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sábado, 9 de dezembro de 2017

Previsoes imprevisiveis para 2018: sempre otimista quanto 'a sua improbabilidade - Paulo Roberto de Almeida


Previsões imprevisíveis para 2018:
sempre otimista quanto à sua improbabilidade

Paulo Roberto de Almeida

Como costumo fazer todo final de ano, dedico-me a interrogar os astros para saber o que eles reservam ao Brasil e ao povo brasileiro no ano que se seguirá. Trata-se de uma tarefa fadada a um completo insucesso, e isso de forma deliberada, pois que minhas previsões têm isso de peculiar que elas são feitas, justamente, com vistas ao seu fracasso completo, sendo minha vitória tanto mais retumbante, neste gênero bizarro de astrologia política, quanto mais longe essas previsões se situarem de uma hipotética realização. Não por outra razão se chamam “previsões imprevisíveis”, mas também poderiam ser chamadas de “previsões imprevidentes”.
Todavia, essas previsões destinadas a não se realizarem também exibem um invariável otimismo, no sentido de esperar que um dia elas possam se concretizar. Ao revisar, um ano depois, as tarefas irrealizadas, ou inacabadas, o que encontro são derrotas previsíveis, em face de missões praticamente impossíveis. Não se trata, pois, de uma derrota completa, uma vez que posso renovar minha confiança no poder preditivo dos astros, já que o meu tipo peculiar de astrologia, como aquelas verdadeiras, só ganha título de nobreza e ares de credibilidade quando suas apostas são deliberadamente inverossímeis e de difícil, senão impossível, concretização.
Apenas para provar como tal prática de acertar no erro e no insucesso das previsões é uma arte de difícil manipulação, apresento a seguir um sumário de duas previsões que fiz alguns anos atrás, todas completamente estapafúrdias nas condições que eram as nossas – isto é, da política e da economia no Brasil sob o regime companheiro – e isto a despeito mesmo de seu caráter plausível, como eu sempre me esforço por sublinhar.
Em dezembro de 2004, para não ir muito longe, eu redigia “Sete previsões Imprevidentes: minha ‘caixa de surpresas’ para o novo ano”, que se constituíam, como seria de se esperar, em antecipações impossíveis de ocorrer no novo ano (divulgadas em Espaço Acadêmico, n. 44, janeiro de 2005). Em resumo, minhas apostas provocadoras e visivelmente exageradas eram as seguintes:
1. O governo decreta sua conversão ao capitalismo;
2. O Estado decide retirar-se parcialmente de cena;
3. Radical inversão das políticas sociais;
4. Concentração de recursos na educação fundamental;
5. Acaba a era Vargas: abolida a Justiça do Trabalho;
6. Decretado o fim da reforma agrária; e
7. Maior abertura e inserção econômica internacional.

Fui vitorioso, como se pode perceber pela total impossibilidade de realização das minhas previsões imprevisíveis, o que não me deixou descansando nios louros do sucesso, pois que menos de dois anos depois eu voltava a apostar na vitória de fracassos garantidos, ao anunciar novas previsões para 2007, como transcrevo a seguir:
1. O Brasil crescerá pelo menos 5% a partir de 2007, com queda no desemprego;
2. As contas fiscais caminharão para o equilíbrio, com tendência ao superávit nominal;
3. O Congresso vai conhecer um ano de alta produtividade e baixos gastos correntes;
4. O dólar vai se valorizar e a paridade do real satisfará aos exportadores e agricultores;
5. O déficit da Previdência caminha para o desaparecimento, com um choque de gestão;
6. A infraestrutura brasileira é renovada, com base em investimentos privados;
7. A integração regional avança, com a adesão de Cuba, Bolívia e Equador;
8. O governo demonstra alto grau de coesão política e grande eficiência administrativa;
9. O ensino público dá salto de qualidade e universidades não fazem greve por salários;
10. O MST reconhece que o agronegócio e a biotecnologia são benéficos ao Brasil.

Feitas estas digressões preliminares, de simples resguardo metodológico, vejamos quais seriam as minhas previsões para 2018:
1. Governo promete reduzir a base congressual para apenas 15 partidos;
2. Odebrecht patrocina nova cadeira na FEA-USP: Economia Política da Corrupção;
3. Tucanos se unem para ganhar as eleições de 2018;
4. Petistas se dividem quanto a colaborar na caixinha do chefe com contas bloqueadas;
5. Peemedebistas firmam pacto contra a corrupção;
6. FIESP quer que o Brasil conclua um acordo de livre comércio com a China;
7. Congresso aprova projeto de resolução extinguindo o Fundo Partidário;
8. Candidata da Rede consegue conceder uma entrevista compreensível;
9. Professores da UERJ atravessam o ano sem nenhuma greve;
10. Novo presidente eleito em outubro promete privatizar Petrobras e Banco do Brasil.

Não é preciso elaborar muito a respeito de cada uma destas previsões, não é mesmo? Como sempre, espero um completo fracasso no decorrer do próximo ano, com a colaboração especial do governo, do Congresso, dos partidos políticos, dos candidatos num ano eleitoral. Já vou colocar estas previsões imprevisíveis na minha agenda, para um rendez-vous com todos os meus 18 leitores em dezembro de 2018 para verificar minha nova derrota. Quem quiser apostar contra mim, pode mandar ofertas (se possível de livros) para este autor.

Brasília, 9 de dezembro de 2017.

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