israel nos ofereceu território em troca da paz, oferecendo-nos assim a oportunidade de nos recuperarmos do equívoco da Guerra dos Seis Dias. Respondemos com as Resoluções de Cartum,afirmando: "não à paz com Israel, não ao reconhecimento de Israel e não às negociações com Israel".

Não tendo aprendido a lição de 1967, formamos outra coligação em outubro de 1973 e tentamos de novo destruir Israel. Alcançamos algumas conquistas, mas depois a maré mudou e fomos derrotados mais uma vez. Após a terceira humilhante derrota, nossa coligação contra Israel ruiu e o Egito e a Jordânia decidiram assinar um acordo de paz com Israel.

Os outros árabes permaneceram obstinadamente contrários à existência de Israel, até mesmo a Síria que, como o Egito e a Jordânia, havia perdido território para Israel na Guerra dos Seis Dias. Hoje Israel ainda mantém esse território e não há nenhuma perspectiva real dele voltar para as mãos da Síria; recentemente o Primeiro Ministro de Israel declarou que "Israel jamais deixará as Colinas de Golã".

A Tragédia dos Palestinos

Nossos equívocos mais repreensíveis e mais trágicos se resumem na maneira que nós árabes tratamos os palestinos desde a declaração da independência de Israel.

Os judeus de Israel festejaram a vinda de refugiados judeus dos países árabes e muçulmanos para que se juntassem à comunidade israelense, independentemente do custo ou da dificuldade em integrar pessoas com backgrounds totalmente heterogêneos. Israel diligentemente integrou refugiados de terras longínquas, incluindo Etiópia, Índia, Marrocos,Brasil, Irã, Ucrânia e Rússia. Com isso eles demonstraram o poderoso vínculo que une os judeus. Ao mesmo tempo nós também tivemos a oportunidade de mostrar a ligação que une os árabes, mas em vez de darmos boas-vindas aos refugiados árabes da guerra de 1947-1948, n&oa cute;s os confinamos em campos, com rigorosas restrições na vida do dia a dia.

Conforme relatado pela Anistia Internacional, no Líbano "os palestinos continuam sofrendo discriminação e marginalização no mercado de trabalho, o que contribui para os altos índices de desemprego, baixos salários e péssimas condições de trabalho. Recentemente as autoridades libanesas suspenderam a proibição dos palestinos de trabalharem em 50 dos 70 empregos a eles vetados, os palestinos continuam a enfrentar obstáculos em achar emprego mesmo naqueles segmentos. A falta de perspectiva em encontrar emprego adequado, leva a um alto índice de abandono escolar de alunos palestinos, que também têm acesso limitado ao ensino médio público. A consequente miséria é agravada pelas restrições impos tas de acesso aos serviços sociais".

No entanto, nem o Líbano e nem Síria integraram os refugiados que haviam vivido anteriormente a poucos quilômetros de suas fronteiras e que compartilhavam praticamente as mesmas culturas, línguas e religiões. A Jordânia integrou alguns refugiados, mas não todos. Nós poderíamos ter provado que nós árabes somos um povo maravilhoso e nobre, mas mostramos ao mundo, e continuamos mostrando, que o nosso ódio aos judeus e a nós mesmos é de longe muito maior do que qualquer conceito que implique em solidariedade árabe. Vergonhosamente para nós, sete décadas após os refugiados palestinos terem fugido de Israel, seus descendentes continuam sendo considerados refugiados.

A pior parte no tocante à forma como temos tratado os refugiados palestinos é que mesmo na Cisjordânia e em Gaza, há até hoje uma distinção entre palestinos refugiados e palestinos autóctones. Naqueles territórios, segundo os levantamentos de 2010 fornecidos peloPalestinian Refugee ResearchNet da Universidade de McGill, 37% dos palestinos na Cisjordânia e em Gaza vivem em campos! Gaza tem oito campos de refugiados palestinos e a Cisjordâniadezenove. Os judeus não mantêm os &aacut e;rabes em acampamentos, nós sim. O presidente palestino Mahmood Abbas quer um estado nesses territórios, mas nem sequer temos condições de levá-lo a sério, visto que ele deixa os refugiados palestinos sob sua autoridade em campos e não os integra aos demais palestinos. O absurdo dessa situação é somente comparável à sua insensibilidade.

Em que Pé Estamos Agora

Devido aos nossos próprios equívocos, nosso relacionamento com Israel hoje é um fracasso. A única força da nossa economia é o petróleo, um recurso perecível e, com o fracking, está diminuindo de valor. Não fizemos o suficiente para nos prepararmos para o futuro quando precisaremos de criatividade e produtividade. De acordo com a Foreign Policy Magazine: "embora os governos árabes tenham reconhecido, há muito tempo, a necessidade de procurar alternativas à excessiva dependência dos hidrocarbonetos, eles tiveram pouco sucesso em colocá-las em prática. ... Até a economia dos Emirados Árabes Unidos, um dos países mais diversificados do Golfo, é extremamente dependent e das exportações de petróleo".

O Business Insider classificou Israel como o terceiro país mais inovador do mundo em 2015. Países de todo o mundo se beneficiam da criatividade de Israel, incluindo países remotamente distantes e adiantados como o Japão. Mesmo assim esnobamos Israel, força motriz de inovação e tudo isso acontece nas nossas fronteiras.

Também fracassamos em não aproveitar a genialidade militar de Israel para nos ajudar a combater novos e devastadores inimigos como o ISIS.

O pior de tudo, os palestinos, parte do nosso próprio povo, estão dispersos -- divididos, desiludidos e completamente incapazes de recuperarem o projeto nacional que nós sequestramos debaixo dos seus narizes em 1948 e que, desde então, o desfiguramos a ponto de não o reconhecermos mais.

Dizer que temos que mudar nossa abordagem em relação a Israel é uma minimização. Há mudanças fundamentais que nós mesmos devemos realizar, e temos que encontrar coragem e força moral para executá-las.

Os judeus não mantêm os árabes em acampamentos, nós sim.

Fred Maroun, árabe com viés de esquerda radicado no Canadá, autor de artigos opinativos para a New Canadian Media, entre outros veículos de mídia. De 1961 a 1984 residiu no Líbano.

Sanjay Subrahmanyan: o grande historiador do Imperio Portugues (Expresso, Portugal)


Grato a meu amigo André Eiras pelo envio desta grande, excepcional entrevista com alguém que reputo ser o maior historiador "português" da atualidade, da presença ocidental na Índia, e no Oriente em geral (e vice-versa), e fino analista dos interstícios de intercâmbios culturais (e outros) entre os grandes impérios que existiram nos últimos dez séculos (e não só os ocidentais), já que o primeiro globalizador, antes de Colombo, foi exatamente Gengis Khan, que como no caso português partiu de um pequeno povo sem recursos para fazer a história mundial.
Paulo Roberto de Almeida 

Sanjay Subrahmanyam: “O império português era um império em rede” 
Expresso, 27.08.2016


NUNO BOTELHO
Considerado um dos grandes historiadores indianos e — pasme-se — um especialista sobre a presença portuguesa na Índia, tem vários livros publicados e é um poço sem fundo a falar sobre esta matéria 

Texto

Fotos

Formou-se em Economia, mas é quando faz a tese de doutoramento que a sua vida se cruza com a dos portugueses de outrora e acaba por mergulhar na História. Como ele diz, esta ciência é uma “casa aberta”, aonde se chega por várias portas. Hoje leciona na Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), onde passa oito a nove meses por ano e ensina História em geral. Durante o resto do tempo faz cursos no Collège de France. Terminou agora um livro sobre a construção europeia na Índia, como esta é vista pelos europeus entre o século XV e XVIII, onde mais uma vez fala dos portugueses, mas também dos holandeses, franceses e ingleses. Fala português na perfeição, com um leve sotaque que ecoa do brasileiro, reminiscência do seu primeiro professor, um brasileiro da Universidade de Deli.
A sua área principal de interesse tem muito a ver com a presença dos europeus na Índia...
Mas não é a única. Isso aconteceu porque, depois de me formar e fazer o mestrado em Economia, resolvi fazer uma tese de doutoramento em História Económica, num tema que tinha a ver com o comércio no oceano Índico. Para fazer este trabalho, tive de consultar fontes europeias e outras, acabei por entrar neste campo e fui por aí fora.
Como é que um economista se torna um historiador?
É difícil de dizer. Um historiador não tem uma formação bem definida. A história é uma casa aberta, como costuma dizer-se, podemos lá chegar de vários lados, a partir da economia, da antropologia, da literatura. Eu, por acaso, vim da economia. Para criar um historiador, não é necessário ter uma formação ‘dura’, do tipo matemático.
O principal ofício de um historiador é lembrar?
Não. Para mim, não é necessariamente acreditar na memória, ao contrário, é jogar contra ela, porque muitas vezes a memória é falsa. Dizemos frequentemente que é necessário valorizar a memória, mas esse não é o trabalho de um historiador, quanto muito é o de uma comunidade ou de um qualquer grupo de pessoas. Um historiador tem de jogar contra a memória, para ver como ela foi construída, porque também este é um processo histórico.
Diz-se que a história é feita pelos vencedores, pelos que ficam.
Sim e não. Eu diria que a ideia é feita com base no que sobrevive, e não é claro que isso seja sempre controlado pelos vencedores.
Como surgiu o seu interesse pela presença portuguesa na Índia?
Não foi complicado. Quando estava a fazer a minha tese na Universidade de Deli, na Índia, comecei a trabalhar com uma série de línguas e arquivos. Passei cerca de um ano na Europa, há mais de 30 anos, em Haia, Londres, Portugal, entre outros países. O meu objetivo era escrever sobre a história económica do oceano Índico, e a minha ideia era que em todos estes arquivos haveria material para abordar esta história de outra maneira. Acabei por ter experiências diferentes nestes países e fiquei um pouco mais interessado nas fontes portuguesas por várias razões, e uma delas foi porque achei que naquela altura a historiografia portuguesa precisava de um certo tipo de intervenção. Amigos portugueses encorajaram-me a escrever um livro sobre o império português [“O Império Asiático Português, 1500-1700. Uma História Política e Económica”, 1995, Difel]. Achei que havia desenvolvimentos na historiografia portuguesa que eram completamente desconhecidos e quis também fazer um pouco o papel de intermediário entre a historiografia portuguesa e a que existe em inglês. Foi assim que acabei por me interessar mais pelos portugueses.
Achou que o mundo não conhecia essas fontes?
Um pouco por causa do Estado Novo, havia poucos estrangeiros a fazer pesquisa em Portugal, e o resultado foi que havia toda uma produção portuguesa dos anos 50 e 70 que era quase desconhecida fora de Portugal. Os outros, americanos, ingleses, franceses, não chegaram a ler esta produção, com algumas exceções, como é o caso do historiador Vitorino Magalhães Godinho, que era muito conhecido. Jaime Cortesão, António Sérgio, Duarte Leite, sim, mas estou a falar de pessoas que começaram a produzir nesses anos e em termos de documentos eram desconhecidos. Sob este aspeto, achei que era uma ocasião interessante para fazer uma síntese entre as minhas próprias pesquisas e as que tinham sido feitas por esta geração de portugueses. É um pouco a ideia do livro sobre o império português. Por outro lado, naquela altura, finais dos anos 80 e princípios dos 90, havia uma grande abertura, os historiadores portugueses eram muito abertos, convidaram-me para dar cursos, o que foi completamente fora do comum. Não era a atitude dos holandeses, por exemplo, que não gostavam de abrir as portas aos estrangeiros. Sobretudo os asiáticos — indianos e indonésios — não têm hipóteses de entrar na universidade holandesa para dar cursos e explicar qual é o seu ponto de vista sobre, por exemplo, a presença holandesa nesses territórios.
Eles controlam a História...
Sim. Em Portugal havia uma abertura que não existia na Holanda. Também passei pelos arquivos deste país, mas para eles o facto de eu estudar holandês e andar a mexer nos seus arquivos não tinha nenhum interesse. A sua atitude era sempre de autossuficiência.
Os portugueses tiveram a atitude contrária?
Sim, o que foi interessante e até sedutor.
A partir da altura em que se interessa pelo império português e até se torna um especialista na matéria, como vê a aventura portuguesa, ou seja, como é que uma nação de pouca gente e tão pobre se lança nos Descobrimentos?
Não há uma explicação simples. Mas na História há muitos casos de povos ‘atrasados’ que chegaram a criar grandes impérios. O mais conhecido é, por exemplo, o dos mongóis, que nos séculos XII-XIII, na época de Gengis Khan, criaram um que ia da China ao Mediterrâneo. Era um povo bastante pequeno, com poucos recursos e pouca sofisticação em termos de cultura de corte. Também acontece que, no jogo entre os corpos políticos mais fortes e os mais atrasados, nem sempre são os mais fortes que ganham. Foi o que aconteceu com os mongóis e, de um certo ponto de vista, com os portugueses. Há uma teoria em sociologia, chamada “A vantagem de ser atrasado”, que explica isso.


NUNO BOTELHO

Como é?
Veja-se o caso dos Estados Unidos no final do século XVIII, uma nova nação que foi criada e que não tinha vantagens em relação aos poderes europeus. Como é que, nessa altura, esta nação, que não parece a mais sofisticada nem ter os intelectuais mais brilhantes em comparação com as grandes potências da época, consegue um século depois construir um país com aquela dimensão? Porque tem uma espécie de vontade coletiva de ultrapassar os outros, que estão mais avançados.
Foi isso que aconteceu em Portugal?
É um dos aspetos a referir. No século XVI, os portugueses estão sempre a olhar para Castela. Esta rivalidade, bem como com os franceses e os italianos, de estar sempre a jogar contra estes três poderes vizinhos é fundamental. É neste contexto que se define o seu império.
Decidindo avançar para o norte de África e, a partir daí, para o resto do mundo?
O norte de África tem mais a ver com os castelhanos. Mas relativamente à rota das especiarias tem a ver com os italianos, Veneza e Génova. Naquele momento, o reino de Portugal era capaz de utilizar outros poderes, havia até muitos italianos, sobretudo florentinos, venezianos e genoveses, que trabalhavam para os portugueses.
Portugal era na época um polo de atração de conhecimento científico...
Científico, comercial e religioso. O padroado português do Oriente fazia parte da Coroa portuguesa, mas tinha, por exemplo, uma presença muito forte de italianos na Companhia de Jesus.
Pensa que a descoberta da América por Cristóvão Colombo, em 1492, precipitou a decisão da viagem de Vasco da Gama à Índia?
Pode ter acontecido o contrário: ter sido atrasada por causa de Colombo. Só depois do Tratado de Tordesilhas [1494] é que os portugueses vão recomeçar. Pode dizer-se que Colombo cria uma grande confusão ao voltar com a história estúpida de ter chegado à China. D. João II, que já estaria a preparar as coisas tendo em vista a rota da Índia, teve de parar e tratar daquele assunto e só depois reiniciar os preparativos. Há um período de dez anos que medeia entre as viagens de Bartolomeu Dias [que dobra o cabo das Tormentas, ou da Boa Esperança, em 1488] e Vasco da Gama. Provavelmente não foi por causa de Colombo que os portugueses se lançaram na viagem, teriam feito isso antes, mas a confusão criada por Colombo de ter descoberto as Índias Ocidentais deve ter atrasado um pouco o processo. É uma especulação, mas há indicações que vão nesse sentido.
O seu livro sobre Vasco da Gama [“A Carreira e a Lenda de Vasco da Gama”, 1998, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses] causou grande polémica, em parte porque foi contra o mito [Sanjay Subrahmanyam foi acusado de fazer um ‘retrato’ pouco abonatório do herói português e de ferir os sentimentos nacionalistas, por ter desmontado alguns estereótipos existentes e apesar de se ter baseado em fontes portuguesas da época]...
É um pouco isso, mas também tem a ver com a minha identidade indiana. As mesmas coisas foram mais tarde ditas por portugueses e passaram sem qualquer polémica.
E o que é que sobrou dos portugueses na Índia, onde estiveram durante quatro séculos e meio?
A grande presença é nos séculos XVI e XVII. A partir de 1700, a presença é muito limitada, há feitorias e fortalezas, os portugueses controlam essencialmente Goa, Damão e Diu e pouco mais, e sobretudo Goa. Muita gente na Índia pensa, aliás, nos portugueses relacionando-os com Goa. Mas há um impacto mais complexo e subterrâneo, uma presença mais antiga, com influência na religião, na vida quotidiana, na cozinha, em certos costumes, na vida cultural da Índia...
Como por exemplo?
Em Bengala, na costa nordeste do subcontinente indiano, uma região muito afastada de Goa, portanto, havia uma presença portuguesa importante, embora não oficial, porque os que lá estavam eram sobretudo os chamados “lançados”, os renegados, pessoas com problemas com a justiça ou que se tinham convertido ao Islão, enfim, que estavam basicamente fora do sistema português. Há hoje um debate entre os historiadores sobre uma série de coisas: por exemplo, os bengalis gostam muito de sobremesas, mas têm sobremesas que não existem em nenhuma outra parte da Índia, porque são feitas à base de leite. É muito difícil demonstrar qual é a sua origem, quando foram inventadas, mas há quem diga — e com razão — que têm influência portuguesa. Pode também falar-se de certas músicas: na Índia e no Sri Lanka, o antigo Ceilão, há um tipo de música que se chama “baila”, muito típico, e que provavelmente tem a ver com a presença portuguesa. Ora, os portugueses foram expulsos de Ceilão em 1658.
Disse que o historiador tem por vezes de ir contra a memória. Vê-se como um “desconstrutor de mitos”, que foi a acusação que lhe fizeram relativamente a Vasco da Gama? E como é que os indianos veem esta figura histórica?
Essa imagem passou pelos britânicos, que tinham uma certa visão de Vasco da Gama no século XIX. Achavam que ele tinha sido seu antecessor, que abrira o caminho depois seguido por outros, entre eles os britânicos, que chegam à Índia depois de 1600. Sob este ponto de vista, há uma linha direta entre Vasco da Gama, a descoberta da Rota do Cabo e o império britânico. Ao ensinarem aos indianos a História do mundo, os britânicos dizem que a presença europeia na Índia começa com Vasco da Gama, mas que eles — britânicos — foram os seus verdadeiros sucessores, porque fizeram um ‘melhor império’, já que não tinham o problema dos católicos. Vasco da Gama é o primeiro, mas não é capaz de construir o ‘bom império’, em suma. A elite indiana de certo modo ‘engoliu’ este discurso de que os dois homens mais importantes da História do mundo eram Vasco da Gama, de um lado, e Cristóvão Colombo, do outro.
E pelos vistos com o mesmo raciocínio...
Precisamente com a mesma sequência de raciocínio: os espanhóis foram os primeiros a chegar à América do Norte, mas não souberam construir um verdadeiro império, foi preciso chegarem os ingleses. O interessante é que na época do movimento nacionalista indiano, entre os anos 20 e 40 do século passado, que precedem a independência, há uma série de escritores que falam sobre Vasco da Gama dizendo que ele era um homem muito duro e não refinado, mas ao mesmo tempo muito importante, contestando por isso de certa maneira a tese dos britânicos. Há até um historiador indiano nacionalista que inventou a fórmula “A época de Vasco da Gama”, segundo a qual ela começou em 1498 e durou até 1950, só acabando com a independência da Índia e a criação da China comunista


NUNO BOTELHO

O que é que ele quis dizer?
Que a relação entre mar e terra passou a ser outra. Durante 450 anos é o poder marítimo que domina a relação com o poder terrestre, e isso acaba, tal como os europeus vão perder para os asiáticos, que passarão a dominar o mundo. Mas aceitam que tenha havido uma época de Vasco da Gama, em que este é que é o símbolo dos europeus. Mais do que a pessoa e o homem, foi transformado em símbolo.
De certa maneira, também é um mito para os indianos.
Totalmente. É isso que digo no último capítulo do meu livro. Nos livros da escola secundária, escritos em hindi, a representação de Vasco da Gama é a de uma espécie de super-homem.
Mas na altura não.
No século XVI tem uma imagem mais diversa e complicada. No meu livro tentei mostrar que era visto como um político, um homem que agia de modo vincadamente político. Há momentos interessantes na sua carreira, entre 1518 e 1519, quando está muito dececionado com o rei D. Manuel e ameaça passar-se ‘para o outro lado’, para Espanha, para explicar a Carlos V o que devia fazer para criar um império asiático. Nessa altura, o rei dá-lhe o título de conde da Vidigueira. Foi mais ou menos o jogo de Fernão de Magalhães, mas como este era menos importante o rei não cedeu. Já Vasco da Gama tinha um certo prestígio, e os portugueses não podiam deixar que ele se passasse para o inimigo.
O nome de Vasco da Gama engloba não só os portugueses como os europeus, fazendo por isso parte da história da Ásia. Nesse sentido, houve um império português na Ásia?
Há um debate entre historiadores que pensam que um império deve ser uma forma de controlo terrestre, e sob este ponto de vista há quem diga que o império dos portugueses era no Brasil e não na Ásia, onde não havia territórios importantes sob controlo. Eu entendo que há vários modelos de império no mundo antigo, e os portugueses têm uma visão de império que tem menos a ver com o modelo romano e mais com o fenício ou o grego. Um império disperso que não tem necessariamente um controlo administrativo importante de territórios. É um tipo de império em rede.
A “História conectada” é o seu mais recente estudo. O que é?
É uma ideia surgida no final dos anos 90, que destaca o facto de, por razões puramente acidentais, haver campos historiográficos separados. Por exemplo, há pessoas a trabalhar sobre a história dos portugueses na Índia no século XVI, em diversas faculdades, e trabalham essencialmente sobre a presença portuguesa. Ao mesmo tempo, sabemos que no interior da Índia há outras histórias, que se fazem com outras fontes, como é o caso do império mongol, onde por razões de competência linguística ou outras quase ninguém trabalha. Achei que seria interessante um outro tipo de historiografia, que faria a ligação entre estas historiografias separadas, daí o termo ‘conectada’. É um método. Como fazer para combinar estas histórias distintas e separadas? É a História conectada — tratar no mesmo momento as histórias que são separadas por razões meramente convencionais. Não tem nenhum sentido científico, só por acaso estão separadas, porque ocorreram simultaneamente.
Que tipo de objeto histórico emerge dessas conexões?
Coisas muito diferentes. Por exemplo, Garcia de Orta, que era judeu, estudou em Salamanca, foi para a Índia talvez nos anos 1530, como médico passou muito tempo nas cortes muçulmanas da Índia e finalmente escreveu “Os Colóquios”. É difícil dizer coisas concretas sobre ele, não há muita documentação, mas podemos reconstituir o contexto da vida dos sultanatos daquela época, qual era o tipo de saber. É um exercício de um certo tipo de história e ciência, que permite saber algo mais de Garcia de Orta do que a sua presença no império português. Outro exemplo: acabei de escrever um livro sobre a história da pintura, da arte, e sobre os intercâmbios entre a arte indiana e europeia. Poucos sabem que Rembrandt copiou 25 miniaturas mongóis, e penso ser interessante tentar saber porquê. Agora sabemos que o fez porque, como não podia observar diretamente o mundo antigo, uma maneira de o fazer era observar o mundo oriental. Ele achava que a linguagem do corpo que existia no Oriente, no império mongol, era semelhante e que o ajudava, por exemplo, a fazer uma pintura de Abraão.
Falando sobre os mitos: há um mito português sobre Vasco da Gama, assim como há um mito indiano. O primeiro vê-o como um grande herói, o segundo...
…Também o vê como um grande herói, embora com alguns aspetos negros. Mas é um herói, porque trouxe a Europa até à Índia e transformou a História do mundo.
Diz-se que os portugueses foram pioneiros da globalização, que conectaram o mundo. Foi assim?
É uma maneira de justificar o passado em termos do presente, quer dizer, de usar o vocabulário da moda do presente para justificar algo que aconteceu no passado. Também posso dizer que Gengis Khan foi um precursor da globalização.
Mas os portugueses, de facto, conectaram a Índia com a América.
É verdade que aquele momento é interessante em relação à época anterior. Os séculos XIV e XV representam um certo tipo de mundo em que há formas de intercâmbio muito limitadas. Tudo isso se transformou entre 1450 e 1580, e os portugueses, entre outros, desempenharam um papel. Mas não acho interessante dizer quem teve um papel maior ou menor.
Qual é a razão do declínio do império português da Índia?
Os portugueses tinham recursos limitados, preferiram concentrá-los no Atlântico, no Brasil, e não lhes era possível estenderem-se em todo o lado. Por outro lado, os holandeses não se mantiveram no Atlântico, tiveram de retirar-se do Brasil, ficaram em Curaçau e em Suriname, mas conseguiram ficar no Índico. Podemos ver isto como um jogo geopolítico entre vários impérios, alguns ficam mais poderosos em certas regiões, outros em outras. A velha história do declínio relacionado com o catolicismo não tem nada a ver com isto, é um mito criado pelos holandeses e os ingleses. Se fosse assim, porque não funcionou da mesma maneira no Brasil?
Sabemos que a viagem de Vasco da Gama foi preparada por D. João II, mas quem a concretizou foi D. Manuel. Havia, porém, uma mesma orientação, o caminho das especiarias e a cristianização...
Não era a mesma coisa. A busca dos cristãos não é o mesmo que cristianização, porque parte da ideia que eles já existiam, é o mito de Prestes João, do apóstolo São Tomé, a busca de comunidades preexistentes. Não é a missionação, que depois também se vem a verificar.
Num primeiro momento, tentam encontrar as comunidades de cristãos que eventualmente existiriam e, constatando que não existem, partem para a cristianização?
Entre os dois, recorde-se que ocorre o protestantismo. Com o Calvinismo e Lutero, nos anos 20, 30 e 40 do século XVI, os católicos perdem terreno na Europa, e a partir dos anos 40 chegam à conclusão que é preciso ir para fora e criar cristãos em outros países e continentes para recuperar o terreno perdido na Europa. Inácio de Loyola diz claramente que essa foi uma das razões para criar a Companhia de Jesus. É a partir da Contrarreforma que há a ideia de criar novas comunidades de cristãos fora da Europa, na Ásia, em África ou na América. Quando Vasco da Gama chega à Índia, ele não tem essa ideia de fazer conversões ou de criar comunidades de cristãos. Morreu em 1524, e essa ideia não era muito importante.
Ele encontra cristãos?
Sim, no sul da Índia, são comerciantes de pimenta, por exemplo. Irá relacionar-se com eles na segunda e terceira viagem.
Falando da atualidade, qual é o espaço do mundo islâmico hoje no Índico?
É um espaço importante. Há lutas de poder, mas podemos referir três aspetos. Há o poder económico dos países islâmicos, que existe sobretudo a partir dos anos 70, com a transformação do mercado do petróleo, em que a Arábia Saudita, os países do Golfo e o Irão passam a ter uma influência enorme, até no mundo não islâmico do oceano Índico, por exemplo em termos de mercado de trabalho; muita gente não muçulmana, da Índia, Filipinas e outros sítios, vai trabalhar para esses países, criando uma economia de circulação, com um impacto enorme que não se vê muito no Ocidente. Em segundo lugar, tem importância pelos investimentos que fazem nas instituições. E, finalmente, há o aspeto geopolítico. A política indiana é, por vezes, de jogar contra certos países islâmicos em favor de outros.
Até que ponto há influência muçulmana na Índia?
Há, mas nos últimos dois anos o poder central na Índia está nas mãos de um partido hinduísta, que tem uma política abertamente contra os muçulmanos. Quando preparam as eleições, falam sempre da ameaça muçulmana, num discurso do tipo de conflito de civilizações.
Como é que um historiador olha para isso?
É um discurso oportunista de jogar com o medo. É sempre útil. O caso indiano é muito particular, por causa de Caxemira, mantemos ali uma guerra contínua de baixo nível há quase 70 anos. É muito tempo. Uma fronteira aberta, com um exército de ocupação. Há dois casos no mundo, nós e os israelitas e palestinianos, em que a cronologia é quase a mesma, o problema foi criado pelos mesmos — os britânicos — e com o mesmo método, mas depois lavaram as mãos e foram-se embora.

Artigo publicado na edição do EXPRESSO de 20 agosto 2016


O Brasil e a Segunda Guerra Mundial: numero especial da revista Esbocos (PPG-Hist., UFSC)

O meu amigo e historiador especializado na história de nossas FFAA, Frank D. McCann, que tem um livro de história do Exército brasileiro -- Soldados da Pátria -- e um anterior sobre a aliança militar Brasil-EUA durante a Segunda Guerra justamente, me chama a atenção para o número especial da revista Esboços, do programa de pós-graduação em História da Universidade Federal de SC, no qual destaco estes dois sobre os quais tenho especial interesse:

The Rise and Fall of the Brazilian-American Military Alliance, 1942- 1977 - Frank McCann, p. 13-60
https://periodicos.ufsc.br/index.php/esbocos/article/view/2175-7976.2015v22n34p13/32173

Considerações historiográficas sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial: balanço da produção bibliográfica e suas tendências - Francisco Cesar Alves Ferraz, p. 207-232
https://periodicos.ufsc.br/index.php/esbocos/article/view/2175-7976.2015v22n34p207



ESBOÇOS - Revista do Programa de Pós-Graduação em História da UFSC Florianópolis, v. 22, n. 34, ago. 2016. Semestral. ISSN 1414-722x (cessou em 2008) ISSNe 2175-7976
DOSSIÊ BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
link:  https://periodicos.ufsc.br/index.php/esbocos/article/view/2175-7976.2015v22n34p6/32214

Roberto Ellery sobre a extensao, caracteristicas e gravidade das pedaladas

Aos que ainda acreditam que foi uma coisinha sem importância, feita por motivos de política social, e que finalmente todo mundo fez...
Paulo Roberto de Almeida

Blog do Roberto Ellery

domingo, 28 de agosto de 2016

Pedaladas, Bolsa Família e programas do BNDES

O assunto desta semana será o julgamento de Dilma e, como consequência, muito será dito a respeito das pedaladas. Já prevendo isso considerei válido deixar alguns registros aqui no blog sobre o assunto. Para entender o que são as pedaladas recomendo um post bem didático que foi publicado no excelente Mercado Popular (link aqui), grosso modo as pedaladas ocorrem quando o governo não repassa para bancos controlados pelo próprio governo recursos referentes a programas que também são do governo. Um exemplo fácil de entender são as pedaladas do Bolsa Família, o governo repassa o dinheiro para Caixa que paga aos beneficiários do programa. Caso o governo atrase o repasse a Caixa paga mesmo assim, imagine o caos que seria se a Caixa se recusasse a pagar, e, depois, o governo manda o dinheiro. A pedalada ocorre quando o governo demora para mandar o dinheiro para Caixa.

O primeiro ponto que será levantado pelos defensores da presidente afastada é que todos os presidentes pedalaram. É verdade, mas nenhum chegou nem perto de Dilma no tamanho das pedaladas, a figura abaixo mostra as pedaladas desde FHC (usei os dados disponíveis no BC, a página Análise Macro ensina direitinho como pegar os dados usando o R, link aqui), repare o crescimento absurdo das pedaladas com Dilma, o que na época de FHC mal passou de um bilhão e com Lula não chegou a oito bilhões com Dilma foi a quase sessenta bilhões! Não importa, se fez é crime e deveria ter sido punido, pode pensar o leitor. Eu não teria tanta pressa em chegar a tal conclusão, existem casos em que a punição pode ir de advertência a uma multa ou até mesmo prisão a depender do grau. Um caso que me vem sempre à mente é a lei que proíbe beber e dirigir, se alguém comer uma sobremesa com álcool e for parado em uma blitz não deve levar mais que uma bronca do guarda, quando muito vai ter de esperar uns quinze minutos e soprar de novo para seguir no rumo de casa; se o tal sujeito tiver bebido um pouco mais vai levar uma multa; se tiver bebido muito pode ser preso. Olhando a figura abaixo eu penso que a pedalada de FHC equivale a um bombom de licor, a de Lula a uma cervejinha e a de Dilma a duas garrafas de vodca. Sendo assim não faz o menor sentido dizer que os três fizeram a mesma coisa.




Outro argumento que sempre aparece é que Dilma fez as pedaladas por conta dos programas sociais. É um argumento cínico, equivale a um sujeito que gastou no bar o dinheiro das compras tentar pegar um empréstimo alegando que não tem como fazer as compras do mês. Porém, mesmo ignorando o cinismo do argumento, a tese não se sustenta. A figura abaixo mostra para onde foi o dinheiro das pedaladas. Repare que a Caixa, que é responsável pelo Bolsa Família, foi onde teve menos pedaladas no governo Dilma, já no Banco do Brasil, responsável pelo Plano Safra, as pedaladas só foram maiores que as feitas com a Caixa. O grosso das pedaladas foram para o FGTS e o Finame. O FGTS em si é uma aberração, um programa de poupança forçada onde o governo toma um percentual do salário dos trabalhadores e remunera a uma taxa de 3% mais a TR, hoje a remuneração deve estar em torno de 5% ao ano. Que o governo tenha um dinheiro barato assim e ainda atrase repasses é um escândalo. O outro grande vilão das pedaladas é o Finame, um programa do BNDES destinado ao financiamento de máquinas e equipamentos (link aqui). Sozinho, o Finame corresponde a quase um terço das pedaladas, sozinhas, as pedaladas do Finame são mais que o dobro dos maiores valores pedalados por Lula e FHC somados.




Os dados do BC dividem o Finame em duas categorias: PSI e Outros, a figura abaixo mostra estas duas categorias mais o Bolsa Família. A comparação torna ainda mais sem sentido a tese que o governo pedalou para ajudar os pobres, tirando um pequeno período de 2014 as pedaladas do Bolsa Família ficam invisíveis da figura, por outro lado vemos que o PSI sozinho chegou a ser responsável por mais de R$ 20 bilhões em pedaladas. O que é o PSI? É o Programa de Sustentação do Investimento (link aqui), um programa onde a guisa de estimular investimento o BNDES fazia empréstimo para empresários amigos com juros de pai para filho (para saber mais a respeito do BNDES e investimento no Brasil ver aqui eaqui). Os números são claros: perto das pedaladas que foram para os muito ricos via PSI as pedaladas que foram para os muito pobres via Bolsa Família praticamente somem.



Um último ponto diz respeito à gravidade das pedaladas. A princípio pode parecer algo de pouca gravidade, afinal, até onde sabemos hoje, o dinheiro não foi para o bolso da presidente. Não vou esticar muito o assunto porque é um tema complexo e não quero perder o foco do post, mas digo que considero as pedaladas um crime gravíssimo, um dos mais graves que um presidente pode cometer na condição de chefe do executivo. Para entender meu ponto considere que crimes como assassinatos, roubos, sequestros e outras agressões do tipo que são feitas às leis são punidas mesmo em tiranias, ou seja punir crimes assim não é uma característica exclusiva do Império da Lei. Sendo assim em parece lícito afirmar que crimes assim agridem a lei, mas não necessariamente agridem o Império da Lei. O que uma tirania não pune são os abusos dos detentores do poder. Ao usar de artifícios contábeis para gastar mais do que o autorizado pelo Congresso e pela lei orçamentária a presidente Dilma abusou do poder que detinha como chefe do executivo, repare que falei “...gastar mais do que o autorizado pelo Congresso e pela lei...” e não apenas “gastar mais”. Não punir esse tipo de abuso implica em colocar o governante acima da lei e colocar o chefe do executivo acima do Congresso, ou seja, caso a presidente seja considerada culpada, não apenas Dilma terá agredido a lei como a não punição de Dilma será uma agressão ao Império da Lei.

"O PT destruiu o setor elétrico": Adriano Pires (O Antagonista)

Não só o elétrico. A Grande Destruição atingiu TODO o setor de energia, em todas as formas, durante todo o período e não só a partir de 2012.
Vou fazer um balanço dos crimes econômicos, que não são apenas equívocos de política econômica mas também crimes comuns.
Paulo Roberto de Almeida 

“O PT destruiu o setor elétrico”

 

Um dos maiores especialistas em energia do país, Adriano Pires diz que o governo Temer tem de perseverar para recolocar a casa em ordem

 

Por Márcio Juliboni

 

O Brasil vive uma temporada de rescaldo. Para cada lado que se olha, encontram-se ruínas fumegantes de setores atingidos pelas políticas desastrosas dos governos petistas. Um dos mais afetados é o elétrico, praticamente quebrado pela intervenção de Dilma, em 2012. “O PT fez uma política de terra arrasada no setor”, resume Adriano Pires, fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura. Confira os principais trechos da conversa com O Financista.

 

O Financista: O que significa a atual onda de empresas e ativos à venda no setor elétrico?


Adriano Pires:
 O setor elétrico foi uma grande vítima dos governos petistas, a ponto de ter sido praticamente destruído. Basicamente, o que Dilma quis fazer, com a medida provisória de 2012, foi baixar as tarifas em um momento de alta dos custos. Depois, quando ganhou a eleição, ela precisou dizer a verdade: o setor estava quebrado. Veio o tarifaço na conta de luz. Isso representou, na prática, um racionamento forçado de energia, já que os brasileiros reduziram o consumo diante do preço alto. Dilma literalmente desligou o setor elétrico.

 

O Financista: Como empresas de um setor quebrado podem atrair compradores?


Pires:
 Isso depende muito do modelo que o governo Temer adotará para o setor. Os ativos à venda não são ruins. O que é necessário é uma política setorial mais pró-mercado.

 

O Financista: Como?


Pires:
 Primeiro, mudando a regulamentação das distribuidoras, que foram as mais penalizadas pela política petista. Também é preciso criar uma política de venda de ativos da Eletrobras e tornar a Aneel mais transparente. Outra coisa que devemos considerar é que, nos últimos anos, a matriz elétrica ficou mais dependente de fontes intermitentes, aquelas que dependem de algumas condições para gerar energia, como a solar e a eólica. Além disso, as usinas a fio d´água também transformaram as hidrelétricas em fontes intermitentes: se há chuvas, temos energia; caso contrário, não. Precisamos reduzir a dependência em relação ao clima. Para isso, é preciso colocar as usinas térmica na base do sistema, e não apenas como backup.

 

O Financista: Mas as térmicas não encarecem a energia?


Pires:
 No fundo, elas podem ajudar a moderar a tarifa. Atualmente, elas só são ligadas em caso de escassez de oferta, quando as hidrelétricas estão com reservatórios baixos. Se elas estiverem na base, poderão balancear a oferta das hidrelétricas. Além disso, seriam usinas que consomem gás natural, que é mais barato e bem menos poluente. Outra iniciativa para baratear a energia é promover leilões regionais, com base nas vantagens comparativas de cada local: solar, eólica, hidrelétrica, termelétrica.

 

O Financista: Voltando a potenciais investidores: por enquanto, só os chineses demonstraram interesse.


Pires:
 As empresas chinesas são estatais e, portanto, sua lógica de investimentos é diferente da de empresas privadas. Até ontem, o Brasil apresentava um elevado risco político, econômico e regulatório. Isso praticamente proíbe investidores privados de se arriscarem por aqui. Já os chineses têm outra lógica: eles aumentam seus ganhos com uma estratégia casada de venda de equipamentos, por exemplo. Agora, com o governo Temer, os investidores privados devem voltar.

 

O Financista: Em quanto tempo o setor pode se recuperar?


Pires:
 É difícil dizer. Primeiro, porque o PT fez uma política de terra arrasada no setor. Segundo, porque vai levar tempo para arrumar tudo. O importante é que o dever de casa começou a ser feito. Se o governo continuar nesse rumo pró-mercado, acho que já podemos atrair investidores no ano que vem. O que devemos evitar são as empresas que se dispõem a trabalhar com “taxas de retorno patrióticas” – aquelas artificialmente baixas, apenas para promover populismo tarifário. Só dois tipos de empresas aceitam isso: aquelas que estão lucrando por outros meios, como vimos com as empreiteiras da Lava Jato, e as aventureiras, que não sabem onde estão entrando: assumem riscos indevidos, quebram e deixam todos na mão.

I Semana Pela Liberdade da UnB: programacao dos Estudantes Pela Liberdade

O mais surpreendente, nessa programação, é que se trata da PRIMEIRA semana pela liberdade. Será que a liberdade estava tão esquecida assim?
Espero que seja a primeira de muitas, e sobretudo que ela produza rebentos na vida real.
Gostaria de complementar o título dado à minha palestra, no último dia, sexta-feira 16/09: " O populismo econômico e a ‘destruição destruidora’ na América Latina”
Paulo Roberto de Almeida

Programação:
Vem aí a primeira Semana pela Liberdade na UnB!!
Será uma semana voltada para debates, workshops e palestras sobre temas raramente vistos por perspectivas diferentes, com convidados excepcionais.
Uma parceria de diversos grupos liberais e conservadores para dar voz a visões de mundo diferente do que estamos acostumado na Universidade de Brasília.
Sua presença é muito importante, principalmente se for calouro. É através da disseminação de idéias que podemos transformar o ambiente que vivemos, tudo em prol do indivíduo, pois quando agimos para o bem dele, agimos para o bem da sociedade!

Dê uma olhada no nosso cronograma:

Segunda (12/09): das 18:15 as 20:00 no Auditório do Instituto de Ciência Política. --> Palestra com o Professor Roberto Ellery, sobre a soluções para a educação superior no Brasil.
Terça (13/09): das 18:30 as 20:00 no Auditório do Instituto de Ciência Política. --> Palestra com Professor Bráulio, sobre a doutrinação nas escolas e o sobre o que é o Escola Sem Partido.
--> Palestra com o Leandro Narloch!
Quarta (14/09): das 18 as 20:00 no Auditório do Instituto de Ciência Política. --> Mesa redonda sobre a CPI da UNE, com estudantes de diversos cursos e membros do Instituto Liberal do Centro Oeste (ILCO).
Quinta (15/09): das 18:00 as 20:30 no Auditório do Instituto de Ciência Política. --> O que é conservadorismo? Com Felipe Melo, aluno da Universidade de Brasília e membro do Instituto Conservador de Brasília.

Encerraremos com nossa CONFERÊNCIA!!!
Das 14 as 18 horas, sexta (dia 16/09), no auditório de Ciência Política.
--> Presença confirmada de Adolfo Sachsida, falando sobre a crise fiscal brasileira.
--> Presença confirmada de Paulo Roberto de Almeida, falando sobre o populismo na América Latina


VAGAS LIMITADAS

"Creio que, em qualquer época, eu teria amado a liberdade; mas, na época em que vivemos, sinto-me propenso a idolatrá-la." Alexis de Tocqueville

sábado, 27 de agosto de 2016

Relacoes Internacionais Em Pauta: programa de entrevistas do IPRI, criado por Alessandro Candeas

Apresento a seguir este programa muito interessante criado pelo meu antecessor na chefia do IPRI (Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais), Ministro Alessandro Candeas, que pretende ser um repositório de depoimentos interessantes sobre temas afetos a nosso universo de pesquisa e estudos, as relações internacionais e a diplomacia do Brasil, e temas conexos.
Primeiro a apresentação geral, constante do site, depois a própria apresentação do Alessandro e a relação dos depoentes.
Eu mesmo apareço num dos videos: 
11) Ministro Paulo Roberto de Almeida 
https://www.youtube.com/watch?v=As78ES-kFSk

Paulo Roberto de Almeida

 

http://www.funag.gov.br/ipri/riempauta/

1) IPRI: Introdução ao programa Relações Internacionais em Pauta
https://youtu.be/gBCLer8uI8M

2) Embaixador José Alfredo Graça Lima
https://www.youtube.com/watch?v=vkQnJIfZeqs

3) Embaixador Carlos Márcio Bicalho Cozendey
https://www.youtube.com/watch?v=8e4fdVwIyVc

4) Embaixador Paulo Estivallet Mesquita
https://www.youtube.com/watch?v=iKEArD839YI

5) Embaixador Carlos Alberto Simas Magalhães
https://www.youtube.com/watch?v=hZN8QhLoa7w

6) Embaixador Fernando José Marroni de Abreu
https://www.youtube.com/watch?v=tzBi4wW_810

7) Embaixadora Maria-Thereza Lazaro
https://www.youtube.com/watch?v=Q7NfMQrmNok

8) Embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa
https://www.youtube.com/watch?v=6sNHltV_JUc

9) Nathalie Tocci - Assessora na UE em Assuntos de Política Externa
https://www.youtube.com/watch?v=PEM0yxjHv9s

10) Professor Pascal Boniface - Directeur de l'IRIS
https://www.youtube.com/watch?v=lhOiqkYPxT8

11) Ministro Paulo Roberto de Almeida 
https://www.youtube.com/watch?v=As78ES-kFSk

12) Embaixador  João Almino
https://www.youtube.com/watch?v=3sFfPOp1gUo

13) Embaixador Fernando Igreja
https://www.youtube.com/watch?v=rj5-3b8u-sY

14) Embaixadora Vitória Alice Cleaver
https://www.youtube.com/watch?v=H5LDi78c0vE

15) Conselheira Almerinda Carvalho
https://www.youtube.com/watch?v=Fiyy1YG492o

16) Alunos estrangeiros do Instituto Rio Branco
https://www.youtube.com/watch?v=G5VsDLbug_I

17) Professora Sara Walker
https://www.youtube.com/watch?v=jw-hN_JX0oQ

18) Professoras Catherine Withol de  Wenden e Virginie Guiraudon
https://www.youtube.com/watch?v=EcGKa1nckeQ   

19) Professor Walter Russel-Mead
https://www.youtube.com/watch?v=UsUlS1M-X6k   

20) Embaixadora Vera Cíntia Álvarez
https://www.youtube.com/watch?v=80yDdj5QI_0   

21) Embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima
https://www.youtube.com/watch?v=5lLRmrPFMGo

22) Professor Antonio Jorge Ramalho
https://www.youtube.com/watch?v=EPpjxehWxWM

23) Professor Stephen Burman
https://www.youtube.com/watch?v=arEpubt4Oq4

24) Embaixador Alberto da Costa e Silva
https://www.youtube.com/watch?v=W43tN8iQT_s

25) Embaixador Marcos Castríoto de Azambuja
https://www.youtube.com/watch?v=aDwekxniO60

26)  Embaixador José Botafogo Gonçalves
(em preparação)

27) Professor James Hershberg, George Washington University
 (em preparação)