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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sábado, 4 de novembro de 2017

Seminario O Brasil e a Grande Guerra: IHGB-RJ, 6/11/2017, 9:00hs



Seminário “O Brasil e a Grande Guerra: Diplomacia e História”
A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e a Embaixada da França no Brasil convidam para o seminário “O Brasil e a Grande Guerra: Diplomacia e História”. O evento será realizado em 6 de novembro, às 9h, na sede do IHGB, Rio de Janeiro. Confira a programação completa.
Inscreva-se.
Serviço
Seminário: “O Brasil e a Grande Guerra: Diplomacia e História”.
Local: Av. Augusto Severo, nº 8, 9º, 13º andar, Glória 20021-040, Rio de Janeiro.
Data e hora: 6 de novembro, às 9h.

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Quando do início da guerra na Europa, fui convidado pelo jornalista Alberto Dines para dar uma entrevista em vídeo para emissão especial que ele preparava para o seu "Observatório da Imprensa". Não disponho do link para essa emissão, se ainda estiver disponível.
Mas transcrevo abaixo a ficha do texto-guia para a emissão que eu tinha preparado para aquela ocasião.


2622. “A guerra de 1914-1918 e o Brasil: impactos imediatos, efeitos permanentes”, Hartford, 26 junho 2014, 5 p. Roteiro para gravação de um depoimento em vídeo para emissão especial do Observatório da Imprensa, sobre o impacto da Primeira Guerra Mundial sobre o Brasil em termos políticos, econômicos, culturais e militares; depoimento por meio de webcam; feitas duas gravações de dois minutos cada. Publicado em Mundorama (28/07/2014; ISSN: 2175-2052; link: http://www.mundorama.net/?p=14424); postado duas vezes no Diplomatizzando (links: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/06/o-brasil-e-primeira-guerra-mundial-no.html e http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/07/a-primeira-guerra-mundial-e-o-brasil.html). Emissão “Os 100 anos da guerra que não acabou”, com Alberto Dines, Programa n. 736 do Observatório da Imprensa (em 5/08/2014; sem link atual). Postado novamente no blog Diplomatizzando (15/08/2017; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/a-grande-guerra-e-seus-efeitos-sobre-o.html). Relação de Publicados n. 1138.


domingo, 29 de outubro de 2017

Protecionismo comercial brasileiro: alem de prejudicial, ridiculo - Marcos S. Jank, Jose Tavares Araujo

O interesse público na defesa comercial

Jornal “Folha de São Paulo”, Caderno Mercado, 28/10/2017

Marcos Sawaya Jank (*)
José Tavares de Araujo Jr. (**)

A Camex precisa analisar em profundidade o "interesse público" por trás das sobretaxas do aço

Os defensores da escalada de medidas antidumping aplicadas pelo governo brasileiro desde 2006 costumam argumentar, corretamente, que tais medidas são legítimas e amparadas pelas normas da OMC (Organização Mundial do Comércio). Legais e legítimas, sem dúvida, mas não necessariamente razoáveis e benéficas para a economia como um todo.

Por isso, antes de qualquer decisão, é fundamental verificar os ganhos e as perdas do processo e avaliar se há real interesse público nas medidas propostas.

Um exemplo recente do grau de insensatez da nossa política comercial reside na indústria de laminados de aço a quente, cujos preços afetam, virtualmente, as estruturas de custos de todo o sistema industrial. Entre 2010 e 2016, as importações desse produto caíram de US$ 734 milhões para US$ 88 milhões, ou seja, praticamente desapareceram. 

Mesmo assim, no ano passado o governo tomou duas providências excêntricas. Em julho, abriu uma investigação antidumping contra as importações de aço oriundas da China e da Rússia, que vai seguramente aumentar ainda mais o preço do aço vendido no mercado interno. 

Esse preço tem sido bem superior ao que o Brasil pratica nas exportações do produto. Tanto que há duas semanas a União Europeia impôs elevadas sobretaxas antidumping contra o aço exportado pelo Brasil, usando os mesmos argumentos que o país quer fazer valer contra a China. Não há logica alguma nessa corrente protecionista anacrônica, que, aliás, cria precedentes para outros tipos de aço. Não é para menos que 23 associações de indústrias usuárias de aço se uniram formando uma coalizão contra a sobretaxa.

Não bastasse o antidumping, em novembro o Brasil iniciou processo sobre os subsídios supostamente concedidos pelo governo chinês aos fabricantes de laminados de aço. É a primeira vez que o Brasil contesta os subsídios chineses.

Os chineses entendem que, se o Brasil for adiante e aplicar direitos compensatórios contra os subsídios, estaria claramente tomando partido ao lado dos EUA e da Europa na matéria, países que até aqui lideram essa modalidade de defesa comercial. A retaliação mais evidente cairá sobre as nossas exportações do agronegócio, como já está ocorrendo no caso do açúcar –com a imposição de uma salvaguarda global que só atingiu o Brasil– e da carne de frango, cuja petição inicial sugere a aplicação de taxas antidumping da ordem de 40%.

Alguns dirão que isso tudo tem a ver com a polêmica do reconhecimento da China como economia de mercado. Mas, no nosso entendimento, o que realmente está em jogo é a falta de visão estratégica sobre o interesse nacional em geral e os rumos da política comercial em particular.

Há 15 anos rejeitamos a construção de blocos econômicos com países americanos e europeus. Agora estamos irritando a China, a Rússia e outros parceiros emergentes, com esse neoprotecionismo surreal cumulativo, que prejudica a nossa competitividade e capacidade de inserção nas cadeias globais de valor.

É fundamental que a Camex analise em profundidade o "interesse público" que haveria por trás das sobretaxas de antidumping e anti-subsídios no aço. No nosso entendimento, elas vão fortalecer o poder de mercado dos fabricantes de aço, prejudicar o resto da economia e irritar o principal parceiro comercial do país, atingindo o agronegócio exportador.

Em vez de ficar atirando bravatas xenofóbicas contra a competitividade conquistada pelo resto do mundo, deveríamos, sim, refletir seriamente sobre os vetores que nos jogaram para trás nesses últimos anos e avançar nas reformas estruturais que nos recolocariam no planeta. 

(*) Marcos Sawaya Jank é especialista em questões globais do agronegócio. Escreve aos sábados, a cada duas semanas.
(**) José Tavares de Araujo Jr. é doutor em economia pela Universidade de Londres e sócio da Ecostrat Consultores. Email: jtavares@ecostrat.net

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Historia da Riqueza no Brasil - livro de Jorge Caldeira

Não concordo em que Geisel e Lula tenham tido "ideologias diferentes", e ainda assim tenham praticado "políticas econômicas semelhantes". Eles tinham ideologias absolutamente idênticas, o mesmo nazismo econômico, o mesmo nacionalismo obtuso, o mesmo intervencionismo idiota, o mesmo estatismo desenfreado, talvez por motivos e caminhos diferentes, mas exatamente iguais em intenções e resultados, ou  seja, o nosso atraso.
Não concordo, tampouco, em que Mao Tsé-Tung tenha decidido lançar a China no comércio internacional. Mao, como Lênin, podia ser um grande líder político, este bom organizador de um partido de revolucionários profissionais e ousado líder de um putsch, o primeiro o condutor de homens em armas para a conquista violenta do poder pela guerra civil, mas ambos foram absolutamente estúpidos em matéria econômica, fechando mercados, liderando um processo de escravidão moderna, praticando deformações econômicas monstruosas.
Mas, preciso ler o livro de Caldeira, para opinar sobre suas ideias, argumentos, demonstrações, mas desde já afirmo que não considero Piketty digno de citação como metodologia econômica.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 outubro 2017

HISTÓRIA DA RIQUEZA NO BRASIL
AUTOR: Jorge Caldeira
EDITORA: Estação Brasil (622 págs.)
QUANTO: R$ 69,90

...” a proximidade do ponto de vista econômico do governo Geisel, na década de 70, e do segundo mandato de Lula, na segunda metade dos anos 2000. Para Caldeira, no intuito de reforçar o mercado interno, ambos reduziram o contato da economia do Brasil com o exterior, levando o país à recessão.”...

...”Com as mudanças implantadas por Ruy Barbosa, em 1890, começa uma onda de crescimento gigantesca. Em 1906, a política de valorização do café contribuiu para o grande desenvolvimento econômico. O país crescia perto de 6% ao ano, às vezes mais. Houve ainda uma modernização acelerada do Brasil. Em 1929, a indústria já era do tamanho da agricultura no PIB brasileiro."...
...Em 1973, o PIB do Brasil era maior que o da China. Foi neste momento que esses dois países tomaram decisões opostas.
Mao Tsé-Tung decidiu lançar a China ao comércio internacional, o que ocorreu também com Japão e Cingapura. 
No Brasil, Ernesto Geisel interpretou o momento de modo diferente. Decidiu aumentar o isolamento do país porque o mercado interno parecia para o governo dele muito melhor do que as oportunidades no mundo. Pegou, então, dinheiro emprestado no exterior para investir em estatais. 
Houve uma recessão brutal, ou seja, o Brasil perdeu a aposta contra a globalização." ...


Lula e Geisel tomaram rumo semelhante na economia, diz autor

NAIEF HADDAD
DE SÃO PAULO 
Autor de obras relevantes para a compreensão da história econômica do país, como "Mauá, Empresário do Império" (1995) e "Nem Céu Nem Inferno" (2015), o escritor e jornalista Jorge Caldeira, 61, lança "História da Riqueza no Brasil", um de seus livros mais ambiciosos. 
Mestre em sociologia e doutor em ciência política, ambos pela USP, Caldeira reavalia parte expressiva dos rumos econômicos trilhados pelo país. 
Ele diverge da historiografia tradicional, por exemplo, nos capítulos dedicados ao Brasil colônia. De acordo com os autores clássicos, nesse período só o latifúndio produzia riqueza, que era enviada ao exterior em sua quase totalidade. Caldeira, contudo, escreve que a colônia tinha um mercado interno forte, muito além das grandes propriedades, e uma economia mais dinâmica que a da metrópole. 
Para alcançar conclusões como essa, ele recorreu intensamente à antropologia e à econometria, que aplica a matemática e a estatística à teoria econômica. 
"A história econômica do país está em processo de mudança. Basta ver o sucesso que o Piketti tem feito no Brasil", diz Caldeira.
O francês Thomas Piketty é autor do best-seller "O Capitalismo no século 21", que reúne novas informações sobre a economia mundial partir da comparação de dados estatísticos de dezenas de países. 
"Quando você tem esses dados no computador e consegue comparar as informações, é possível chegar a um retrato espetacular. Os livros que faço são filhos dessa mudança tecnológica", afirma o autor, que não critica a historiografia tradicional. 
"Informações como as que eu obtive, a partir da econometria, simplesmente não estavam ao alcance dos clássicos", afirma.
Nos capítulos finais de "História da Riqueza no Brasil", que tem mais de 600 páginas, ele indica a proximidade do ponto de vista econômico do governo Geisel, na década de 70, e do segundo mandato de Lula, na segunda metade dos anos 2000. Para Caldeira, no intuito de reforçar o mercado interno, ambos reduziram o contato da economia do Brasil com o exterior, levando o país à recessão. 
"É difícil entender como, a partir de ideologias opostas, Lula e Geisel tenham tomado rumos semelhantes na economia. Essa é uma pergunta sobre a ideologia para a qual não tenho respostas. O livro traz perguntas, não respostas", diz ele, que estuda a história econômica brasileira há mais de três décadas. 
* 
BRASIL COLÔNIA
"A ocupação antes da chegada dos portugueses é definida pela historiografia tradicional por meio do conceito de economia de subsistência, segundo o qual povos que não têm um grau de desenvolvimento alto produzem apenas o mínimo necessário para manter a existência vital. Agora, [há uma nova visão] que indica uma economia produtiva, capaz de reagir a novidades.
Já sobre o Brasil colônia, os autores clássicos dizem que, nesse período, a riqueza foi para fora do país, e só o latifúndio produzia riqueza. Pela definição atual [baseada em estudos de econometria], a economia da colônia se tornou mais dinâmica que a da metrópole, mesmo com o governo central mandando dinheiro para fora do país. Esse é o retrato do Brasil em 1800.
Faço comparações possíveis com o resto do mundo. A essa altura, o Brasil tinha aproximadamente a mesma dimensão da economia dos EUA."
IMPÉRIO
"Segundo a historiografia tradicional, esse é o período em que o Brasil começou a ter algum progresso. Pelos dados recentes da econometria, porém, foi uma economia que permaneceu estagnada durante 70 anos. Nessa fase, o crescimento da renda per capita foi zero. 
Isso ocorreu justamente quando as economias do Ocidente começaram a crescer. Ao fim desse período, a economia brasileira passou a representar menos de 10% da economia dos EUA" 
A PRIMEIRA REPÚBLICA
"A visão tradicional é de um período agrário, em que o Brasil não progrediu muito. Prevalecia a política dos coronéis. De fato, a política era ruim, mas a economia não, como mostra a econometria. 
Com as mudanças implantadas por Ruy Barbosa, em 1890, começa uma onda de crescimento gigantesca. Em 1906, a política de valorização do café contribuiu para o grande desenvolvimento econômico. O país crescia perto de 6% ao ano, às vezes mais. 
Houve ainda uma modernização acelerada do Brasil. Em 1929, a indústria já era do tamanho da agricultura no PIB brasileiro."
A PARTIR DE 1930
"No período que vai de 1930 ao regime militar, há coincidência entre a interpretação tradicional e a econometria. A economia continua crescendo em ritmo acelerado, e os outros países, em geral, não.
Considerando o intervalo entre 1890 e 1970, a economia brasileira foi a que mais cresceu no mundo, um desempenho excepcional.
O que mais interessa, no entanto, é o que aconteceu dos anos 70 em diante. Em 1973, o PIB do Brasil era maior que o da China. Foi neste momento que esses dois países tomaram decisões opostas. 
Mao Tsé-Tung decidiu lançar a China ao comércio internacional, o que ocorreu também com Japão e Cingapura. 
No Brasil, Ernesto Geisel interpretou o momento de modo diferente. Decidiu aumentar o isolamento do país porque o mercado interno parecia para o governo dele muito melhor do que as oportunidades no mundo. Pegou, então, dinheiro emprestado no exterior para investir em estatais.
Houve uma recessão brutal, ou seja, o Brasil perdeu a aposta contra a globalização." 
ÚLTIMOS 30 ANOS
"[A partir da redemocratização], os governos Collor, Itamar e Fernando Henrique tentaram refazer essas ligações internacionais para aproveitar as oportunidades. O Lula inicialmente também. 
Mas depois o Lula teve a brilhante ideia de nacionalizar o pré-sal. Imaginava-se que os royalties resolveriam os problemas do país.
A aposta vai no mesmo sentido do que fez Geisel, para quem apostar no que está aqui dentro é muito melhor do que manter a integração com os demais países. À parte a corrupção e outros problemas, esse erro estratégico do Lula, apoiado pelo Congresso e por empresários, resultou nessa recessão recente. Foi, portanto, uma segunda aposta perdida contra a globalização." 
RECESSÃO
"Tenho a impressão de que a recessão que se seguiu à renúncia de Dom Pedro 1º, em 1831, foi maior que a crise econômica dos anos recentes. Houve uma destruição social, que resultou, por exemplo, na Cabanagem, no Pará, e acabou em prostração econômica. Mas digo isso intuitivamente, não há dados econométricos para comprovar isso. 
Com os números em mãos, podemos dizer que essa de 2015 e 2016 foi mais grave que a de 1929 e também que a dos anos 1980". 
IDEOLOGIAS
"É difícil entender como, a partir de ideologias opostas, Lula e Geisel tenham tomado rumos semelhantes na economia. Essa é uma pergunta sobre a ideologia para a qual não tenho respostas. Esse livro traz perguntas, não respostas. 
Me pergunto também se essas ideologias que nós vemos como opostas não são apenas sobras de uma era que ficou no passado. E me pergunto também se o Fla-Flu ideológico dos dias de hoje não é só um modo de manter vivo algo que não explica mais o Brasil. 
Sobre o governo Dilma, tenho a seguinte impressão: quando já havia indícios suficientes de que essa condução da economia não daria certo, em 2012, 2013, Dilma ainda tinha convicção de que era o melhor caminho. Até o ponto que não deu mais, depois da reeleição dela. 
Por outro lado, é preciso entender que a situação é sempre difícil para quem dirige a nação. Passado o tempo, é fácil julgar a história. Quanto mais perto do presente, mais complicado é fazer isso".
ALTOS E BAIXOS
"Se pensarmos no longo período de que esse livro trata, 520 anos, o Brasil tem cerca de 400 bons anos. Portanto, não é o fim do mundo.
O que há em comum nessas fases ruins, que somam 120 anos, é tratar uma peculiaridade local como se fosse boa para o universo. O Brasil não é o centro do mundo. 
Quando a economia brasileira deixa de olhar para o resto do mundo, oportunidades são perdidas"
- 
HISTÓRIA DA RIQUEZA NO BRASIL
AUTOR: Jorge Caldeira
EDITORA: Estação Brasil (622 págs.)
QUANTO: R$ 69,90


CRÍTICA 

Amparado em números, Caldeira explica cinco séculos de Brasil

 O jornalista e historiador Jorge Caldeira


NAIEF HADDAD
DE SÃO PAULO 
Não faltassem dois meses para o arremate de 2017, seria possível cravar: "História da Riqueza no Brasil" (ed. Estação Brasil), de Jorge Caldeira, é o grande lançamento de não ficção do ano no país. 
O livro representa o ápice até aqui da carreira do escritor e jornalista Caldeira, 61, em seus estudos de mais de três décadas sobre a história econômica do país. 
É o 16º livro dele, cuja bibliografia é composta por obras de prestígio como "Mauá, O Empresário do Reino" (1995), "O Banqueiro do Sertão" (2006) e "Júlio Mesquita e seu Tempo" (2015). 
Para a concepção de "História da Riqueza no Brasil", Caldeira não abandonou os métodos usuais dos historiadores, como a consulta aos documentos de época. Mas a excelência do projeto se deve sobretudo a duas outras iniciativas, ambas em ascensão, embora ainda sejam incomuns no ambiente acadêmico brasileiro. 
A primeira foi lançar mão da antropologia para uma leitura mais completa da história econômica, especialmente do período que antecede a chegada dos portugueses e do Brasil colônia. 
Mestre em sociologia e doutor em ciência política, ambos pela USP, o autor se valeu de uma variedade de estudos de campo, entre os quais se destacam as pesquisas da cultura guarani pelo antropólogo francês Pierre Clastres (1934-1977). 
A segunda, e mais importante, decisão de Caldeira foi usar a econometria, como, aliás, tem feito nos seus livros mais recentes. Grosso modo, trata-se de um método estatístico de análise de dados econômicos, que só se tornou plenamente viável graças ao avanço da tecnologia nas últimas quatro décadas. 
Caldeira não é o primeiro historiador brasileiro a recorrer às fontes da antropologia e da econometria. O caráter pioneiro da sua obra está, na verdade, na combinação exaustiva desses novos conhecimentos e técnicas de pesquisa para montar um retrato tão abrangente, ou seja, mais de cinco séculos dos rumos econômicos do país. 
Em geral, a historiografia clássica descreve o Brasil colônia como período em que só os latifúndios produziam riqueza, e todo o excedente seguia para Portugal. Não existia dinamismo mercantil.
O livro recém-lançado reavalia, para dizer o mínimo, essa abordagem tradicional. 
"Com a acumulação dos dados, ficou cada vez mais evidente que, no final do século 18, a economia colonial brasileira era pujante, e pujante em decorrência do crescimento do seu mercado interno. Mais ainda, era uma economia bem maior que a da metrópole", escreve Caldeira no capítulo 19.
Também redimensiona outros períodos, como o Império e a Primeira República. 
Ao comparar dados do Brasil e de outros países, como os Estados Unidos, Caldeira mostra onde caímos do bonde da história –ou deixamos de pegá-lo. 
Por volta de 1800, a economia brasileira tinha porte equivalente à dos EUA. Ao fim do período imperial, nos últimos anos do século 19, o peso econômico do país representava menos de 10% do ostentado pelos americanos.
Amparado em números, "História da Riqueza no Brasil" poderia resultar em um inextricável compêndio de estatísticas. Não é o que acontece graças à capacidade de Caldeira de escrever como um jornalista faz –ou como deveria fazer. Prevalecem no livro a clareza, a fluência e a atenção ao contexto e às boas histórias. 
Outro cuidado do autor é, à luz das divergências, não soar desrespeitoso com os clássicos. Afinal, o acesso às comparações entre bancos de dados é muito recente. 
Caldeira nos faz crer que seu livro é só um passo inicial de um longo trabalho de reescrever o passado.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Seminario “Brasil-India - Instituto Rio Branco, Brasília, 24-25/10/2017

Convite seminário
"Brasil-Índia: 70 anos de relações diplomáticas"


A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), o Ministério das Relações Exteriores e o Indian Council of World Affairs (ICWA) promoverão o Seminário “Brasil-Índia: 70 anos de relações diplomáticas”, a realizar-se nos dias 24 e 25 de outubro de 2017, no Instituto Rio Branco, em Brasília.

Com o objetivo do aprofundar o debate sobre as relações bilaterais entre o Brasil e a Índia, o seminário será composto por palestras sobre "70 anos das relações Brasil-Índia: de onde viemos, desafios atuais nas relações bilaterais e caminhos para maior aproximação"; e  por 3 painéis: (i) segurança alimentar e energética: complementaridades e possibilidades de cooperação entre Brasil e Índia; (ii) evolução das relações econômicas e comerciais Brasil-Índia e perspectivas futuras; e (iii) parceria entre Brasil e Índia para a construção da governança global no século XXI. 

Para mais informações e inscrição visite a página oficial da FUNAG.

Serviço

Seminário: “Brasil-Índia: 70 anos de Relações Diplomáticas”.
Local: Instituto Rio Branco.- Brasília/DF.
Data e hora: 24 e 25 de outubro, às 9h30.
 
O evento será em inglês.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Distribuição de renda no Brasil: historicamente desigual

Sociologia 

Tese sobre história da desigualdade no Brasil é premiada pela Capes

Por Ligia Guimarães
Valor Econômico, 10/10/2017

SÃO PAULO  -  O trabalho "A desigualdade vista do topo: a concentração de renda entre os ricos no Brasil, 1926-2013", publicado em 2016 pelo pesquisador Pedro Herculano Guimarães Ferreira de Souza, venceu o prêmio Capes 2017 de melhor tese de doutorado em sociologia.
Souza é  doutor em Sociologia e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em desigualdade e pobreza. No trabalho, orientado por Marcelo Medeiros, também do Ipea, Souza elaborou a série mais longa disponível até hoje sobre qual é a fatia da renda nacional apropriada pelo topo mais rico ao longo da história. 
"É um prêmio muito importante. E o trabalho também. A pesquisa do Pedro é mais do que um estudo sobre desigualdade, ela conta a história da economia brasileira sob uma perspectiva nova, a da concentração da renda ao longo do tempo", afirmou Marcelo Medeiros.
Os cálculos de Souza já indicavam, no ano passado, que em 2013, da renda total do país, 51,5% ficavam nas mãos dos 10% mais ricos, ante 49,4% em 2000. A fatia do 1% mais rico (com renda média de R$ 635 mil por ano, ou R$ 53 mil por mês) também permaneceu elevada, nos cálculos de Souza: era de 22,2% e passou a 22,9% em 2013. "Houve mais uma redistribuição, digamos assim, entre os 80% mais pobres, e não dos mais ricos para os mais pobres", diz Souza.
Souza, junto com seus colegas de Ipea Fábio Castro e Marcelo Medeiros, foi autor dos trabalhos pioneiros, no Brasil, com uso de dados do Imposto de Renda para calcular desigualdade social. Informações sobre o IR começaram a ser divulgadas regularmente e em detalhes pela Receita Federal em 2014.
A metodologia, que ganhou visibilidade nos trabalhos do francês Thomas Piketty, ameniza um problema observado nas pesquisas domiciliares de renda no mundo todo, baseadas em entrevistas de uma amostra de famílias, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE: elas captam mal as rendas mais altas, que acabam subestimadas. No IR, a obrigação legal da declaração torna a amostra mais abrangente e realista.

Leia as reportagens que o Valor já publicou a respeito do trabalho acadêmico de Souza:

terça-feira, 5 de setembro de 2017

A diplomacia na construção do Brasil – 1750-2016: livro de Rubens Ricupero (em breve)

Rubens Ricupero lança
 “A diplomacia na construção do Brasil – 1750-2016”

Em edição de capa dura e ilustrada, obra única sobre a história das relações do Brasil com o mundo terá lançamentos em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, a partir do dia 3 de outubro

Poucos países devem à diplomacia tanto como o Brasil. Além da expansão do território, em muitas das principais etapas da evolução histórica brasileira, as relações exteriores desempenharam papel decisivo. Com seus acertos e erros, a diplomacia marcou profundamente a abertura dos portos, a independência, o fim do tráfico de escravos, a inserção no mundo por meio do regime de comércio, os fluxos migratórios, voluntários ou não, que constituíram a população, a consolidação da unidade ameaçada pela instabilidade na região platina, a industrialização e o desenvolvimento econômico.

Até recentemente, a história das relações diplomáticas do Brasil se refugiava quase em notas ao pé da página ou, no melhor dos casos, em parágrafos esparsos dissociados do eixo central da grande narrativa. Com uma carreira dedicada ao serviço público, especialmente ao Itamaraty e à ONU, o diplomata e professor Rubens Ricupero enfrentou o desafio de “inserir o fio da diplomacia na teia sem costura da vida nacional, da qual é indissociável”. Aos 80 anos,  lança obra que é fruto de uma vida de ensino da história da política exterior brasileira: A diplomacia na construção do Brasil (Versal Editores).

As primeiras de uma série de palestras seguidas de sessões de autógrafos pelo país serão realizadas nos dias 3/10 no CIEE,  4/10, na FAAP e em 7/10, na Japan House, em São Paulo; dias 18 e 20/10, no Rio de Janeiro, respectivamente na Livraria Argumento do Leblon e no Itamaraty; e nos dias 9 e 10/10, em Brasília.

Com capa dura, 784 páginas e ilustrado com mapas, desenhos cartográficos e 80 imagens da história e da diplomacia, o livro analisa a diplomacia como causa e consequência da política interna e da economia do período colonial até os dias de hoje, incluindo a atual
crise brasileira. Mostra, ao mesmo tempo, como a política externa contribuiu para a definição dos valores e ideais da identidade do país, de como os brasileiros se veem a si mesmos e sua relação com o mundo.

 Com documentos originais dos arquivos norte-americanos, o livro traz revelações novas sobre episódios como a intervenção militar de 1964 nos seus aspectos externos. Recorre a perspectivas comparativas com países latino-americanos e os Estados Unidos e renova a maneira de examinar a diplomacia em estreita ligação com os fatos políticos e as condições econômicas. “A ambição da obra é dialogar com os estudantes e também com aqueles que se interessam pela história do Brasil e sentem curiosidade pela forma como o país se relacionou com o mundo exterior e foi por ele influenciado”, explica o autor.


A DIPLOMACIA NA CONSTRUÇÃO DO BRASIL
Autor: Rubens Ricupero
Editora: Versal Editores
Formato:  17,5 x 24 cm
Páginas: 784
Preço: R$ 89,90

EVENTOS DE LANÇAMENTO
3 de outubro – São Paulo
Horário: 19,00 h
Onde: CIEE – Centro de Integração Empresa-Escola
Rua Tabapuã, 540 Itaim Bibi

4 de outubro - SÃO PAULO
Horário: 18,30h
Onde: FAAP, Centro de Convenções,
Rua Alagoas, 903 Higienópolis

7 de outubro- SÃO PAULO
Horário: 10,30h
Onde: Casa do Japão, na Avenida Paulista, 58


9 e 10 de outubro - BRASÍLIA
Quando: 9 de outubro, 17hs; palestra seguida de coquetel
Onde: Palácio Itamaraty, Auditório Wladimir Murtinho

Eventos a serem determinados para o dia 10/10

18 de outubro - RIO DE JANEIRO
Horário: 19h
Onde: Livraria Argumento Leblon

20 de outubro – RIO DE JANEIRO
Horário: 10:00h
Onde: Palácio do Itamaraty
 Debate com a participação de Rubens Ricupero, Marcos Azambuja e Gelson Fonseca (Celso Lafer a confirmar).

SOBRE O AUTOR
Nascido em São Paulo em 1937, Rubens Ricupero ingressou no Instituto Rio Branco em 1958 e iniciou a carreira diplomática em 1961.

Embaixador do Brasil junto às Nações Unidas em Genebra, Suíça, nos Estados Unidos e na Itália, foi ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, ministro da Fazenda durante a implantação do Real, subchefe da Casa Civil e assessor especial do presidente José Sarney. Atuou como assessor de política externa de Tancredo Neves na campanha para a Presidência da República, em 1984/5, e registrou a experiência no livro Diário de bordo: a viagem presidencial de Tancredo Neves (2010). Entre 1995 e 2004, dirigiu como Secretário Geral a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), em Genebra.

Diretor, mais tarde Decano, da Faculdade de Economia e Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), professor do Instituto Rio Branco e da Universidade de Brasília, colaborador dos mais influentes órgãos de imprensa do país e de publicações especializadas nacionais e estrangeiras, Ricupero é autor de nove livros sobre história diplomática, política, comércio e economia internacional, entre os quais se destacam Rio Branco: o Brasil no mundo (2000), O Brasil e o dilema da globalização (2001), Esperança e Ação A ONU e a busca de desenvolvimento mais justo (2002). A diplomacia na construção do Brasil é sua mais recente obra.