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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

1748) Carreira diplomática: salário e promoção

Um curioso, identificado apenas como Batista me coloca as seguintes questões:

"Saudações, estive lendo o seu blog e um post antigo me chamou a atenção. No post referente a FAQ sobre a carreira diplomatica, gostaria de saber qual o salario maximo a que chega um diplomata em territorio nacional. Visto que em diversas pesquisas na internet nao pude descobrir o valor maximo; gostaria tambem de saber se a ascensão nos cargos diplomaticos dar-se-ão por tempo, como no militarismo, ou se são dadas por merito e trabalhos no exterior, por exemplo.
Grato por seu tempo."

Bem, Batista, o Correio Braziliense de hoje, ou de ontem, informa que o salário mais alto (certamente não o meu) no Itamaraty é algo superior a R$ 24.000,00, ou seja, próximo do salário de um ministro do Supremo (mas parece que estes já mereceram um aumento, coitados, ganham tão pouco... isso sem falar das mordomias, carro, auxilio residência, subsídio para toga e outras bondades, o que deve totalizar um salário equivalente maior do que 35 mil mensais, maior do que um membro da Suprema Corte dos EUA, coitados, tão pobres, comparados com os nossos).
Não sei se esse é o salário do Ministro de Estado, que não precisa ser um diplomata. Provavelmente é o salário do Secretário-Geral, que precisa, sim, ser diplomata.
Suponho que os ministros de primeira classe (embaixadores) estejam ganhando perto de 17 mil líquidos (ou seja descontado o IR), mas não tenho certeza.
Eu, como ministro de segunda classe, ganho bem menos do que isso, mas é porque não tenho gratificação nenhuma, por não ter atualmente um cargo definido (ao qual vem associado um DAS).
No início da carreira, um Secretário deve estar ganhando algo como 11 mil brutos, talvez 9 mil liquidos, ou um pouco menos.
Já se ganhou menos; antigamente tínhamos salários miseráveis em Brasília (e razoáveis no exterior).
Parece que o Lula gosta da gente. Deve ter seus motivos...

Quanto a ascensão, ela se dá tanto por antiguidade, mas também por tempo de serviço no exterior. Ninguém, a partir de Segundo Secretário, pode ser promovido sem contar tempo de exterior...

Espero ter satisfeito a sua curiosidade.
Tudo isso, ou seja, o salário de todos os funcionários públicos, deveria ser uma informação transparente (menos os "por fora", que podem existir, vá lá saber...).

18 comentários:

Glauciane Carvalho disse...

Veja só o que temos: um embaixador (diplomata em fim de carreira)ganhando esta miséria, enquanto, que um procurador do Ministério do Trabalho ao ingressar (início de carreira) começa ganhando R$ 21,5 mil reais.
Será que um procurador estuda o que estuda um profissional para chegar ao cargo de embaixador ?
Eles pedem tudo na prova, mas quando se compara ao que é solicitado ao procurador, observa-se que é muito mais fácil passar na prova da MPT do que do Itamaraty.
Eu, sinceramente, não consigo compreender este disparate...Fazer o quê, isso é Brasil.

Batista disse...

Sim, satisfez!

A verdade é que ainda sou jovem em inicio de carreira universitaria, portanto ainda estou em tempo de definir meu futuro, tenho muitas das qualidades que o senhor declarou importante para um bom diplomata, mas como ainda estou em tempo prefiro analisar os pros e contras da maioria das carreiras com as quais me identifique para entao escolher a que me será mais benéfica.

Muito obrigado por seu tempo.

E. Baldi disse...

Com a permissão do PRA, acho conveniente apoiar a observação da Glauciane Carvalho no que toca aos rendimentos das carreiras jurídicas no Brasil. Tais rendimentos acabam atraindo candidatos de perfis cobiçosos ao invés de vocacionados. O resultado é o número crescente de juízes que, depois de 5 anos na carreira, já não suportam mais presidir audiência. Sem desprestigiar e minorar a importância social dessas carreiras, é necessário repensar a posição econômica desse estamento no corpo funcional brasileiro.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Inteiramente de acordo com os comentarios da Glauciane e do Baldi.
Existe hoje uma selva salarial no Brasi, na qual as categorias mais espertas, mais corporativas, ou dotadas de maior poder de fogo conseguiram salarios de marajá, atraindo com isso uma massa de pessoas unicamente orientadas para o concurso e o salário, nada alem disso.
Alias, no Brasil, todo mundo quer ser funcionario publico, poucos querem ser empresarios, o que é uma distorcao terrivel para o pais, que nos fará pagar um alto preço no futuro.

Brasil disse...

Ainda nessa discussão, mas não no tocante salarial, existe uma distinção entre diplomatas de carreira e os outros, nesse caso, quais seriam as outras formas de ingresso ao corpo diplomático se não por meio do concurso de admissão?

desde já obrigado,

JD

Glauciane Carvalho disse...

Baldi,
vou fazer mais um acréscimo aos seus apontamentos em relação ao por quê os universitários querem seguir na carreira jurídica. Como o mestre PRA disse, no Brasil, ninguém quer ser empresário. A família já induz ao jovem a ser funcionário público. Se um jovem diz que quer ser empresário, isso é terrível na família, pois significa instabilidade no futuro, o que é lamentável. Outro fator, está na formação burocrática brasileira que tem sua origem (cabide de emprego), já na vinda da família real. Que trouxe os sanguessugas de lá (lembro que minha colocação não é aversa aos portugueses, apenas relembrando fatos) e antes até já se tinha esse tipo de problema no Brasil.
Quanto à carreira jurídica é outro grande problema, pois há uma visão conservadora e ortodoxa nesses profissionais que ganham absurdamente e não produzem para aquilo que recebem.
Juízes despreparados, e que inclusive, refletem tristemente a realidade dos cursos jurídicos no Brasil, em uma mediocridade intelectual sem precedentes.
É triste de se ver, mas é a realidade no Brasil.
As pessoas não estudam Direito por amor à Ciência Jurídica, mas sim para terem cargos públicos e estabilidade. O que se vê na sequência é a insatisfação profissional, o que converge para uma péssima prestação nos serviços públicos.E quem sofre com isso? É o contribuinte...

Paulo Roberto de Almeida disse...

Jonhatan,
Nao existe diplomata que nao seja de carreira. So se entra por concurso.
Embaixadores podem ser fora da carreira, so isso.

Glauciane Carvalho disse...

Jonathan,
para ser diplomata no Brasil, somente é possível através de concurso. Contudo, alguns cursos de pós-graduação abordam títulos como Diplomacia empresarial, por exemplo. Mas, estudar estas pós não dá o título de diplomata para quem o faz. Quando me refiro a diplomata de carreira é neste sentido. Querendo induzir ao entendimento,de que esta pessoa frequentou o Instituto Rio Branco e seguiu na carreira pública. (Mas, nem em todos os países é assim).Assim como existe a distinção entre juiz de carreira (toga) e juízes leigos. Em uma analogia, apenas em caráter explicativo. Esta é uma terminologia utilizada, inclusive, dentro do próprio Itamaraty. Ok ?

Deborah Addams disse...

Olá, Professor Paulo!

Será que poderia ajudar uma jovem com sérias dúvidas sobre seu futuro?

Bem, antigamente tinha uma certeza: queria seguir a diplomacia (pelas experiências culturais, pelas mudanças, por uma vida mais dinâmica etc.)... Mas depois de conhecer um diplomata que ODEIA ser diplomata, perdi minha convicção.

Porém, não creio que deva seguir tão cegamente os conselhos de alguém que detesta o Itamaraty, então peço sua segunda opinião, pois você parece ser uma das raras - e sortudas - pessoas que ama o que faz. Então, quando tiver um tempinho, poderia postar algo sobre prós e contras da carreira?

Mais especificamente sobre:

> subordinação (se, às vezes, temos que obedecer a ordens que vão contra tudo em que acreditamos, de cunho puramente político);
> promoção na carreira (é a competência ou o fisiologismo que embasam as escolhas);
> Itamaraty x Diplomatas (os servidores são valorizados, políticas de pessoal etc.);
> Cônjuge (como fica o cônjuge frente à necessidade de mudança, sendo ele diplomata ou não);
> Regalias/Proibições;
> Ramos (uma vez diplomata, sua formação originária é levada em conta, ou um Bacharel de Direito eventualmente trabalhará com Economia?);
> São dadas opções ao diplomata? Por exemplo, o tempo que vai passar em um país [3 ou 4 anos], pedir para mudar etc. Opções limitadas, evidentemente, pois a profissão exige mudanças de tempos em tempos, mas existem opções?

Enfim, informações mais relacionadas às atividades e opções dentro do Itamaraty.

Se puder ajudar, seria imensamente grata. =)

Paulo Roberto de Almeida disse...

Deborah Addams,
Já escrevi muito sobre isso, e como estou em viagem nao tenho tempo de me repetir, ou escrever novamente sobre tudo isso.
Sugiro que voce consulte com palavras chaves meu site e meus blogs. No site tem uma secao sobre isso, onde acho que reuni todas essas questoes.
Veja la, que acho que voce vai encontrar muitas respostas a suas muitas questoes.
Cordialmente,
Paulo Roberto de Almeida

Anônimo disse...

Olá, professor Paulo,
poderia me esclarecer uma dúvida, por favor?

É conhecida a relação entre o poder público e os cônjuges de funcionários públicos heterossexuais, aos quais são garantidos alguns direitos. Recentemente, alguns órgãos públicos anunciaram reconhecer um cônjuge do mesmo sexo como dependente em alguns casos e como beneficiário em outros.

Pretendo seguir carreira diplomática e sigo em uma relação estável homossexual há alguns anos

Minha pergunta é: mesmo ainda não havendo a união civil em nosso país, meu companheiro é considerado meu cônjuge para todos os efeitos?
Ele poderá me acompanhar em minha moradia em outros países?

Cordialmente,
Plínio Cruz

Paulo Roberto de Almeida disse...

Plinio,
O Itamaraty é uma Casa tolerante, quase uma Santa Casa. Certo, ainda não vi na prática como isso funciona, mas já ouvi falar de diplomatas homossexuais que registraram seus acompanhantes como conjugues para efeitos de passaporte, remoção, etc. Não sei qual o alcance desses benefícios e em qual legislação eles se apoiam pois nunca trabalhei em Administração e nunca me interessei por saber.
Mas suponho que isso seja perfeitamente possível.
Paulo Roberto de Almeida

Leonice Lima disse...

Sou formada em Serviço Social, mestre e doutora na profissão. Estudante de Direito e tenho 03 perguntas:
1. Existe limite de idade para ingresso na carreira diplomática?
2.Há concursos para ingresso na carreira anualmente ou qual a periodicidade?
3.O Sr. pensa que os cursos preparatórios para o Concurso de ingresso na carreira realmente fazem diferença?
Se possível, favor enviar-me resposta via e-mail: lecaclima@yahoo.com.br

Att
Profa. Leonice Domingos dos Santos Cintra Lima

Anônimo disse...

Alguém aí quer ser diplomata não pelas opotunidades de "conhecer novas culturas", viajar o mundo, "ter uma vida mais dinâmica",novas línguas, não ser revistado no aeroporto e ter um salário estratosférico, mas sim pela oportunidade de ter uma posição ativa dentro do poder público que lhe permite defender o seu país, sua bandeira, e os interesses internos frente aos outros Estados, e até mesmo mudar a realidade social? Como cidadão, membro da sociedade civil, fica minha chamada, porque estes são os que eu quero me defendendo, os que se posicionam a favor do meu país, e não estão num posto representativo apenas pelo RG diferenciado, e quando se encontram na linha de frente com outros Estados, subjugam a minha nação. Como cidadão, faço cumprir o meu direito de voz e EXIJO pessoas que amem o país para serem diplomatas!
Luís Tadeu.

Anônimo disse...

Boa Noite, muito obrigado pelo blog é muito elucidativo. Sendo formado em economia gostaria de saber como são tributados os salários no exterior, recebem o salário de Brasília mais um complemento não tributado ou o salário é os salários no exterior, recebem o salário de Brasília mais um complemento não tributado ou o salário é tributado integralmente. Neste ultimo caso, se assim for e dado que os salários variam de 7-15mil dolares líquidos (de acordo com o pais) pensão será equivalente..
Não questiono os valores em causa, penso que são justos (nalguns casos até reduzidos) para uma profissão tão ingrata, Saudações e um Obrigado

Paulo Roberto de Almeida disse...

Meu caro Anonimo,
A tributacao no exterio incide apenas sobre 25pc dos vencimentos.
Nao tem nada a ver com os salarios do Brasil, pois sao outra escala.
Nao tem nada a ver tampouco com a pensao oubaposentadoria, que segueca escala brasileira.
A profissao nao e' ingrata, ao contrario. Da' para se divertir...
PRA

Anônimo disse...

Compreendo, mas seria possível exemplificar com um exemplo prático ( ex: um secretario ou um conselheiro no exterior)? Esses 25% tributáveis correspondem ao salário recebido em Brasília? São equiparados a ajudas de custo como no privado...Muito Obrigado

Paulo Roberto de Almeida disse...

Nao me ocupo de administracao, nem de salarios, nunca me ocupei, nunca pretendo me ocupar. Ganho o que me pagam, sem questionamentos, e nem me interesso em saber como, porque ou de onde sai o dinheiro.
Ja disse que sao duas escalas, mais eu nao sei e nao me interesso em saber.
Paulo Roberto de Almeida