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sábado, 15 de julho de 2017

A reducao da pobreza, EM TODO O MUNDO - Angus Hervey (Future Crunch)

Leiam neste link, para visualizar corretamente o texto, e os gráficos dinâmicos:
https://medium.com/future-crunch/global-inequality-is-getting-better-fdbfde215b73

O mundo nunca teve TÃO POUCOS POBRES nos últimos 200 anos, e o ritmo de redução da pobreza absoluta tem sido avassalador desde a queda do muro de Berlim, que significou, simbolicamente, o fim do socialismo e a retomada da globalização, o que significa que a economia de mercado foi, SIM, eficiente para reduzir a miséria absoluta, eliminar muitos bolsões de pobreza, e colocar muita gente, milhões de pessoas, numa classe média baixa plenamente aceitável para os padrões seculares de pobreza disseminada. Muito disso se deve à China e um pouco menos à Índia, mas outros países, em outras regiões, também experimentaram redução nos níveis de pobreza absoluta. Hoje em dia não é incomum achar um catador de rua, um mendigo, típico em todas as cidades do chamado "mundo em desenvolvimento", com o seu celular, se comunicando com familiares ou conhecidos. Mesmo rurais afastados conseguem ter celular. Isso é economia de mercado.
Enganam-se redondamente, estupidamente, todos os antiglobalizadores, também chamados de altermundialistas, que se mobilizam contra a economia de mercado, contra o capitalismo. São uns idiotas. E enganam-se quadradamente todos aqueles economistas à la Piketty que acham que o principal problema do mundo é a desigualdade, e que esta deve ser reduzida. Bobagem. O principal problema do mundo ainda é a pobreza, e todos os economistas deveriam estar mobilizados em acabar com a pobreza, não em reduzir o número de ricos e o seu patrimônio. Deveriam estar ocupados em convencer os políticos que eles devem reduzir a pobreza, não em produzir igualdade.

Paulo Roberto de Almeida  
Brasília, 15/07/2017





The Decline of Poverty

Your opinions about global inequality really depend on where you’re standing


If you’re over the age of 18, you probably grew up with the story of how the world is divided into the rich and the poor.


That story was forged during a time of real global inequality. In 1970, around 60% of the world’s 3.7 billion people lived in extreme poverty. If you plotted the world’s income on a distribution curve, it looked like camel humps. There was a small, high income group of countries up at the front, and then a bigger low income group at the back.
For decades the language that we created to describe this world (First vs. Third, developed vs. developing) dominated popular discourse, which is why it’s so deeply ingrained for so many of us.
Which is a pity, because that world doesn’t exist any more.
If you’re willing to re-examine some of your old fashioned ideas, you’ll be pleasantly surprised to learn that the story has changed.
Today, only 0.7 billion of the world’s 7.5 billion people live below the extreme poverty line. That’s less than 10% of the world’s population. Not only is this the lowest proportion of people in extreme poverty ever, it’s also the lowest total number in more than 200 years.
It’s the great economic success story of all time. To paraphrase the indespensible Max Roser, the front page headline every day should read:
Since yesterday, 250,000 people have been lifted out of bone-crushing, one-meal-a-day, soul-destroying, no-dentist, no-doctor, no-electricity, single accident-means-life-and-death, unrelenting, extreme poverty.
It’s worth diving into this in a bit more detail.
For most of recorded history, only a tiny elite enjoyed higher standards of living. By far the majority of people were dirt poor. That’s how things stayed. Inequality wasn’t a social issue, it was just the way the world worked. In the last 200 years this has changed dramatically.

Source: Future Crunch (2017)

Poverty has been falling continuously despite the world’s population increasing seven fold during that time. And since the fall of the Berlin Wall, that process has accelerated, with an average of 47 million people lifted over the extreme poverty line every year for the last 25 years.
A lot of this is thanks to China. Between 1978 and 2010, the country’s economy grew at an average pace of 10% per year, lifting an astonishing 800 million people out of extreme poverty. And since 2010 inequality in China has been falling too, thanks to minimum-wage regulations and increases in the social welfare state.
It’s not just China though. Poverty reduction has happened in every region of the world. In 1981 almost one third of the non-Chinese world population was living in extreme poverty. By 2013, this share had fallen to 12%.

Source: World Bank (2017)

The amount of money that would be theoretically needed to lift everyone in the world out of extreme poverty is now about half of what it was a decade ago. This shows that not only are we reducing the incidence of poverty, we’re making inroads into its intensity. And it’s happening at every income level. The income cutoff of the world’s poorest 10% has doubled in the last decade, and so has the global median income (from $1,100 a year to $2,010 a year).
That means that the world today looks very different to the one that many of us still have in our heads. The double camel hump from the 1970s has disappeared, to be replaced by something that now looks a lot more like a normal distribution curve. Everyone who makes it past the vertical poverty line you see below can now afford a bicycle, basic healthcare and a mobile phone.
The lives of the bottom billion are steadily improving and the world’s big aid agencies are now saying that they think we might see the end of extreme poverty within our lifetimes.

Source: Gapminder (2017)

So the next time you read an article lamenting that inequality is the greatest economic issue of our time, take a moment and ask yourself who’s writing it. Your opinion really depends on who you care about, and where you stand.
If you’re a car worker in Guangzhou you probably feel a lot better about the state of the world than if you’re a car worker in Adelaide. If you’re a journalist in New York whose previously stable, middle class income is now a lot less certain, you’re a lot more likely to write articles about inequality. But if you’re a tech journalist in Kenya reporting on Nairobi’s amazing boom, the subject is less likely to appear.
It’s true that globalisation has been unkind to many people, especially in places like the United Kingdom and the United States. These countries have been eating their poor for decades, and the political consequences have become very apparent in the last few years. But we are talking about a very small proportion of the world’s total population. How many column inches have been dedicated to the livelihoods of a few thousand coal miners in the US, compared to the few hundred million people in Latin America, almost all of whom live in countries where inequality has dropped in the last decade?
At the risk of sounding callous... if the fate of your fellow global citizens concerns you more than the fate of the working class in a few OECD countries, you should be feeling pretty happy about what humanity has achieved in the last 25 years.
We should continue to highlight the plight of those who are still living in extreme poverty. And we should continue to insist that our political leaders enact policies that reduce inequality within our own countries. But we also need to acknowledge our global victories, and celebrate success.
For the average human being on the planet today, the world has never been a better place. That story doesn’t get told nearly enough.



Future Crunch fosters intelligent, optimistic thinking for the future. We help people understand what’s on the frontiers of science, technology and human progress, and what it means for humanity

Academicos gramscianos continuam com as velhas ilusoes "brics-ianas": relato em Carta Capital


Três típicos acadêmicos gramscianos criticam, no costumeiro estilo dessa tribo e no pasquim costumeiro da comunidade, a atual política externa do Brasil, a partir de um "fórum acadêmico" sobre o Brics, realizado recentemente na China
Vindo dessa categoria de analistas, não se poderia mesmo esperar outra coisa, senão uma pauta totalmente comprometida com a anterior  "política externa ativa e altiva", que tanto encantou a tribo dos convertidos. 
Como eles partem do suposto de que o governo atual é "golpista" , eles condenam igualmente a política externa, pois seu ponto de partida é a diplomacia anterior, e tudo o que discordar dos antigos pressupostos é ipso facto golpista, equivocado, caudatário do império, e todos os demais defeitos que ideólogos do lulopetismo diplomático podem encontrar em qualquer diplomacia que não esteja alinhada com suas escolhas políticas peculiares.
Eles acham que o Brics deveria ser tão importante no governo atual quanto o foi no anterior, que aliás criou o grupo, quase que totalmente dominado pela China, um país que, como se sabe é um grande defensor da democracia e dos direitos humanos. Os três não admitem que o governo atual possa ter qualquer atitude de retraimento em relação a um grupo que possui a peculiaridade de ter sido escolhido não por vontade dos quatro países originais, mas por uma sugestão específica de um economista de um banco de investimento pensando unicamente, exclusivamente, em maiores retornos de mercado para investimentos financeiros do grande capital multinacional.
Para eles não existe nenhuma contradição nesse fato, como tampouco  nenhuma estranheza em proclamar que a intenção manifesta desse grupo é a convergência entre esses países para facilitar o "reordenamento do poder mundial". 
Falta aos acadêmicos gramscianos uma reflexão ponderada sobre o significado do grupo em termos de  modernização econômica e social, com respeito aos direitos humanos, democracia e liberdades econômicas de cada um dos países, uma vez que suas convicções políticas não alcançam esses aspectos, mas permanecem num jogo de soma zero de um ilusório "poder mundial". 
Não espero converter nenhum dos três gramscianos a outras convicções, pois as deles já são arraigadas, e se manifestam em frases tão simplistas, redutoras, no limite idiotas, como a que eles repetem como um mantra: o atual governo estaria comprometido com um "alinhamento submisso aos poderes centrais". 
Eles provavelmente preferem que um governo "progressista" como o que eles defendem -- aquele mesmo que provou a Grande Destruição econômica, e lançou o Brasil no descrédito mundial ao produzir, deliberadamente, o MAIOR ESQUEMA DE CORRUPÇÃO já visto no mundo -- acompanhe outros "anti-hegemônicos" numa espécie de "alinhamento ativo com poderes periféricos". Esse é o desejo dos três gramscianos que escrevem o que transcrevo abaixo.
Como sempre, meu blog está aberto a todo tipo de reflexão, de preferência as mais inteligentes, mas mesmo argumentos idiotas, como os que figuram abaixo, merecem transcrição, numa prova de quão débil mentalmente é a nossa academia, quão simplistas podem ser esses acadêmicas, quão alinhados ideologicamente podem ser os gramscianos, quão coniventes com uma organização criminosa e um governo corrupto eles podem ser.
Paulo Roberto de Almeida  
Brasília, 15 de julho de 2017
 

Relações Internacionais

Fórum Acadêmico dos BRICS e os (des)caminhos da diplomacia brasileira

por Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI) — Carta Capital, 14/07/2017; link: https://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-grri/o-forum-academico-do-brics-e-os-des-caminhos-da-diplomacia-brasileira
Brasil teve participação pífia, condizente como o momento atual do país e sinalizou que os BRICS não são prioridade
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Wikimedia Commons
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Temer ao lado dos líderes dos BRICs em cúpula do G-20 em 2016. No Fórum Acadêmico deste ano, porém, participação comprovou que grupo não é prioridade
Por Renata Boulos, Diego Pautasso e Cláudio Puty*
Ocorreu em Fuzhou, na China, entre os dias 10 e 12 de junho de 2017, o 9º Fórum Acadêmico dos BRICS com o tema “Pooling Wisdom and New Ideas for Cooperation”. O Fórum reúne organizações da sociedade civil, think tanks e partidos políticos e costuma preceder a Cúpula dos BRICS no país anfitrião.
Quatrocentas pessoas formaram o público principal do evento, composto por membros dos governos dos cinco países (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), países visitantes (como Filipinas e Argentina, por exemplo), instituições acadêmicas, organizações da sociedade civil e partidos políticos.
O encontro teve grande importância para a China, pois é um dos principais fóruns onde a paradiplomacia ocupa lugar central e tem sido um espaço de consolidação dos BRICS para além dos chefes de estado.  
O Brasil teve uma participação pífia, condizente como o momento atual do país e mais uma vez sinalizou que os BRICS não são prioridade para o atual governo. O think tank brasileiro, IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), sequer se fez comparecer porque a direção do órgão simplesmente não liberou as passagens dos pesquisadores. 
A Presidência da República e o Itamaraty mandaram representantes do terceiro escalão, que não expressaram qualquer diretriz da política externa brasileira, tampouco nossa estratégia para o agrupamento BRICS. Imaginamos que esboçá-las deva ser uma tarefa árdua, à medida que sabemos que malta temerosa hoje ocupando o Palácio do Planalto não constitua propriamente um governo.    
Talvez por conta disso, a articulação entre os membros do governo brasileiro e integrantes da sociedade civil, think tanks e partidos políticos tenha sido praticamente nula, como se fôssemos membros de países distintos. Causa espécie a falta de entendimento do papel do BRICS como mecanismo de articulação de países emergentes, cujo papel no reordenamento do poder mundial é irrefreável.
Especificamente neste Fórum - que representa um espaço para estratégias de cooperação entre buscando mecanismos de convergência de diversos setores da sociedade -  a ausência do governo diz muito, e foi notada por russos, chineses e sul-africanos, que, por sinal, enviaram delegações de alto nível.
Esse evento refletiu o quadro mais abrangente de (des)caminho da política externa brasileira, evidente desde o início do governo surgido do golpe. A outrora diplomacia acusada de ‘politizada’, agora conduzida pelo PSDB de José Serra e Aloysio Nunes produz constrangimentos em série e é digna de uma República de Bananas, não de um país da importância do Brasil.
Recordemos.  A nova direção do Itamaraty inaugurou sua gestão disparando baterias contra os países vizinhos e fechando embaixadas na África e no Caribe. Agora segue com a ridícula obsessão por ingressar na anacrônica OCDE e promove operações militares com o exército americano em plena Amazônia brasileira.
Enquanto isso, as instituições voltadas à política externa soberana e autônoma, como a UNASUL, Mercosul, CELAC, a política africana brasileira e os BRICS praticamente saíram da agenda internacional. A resposta infantil à crítica de órgãos internacionais de direitos humanos (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos) sobre o ‘uso recorrente de violência’ contra manifestantes na Cracolândia em São Paulo refletem o caráter do atual governo.
E não para por aí. Recentemente, o Brasil decidiu reduzir drasticamente sua participação no Banco de Investimento em Infraestrutura Asiático (AIIB, na sigla em inglês), encabeçado pela China e do qual o Brasil é membro fundador, ficando com 50 ações ao invés das 32 mil ações inicialmente acordadas.
Não tivemos sequer participação no Fórum do grande plano de infraestrutura da China para o mundo: o  “Belt and Road Initiative” quando até nossos vizinhos argentinos e chilenos se fizeram presentes.  Finalmente, o ápice dessa festa funesta e aziaga é a série inacreditável de gafes cometidas por Michel Temer em suas visitas internacionais.
Entre os dias 3 e 5 de setembro, ocorrerá a 9ª Cúpula de Chefes de Estado do BRICS em Xiamen, província de Fujian (China), com tema "BRICS: parceria mais forte para um futuro mais brilhante". Enquanto isso, o Brasil parece incapaz de formatar um projeto de inserção internacional para além de recuperar um alinhamento submisso aos países centrais – incluindo aí uma atuação voltada a aprofundar a crise venezuelana.  
Mais que lapsos, não ter projeto é o próprio projeto deste governo ilegítimo, impopular, envolvidos em malversações múltiplas, cuja única função é desmontar não somente o ciclo de políticas consagradas no período Lula-Dilma, mas inclusive conquistas oriundas da Constituição de 1988 e mesmo da Era Vargas. O governo Temer é a cara das nossas elites.
*Renata Boulos é mestre em relações internacionais (Universidade de Essesx) e sócia-diretora do INCIDE – Instituto de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento. Integrante do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais/GR-RI
Diego Pautasso é doutor em Ciência Política (UFRGS) e professor de Relações Internacionais da UNISINOS
Cláudio Puty é Ph.D. em economia (New School for Social Reserch), professor da UFPA e professor visitante da University of International Business and Economics/Pequim

As fracas conviccoes dos liberais brasileiros: Rodrigo Constantino sobre Paulo Rabello de Castro

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

PRESIDENTE DO BNDES AGORA PARECE ACREDITAR NO “MITO DO GOVERNO GRÁTIS”

13 de julho de 2017
http://constantino-static.gazetadopovo.com.br/assets/2017/07/paulo-rabello.jpeg
É com tristeza que escrevo esse texto, pois tenho – ou tinha – grande admiração pelo economista Paulo Rabello de Castro, com quem já participei de palestras em conjunto. Considerado um dos herdeiros intelectuais de Roberto Campos, liberal que vinha condenando a estatização da poupança no Brasil com veemência, autor do livro O mito do governo grátis, eis que Paulo, agora no comando do BNDES, parece ter esquecido de tudo que defendeu no passado recente.
Liberais são céticos com o governo e, como Lord Acton, acham sempre que o poder corrompe. No encontro entre um liberal e o poder, a chance de vitória do poder é enorme. Não é fácil resistir às suas tentações e pressões, o que demandaria quase um rigor ético de santo. Por isso mesmo os liberais defendem a redução do poder, a adoção de um mecanismo de incentivos mais adequados, para evitar riscos desse tipo.
No caso do BNDES, por exemplo, a única solução realista para um liberal seria acabar com o banco, não ter o instrumento. Uma vez que ele esteja lá, será muito difícil impedir seu uso para o “capitalismo de compadres”, para beneficiar os “amigos do rei” com seus subsídios que transferem riqueza dos trabalhadores para os poucos grupos ricos. E, como prova disso, temos o atual presidente do BNDES dando uma de JK e falando em fazer seis anos em seis meses, ou negando que subsídio seja… subsídio!
Haja malabarismo semântico! E isso vindo de um liberal, de um doutor em Economia pela Universidade de Chicago, casa de Milton Friedman, é simplesmente imperdoável. “Subsídio, na realidade, liquidamente não é subsídio. Porque o banco reverte o resultado de sua boa administração em prol da administração”, afirmou Paulo, mas poderia ter sido Guido Mantega também. Será que o doutor nunca ouviu falar em CUSTO DE OPORTUNIDADE?
Que tal voltar aos autores clássicos como Bastiat? Aquilo que se vê (resultado positivo) e aquilo que não se vê (qual teria sido o uso alternativo desses recursos escassos pela iniciativa privada?). Ao defender os subsídios do BNDES, a famosa “bolsa-empresário”, Paulo está simplesmente ignorando o outro lado da equação, o que não é admissível para um liberal. Alexandre Schwartsman, em sua coluna desta quarta na  Folha, atacou as recentes declarações do presidente do BNDES:
Boa parte do empresariado nacional, em particular os encastelados na pirâmide da Paulista, se especializou em ganhar dinheiro à custa de transferência de recursos do resto da população.
São vários os mecanismos, da proteção contra a concorrência (não só internacional mas também doméstica) ao uso intensivo de subsídios. Uma das formas mais insidiosas e menos transparentes, porém, se dá por meio do BNDES.
Empresas com acesso privilegiado ao banco tomam lá recursos balizados pela TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que tipicamente se situa muito abaixo do custo a que o Tesouro Nacional se financia (numa primeira aproximação, a taxa Selic), quando não da própria inflação.
[…]
Para começar, trata-se de um subsídio gigantesco que não passa pelo Orçamento federal: dá-se, portanto, a um ramo do Executivo o poder de promover transferências de renda sem nenhuma transparência, sem nenhuma discussão com a sociedade, seja de cunho técnico ou democrático.
E, exatamente por ser pouco transparente, é também um incentivo considerável para os que apreciam participar do jogo da corrupção.
[…]
A própria lógica de uma economia de mercado se inverte quando a principal atividade empresarial deixa de ser a inovação para se concentrar na obtenção de facilidades de modo a canalizar renda do resto da sociedade para si.
Quando um instrumento como o BNDES está à disposição, ainda mais com um presidente afirmando que subsídio não é subsídio e que pretende fazer seis anos em seis meses, ou seja, a senha para a abertura da torneira, então os grandes empresários vão “investir” apenas em lobby para cair nas graças do banco, em vez de investir em produtividade.
E há, ainda, o efeito “crowding out”, ou seja, o banco estatal drena recursos escassos e pressiona a taxa de juros para o restante da economia para cima. Não existe, afinal, almoço grátis, como dizia Milton Friedman, tampouco governo grátis, como parecia saber o próprio presidente do BNDES.
Mas parece que a chegada ao governo tem o mesmo efeito daquele aparelhinho do “Men in Black”, que apaga a memória do sujeito num segundo. E Paulo, doutor por Chicago, economista liberal, agora parece convencido de que existe o “moto perpétuo do crescimento”, bastando o banco estatal emprestar recursos produzidos do além ou extraídos da economia com taxas subsidiadas, para que os “campeões nacionais” possam pagar bons dividendos depois, e o BNDES arrecadar impostos.
Não é incrivelmente simples? Luciano Coutinho, JBS, Eike Batista, Mantega e Odebrecht precisam só explicar o que deu errado…
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Economia brasileira: finalmente uma luz no fim do tunel? - IEDI

Será que depois da GRANDE DESTRUIÇÃO lulopetista na economia, que foi a MAIOR de toda a nossa HISTÓRIA, vamos finalmente começar a remontar a curva do crescimento?
Assim parece, segundo os relatórios, mas o processo é ainda muito desigual, como revelado neste mais recente boletim conjuntural do IEDI.
Paulo Roberto de Almeida

Em diferentes velocidades

Sumário 
A economia brasileira ensaia seus primeiros passos rumo à compensação de tudo aquilo perdeu nos últimos anos. Entretanto, ao que parece, este processo não será fácil nem rápido. Os dados conhecidos até o momento, que cobrem os cinco primeiros meses do ano, mostram os principais setores da economia operando em velocidades bastante distintas, o que pode ser visto como um elemento de fragilidade do presente momento econômico.
O quadro menos adverso dos últimos meses tem origem, em primeiro lugar, em uma extraordinária evolução do agronegócio que resultou em aumento do PIB setorial para o primeiro trimestre de 2017 de 15,2% ante 1º trim./16. Segundo dados mais atuais, a estimativa para a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas de 2017, realizada pelo IBGE no mês de junho, representava um aumento de nada menos que 30,1% em relação à safra de 2016.
Em segundo lugar, o comércio exterior tem funcionado como uma forma de contornar parcialmente a crise dos mercados domésticos para muitas empresas e setores. A expansão das exportações poderia contribuir muito mais não fossem aspectos sistêmicos que, de longa data, corroem nossa competitividade. Também desfavoreceu nossas exportações a apreciação da taxa de câmbio ao longo do ano passado. O destaque, neste caso, cabe à indústria automobilística, cujas exportações de 2017 em quantum avançaram 32,1% frente a jan-mai/16, segundo a Funcex.
Essa evolução da agricultura e das exportações geraram efeitos dinamizadores sobre outras áreas. Podemos citar, como exemplo, o avanço da produção industrial nos segmentos de bens de capital para a agricultura e de automóveis, bem como a elevação do faturamento real de serviços de transportes e de armazenagem.
Mas estes não são os únicos fatores em operação. Há também estímulos vindos da desaceleração da inflação, que tem permitido uma relativa recomposição do rendimento real das famílias, assim como uma redução mais acentuada da taxa básica de juros (Selic). A isso somam-se condições menos adversas no crédito às pessoas físicas (cujas concessões reais voltaram a crescer) e fatores pontuais, como a liberação das contas inativas do FGTS.
Assim, a demanda restringida nos últimos anos tem visto nestes fatores uma oportunidade toda especial de se efetivar. Com isso, as vendas de alguns ramos do comércio varejista vêm se recuperando – principalmente em tecidos, vestuário e calçados, eletrodomésticos e material de construção –, puxando a produção industrial de bens equivalentes – com destaque para eletrodomésticos da linha marrom, calçados, vestuário e têxteis.
Como a reação não é uma realidade para todos os segmentos industriais, ocorrendo em apenas 12 dos 25 segmentos acompanhados pelos IBGE no acumulado de 2017, a indústria de São Paulo, que é sabidamente a mais diversificada do país, além da mais moderna, encontra dificuldades para sair do vermelho (-0,6% ante jan-mai/16), contrastando com o resultado de outros estados, como Rio de Janeiro (+4,6%), Santa Catarina (+4,3%), Minas Gerais (+2,1%), etc. Ao todo, 10 das 15 localidades pesquisadas pelo IBGE já mostram alta na produção industrial no acumulado do ano até maio.
Apesar do aquecimento em alguns segmentos e localidades, o desempenho geral dos grandes setores da economia continua muito fraco. Na série com ajuste sazonal, as vendas reais do varejo e serviços ficaram praticamente estagnadas em maio (-0,1% e +0,1% ante abr/17, respectivamente). A indústria cresceu um pouco mais (+0,8%), mas menos que no mês anterior. O indicador IBC-Br do Banco Central, que funciona como uma proxy do PIB, apontou declínio de 0,5% frente a abril, já descontados os efeitos sazonais.
Em relação ao mesmo período do ano passado, baixas bases de comparação têm ajudado na obtenção de variações positivas na indústria (+4,0% frente a mai/16) e no varejo restrito e ampliado (+2,4% e +4,5%, respetivamente) – que inclui as vendas de veículos autopeças e material de construção –, mas não no caso do setor de serviços (-1,9%), 
A situação a que esses dados endereçam fica mais clara ao se tomar o resultado acumulado nos cinco primeiros meses de 2017. A incipiente recuperação da economia brasileira tem sido marcada por velocidades distintas: em primeiro lugar a indústria (+0,6%), cuja crise foi mais longa e aguda do que nos demais setores, seguida pelo comércio varejista (-0,8%) e pelos serviços (-4,4%). Mais dependente da evolução do emprego e da renda, o setor de serviços, que foi o último a entrar em crise, parece que também será o último a sair dela.

Indústria

O desempenho da indústria, depois de um longo período de retração aguda, entrou em uma nova fase em 2017. Nos últimos meses, voltaram em cena resultados positivos, embora muito fracos e, em geral, entremeados por novas quedas. No acumulado do ano até maio, o crescimento do setor como um todo chegou a apenas 0,5%, devido ao resultado muito favorável de não muitos setores.
Vale notar que a indústria de transformação continua no vermelho no acumulado do ano (-0,2% frente a jan-mai/16) e seu placar setorial continua muito dividido: 12 setores já passaram da estabilidade e começaram a recuperar perdas, enquanto outros 13 permanecem no negativo. A situação não é muito diferente para cada um dos macrossetores industriais.

Comércio

Em 2017, enquanto a produção industrial mostra alguma reação, mesmo que muito incipiente, as vendas do comércio varejista continuam apenas registrando uma moderação do ritmo de suas perdas. Em outras palavras, o comércio está hoje onde a indústria estava no ano passado. Uma pedra no caminho do varejo tem sido claramente o nível elevado de desemprego ainda vigente no país.
Segundo o IBGE, as vendas reais do varejo ficaram praticamente estáveis em maio deste ano (-0,1%) frente abril, já descontados os efeitos sazonais. Em seu conceito ampliado, que inclui veículos, autopeças e material de construção, houve retração de 0,7% nesta mesma comparação.

Serviços

O setor de serviços, em comparação com a indústria e o comércio varejista, é quem pior tem se saído ao longo desses cinco primeiros meses de 2017. No ano, seu faturamento real acumula perdas de 4,4% e não registra nenhuma variação interanual positiva desde março de 2015, muito embora o resultado de maio de 2017 frente a maio de 2016 (-1,9%) tenha sido a queda mais branda desde o início da crise do setor.
Considerada a trajetória na margem, isto é, frente ao mês imediatamente anterior já descontados os efeitos sazonais, o quadro tampouco sugere um progresso. Dos cinco meses de 2017 dos quais já temos informação, três apresentaram crescimento desprezível de +0,1%, inclusive em maio último. Apenas abril teve uma alta considerável (+1,0%), mas isso porque a base de comparação foi baixa, com março caindo mais intensamente (-2,6%).