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sábado, 17 de junho de 2017

Brasil: um pais em busca de uma grande estrategia (sera'?) - documento da SAE, analise Paulo Roberto de Almeida



Tendo elaborado uma análise crítica do “relatório de conjuntura n. 1”, da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos, da Secretaria Geral da Presidência da República, intitulado “Brasil: um país em busca de uma grande estratégia”, da autoria do Secretário Especial e de seu Adjunto, respectivamente Hussein Kalout e Marcos Degaut, enviada com a mensagem transcrito in fine a determinados colegas e amigos, tenho recebido alguns comentários dos que tiveram acesso a essa minha análise, questionando qual seria, finalmente, uma estratégia adequada para o Brasil superar seus problemas atuais e projetar-se no cenário internacional com base nos recursos e ativos que legitimamente possui. Tenho respondido topicamente, mas talvez fosse útil explicar de maneira mais clara meu posicionamento em relação a esse tipo de exercício intelectual, que considero, de toda forma, uma colaboração importante à abertura de um debate bem informado sobre as grandes opções da nacionalidade.

O trabalho é este aqui: 
  Uma visão crítica da política externa brasileira: a da SAE-SG/PR”, Brasília, 17 junho 2017, 22 p. Considerações críticas sobre o documento da SAE, de autoria de Hussein Kalout e Marcos Degaut, sobre uma “grande estratégia” para o Brasil. Enviado aos autores e a certo número de interessados. Postado em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/28ae2de83d/uma-visao-critica-da-politica-externa-brasileira-a-da-sae-sgpr?source=link) e em Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/317636574_Uma_visao_critica_da_politica_externa_brasileira_a_da_SAE-SGPR).
 
Explico desde já o que me distancia da visão exibida nesse documento. Minha diferença fundamental, filosófica talvez, em relação aos autores do documento da SAE, é a de que eles estão interessados em construir um Estado grande e forte, capaz de projetar internacionalmente o Brasil, que nunca deixará de ser uma potência média, o que quer que façamos. O Brasil só seria um país medíocre, e decadente (como tantos outros na história), se não fizermos nada, ou melhor, deixar que elites predatórias se apossem do Estado, como estão fazendo com sanha de sanguessugas e ratazanas com redobrado vigor, desde a redemocratização. Não creio que os militares construíram um Estado impoluto, mas o patrimonialismo rentista era certamente menor no regime militar.

Na redemocratização, nos tornamos presas de uma casta de políticos rentistas e assaltantes dos recursos públicos, o que foi exacerbado no regime companheiro. Não creio que o reforço da fiscalização do Estado resolva esse problema de apropriação de bens públicos. Só a redução do Estado o fará. À diferença da visão grandiosa do documento da SAE, não creio que tal tipo de projeto estatal transforme significativamente o Brasil. Pessoalmente, estou interessado em construir uma nação próspera, e isso não passa pelo Estado, mas por uma sociedade livre.

Na verdade, eu não estou interessado em construir potência nenhuma, de qualquer tipo. Estou apenas interessado em que o Brasil seja uma sociedade integrada, desenvolvida, capaz de prover uma vida decente à maioria dos seus cidadãos, sem qualquer espírito igualitário, baseado na competição e na maior oportunidade de chances a todos. Sei que mesmo numa perspectiva smithiana, a defesa, a segurança, as relações exteriores passam inevitavelmente pelo Estado, e por isso concedo em que esses aspectos sejam fortalecidos no âmbito do Estado, mas sempre na perspectiva de que uma sociedade livre e competitiva fará isso melhor que exércitos de burocratas e tecnocratas estatais, que se transformam facilmente numa corporação que vive do Estado, para o Estado, no Estado, e para si e em si, o que vale também para os diplomatas.

Eu acho esse debate sobre uma grande estratégia um desvio de objetivos. Em lugar de focalizar o macro, como feito em tantos documentos de tecnocratas — inclusive o recente “Brasil 2035” do Ipea —, eu focaria o micro, para construir um ambiente de negócios condizente com os requerimentos de desenvolvimento do país. Em uma palavra, acho que os tecnocratas impedem o Brasil de se desenvolver. Por isso sou por “pequenas estratégias” focadas no ambiente de negócios para construir riquezas via mercado, não pela mão torta do Estado.



Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de junho de 2017
Mensagem que acompanhou a remessa do documento:


Tenho por hábito acadêmico ler cuidadosamente, anotar, eventualmente discorrer sobre livros, artigos, textos que julgo relevantes para um debate bem informado sobre questões de políticas públicas do Brasil e do mundo.
Tenho também por hábito (mas pouco diplomático) dizer rigorosamente o que penso, registrar o que digo, e divulgar o que escrevo, sempre que possível, pelos meios apropriados.
Não por outras razões, dediquei-me, nos últimos dias, a ler o importante documento liberado (desajeitadamente) pela SAE-SG/PR, não porque acredite que ele vai transformar imediatamente certas políticas públicas, nas áreas da diplomacia, da inteligência, da governança em geral. Mas acredito que ele oferece uma boa introdução a um debate de alto nível sobre a política externa e a diplomacia brasileira, ainda que não concorde com muitos dos argumentos ali contidos.
Se não o julgasse importante não teria dedicado quase igual volume de páginas a analisar e criticar esse documento, que reputo de boa qualidade redacional, ainda que carente de uma distinção clara entre as peculiaridades das políticas exteriores das últimas duas décadas, e sobretudo deixando de registrar a grande ruptura representada pelo lulopetismo em diversos capítulos da vida nacional, inclusive na política externa e na diplomacia. 
Meu texto foi elaborado ao correr da pena, isto é, a partir de uma leitura linear do documento, com observações feitas de maneira tópica, ainda sem grandes desenvolvimentos conceituais, o que provavelmente ocorrerá no decorrer do debate (se houver, o que me parece necessário).
Quero cumprimentar os autores pela coragem de divulgar um documento que poderia ser interno, sem eludir, porém, meu profundo questionamento sobre vários de seus argumentos. Também convido os recipiendários desta análise a formularem suas observações sobre o documento em questão.

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Quando o documento foi publicado, eu o registrei nesta postagem de meu blog, informado por uma nota de jornal: 
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/06/sae-critica-politica-externa-documento.html

Joesley, da JBS: uma delação para a história

Registro de tempos escabrosos, de homens temerários no crime.
Ainda assim, é preciso fazer uma distinção fundamental entre esse tipo de corrupção, artesanal, individual, e aquela feita pelo partido totalitário, industrial, sistêmica, avassaladora,
Paulo Roberto de Almeida 

Comentário de quem me enviou a matéria:
Joesley deu uma entrevista à revista Época que liberou apenas parte pela internet. Só esta parte já antecipa a tremenda revelação que ele faz sobre o grau de deterioração moral a que chegou  BANDIDAGEM POLITICA no Brasil. Toda esta gente tem que apodrecer na cadeia por muitos anos - de Temer a Moreira Franco, Padilha, Geddel, sem esquecer é claro, Lula e Aécio, que são chefes de outras grandes quadrilhas 
Roque Callage
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Em entrevista exclusiva a ÉPOCA, o empresário diz que o presidente não tinha “cerimônia” para pedir dinheiro e que Eduardo Cunha cobrava propina em nome de Temer

DIEGO ESCOSTEGUY
ÉPOCA, 16/06/2017

Na manhã da quinta-feira (15), o empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, recebeu ÉPOCA para conceder sua primeira entrevista exclusiva desde que fechou a mais pesada delação dos três anos de Lava Jato. Em mais de quatro horas de conversa, precedidas de semanas de intensa negociação, Joesley explicou minuciosamente, sempre fazendo referência aos documentos entregues à Procuradoria-Geral da República, como se tornou o maior comprador de políticos do Brasil. Discorreu sobre os motivos que o levaram a gravar o presidente Michel Temer e a se oferecer à PGR para flagrar crimes em andamento contra a Lava Jato. Atacou o presidente, a quem acusa, com casos e detalhes inéditos, de liderar “a maior e mais perigosa organização criminosa do Brasil” – e de usar a máquina do governo para retaliá-lo. Contou como o PT de Lula “institucionalizou” a corrupção no Brasil e de que modo o PSDB de Aécio Neves entrou em leilões para comprar partidos nas eleições de 2014. O empresário garante estar arrependido dos crimes que cometeu e se defendeu das acusações de que lucrou com a própria delação. 

A seguir, os principais trechos da entrevista publicada na edição de ÉPOCA desta semana. Leia as 12 páginas da conversa com Joesley na edição que chega às bancas neste sábado (17) ou disponível agora nos aplicativos ÉPOCA e Globo+:

ÉPOCA - Quando o senhor conheceu Temer?
Joesley Batista – Conheci Temer através do ministro Wagner Rossi, em 2009, 2010. Logo no segundo encontro ele já me deu o celular dele. Daí em diante passamos a falar. Eu mandava mensagem para ele, ele mandava para mim. De 2010 em diante. Sempre tive relação direta. Fui várias vezes ao escritório da Praça Pan-Americana, fui várias vezes ao escritório no Itaim, fui várias vezes à casa dele em São Paulo, fui alguma vezes ao Jaburu, ele já esteve aqui em casa, ele foi ao meu casamento. Foi inaugurar a fábrica da Eldorado.

>> Joesley Batista está no Brasil e prestou novo depoimento no acordo de delação premiada

ÉPOCA – Qual, afinal, a natureza da relação do senhor com o presidente Temer?
Joesley – Nunca foi uma relação de amizade. Sempre foi uma relação institucional, de um empresário que precisava resolver problemas e via nele a condição de resolver problemas. Acho que ele me via como um empresário que poderia financiar as campanhas dele – e fazer esquemas que renderiam propina. Toda a vida tive total acesso a ele. Ele por vezes me ligava para conversar, me chamava, e eu ia lá.

ÉPOCA – Conversar sobre política?
Joesley – Ele sempre tinha um assunto específico. Nunca me chamou lá para bater papo. Sempre que me chamava, eu sabia que ele ia me pedir alguma coisa ou ele queria alguma informação.

>> Joesley Batista: O mais perigoso delator

ÉPOCA – Segundo a colaboração, Temer pediu dinheiro ao senhor já em 2010. É isso?
Joesley – Isso. Logo no início. Conheci Temer, e esse negócio de dinheiro para campanha aconteceu logo no iniciozinho. O Temer não tem muita cerimônia para tratar desse assunto. Não é um cara cerimonioso com dinheiro.

ÉPOCA – Ele sempre pediu sem algo em troca?
Joesley – Sempre estava ligado a alguma coisa ou a algum favor. Raras vezes não. Uma delas foi quando ele pediu os R$ 300 mil para fazer campanha na internet antes do impeachment, preocupado com a imagem dele. Fazia pequenos pedidos. Quando o Wagner saiu, Temer pediu um dinheiro para ele se manter. Também pediu para um tal de Milton Ortolon, que está lá na nossa colaboração. Um sujeito que é ligado a ele. Pediu para fazermos um mensalinho. Fizemos. Volta e meia fazia pedidos assim. Uma vez ele me chamou para apresentar o Yunes. Disse que o Yunes era amigo dele e para ver se dava para ajudar o Yunes.

>> Joesley Batista está irritado com acusações de Temer

ÉPOCA – E ajudou?
Joesley – Não chegamos a contratar. Teve uma vez também que ele me pediu para ver se eu pagava o aluguel do escritório dele na praça [Pan-Americana, em São Paulo]. Eu desconversei, fiz de conta que não entendi, não ouvi. Ele nunca mais me cobrou.

ÉPOCA – Ele explicava a razão desses pedidos? Por que o senhor deveria pagar?
Joesley – O Temer tem esse jeito calmo, esse jeito dócil de tratar e coisa. Não falava.

ÉPOCA – Ele não deu nenhuma razão?
Joesley – Não, não ele. Há políticos que acreditam que pelo simples fato do cargo que ele está ocupando já o habilita a você ficar devendo favores a ele. Já o habilita a pedir algo a você de maneira que seja quase uma obrigação você fazer. Temer é assim.

ÉPOCA – O empréstimo do jatinho da JBS ao presidente também ocorreu dessa maneira?
Joesley – Não lembro direito. Mas é dentro desse contexto: “Eu preciso viajar, você tem um avião, me empresta aí”. Acha que o cargo já o habilita. Sempre pedindo dinheiro. Pediu para o Chalita em 2012, pediu para o grupo dele em 2014.

ÉPOCA – Houve uma briga por dinheiro dentro do PMDB na campanha de 2014, segundo o lobista Ricardo Saud, que está na colaboração da JBS.
Joesley – Ricardinho falava direto com Temer, além de mim. O PT mandou dar um dinheiro para os senadores do PMDB. Acho que R$ 35 milhões. O Temer e o Eduardo descobriram e deu uma briga danada. Pediram R$ 15 milhões, o Temer reclamou conosco. Demos o dinheiro. Foi aí que Temer voltou à Presidência do PMDB, da qual ele havia se ausentado. O Eduardo também participou ativamente disso.

ÉPOCA – Como era a relação entre Temer e Eduardo Cunha?
Joesley – A pessoa a qual o Eduardo se referia como seu superior hierárquico sempre foi o Temer. Sempre falando em nome do Temer. Tudo que o Eduardo conseguia resolver sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava para o Temer. Essa era a hierarquia. Funcionava assim: primeiro vinha o Lúcio [o operador Lúcio Funaro]. O que ele não conseguia resolver pedia para o Eduardo. Se o Eduardo não conseguia resolver, envolvia o Michel.

ÉPOCA – Segundo as provas da delação da JBS e de outras investigações, o senhor pagava constantemente tanto para Eduardo Cunha quanto para Lúcio Funaro, seja por acertos na Câmara, seja por acertos na Caixa, entre outros. Quem ficava com o dinheiro?
Joesley – Em grande parte do período que convivemos, meu acerto era direto com o Lúcio. Eu não sei como era o acerto do Lúcio do Eduardo, tampouco do Eduardo com o Michel. Eu não sei como era a distribuição entre eles. Eu evitava falar de dinheiro de um com o outro. Não sabia como era o acerto entre eles. Depois, comecei a tratar uns negócios direto com o Eduardo. Em 2015, quando ele assumiu a presidência da Câmara. Não sei também quanto desses acertos iam para o Michel. E com o Michel mesmo eu também tratei várias doações. Quando eu ia falar de esquema mais estrutural com Michel, ele sempre pedia para falar com o Eduardo. “Presidente, o negócio do Ministério da Agricultura, o negócio dos acertos…” Ele dizia: “Joesley, essa parte financeira toca com o Eduardo e se acerta com o Eduardo”. Ele se envolvia somente nos pequenos favores pessoais ou em disputas internas, como a de 2014.

ÉPOCA – O senhor realmente precisava tanto assim desse grupo de Eduardo Cunha, Lúcio Funaro e Temer?
Joesley – Eles foram crescendo no FI-FGTS, na Caixa, na Agricultura – todos órgãos onde tínhamos interesses. Eu morria de medo de eles encamparem o Ministério da Agricultura. Eu sabia que o achaque ia ser grande. Eles tentaram. Graças a Deus, mudou o governo e eles saíram. O mais relevante foi quando Eduardo tomou a Câmara. Aí virou CPI para cá, achaque para lá. Tinha de tudo. Eduardo sempre deixava claro que o fortalecimento dele era o fortalecimento do grupo da Câmara e do próprio Michel. Aquele grupo tem o estilo de entrar na sua vida sem ser convidado.

ÉPOCA – Pode dar um exemplo?
Joesley – O Eduardo, quando já era presidente da Câmara, um dia me disse assim: “Joesley, tão querendo abrir uma CPI contra a JBS para investigar o BNDES. É o seguinte: você me dá R$ 5 milhões que eu acabo com a CPI”. Falei: “Eduardo, pode abrir, não tem problema”. “Como não tem problema? Investigar o BNDES, vocês.” Falei: “Não, não tem problema”. “Você tá louco?” Depois de tanto insistir, ele virou bem sério: “É sério que não tem problema?”. Eu: “É sério”. Ele: “Não vai te prejudicar em nada?”. “Não, Eduardo.” Ele imediatamente falou assim: “Seu concorrente me paga R$ 5 milhões para abrir essa CPI. Se não vai te prejudicar, se não tem problema… Eu acho que eles me dão os R$ 5 milhões”. “Uai, Eduardo, vai sua consciência. Faz o que você achar melhor.” Esse é o Eduardo. Não paguei e não abriu. Não sei se ele foi atrás. Esse é o exemplo mais bem-acabado da lógica dessa Orcrim.

ÉPOCA – Algum outro?
Joesley – Lúcio fazia a mesma coisa. Virava para mim e dizia: “Tem um requerimento numa CPI para te convocar. Me dá R$ 1 milhão que eu barro”. Mas a gente ia ver e descobria que era algum deputado a mando dele que estava fazendo. É uma coisa de louco.

ÉPOCA – O senhor não pagou?
Joesley – Nesse tipo de coisa, não. Tinha alguns limites. Tinha que tomar cuidado. Essa é a maior e mais perigosa organização criminosa deste país. Liderada pelo presidente.

ÉPOCA – O chefe é o presidente Temer?
Joesley – O Temer é o chefe da Orcrim da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel, Henrique, Padilha e Moreira. É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles. Por outro lado, se você baixar a guarda, eles não têm limites. Então meu convívio com eles foi sempre mantendo à meia distância: nem deixando eles aproximarem demais nem deixando eles longe demais. Para não armar alguma coisa contra mim. A realidade é que esse grupo é o de mais difícil convívio que já tive na minha vida. Daquele sujeito que nunca tive coragem de romper, mas também morria de medo de me abraçar com ele.

ÉPOCA – No decorrer de 2016, o senhor, segundo admite e as provas corroboram, estava pagando pelo silêncio de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, ambos já presos na Lava Jato, com quem o senhor tivera acertos na Caixa e na Câmara. O custo de manter esse silêncio ficou alto demais? Muito arriscado?
Joesley – Virei refém de dois presidiários. Combinei quando já estava claro que eles seriam presos, no ano passado. O Eduardo me pediu R$ 5 milhões. Disse que eu devia a ele. Não devia, mas como ia brigar com ele? Dez dias depois ele foi preso. Eu tinha perguntado para ele: “Se você for preso, quem é a pessoa que posso considerar seu mensageiro?”. Ele disse: “O Altair procura vocês. Qualquer outra pessoa não atenda”.  Passou um mês, veio o Altair. Meu Deus, como vou dar esse dinheiro para o cara que está preso? Aí o Altair disse que a família do Eduardo precisava e que ele estaria solto logo, logo. E que o dinheiro duraria até março deste ano. Fui pagando, em dinheiro vivo, ao longo de 2016. E eu sabia que, quando ele não saísse da cadeia, ia mandar recados.

ÉPOCA – E o Lúcio Funaro?
Joesley – Foi parecido. Perguntei para ele quem seria o mensageiro se ele fosse preso. Ele disse que seria um irmão dele, o Dante. Depois virou a irmã. Fomos pagando mesada. O Eduardo sempre dizia: “Joesley, estamos juntos, estamos juntos. Não te delato nunca. Eu confio em você. Sei que nunca vai me deixar na mão, vai cuidar da minha família”. Lúcio era a mesma coisa: “Confio em você, eu posso ir preso porque eu sei que você não vai deixar minha família mal. Não te delato”.

ÉPOCA – E eles cumpriram o acerto, não?
Joesley – Sim. Sempre me mandando recados: “Você está cumprindo tudo direitinho. Não vão te delatar. Podem delatar todo mundo menos você”. Mas não era sustentável. Não tinha fim. E toda hora o mensageiro do presidente me procurando para garantir que eu estava mantendo esse sistema.

ÉPOCA – Quem era o mensageiro?
Joesley – Geddel. De 15 em 15 dias era uma agonia terrível. Sempre querendo saber se estava tudo certo, se ia ter delação, se eu estava cuidando dos dois. O presidente estava preocupado. Quem estava incumbido de manter Eduardo e Lúcio calmos era eu.

ÉPOCA – O ministro Geddel falava em nome do presidente Temer?
Joesley – Sem dúvida. Depois que o Eduardo foi preso, mantive a interlocução desses assuntos via Geddel. O presidente sabia de tudo. Eu informava o presidente por meio do Geddel. E ele sabia que eu estava pagando o Lúcio e o Eduardo. Quando o Geddel caiu, deixei de ter interlocução com o Planalto por um tempo. Até por precaução.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Universidades: da mediocridade para o delirio demencial - teses alucinantes e alucinadas

Do blog do meu amigo Orlando Tambosi:

QUINTA-FEIRA, 15 DE JUNHO DE 2017

Dez trabalhos acadêmicos esquisitos bancados com dinheiro público

A Gazeta do Povo, de Curitiba, publicou uma lista de dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas em universidades públicas na área de ciências sociais e humanidades. Impera o relativismo cognitivo e epistemológico: vale tudo. Já começou o berreiro contra a matéria de Gabriel de Arruda Castro:


O ambiente universitário, por definição, deve ser um espaço aberto à criatividade e à inovação. Toda forma de conhecimento é válida. Por outro lado, algumas teses desenvolvidas por alunos de mestrado e doutorado em universidades públicas brasileiras são difíceis de explicar ao contribuinte, que arca com todas as despesas. A opção por temas pouco ortodoxos, especialmente nos cursos de ciências humanas e sociais, talvez ajude a explicar por que o Brasil nunca recebeu um prêmio Nobel – ao contrário de Argentina, Chile, Colômbia, Venezuela, México, Costa Rica, Peru e Guatemala. 

Veja uma lista de dez dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre temas pouco usuais, todas apresentadas em universidades públicas.

1) Fazer banheirão: as dinâmicas das interações homoeróticas na Estação da Lapa e adjacências.

Curso: Mestrado em Antropologia na Universidade Federal da Bahia. 

Trecho: “Percebo que, para além de um simples terminal com um sanitário, a Estação da Lapa é ressignificada como espaço de práticas sexuais de desejos dissidentes, na direção de interesses tão diversificados quantos são os sujeitos que interagem na cena e que só são reunidos aqui pelo traço em comum dos desejos, diversificadamente, homo-orientados”.

Autor: Tedson da Silva Souza.

2) A estética Funk Carioca: criação e conectividade em Mr. Catra.

Curso: Doutorado em Sociologia e Antropologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. 

Trecho: “Mr. Catra é um feixe de relações, que catalisa caminhos e dá acesso a um mundo que mistura funk, favela, elite, poder oficial e crime”.

Autora: Mylene Mizrahi.

3) Mulheres perigosas: uma análise da categoria piriguete.

Curso: Mestrado em Sociologia e Antropologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. 

Trecho: “A piriguete representa, primeiramente, uma mulher que não se adéqua às normas de conduta feminina – ela expressa sua sexualidade e seu desejo, sua liberdade e seu poder”.

Autora: Larissa Quillinan Machado Larangeira.

4) A Zuadinha é tá, tá, tá, tá: representação sobre a sexualidade e o corpo feminino negro.

Curso: Mestrado em Ciências Sociais na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. 

Trecho: “Embora aproxime-se do pagofunk, tanto pelas letras sexualizadas como pelas coreografias, o pagode de elite, ainda que apresente letras menos sexualizadas, tem um estilo mais voltado para a suingueira – que o aproxima do pagodão”.

Autor: Wellington Pereira Santos.

5) Erótica dos signos nos aplicativos de pegação: processos multissemióticos em performances íntimo-espetaculares de si.

Curso: Mestrado em Linguística Aplicada na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Trecho: “Erótica dos signos denota a emergência de romper a divisão cartesiana entre mente e corpo e considerar o componente erótico na pesquisa para fazer ciência com corpo e alma. Também alude à sensualidade típica dos apps de pegação e evidencia o cuidado com a imagem de si, a pornificação de si como arena de embate político, a necessidade de uma metodologia que considere o corpo do pesquisador na pesquisa”.

Autor: Gleiton Matheus Bonfante.

6) Personagens emolduradas: os discursos de gênero e sexualidade no Big Brother Brasil 10.

Curso: Mestrado em Antropologia Social na Universidade Federal de Goiás.

Trecho: “Ao aproximar meu estudo com os de Fischer (2001) concordo que os meios de comunicação, no caso aqui analisados o programa de televisão e sítios de notícias do BBB, mostram-se como lócus privilegiado de informação, de ‘educação’ das pessoas, ao que a autora chamou de dispositivo pedagógico da mídia, pois, por meio das diversas estratégias de linguagem as mídias fazem a mediação da produção e da circulação de uma série de ‘verdades’ e, no caso do interesse desta pesquisa, ’verdades’ sobre homens, mulheres e gays”. 

Autora: Katianne de Souza Almeida.

7) “Agora eu fiquei doce”: o discurso da autoestima no sertanejo universitário 

Curso: Mestrado em Linguística e Língua Portuguesa na Universidade Estadual Paulista (Unesp) 

Trecho: “A canção Camaro Amarelo é um enunciado no qual estão presentes valores relacionados à ideologia capitalista do consumismo, tais como os valores das marcas famosas de produtos, da ascenção (sic) social e do amor por interesse”.

Autor: Schneider Pereira Caixeta.

8) O herói na forma e no conteúdo: análise textual do mangá "Dragon Ball" e "Dragon Ball Z"' 

Curso: Mestrado em Comunicação e Cultura Contemporânea, Universidade Federal da Bahia. 

Trecho: “Dessa maneira, notamos que essas passagens narrativas, em que um personagem faz referência ao outro no que diz respeito à morfologia, têm a função de criar uma situação de humorística maior do que necessariamente um espanto no sentido de uma impossibilidade de mundo em que eles habitam. Afinal, nesse mundo, encontramos tartarugas e porquinhos falantes, assim como sereias convivendo com personagens com a morfologia parecida com a nossa".

Autor: André Luiz Souza da Silva.

9) Experimenta-te a ti mesmo: Felipe Neto em performance no YouTube

Curso: Mestrado em Comunicação Social na Universidade Federal de Minas Gerais

Trecho: “Para fins desta dissertação, entendemos que as audiências dos dois canais de Felipe Neto no YouTube se referem a grupos de falantes que se vinculam temporariamente em uma situação específica de enunciação e circunscrita à ambiência midiática operada pelo site”.

Autor: Tiago Barcelos Pereira Salgado.

10) A pedofilia e suas narrativas: uma genealogia do processo de criminalização da pedofilia no Brasil

Curso: Doutorado em Sociologia na Universidade de São Paulo 

Trecho: "Por tudo que foi visto nesta tese, não é possível afirmar que a pedofilia seja, em sua totalidade, sinônimo de violência sexual contra a criança, embora os termos sejam usados de modo indiscriminado e intercambiável em quase todos os domínios do saber. Os diversos textos apresentados aqui demonstram que muito pedófilos nunca violentaram sexualmente uma criança; e que muitos agressores sexuais infantis não podem ser considerados pedófilos, por não se enquadrarem na definição psiquiátrica da categoria".

Autor: Herbert Rodrigues.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

the world’s fastest-growing economies in 2017 - World Economic Forum


These are the world’s fastest-growing economies in 2017
The World Economic Forum, June 14, 2017


 Image: REUTERS/China Daily
Alex Gray, Formative Content


Ethiopia is the fastest-growing economy in 2017, according to the World Bank’s latest edition of Global Economic Prospects.
Ethiopia’s GDP is forecast to grow by 8.3% in 2017. By contrast, global growth is projected to be 2.7%.
The East African country’s accelerating growth comes on the back of government spending on infrastructure.
However, borrowing to finance Ethiopia’s large public infrastructure projects has led to a rise in public debt, which increased by more than 10% of GDP between 2014 and 2016, and now exceeds 50% of GDP.
Many emerging market economies have high levels of public debt, and the World Bank says it is concerned about this because it could drag down growth.
Worsening drought conditions could also affect Ethiopia’s growth, says the report.

The outlook for the world economy
Global growth is predicted to rise by 2.7% on the back of a pick-up in manufacturing and trade, improved market confidence and a recovery in commodity prices.
Trade increased by around 4% in 2017, up from a post-crisis low of 2.4% in 2016. Although it is expected to remain below pre-financial crisis levels.
Image: The World Bank

Growth in emerging markets and developing economies
As this map shows, much of Asia and Africa (in light blue) are experiencing rapid growth.
Emerging-market and developing economies are anticipated to grow 4.1%far faster than advanced economies.

GDP growth across the world


Image: The World bank

The fastest-growing economies
Uzbekistan has the second-fastest-growing economy, with projected growth of 7.6% thanks to rising oil prices, benign global financing conditions, robust growth in the Euro Area, and generally supportive policies among governments of several large countries in the region.
Nepal is next, with a 7.5% projection. Nepal’s growth has rebounded strongly following a good monsoon, reconstruction efforts after the 2015 earthquakeand normalization of trade with India, says the Bank.
India is the fourth-fastest-growing economy with 7.2% projected growth, thanks in part to a rise in exports and an increase in government spending.
Among the other top 10 performers are Djibouti and Laos with 7% and Cambodia, the Philippines and Myanmar with 6.9%.
China, despite experiencing a slowdown and an economic transition, was in 16th place with 6.5% expected growth, helped by robust consumption and a recovery of exports.



Advanced economies
But advanced economies are improving too. Growth in advanced economies is expected to accelerate to 1.9% in 2017, according to the World Bank.
Europe has experienced strong growth, and growth in the United States is expected to recover in 2017 and to continue at a moderate pace in 2018. Japan also saw robust growth at the start of 2017.


Image: The World Bank

A fragile recovery
However, the World Bank warns that the recovery in the global economy is fragile. New trade restrictionssuch as those promised by President Donald Trumpcould hamper global trade, just as uncertainty over policies could hamper investment. Mounting public debt is also of concern to the Bank, because it says borrowing conditionssuch as interest ratescould get tougher, which would affect countries’ economies. Global government debt has risen by 12% of GDP since 2007, to 47% of GDP by 2016.
At the end of 2016, government debt exceeded its 2007 level by more than 10% of GDP in more than half of emerging market and developing economies. Fiscal balancesthe ability of a country to cope with increases in costs of financingworsened from their 2007 levels by more than 5% of GDP in one-third of these countries, says the Bank.
Image: The World Bank

The Bank says that countries now need to undertake institutional and market reforms in order to attract private investment. This will help sustain growth in the long-term.
“The reassuring news is that trade is recovering,” said World Bank Chief Economist Paul Romer.
“The concern is that investment remains weak. In response, we are shifting our priorities for lending toward projects that can spur follow-on investment by the private sector.”

The pitfalls of using GDP
GDP has been has been widely used over the years to measure economic progress. But many argue that it’s not a useful indicator. Nobel Prize winning economist Joseph Stiglitz, IMF head Christine Lagarde and MIT professor Erik Brynjolfsson have all said GDP is a poor indicator of progress, and argued for a change to the way we measure economic and social development.
Alternatives could include measuring jobs, well-being and health. GDP also ignores the impact of important things like climate change.


Originally published at www.weforum.org.

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