O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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terça-feira, 23 de janeiro de 2018

O capitalismo nunca foi rentista; comportamentos podem ser - Forum de Davos

Discordo, não do jornalista, mas dos organizadores de uma das sessões do Fórum de Davos.
O capitalismo é um “modo de produção”, correto?
Então ele não pode ser rentista.
Se é capitalismo de verdade, ele se organiza em torno da produção e venda de bens e serviços para mercados de massa, correto?
São determinados comportamentos humanos grupais que podem ser rentistas, geralmente com a ajuda de governos, no capitalismo em si.
Se existe rentismo numa economia de mercado, isso não faz parte da estrutura mesma do modo de produção, e sim das formas de apropriação final ou intermediária dos ganhos produzidos pelo capitalismo.
 Ponto. Os organizadores de Davos precisam deixar esse populismo barato, como essa rendição idiota  a temas como igualdade e equidade. Um sistema econômico, se for eficiente e aberto, será necessariamente equânime e até mesmo igualitário, ao dar oportunidades a todos de se inserir nos mercados globais. São os governos, com suas regulações restritivas, que abrem a via para o rentismo de pessoas e grupos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 23 de janeiro de 2018

Maioria no G-20 não retomou PIB pré-crise

Por Daniel Rittner | De Zurique
 Valor Econômico, 22/01/2018


Quase dez anos após a quebra do Lehman Brothers, que se tornou símbolo de um dos piores momentos do capitalismo global, 12 das 20 principais economias do planeta ainda têm PIB per capita inferior ou praticamente igual ao nível pré-crise.

O sentimento de "década perdida" afeta a maioria dos países que compõem o G-20. Canadá, Rússia, Japão e todos os europeus do clube não conseguiram mais atingir o patamar verificado antes da crise de 2008. O maior tombo ocorreu na Itália: queda de 22%, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

África do Sul, Arábia Saudita, México e Turquia tiveram variação mínima do indicador no período. Nessa comparação, o Brasil escapa de pertencer ao grupo dos países que estão em ponto morto ou deram marcha à ré apenas por uma ilusão de ótica: a recessão começou mais tarde no caso brasileiro, mas o PIB per capita é 24% menor do que o pico registrado em 2011, segundo os números do Fundo.

A 48ª edição do Fórum Econômico Mundial, que começa amanhã em Davos, marca uma virada de capítulo na agenda da crise de 2008: há expectativa de aceleração da economia americana, crescimento em praticamente toda a Europa, um pouso forçado da China ou um colapso nos preços do petróleo saíram do radar de curto prazo, os emergentes receberam prognósticos melhores dos organismos internacionais neste ano.

Apesar disso, prevalece a sensação de estranhamento. Sensação destacada por Ian Bremmer, fundador da consultoria Eurasia e pupilo de Davos, onde foi escolhido com um dos "jovens líderes globais" ainda no início de sua carreira. "Sim, os mercados estão em alta e a economia não está mal, mas os cidadãos estão divididos", afirmou Bremmerem relatório, na primeira semana de janeiro, sobre 2018.

"A escala de ameaças políticas no mundo é desanimadora. Democracias liberais têm menos legitimidade do que em qualquer época desde a Segunda Guerra, e muitos dos problemas estruturais parecem não ter conserto. Os líderes mais fortes da atualidade demonstram pouco interesse na sociedade civil ou valores comuns", diz.

Ciberataques, terrorismo, o vácuo de poder deixado por Donald Trump e a crescente influência do chinês Xi Jinping, tensões na relação EUA-Irã, a erosão das instituições, o fortalecimento do protecionismo e até incertezas eleitorais são mencionados. Conclusão anunciada pelo consultor: há duas décadas, desde que começou a exercitar o mapeamento de riscos, sempre aparecem altos e baixos. "Mas, se tivermos que apontar um ano para uma grande crise inesperada - a equivalente geopolítica ao colapso financeiro de 2008 -, a sensação é de que vai ser 2018."

O economista Marcello Estevão, secretário de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda, lembra que a história do capitalismo indica mesmo uma recuperação lenta das grandes crises financeiras. O elemento de incerteza é como as novas tecnologias - automação industrial, inteligência artificial, impressões 3D - vão se refletir na produtividade. "Uma dúvida entre os países do G-20 é por que isso ainda não gerou crescimento mais rápido da produtividade."

Com sessões como "A próxima crise financeira?", "O nosso mundo está fraturado?" e "Como o capitalismo rentista está agravando a desigualdade?", Davos mapeará os riscos diante de 1,9 mil empresários, executivos, líderes da sociedade civil e em torno de 70 governantes. Entre eles, Donald Trump - é a primeira ida de um presidente americano para Davos desde 2000 -, Emmanuel Macron (França), Theresa May (Reino Unido) e Narenda Modi (Índia).

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Visiting professor na Columbia, Tinker Foundation: Applications up to April 8

Oportunidade para "distinguished scholars", na Columbia, NY:

Request for Statements of Interest
Tinker Visiting Professorship 

Deadline: April 8, 2018 for 2019-2020 Academic Year

About the Tinker Visiting Professorship

Columbia University is one of five major universities to have a professorship endowed by the Edward Larocque Tinker Foundation. The goal of the Tinker Visiting Professor program is to bring to the campus pre-eminent scholars and professionals (journalists, writers, artists, public officials, etc.) who are citizens of Latin America or the Iberian Peninsula, and reside in the region, as a means of encouraging contact and collaboration.  Please note that citizens of Canada may apply as long as they are considered Latin Americanists. 

Since the inception of the Tinker program in 1971, Columbia has hosted many distinguished visitors for one-semester periods of residence. These guests have strengthened our curriculum offerings on Latin America, complemented departmental strengths, and contributed to understanding of Latin American issues. 

A Tinker Visiting Professor offers to teach (or co-teach) one course - a mixed graduate/undergraduate class in his/her field of expertise. The visitor is asked to also give two public lectures. The Tinker Professor will be supported by a stipend, office space at the Institute of Latin American Studies, assistance in arranging Columbia housing, roundtrip airfare from home country, and part-time research assistance. Funding can also be made available to support conferences or other events at the University related to the visitor’s fields of interest during or following their semester of residence.

The Institute of Latin American Studies (ILAS) administers the Tinker Professor Program on behalf of Columbia University. For more information, contact Esteban Andrade (eaa2127@columbia.edu). 

Application Process

Applicants are invited to submit a brief statement of interest. The statement should explain the qualifications of the candidate, his or her research concentration and the specific goals of the visit to Columbia University (1-2 pages in total), as well as a current and summarized curriculum vita.  The Executive Committee of the Institute of Latin American Studies will review these proposals by the beginning of May and invite a limited number of candidates to submit a full application.  This application will include a personal statement describing their research and proposed teaching areas, with the description of one course, a complete vita and the names of two references.  Please submit applications to: eaa2127@columbia.edu
  
Esteban Andrade
Program Manager
Institute of Latin American Studies
Columbia University
420 West 118th St, 828-B
New York, NY 10027
P: 212-854-4644
F: 212-854-4607

Fake news, distorted news, bad news: a politica externa massacrada (Google Alerts)

Como sempre, todo começo de semana recebo meu lote de notícias segundo os "alerts" que configurei no sistema do Google.
Política externa do Brasil é um deles.
E, invariavelmente, as notícias da esquerda, deformadas em sua maior parte, sobrepujam as matérias normais...
Paulo Roberto de Almeida


Eu fico com muita pena de ver que não há lideranças na região hoje, certamente não no caso do Brasil, para que esse momento fosse utilizado para fazer aquilo que é essencial, que é a base de toda política externa do Brasil, mas acho que é também de outros países da América do Sul, da América ...
 
O cenário internacional durante a minha gestão à frente do Itamaraty tem sido marcado por desafios importantes para a governança do sistema internacional e, consequentemente, para a definição de prioridades e rumos da política externa brasileira. Vivenciamos um período de crescente ...
 
 
Por Leonardo Attuch e Paulo Moreira Leite – Editor do site Opera Mundi, o jornalista Breno Altman concedeu entrevista exclusiva à TV 247 e falou sobre a guinada da política externa brasileira, desde o golpe de 2016. "O Brasil desistiu de ser cabeça de elefante para se tornar rabo de formiga", diz ele.
 
Eu acho que essa falta de credibilidade em relação ao Brasil e esse fim do glamour começou também no governo Dilma porque ela não tinha o carisma, ela não investiu em política externa. Existiam vários eventos que mobilizavam tudo isso; Copa do Mundo, Jogos Olímpicos. Houve um momento de ...
 
 

Out of a past limbo. Going to a new one? - Paulo Roberto de Almeida

Em 1ro de julho de 2016, às vésperas de deixar um longo limbo de 13 anos — yes, uma travessia do deserto que durou todo o regime companheiro — eu registrava num texto semi-impressionista minhas impressões do período de ostracismo, e o que faria na nova etapa que se abria para mim.
Pois bem, depois de um ano e meio de atividades que me deram imenso prazer intelectual, pode ser que eu tenha novamente de acomodar meus poucos trastes (um laptop, e alguns livros) no dorso de um camelo e empreender nova jornada por areias e oásis, virtuais, claro.
Não me incomodo com isso, pois sempre coloco consciência e liberdade de pensamento e ação acima de quaisquer conveniências.
Por isso mesmo reproduzo abaixo o texto aqui publicado naquele 1ro de julho, talvez novamente apropriado ao momento.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 22 de janeiro de 2018

Crônica final de um limbo imaginário?

Paulo Roberto de Almeida 

O que é o limbo? Limbo, segundo os dicionários, representa, na teologia cristã, uma região entre a terra e o inferno, um refúgio para as almas dos homens bons, que viveram antes da chegada de Cristo, ao qual também estavam destinadas as almas das crianças não batizadas. 
Num sentido civil, pode aproximar-se de uma espécie de prisão, ou confinamento. No sentido mais comum do termo, seria um lugar ou a condição de negligência, ou de esquecimento, aos quais seriam relegadas coisas ou pessoas não desejadas. 
Enfim, estas são as definições que retirei do Webster's New Universal Unabridged Dictionary (2nd edition; New York: Simon and Schuster, 1979): podem conferir na p. 1.049.
Entretanto, parece que a própria teologia cristã abandonou esse conceito, que deve ter sido inventado em algum momento especialmente inovador do cristianismo primitivo, para dar conta daquelas situações ambíguas, nas quais o sujeito, ou a criança, nem merecia o fogo do inferno, nem estava habilitada a gozar das delícias do paraíso. Não sei sob qual papa foi adotada essa supressão totalmente inconveniente, pois eu teria vontade de protestar, mesmo a posteriori. Não se faz isso com cidadãos desajustados, filósofos heterodoxos, almas inquietas, contestadores profissionais, como podem ser os anarco-libertários como eu.
Mas, se os teólogos acabaram com o limbo, para onde irão as almas nem tão penadas assim, nem tampouco virtuosas, que ficam sem escolha (ou sem destino) entre o inferno e o paraíso? Situação complicada para seres controversos, como este que aqui escreve, nem tão corporativo para merecer a confiança de colegas de guilda, nem tão contestador para merecer degredo ou banimento. Não se pode planar eternamente na estratosfera, inclusive porque ela é rarefeita (e não tem canal de notícias nem internet, para nada dizer de uma grande biblioteca e de uma boa ducha, sem esquecer café expresso).

Pois bem. Creio que estou chegando ao final de meu limbo institucional, ou seja, uma longa travessia do deserto no qual estive, não necessariamente em prisão fechada, mas numa espécie de confinamento, do mesmo tipo daquele que se reserva a pessoas que atuam, pensam ou reagem de maneira diferente, razão pela qual elas devem ser encaminhadas ao deserto (mas também pode ser uma espécie de cerrado, mato agreste, ou qualquer outra situação denotando uma condição áspera, difícil, de isolamento ou de dificuldade, enfim, ostracismo total). Não foi de todo mau: pelo menos não me colocaram tornozeleira eletrônica, o que por sinal me habilitou a andar por aí, leve, livre e solto (mas com mesada reduzida), podendo falar o que queria, sans Dieu, ni Maître...
Não me decidi ainda, sobre o que vou fazer agora que estou fora do limbo (que confesso nem sei onde ficava, mas ele era uma condição de espírito, não uma situação geográfica), mas, de todo modo e desde já, vou tratar de adotar uma atitude de cautela, pela qual todas as minhas ações serão cientificamente calculadas, e depois registradas, para ver se não volto a cometer alguma bobagem que me habilite a enfrentar um novo limbo, numa nova fase, tanto profissional, quanto acadêmica ou pessoal. Uma coisa é certa, não vou deixar de escrever, ainda que com tinta invisível, como convém em certas situações...
Sempre acreditei que as pessoas são responsáveis, em grande medida (senão totalmente), pelo seu próprio destino, na medida em que fazem escolhas, adotam posturas, assumem atitudes que as colocam em maior ou menor conformidade com o seu meio social, com o seu ambiente profissional, com o seu universo de relacionamentos e de interações. Elas são (eu sou) o resultado de suas (minhas) próprias escolhas, ainda que outras pessoas possam ter contribuído, direta ou indiretamente, para a sua (minha) própria condição. 
Não cabem remorsos, ou lamentações, ainda que exercícios de reflexão e revisões críticas de trajetórias passadas (e presentes) sejam sempre desejáveis, na perspectiva de corrigir o que estava (ou ainda está) errado e impulsionar caminhos mais atrativos, ou interessantes. Cabe, talvez, estabelecer algum plano de trabalho para enfrentar os desafios futuros, não mais os anos de travessia de algum deserto particular, mas as novas planícies e planaltos que convidam a uma serena caminhada. Com GPS é mais fácil chegar, mas vou continuar lendo enquanto caminho.
Terminando, e resumindo, confesso que a palavra limbo talvez não seja adequada, uma vez que nunca deixei de trabalhar, e de socializar meus pensamentos, reflexões, escritos e outras formas de verbalização do que penso (sobretudo numa era na qual os meios de comunicação são tão fartos, tão fáceis, tão baratos). A palavra representa, em todo caso, um conceito útil para definir o fim de uma etapa e o início de outra, esperando que eu não retorne a essas paragens tão desconhecidas quanto imaginárias, em busca de algum destino mais apropriado.
Vale!
Brasília, 1 de julho de 2016.

domingo, 21 de janeiro de 2018

A correlacao entre ideias e pessoas: uma questao nao trivial - Adonai Sant'Anna

Apenas hoje, 21/01/2018, por causa de vários outros trabalhos e obrigações no pipeline, pude ir buscar, e ler, uma postagem do matemático da UFPR, Adonai Sant'Anna, que me tinha sido recomendada por um doutorando da USP, Danilo R. Sousa, que acompanhou o "entrevero" – não ouso classificar como debate – entre este modesto blogueiro e um polemista profissional, Olavo de Carvalho, que se dispôs a atacar-me, sem que eu o atacasse diretamente, apenas porque eu tenho profunda discordância com o que chamo de "teoria conspiratória", que ele parece defender como verdadeira, relativamente a um projeto de governo mundial proposto por poderosos não exatamente identificados (enfim, alguns nomes aparecem, mas não se sabe bem o que fazem para promover tal governo mundial).
Transcrevo o que interessa, sobre a questão.
Paulo Roberto de Almeida  
Brasília, 21 de janeiro de 2018

O doutorando Danilo R. Sousa escreveu o que segue, em mensagem de 15/01/2018: 

Faz tempo que vejo ele (Olavo) falar algumas bobagens absurdas, tais como essas registradas pelo renomado professor Adonai Sant'Anna, matemático de renome da UFPR:  http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2015/02/olavo-de-carvalho.html

PRA: Pois bem, fui buscar tal postagem e ela interessou-me, não exatamente pelo debate em torno de questões da física newtoniana e einsteiniana (que não pretendo entender), mas pelas palavras iniciais e finais do matemático Adonai Sant'Anna (com cujo blog já colaborei a propósito da situação das universidades brasileiras), a propósito da diferenciação que se há de fazer entre IDEIAS e seus PROPONENTES.

Eu geralmente tendo a discutir ideias, independentemente de quem as emite. Não tenho aquele comportamento de quem, sendo de esquerda (ou direita), costuma dizer, ao rejeitar a leitura de algum texto: "Ah, esse cara é de direita (ou de esquerda), e assim eu descarto a leitura."
Não tenho tal tipo de preconceito: simplesmente leio tudo que me parece interessante ou inteligente, de qualquer tendência política, e por vezes leio até bobagens absurdas, de um ou outro lado, apenas para constatar que, mais do que má-fé, é a ignorância que motiva certos desentendimentos no cenário político.

Pois bem, li o seguinte (transcrito apenas seletivamente), de uma imensa discussão sobre física teórica, na postagem abaixo reproduzida: 


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015


Recebi hoje e-mail de um leitor deste blog perguntando por que citei Olavo de Carvalho em uma postagem recentemente veiculada. Essa pergunta foi motivada por questionamentos a respeito de certas afirmações deste jornalista comumente conhecido por alguns como um filósofo. 

Uma vez que Olavo de Carvalho consegue combinar discursos brilhantes com outros escandalosamente absurdos, creio que a indagação feita por este leitor merece ser respondida aqui. 

Citei uma entrevista com Olavo de Carvalho simplesmente porque ela continha uma discussão extremamente pertinente. E jamais deixarei de aproveitar boas ideias baseado em quem as defende. A correlação entre pessoas e ideias é assunto altamente não trivial.

No entanto, preciso também esclarecer alguns pontos sobre os quais devemos ser extremamente cuidadosos quando Olavo de Carvalho decide falar ou escrever. E ele fala e escreve muito!


(...) [segue-se o debate que está no link acima, mas vou ao final da postagem:]

Há muitas outras questões controversas sobre Carvalho, incluindo sua proposta de incluir a astrologia como um ramo da ciência. Mas discutir sobre astrologia como ciência já chega a um absurdo que temo desrespeitar o leitor. Por isso prefiro não discutir sobre este tema aqui.

Mesmo físicos extremamente experientes conseguem fazer afirmações absurdas sobre física. E Olavo de Carvalho demonstra claramente não ter a mais remota familiaridade com física a não ser, talvez, a partir de textos de divulgação científica destinados a leigos. No entanto, ainda assim insiste em opinar sobre temas da física moderna. Isso me faz questionar se há algum sentido em suas afirmações sobre outros temas, como história da religião e política. 

Portanto, o leitor deve ter muito cuidado com o que Carvalho afirma. Suas declarações nesta entrevista são incisivas, mas pertinentes. No entanto, são pertinentes sob o meu ponto de vista. Não sei dizer se eu compartilharia com as justificativas que ele teria para apresentar às suas declarações sobre a educação brasileira. 

É óbvio que o leitor deve aprender a filtrar qualquer informação que receba, seja de onde for. Isso não se aplica somente a Olavo de Carvalho, mas a qualquer pessoa. No entanto, Carvalho demonstra o persistente hábito de opinar sobre o que não demonstra conhecer. Ele faz isso quando discute sobre o aquecimento global, o darwinismo e a história da ciência. 

Como filtrar ideias? Bem, não há procedimento efetivo para isso. Mas pensar e discutir com uma variedade grande de pessoas compromissadas com o conhecimento já ajuda.


Nota: Em virtude de grande volume de comentários nesta postagem, decidi complementar este texto. Para detalhes, clique aqui.

Esta postagem suscitou 239 comentários. Transcrevo um: 

Eu desconfio fortemente de que o problema não seja a ignorância dele [OC] quanto à história da ciência, mas o conveniente conhecimento só das partes da história que ratificam a posição dele. Isso se aplica a qualquer área em que eu já o vi emitir um julgamento. A explicação mais plausível que vejo pra isso é a necessidade de vencer um debate mesmo sem ter razão. Por isso, eu não consigo confiar em nada do que ele diz, mesmo quando o assunto é filosofia. Fico triste de haver tantas pessoas que não vêem isso.


Volto a comentar (PRA):
 Pois é, eu tenho uma vocação pedagógica que por vezes me impele a entrar em debate sobre questões que ultrapassam a possibilidade de um diálogo racional segundo procedimentos estabelecidos. Tendo a ser muito mais empirista do que teórico em meus argumentos, e por isso essa tendência praticar um ceticismo sadio e a demandar PROVAS de quem apresenta um argumento qualquer.
Creio que foi isso que deixo furiosos tanto o Sr. Olavo de Carvalho e seus seguidores, quando eu contestei a ideia do globalismo, e sugeri que se tratava apenas de uma teoria conspiratória. Eles passaram a me atacar de uma forma tão irracional que não havia sequer possibilidade de diálogo.
Agora, tendo lido o que vai acima por parte de Adonai Sant'Anna, creio que o mesmo demonstrado para a física vale para as ciências humanas também.

Paulo Roberto de Almeida  
Brasília, 21 de janeiro de 2018

 PS: Creio que esta postagem vai motivar mais ataques a este blogueiro no Mídia Sem Máscara, ou em outros blogs, como sempre naquele "estilo" que já mencionei em postagens anteriores: 

  3224. “Globalismo e globobagens: um debate que nunca ocorreu”, Bento Gonçalves, 3 janeiro 2018, 4 p. Tentando encerrar o debate sobre o fantasma do globalismo. Postado no Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2018/01/globalismo-e-globobagens-um-debate-que.html) e no Facebook (https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1769060946490681). Consequências ulteriores (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2018/01/olavo-de-carvalho-o-estilo-faz-o-homem.html).

Confirmo que não pretendo debate com tal personagem, e apenas lamento que o pessoal do Brasil Paralelo ainda não tenha se manifestado sobre os ataques que a mim foram dirigidos na sequência  da exibição do "debate" Globalização vs Globalismo.

Oliveira Lima Library, em Washington: a caminho da recuperacao? (OESP 21/01/2018)

Matéria deste domingo no Estadão (Caderno 2, p. C5, 21/01/2018), por Roberta Jensen, aborda a situação atual da Biblioteca Oliveira Lima, junto à Universidade Católica da América, em Washington, que muito frequentei, atualmente necessitada de um bom plano de recuperação, passando por significativo apoio financeiro.
Recentemente, com meu colega André Heráclio do Rego, publicamos um livro sobre Oliveira Lima, cuja informação trasncrevo ao final desta postagem.
Paulo Roberto de Almeida 


Astrofísica da Nasa assume reitoria de universidade nos EUA e resgata acervo de diplomata brasileiro

Duília de Mello quer recuperar a biblioteca do diplomata, historiador e jornalista Manoel de Oliveira Lima (1867-1928)


Roberta Jansen
O Estado de S. Paulo, 21 Janeiro 2018, p. C5.

RIO - Pesquisadora da Nasa, especialista na análise de imagens do Telescópio Espacial Hubble, Duília de Mello acaba de assumir a vice-reitoria da Universidade Católica da América, em Washington. Por ser brasileira, recebeu de seu chefe uma incumbência inusitada para uma astrofísica: recuperar a biblioteca do diplomata, historiador e jornalista Manoel de Oliveira Lima (1867-1928). No porão da universidade, ela encontrou nada menos que 58 mil itens, entre livros raros, manuscritos, cartas, mapas e obras de arte, que formam um dos mais importantes acervos do mundo de história do Brasil. Uma autêntica ‘brasiliana’ – como são chamadas as grandes coleções sobre o País.
Além de livros raros, como a primeira edição dos Lusíadas, fazem parte da coleção milhares de cartas trocadas com intelectuais da época, como Lima Barreto, Euclides da Cunha e Monteiro Lobato. De dentro de um livro aberto aleatoriamente, surgiu uma carta assinada por Machado de Assis. “Toda hora encontramos algo novo”, afirma a pesquisadora, entusiasmada com o projeto inesperado. Diversos quadros de Taunay (1755-1830) e Antonio Parreiras (1860-1937), e um Frans Post (1612-1680) avaliado em nada menos que US$ 4 milhões, também pertencem ao acervo.


Manoel de Oliveira
Duília de Mello. Formando uma autêntica ‘brasiliana’  
Foto: TOMMY WIKLIND
Toda a coleção foi legada à universidade pelo diplomata, enterrado em Washington, sob lápide onde se lê apenas “aqui jaz um homem que ama os livros”. Um epitáfio à altura do intelectual corpulento, bigodudo e polêmico, que colecionava livros e desafetos.  

A biblioteca estava fechada e praticamente abandonada até o início deste ano, quando foi reaberta por Duília. Agora, ela busca patrocínio para criar um Centro Oliveira Lima onde todo o acervo possa ser acomodado de forma correta e acessível a pesquisadores e ao público. 
Formado no Curso Superior de Letras de Lisboa em 1897, o pernambucano Oliveira Lima começou a trabalhar para o Ministério das Relações Exteriores do Brasil em 1890. Trabalhou como diplomata em Portugal, Bélgica, Alemanha, Venezuela e Estados Unidos. Foi o encarregado de negócios da primeira missão diplomática brasileira no Japão e um dos primeiros brasileiros a escrever um livro sobre o país. 
Como historiador, escreveu a biografia de d. João VI, tida até hoje como uma obra de referência sobre o rei português que transferiu a corte para o Brasil. Como jornalista, escreveu para o Estado entre 1904 e 1923, assinando inclusive uma série de colunas sobre a Primeira Guerra Mundial, enviadas da Europa. Foi professor da Universidade Harvard, nos EUA, e da Sorbonne, em Paris. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Amigo de grandes intelectuais da época, como Gilberto Freyre, Machado de Assis, Lima Barreto, entre outros, Oliveira Lima tinha uma profícua correspondência com vários deles. Também se notabilizou por seus grandes inimigos públicos, como Joaquim Nabuco e o Barão do Rio Branco. Sobretudo, foi um bibliófilo, um grande colecionador de livros raros, obras de arte, manuscritos e recortes de jornais.
“Apesar de toda a sua produção e do reconhecimento que tinha na época, Oliveira Lima não é tão conhecido no País quanto deveria ser”, afirma o professor do Departamento de Literatura Brasileira da USP Ricardo Souza de Carvalho. “Mas é um dos mais importantes historiadores brasileiros dos séculos 19 e 20”, atesta. 


Manoel de Oliveira Lima
Trajetória. De Pernambuco, onde nasceu, a Washington, um homem que amava os livros
Coordenador do Laboratório Líber de Tecnologia da Informação, da Universidade Federal de Pernambuco, Marcos Galindo destaca a importância de Oliveira Lima como jornalista. “Ele escrevia sobre política internacional, sobre literatura, artes”, enumera o especialista. 

“Fui para Washington estudar as cartas, ele tinha cerca de 1.500 correspondentes, praticamente toda a intelectualidade do Brasil e da América Latina”, conta a socióloga Nathalia Henrich, biógrafa de Oliveira Lima, que ajuda Duília na catalogação do material. “Mas aí eu me deparei com os scrapbooks, os álbuns de recortes em que ele reunia notícias de jornais, cópias de artigos, cartas, fotos, cartões-postais, menus; uma janela para entender o que estava acontecendo no Brasil e no mundo.”
Já Duília confessa não conhecer Oliveira Lima, mas destaca a importância do acervo.
“Eu sou uma astrofísica, não entendo muito disso”, diz Duília. “Mas sei que não posso deixar um tesouro histórico desses num porão, sem catalogação e preservação adequadas: quero criar um espaço que seja uma biblioteca, um centro de estudos e também um local de reunião de intelectuais brasileiros na capital americana.” 


QUEM É - Manoel de Oliveira, escritor
 Manoel de Oliveira Lima (1867-1928) foi um diplomata, historiador e jornalista brasileiro. Viveu no Japão, na Europa e nos EUA e legou à Universidade Católica, em Washington, um acervo de 58 mil itens. 




Flora, a parceira que ficou em segundo plano
Mulher de Oliveira Lima falava cinco idiomas, era arquivista e escrevia as cartas e os manuscritos do diplomata
A astrofísica Duília de Mello, vice-reitora da Universidade Católica da América, em Washington, quer dar um destaque especial ao papel fundamental da mulher de Manoel de Oliveira Lima, Flora Cavalcanti de Albuquerque (1863-1940), na construção do acervo da biblioteca. O Centro Oliveira Lima terá, entre seus grandes alicerces, homenagear a memória de Flora e seu legado.
Filha da aristocracia de Pernambuco, Flora falava cinco idiomas fluentemente. Era fotógrafa, arquivista, bibliotecária, responsável pela organização de todo o acervo de Oliveira Lima e como o marido também amava os livros.
“Se não houvesse a Flora, não haveria a produção do Oliveira Lima”, garante a socióloga Nathalia Henrich, que está escrevendo a biografia do diplomata e trabalhando na catalogação do acervo. Segundo a especialista, todas as cartas de Oliveira Lima eram escritas por Flora, bem como os manuscritos originais de seus livros. “Imagino que ela desse muito palpite enquanto ele ditava, mas nunca recebeu a devida coautoria.”
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Nosso livro sobre o Oliveira Lima, recentemente publicado: 

Paulo Roberto de Almeida, André Heráclio do Rêgo:
 Oliveira Lima: um historiador das Américas 
(Recife: CEPE, 2017, 175 p.; ISBN: 978-85-7858-561-7). 
Anunciado no Diplomatizzando 

Meira Penna: um intelectual brasileiro - Paulo Roberto de Almeida

José Osvaldo de Meira Penna: um intelectual brasileiro


Paulo Roberto de Almeida
Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI).


Qualquer que seja a qualificação que se lhe atribua – liberal, conservador, direitista –, Meira Penna foi um dos grandes intelectuais brasileiros, certamente o maior da carreira diplomática, talvez até mais, na variedade e volume dos escritos, que os dois outros colegas que poderiam legitimamente lhe ser equiparados: Roberto Campos e José Guilherme Merquior. Já conhecedor de boa parte de sua obra, para preparar esta nota fui consultar as entradas sob seu nome nas bibliotecas próximas. As do Itamaraty, possuem apenas 27 obras (mas em vários exemplares), sendo 17 na SERE, oito no Rio de Janeiro e duas no Instituto Rio Branco. A do Senado Federal, mais copiosa em artigos do que em livros, exibe 16 obras no catálogo, mas 104 artigos – parte ínfima de seus “sueltos” em periódicos, durante décadas –, sendo o último deles significativamente intitulado “Por que escrever memórias?” (2006).
Suas memórias, justamente, ficaram por terminar, e ainda permanecem sob a guarda da família. Um excelente verbete na Wikipedia registra 23 livros publicados, dos quais eu destacaria os seguintes: O Brasil na Idade da Razão (1980); O Evangelho segundo Marx (1982); O Dinossauro (1988); Utopia brasileira (1988); Opção preferencial pela riqueza (1991); O espírito das revoluções (1997); A Ideologia do século XX (1994); Em berço esplêndido: ensaios de psicologia coletiva brasileira (1999); Da moral em economia (2002). Esse verbete, provavelmente escrito pelo amigo Ricardo Vélez-Rodríguez, trata de suas análises sobre o patrimonialismo brasileiro, nosso cartorialismo, o burocratismo, e vários ismos também fustigados pelo seu colega – e contemporâneo na carreira – Roberto Campos. Ambos ingressaram em 1938, ainda na fase dos concursos do DASP, (mal) acompanhados por muitos outros “empistolados” que entraram pela janela, o que prolongou-se até a criação do Instituto Rio Branco.
Antes de entrar no Itamaraty eu já o conhecia de nome, pelos artigos publicados no Estadão ou no Jornal do Brasil. Quando ingressei, fui ler um de seus livros: Política externa: segurança e desenvolvimento (1967), obra que discute de forma inteligente os dois princípios da era militar. O primeiro livro emergiu no segundo posto: Shanghai: aspectos históricos da China moderna (1944). Ao partir para missão temporária nessa cidade, em 2010, eu o contatei, para conversar sobre a cidade que ele tinha conhecido antes da dominação comunista. Em mensagem de 8/11/2009, ele me escreveu:
Estive duas vezes em Xanghai [sic]. Da primeira, 1941-42, como Vice-Cônsul sob as ordens do Cônsul Geral James F. Mee. Da segunda, em 1949, assistindo ao fim da guerra civil que trouxe Mao ao poder. Dessa segunda vez, fiquei quase um ano em Nanking como Encarregado de Negócios, até a chegada do novo Embaixador, Paranhos da Silva. Saí da cidade duas semanas antes da entrada dos maoístas. (...) Terei grande prazer em conversar consigo. Meu telefone é...

Eu já o conhecia desde os anos 1980, tendo feito uma visita à sua residência, a “Vila Castália”, na Park Way, depois de retornar do doutorado e começar a dar aulas no Instituto Rio Branco e na UnB, onde ele também se exercia como professor do então Departamento de Relações Internacionais. Ele me presenteou com um de seus livros, e nos anos seguintes fui adquirindo ou sendo agraciado com vários outros, todos eles fortemente estimulantes de um diálogo de alto nível sobre as razões do atraso brasileiro em perspectiva histórica e comparada, com base em grandes nomes da cultura ocidental: Weber, Tocqueville, Marx e outros pensadores. Meira Penna foi, salvo engano, o primeiro brasileiro a ser admitido na Sociedade do Mont Pèlerin, o grupo liberal criado no imediato pós-guerra por Friedrich Hayek para se contrapor ao keynesianismo, já dominante nas universidades e nas políticas econômicas de quase todos os países.
Por sua vez, ele se contrapôs desde o início ao pensamento estatizante e terceiro-mundista, que prevalecia nas elites brasileiras, independentemente do regime político ou das chefias do Itamaraty. Em plena atividade como embaixador nos anos 1970, Meira Penna nunca se eximiu de criticar as orientações da política externa, em especial as dos últimos governos da era militar. Tais críticas recrudesceram na democratização, a despeito da boa disposição inicial em relação ao banqueiro Olavo Setúbal. Aposentado desde 1981, seu último grande embate se deu pela denúncia das “polonetas”, os créditos oferecidos a países socialistas para a exportação de manufaturas brasileiras sem quaisquer garantias credíveis. O mesmo ocorreu nos financiamentos oferecidos a países do Terceiro Mundo, na África e na América Latina, redundando em grandes perdas para o país, quando as insolvências passaram a exame, e desconto, no âmbito do Clube de Paris, onde o Brasil era admitido como credor.
Em meados dos anos 1980 ele funda, com amigos e intelectuais de renome, a Sociedade Tocqueville, assim como esteve na origem do Instituto Liberal de Brasília. Suas principais contribuições no campo intelectual se dão na crítica ao patrimonialismo e à mentalidade estatizante e intervencionista no Brasil, entranhada na psicologia social, que interpreta com base em teses de Carl Gustav Jung. Uma das últimas manifestações de Meira Penna se deu em entrevista a Bruno Garschagen, do Instituto Mises Brasil, em 6/12/2013 – no link: https://www.youtube.com/watch?v=XkE00n0ZYNk –, na qual ele revela inicialmente que sua orientação liberal surgiu ainda em 1935, quando ele iniciava estudos de Direito e ocorreu a intentona comunista de novembro daquele ano. As leituras de Hayek, Mises e Milton Friedman foram solidificando suas convicções liberais, e sua oposição ao ambiente positivista, intervencionista, nacionalista míope, predominante no Brasil e na grande maioria dos países dominados pelo keynesianismo.
Sua morte, aos cem anos, em 29 de julho de 2017, deixou o Brasil mais pobre na vertente liberal, num ambiente intelectual carente de grandes nomes nessa área, pois já rarefeito desde o desaparecimento de Roberto Campos e de José Guilherme Merquior. Uma coleção de ensaios em sua homenagem seria bem vinda, a exemplo daquela que se fez por ocasião do centenário de Roberto Campos: O homem que pensou o Brasil. Uma coletânea de seus escritos mais representativos seria ainda melhor...



Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 21 de janeiro de 2018