Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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domingo, 19 de novembro de 2017
Rui Barbosa, relembrado: ele tinha vergonha dele mesmo, por causa do Brasil
Ruy Barbosa
Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligencia com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o "eu" feliz a qualquer custo,
buscando a tal "felicidade"
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos "floreios" para justificar
atos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre "contestar",
voltar atrás
e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo
que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo brasileiro!
De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto.
NOVO: uma ideia cujo tempo chegou, como partido - Caue Bocchi
Reproduzo abaixo o artigo admirável de um filiado, militante e dirigente do NOVO, um partido que veio para ficar, crescer e se tornar dirigente, no Brasil com o qual sonhamos.
Acrescento — como regra absoluta de transparência — que não sou filiado, não pretendo ser, nem nunca vou me candidatar a qualquer cargo eletivo, dentro ou fora do Partido NOVO. Mas partilho da maior parte de suas teses e argumentos, e por isso vou colaborar, na medida de minhas possibilidades e capacidade, com seus objetivos e metas em prol da nação brasileira. Mas sempre vou guardar minha independência, inclusive para criticar o NOVO, quando for preciso.
Por isso, se ouso fazer uma recomendação política e eleitoral aos meus leitores, seria esta: olhem com isenção e abertura de espírito ao que o NOVO pretende fazer, e já está fazendo — um partido que RECUSA dinheiro público, ou seja, de todos os brasileiros, para suas atividades —, e deem uma chance ao NOVO e seus candidatos em 2018. Quaisquer que sejam eles — e eu não conheço nenhum, a não ser que seu ex-presidente é candidato a presidente do Brasil, e por isso se afastou dos cargos partidários, tenham absoluta certeza de que eles são e serão diferentes de tudo o que está aí.
Paulo Roberto de Almeida
O elogio da loucura
novembro 16, 2017 7:53 pm
por Cauê Bocchi
Conheci o NOVO em 2011, quando qualquer possibilidade de o grupo vir a se tornar um partido político parecia um sonho impensável. Um pessoal que não tinha medo de falar em privatizações? Que dizia que o Estado era grande demais, e que deveria focar somente naquilo que era essencial? Que o fundo partidário deveria acabar? Que não fazia sentido membros da administração partidária concorrerem a cargos eletivos? Era tudo tão óbvio que era também utópico: afinal, na política brasileira nada parece ser mais contraintuitivo do que dizer aquilo que deveria saltar aos olhos de qualquer um. E o NOVO já fazia isso, ainda quando o total de seus membros mal conseguia ocupar uma sala inteira.
A loucura virou otimismo ao longo dos anos, e o otimismo por fim ganhou tons de realidade. Em 15 de setembro de 2015 conseguimos o que parecia impossível: viramos um partido político. E o fizemos respeitando cada vírgula da lei – Kassab, Marina, será que poderiam dizer o mesmo? Já em 2016 concorremos em cinco capitais para os cargos no legislativo municipal – eu mesmo me candidatei e vereador em São Paulo –, e no Rio de Janeiro ainda tivemos uma candidata à prefeitura. Elegemos quatro candidatos nas cinco cidades em que participamos, e o NOVO ficou entre as legendas mais votadas em todos os casos, já à frente de partidos tradicionais. Sem coligações, sem fundo partidário e sem políticos. Aquela loucura de 2011 já não parecia tão louca assim…
Tal qual uma empresa privada – sim, empresa privada, capitalista etc. –, o NOVO tem metas, e a nossa para 2018 é eleger o maior número possível de deputados federais, senadores e – por que não, somos loucos mesmo – lançar um candidato competitivo à presidência da república. Possivelmente teremos ainda candidatos a governador e deputados estaduais nos estados em que a presença do NOVO já seja mais relevante. Quem vê de fora pode achar tudo isso uma loucura: afinal, Lulas, Ciros e Bolsonaros são muito mais conhecidos, os partidos vão fazer coligações, o fundo partidário engordou ainda mais e o NOVO não fez e não vai fazer uso de um único centavo desse dinheiro. É tudo uma loucura mesmo, mas não existe loucura maior do que subestimar o poder de realização de quem faz parte do NOVO. Para mudarmos alguma coisa na política brasileira é preciso sonhar gigante. É isso que a gente faz, todo dia, de graça (apesar de não existir almoço grátis), porque só reclamar e ser passivo não adianta nada.
O crescimento do NOVO ocorre em progressão geométrica. Já somos o partido mais curtido no Facebook; somos o partido com a maior base de contribuição de filiados; somos o partido que mais cresce em número de filiados. A entrada do Gustavo Franco no nosso time mostra que estamos no trilho certo, e aqueles que têm o potencial de pensar e melhorar o Brasil estão na mesma toada. O crescimento do número de haters é sinal inequívoco do nosso sucesso e crescimento: seja o do social-qualquer-coisa que usa a sua síndrome de Robin Hood pervertida para igualar liberdade a elitismo; seja o do reacionário que até hoje não percebeu que a roupa que ele veste é a do populista que ele tanto gosta de odiar, só que do avesso; seja o do intelectual que não é lá um grande leitor; seja, ainda, o do antipolítico que acha que vai mudar o Brasil com posts no Facebook sedentos por novos likes.
Ainda somos pequenos, mas não tão pequenos assim. Somos ainda uma startup na política brasileira, mas qualquer pessoa com dois parafusos no lugar já consegue perceber que somos uma daquelas raras startups de um bilhão de dólares. Já ocupamos bem mais do que uma sala – que diferença para 2011! Como diria Victor Hugo, nada é tão poderoso como uma ideia cujo tempo chegou, e parece que a ideia de liberdade, empreendedorismo e ética finalmente chegaram ao Brasil. Nesse sentido, não existe honra maior do que fazer parte de uma ferramenta como o NOVO, sem dúvidas aquele com maior potencial de promover tais valores na política brasileira.
[Já ocorreu, mas não se deve deixar o entusiasmo diminuir as energias no trabalho duro que existe pela frente. PRA]
No próximo dia 18 o NOVO fará o seu 3º Encontro Nacional, numa edição que promete ser memorável. Será a última reunião de filiados e simpatizantes de todo o Brasil antes das eleições de outubro de 2018. Os ingressos já estão esgotados há dias, porque parece que esse negócio de ser louco contamina como rastilho de pólvora. Aos poucos (ou nem tão aos poucos assim) parece que conseguimos perceber que loucura mesmo é achar que vamos mudar as coisas se continuamos a agir do mesmo jeito. Já não era sem tempo: nesse sentido, o NOVO é um sopro, ou melhor, um furacão de sanidade. Loucura, hoje, é duvidar do NOVO.
Cauê Bocchi é advogado formado pela FGV-SP e Secretário de Finanças do NOVO no município de São Paulo.
Os textos refletem a opinião do autor e não, necessariamente, do Partido Novo.
Um novo natalício, uma velha mensagem, os mesmos sentimentos - Paulo Roberto de Almeida
Enfim, como sempre — e, desde que me lembro por gente alfabetizada, sempre foi assim — continuo submergido e assoberbado por tarefas exógenas ou autoimpostas que me fazem invariavelmente desejar dias de 48:00hs sem sono e sem cansaço. Mas isso é impossível, como sabemos.
Por isso, me permito reproduzir aqui o que escrevi um ano atrás, justamente para ocasiões como esta, e que ainda expressa, com uma ou outra mudança de percepção, meus verdadeiros sentimentos em momentos como este, e que vai disseminado pelos mesmos canais e ferramentas utilizados um ano atrás (com um agradecimento extra ao Facebook pela lembrança justamente).
Aqui vai, às 08:05 deste dia 19 de novembro de 2017:
Na impossibilidade de administrar na devida forma todas as mensagens que recebi, pelos canais de comunicação social, em suas diversas formas, ou pela via direta de telefonemas, assim como pessoalmente, a propósito de meu aniversário, neste dia da Bandeira – ela vem antes, e o seu dia também veio antes do meu nascimento, assim que tem a precedência, embora já não vejo festividades comemorativas, o que ainda era muito comum nas escolas de minha infância –, enfim, assaltado como venho sendo por “plim-plims” a cada minuto, desisti, como vinha fazendo, aliás desde a madrugada, de responder a cada um individualmente, por vezes com as mesmas, rápidas e repetidas palavras, e resolvi escrever uma mensagem geral de reconhecimento, de agradecimento, de simpatia por todas as manifestações sinceras de amizade e de carinho que estão alongando as listas de e-mails e mensagens em meus diversos aparelhos. Ainda não contei, mas parei de agradecer pessoal e individualmente nas duas dezenas, tanto que dormi no meio da noite, depois de ter escrito mais um texto daqueles que surgem “espontaneamente”.
Este é menos espontâneo, e vem motivado justamente pelo imenso volume de mensagens recebidas, e que demandariam praticamente um dia inteiro para responder da forma como gostaria. O que vai abaixo, portanto, é uma espécie de declaração de princípios e valores, feitos ao sabor do teclado, sem preparação e sem reflexão, apenas juntando os elementos que acredito essenciais numa vida dedicada à leitura, à reflexão, ao ensino, enfim, ao conhecimento e à inteligência. Ele passa por uma mensagem unilateral e erga omnes, a todos os que se dedicaram a me escrever neste dia.
Amor: a Carmen Lícia, e a toda a minha família, que ainda vai crescer...
Atitude geral: ceticismo sadio, sempre;
Paixão: pelos livros, em todas as suas formas, de quaisquer idades, tempo e lugar;
Comportamento: contrarianista tranquilo;
Educação: de preferência autodidata, nas leituras, nas viagens, na observação do mundo, tal como ele é, nas experiências da vida, mais do que nas instituições regulares;
Dedicação: ao ensino, à transmissão do conhecimento, pois é uma forma de aprender;
Ideologia: a da racionalidade, que também pode ser uma mania ilusória;
Religião: nenhuma em especial, ou nenhuma tout court, ou seja, irreligiosidade total e absoluta, mas profundo respeito pelas religiões (não todas, como podem ser essas “teologias da prosperidade” ou aquelas muito intolerantes), pois elas estão e estarão conosco por toda a existência humana, quer gostemos ou não;
Vocação: não muito bem definida: entre aprender, ensinar, propor, enfim, aquela mania que tem todo letrado pretensioso de ser conselheiro do príncipe, sem desejar sê-lo verdadeiramente, pois sabe que príncipes não seguem os pretensos conselheiros;
Projeto de vida: colaborar nesse vasto empreendimento reformista para deixar o Brasil um pouquinho melhor, quando eu o deixar (ou quando ele me deixar), do que o país que eu encontrei, quando tomei consciência, na minha primeira adolescência, da porcaria que era em termos sociais, humanos, educacionais e políticos;
Aspiração: que toda criança pobre, ou da modestíssima condição social como era a da minha família, em minha infância, pudesse ter, atualmente, uma educação pública comparável em qualidade à de que eu desfrutei, em décadas passadas, e que me habilitaram, justamente, com a biblioteca infantil que frequentei desde antes de aprender a ler, a adquirir as alavancas necessárias para ascender na escala social, apenas pela dedicação ao estudo, pelo conhecimento acumulado, pelo saber adquirido autodidaticamente, pelo esforço próprio, enfim;
Alergia: à burrice, não à ignorância dos que não tiveram chance de aprender, mas à obtusidade daqueles que tendo chance de o fazer, preferiram ficar na escuridão;
Aversão: à estupidez de certos letrados, por fundamentalismo, ideologia, oportunismo ou qualquer outro motivo não legítimo;
Objetos de desejo: livros, sobretudo aqueles antigos, não mais disponíveis em livrarias, e difíceis de encontrar em bibliotecas medíocres como são as nossas;
Mania: de ler o tempo todo, em qualquer circunstância, em qualquer lugar (menos no banho pois já fizeram livros digitais mas ainda não impermeáveis, a não ser os de bebês), mania que pode irritar quem me dirige a palavra nos momentos de concentração, e quando eu respondo “sim, sim...”;
Escola econômica: aquela que apresenta os melhores resultados práticos, com pouca, ou até nenhuma teoria; já passou da hora de aderir a este ou aquele guru das “melhores receitas econômicas”, e se contentar com a modesta racionalidade dos procedimentos testados e aferidos como efetivos; eles geralmente passam mais pelos mercados livres do que pela regulação estatal (mas reconheço que parece impossível desembaraçar-se desses ogros famélicos que nos dominam);
Filosofia política: a da maior liberdade individual, o que não chega a ser uma filosofia política, mas é um princípio de vida a que se chega depois de se conhecer todas as construções humanas que pretenderam organizar a vida em sociedade;
Política prática: nunca fazer parte de nenhum partido, nunca adentrar na política com ares de salvador da pátria, mas observar e estudar a todos meticulosamente, pois dependemos todos, quer queiramos ou não, da atividade daqueles que se dirigem à política por vocação, por interesse pessoal, por oportunismo, ou por qualquer outro motivo não confessado;
Time de futebol: nenhum, absolutamente nenhum; apenas apreciando alguns jogos;
Lei: a do maior esforço, ou seja, nunca se contentar com as explicações simplistas, mas sempre questionar o fundamento de qualquer afirmação ou argumento que são apresentados;
Responsabilidade: totalmente individual, ou seja, nunca atribuir à sociedade, ao Estado, ou até à família, aquelas bobagens que cometemos, que são cometidas por seres totalmente adultos e absolutamente responsáveis pelos seus atos;
Desafio constante: procurar defender o que se acha certo, aquilo de que se tem certeza de ser o melhor, mesmo em detrimento da conveniência pessoal, ou de interesses momentâneos;
Princípio, valor e finalidade de vida: sempre aprender, sempre procurar transmitir o que se sabe (as vezes até o que não se sabe exatamente também, mas que se desconfia que pode ser útil), sempre fazer o melhor dentro das possibilidade de cada um, nos limites da capacidade individual;
Finalizando: procurar fazer tudo o que me dá prazer intelectual...
Addendum: ficaram faltando alguns elementos indispensáveis na vida mundana:
Dinheiro: justo o necessário para comprar livros, viajar, frequentar restaurantes italianos de par le monde; o resto é mesada para pequenas despesas...;
Bebida: sem maiores vícios: taças de vinho nas refeições, cervejinha nas horas vagas;
Outros vícios?: quase nenhum: não jogo, não fumo, não faço apostas, não assino correntes em favor ou contra qualquer coisa, inclusive em prol de distribuição gratuita de livros; basta-me uma velha mania...
Termino por um novo agradecimento a todos os que me escreveram.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19 de novembro de 2016
Repetido em 19 de novembro de 2017, com total adesão aos mesmos valores e princípios de vida, com uma auto-imposição adicional: começar a colocar os livros e papéis em ordem, terminar aqueles escritos essenciais deixados de lado por trabalhos de circunstância ou conjunturais, se expor menos, usufruir mais dos pequenos prazeres da vida, ser menos autocentrado, ou seja, várias tarefas a mais...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19/11/2017